Três. escrita por jubssanz


Capítulo 20
20. Conhecendo Miles.


Notas iniciais do capítulo

Bom, perguntei e algumas garotas responderam, então... Aqui vai, POVs Miles pra todo mundo!
Espero que gostem e comentem, boa leitura!



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Miles

"— Cara, você me confundiu. – Louis murmurou. – Miles, você sabe que se Aurora estivesse se envolvendo com alguém seria com um cara, certo?

Ri, sem achar graça. Ri por puro nervosismo. Por vergonha. Medo do que meus irmãos pensariam de mim.

— Sim, eu sei. E esse cara é Mark. – fechei os olhos e virei de costas. Não conseguiria mais encará-los. – Eu sou gay."

— Vocês não vão falar nada? – questionei. Ótimo. Havia feito uma enorme cagada. Meus dois irmãos estavam parados na calçada me encarando como se eu tivesse acabado de contar a eles que sou gay. Oh, espere.

— Vamos pra casa. – Louis murmurou, sorrindo gentilmente para mim. Aquilo me machucou. Eu sabia que não era a intenção dele, mas eu sinceramente achava que meu irmão podia ser um pouco mais compreensivo. Não queria nem saber como Travis lidaria com aquilo. Ele também permanecia em silêncio. Magoado, suspirei e voltei a caminhar, indo à frente deles.

— Ei, espere. – Louis chamou, dando uma corridinha até se prostrar a meu lado.

— Estamos juntos, não é mesmo? – Travis murmurou também chegando até mim e eu senti meu coração se aquecer.

Chegamos a casa e eu dei graças aos céus por tio Ferdinand estar no trabalho. Becky e tia Marise estavam cochilando no quarto dela. Dei graças a Deus por isso também. Joguei minha mochila no banco da cozinha e me sentei ali mesmo, arrependido por ter contado. Como eles me tratariam dali em diante? Será que me evitariam? Será que contariam a alguém? Imaginem se eles contassem ao papai e a mamãe? Eles não iriam nem querer voltar de viagem para nos ver. Um filho gay. Que vergonha. Meus pais não mereciam aquilo, meus irmãos não mereciam, meus amigos não mereciam. Eu me sentia culpado, mas sabia que a culpa não era minha. Desde os meus onze eu anos eu comecei a perceber que não me interessava pelas brincadeiras de Travis e Louis. Eu não gostava de agir como os outros garotos, embora sempre gostasse de estar perto deles. Mas ninguém percebeu. E, se alguém percebeu, atribuiu isso a meu mau humor constante, e não a aquela... Coisa que eu tinha dentro de mim.

Quando eu tinha treze anos, conheci um garoto gay. Nós estudávamos na mesma escola, mas ele era mais velho que eu. Eu o achava lindo, e me envergonhada por isso. Enquanto Travis arrasava dando beijinhos nas garotas embaixo da escada e Louis sempre romântico escrevia cartinhas de amor para as garotas mais bonitas, eu admirava um garoto mais velho. Todos os dias, durante o banho, ou antes, de dormir, eu chorava. Chorava porque me sentia um lixo, tinha nojo de mim. Eu queria ser normal. Mas não conseguia. Eu tentava admirar também as garotas, acha-las bonitas, gostar delas. Mas elas apenas me irritavam. Porque não podiam me ajudar? Porque precisavam rir e implicar tanto?

Quando o eu completei 14 anos, exatamente no dia do meu aniversário, o garoto gay se aproximou de mim durante o intervalo das aulas. Eu estava sozinho, como sempre, pois não gostava de ficar perto de meus irmãos por estarem sempre rodeados de garotas. Eu estava sentado na escada do ginásio, sozinho, e ele chegou.

— O que você faz aqui sozinho? – ele perguntou. Eu quase conseguia ouvir suas palavras, mesmo quatro anos depois.

— Ee-eu... Eu não sei. – respondi. Me lembro perfeitamente de ter gaguejado.

— Você não deveria estar sozinho no seu aniversário, Miles. – ele me disse.

— Como você sabe meu nome? E como sabe que é meu aniversário? – lembro-me de ter perguntado.

— Sei muitas coisas sobre você, Miles Adams. E basicamente, sei que você é como eu. – ele murmurou, me rodeando. Lembro-me de como minhas pernas tremiam no instante em que ele se sentou a meu lado.

— C-c-como assim? – gaguejei novamente.

— Você é como eu. – ele sussurrou, chegando seus lábios perigosamente perto do meu ouvido. – Gay. Como eu.

Naquele mesmo dia, o garoto gay – que mais tarde eu descobri se chamar Henrie – me encontrou no final das aulas. Ele disse que queria me mostrar uma coisa, e me levou novamente até o ginásio. Quando estávamos completamente sozinhos, Henrie se aproximou de mim e roçou nossos lábios. Então ele sorriu e me deu as costas.

Mais tarde, ainda naquele mesmo dia, era a janta de aniversário que meus pais haviam preparado para mim e os garotos, uma janta em família. Meus irmãos chamaram algumas coleguinhas e tratavam todas como namoradas. Eu nunca vou me esquecer daquele dia. Meus tios todos brincavam e me questionavam sobre as namoradas. E eu me sentia um lixo. Meu pai ria, dizendo que não se importava se eu demorasse a escolher, desde que fizesse uma boa escolha. Eu tive que correr para o banheiro, pois não pude mais conter as lágrimas. Meu pai sempre tão orgulhoso de mim, e eu sendo a desgraça que era. Sorte a do meu pai que ele tem Travis e Louis, porque um filho como eu, pai nenhum merece ter.

— Ei, Miles! – a voz de Travis me chamou, trazendo-me de volta ao presente.

— Você está bem? – Louis questionou preocupado, e eu apenas assenti. – Certo, vamos subir.

Nós subimos para nosso quarto e Louis encostou a porta. Eu não conseguia encará-los. Sentia-me sujo. Sentia como se não tivesse o direito de fazer parte daquele trio.

— Sente-se – Travis mandou e eu obedeci, sentando-me em minha cama.

— Desde quando? – Louis questionou.

Suspirei, sem saber se conseguiria responder.

— Desde sempre – murmurei.

— Alguém sabe? – foi a vez de Travis perguntar. Neguei.

— Ei, Miles, porque você nunca nos contou? – Louis indagou. – Você poderia ter nos contado! Não precisava ter carregado esse peso sozinho por todo esse tempo!

— Eu tive vergonha. – respondi, sentindo um bolo na garganta. – E ainda tenho, na verdade.

— Vergonha? De Nós? Porque? – Travis quis saber.

— Porque vocês são... vocês. São legais, qualquer garota gosta de vocês, são normais... O filho que qualquer pai gostaria de ter. E eu... sou eu.

— Você enlouqueceu, cara? – Louis questionou. – Você está mesmo dizendo isso?

Dei de ombros, sentindo meus olhos arderem.

—Miles, fique sabendo que agora estou considerando dar um soco nessa sua cara – Travis resmungou e eu fui obrigado a rir.

— Porque? – questionei.

— Porra, vergonha de nós? Você acha que seus irmãos são o que? Dois brutamontes ignorantes?

— Assim você nos ofende, cara – Louis completou.

— Não é apenas isso. – eu disse, criando coragem. – Eu tive medo. De que vocês sentissem vergonha de mim. Medo de vocês me excluírem por ser... essa aberração que sou. Medo que vocês não quisessem mais ser meus irmãos.

— Miles, pelo amor de Deus, nunca mais pense uma coisa dessas! – Louis ralhou e sentou a meu lado, passando um braço por meus ombros. – Cara, você é incrível! Uma das melhores pessoas que eu conheço, mesmo sendo extremamente mau humorado. Eu e Travis amamos você, demais, e nada nem ninguém no mundo vai mudar isso.

— Nem mesmo o fato de que eu... Gosto de garotos? – quis me certificar.

— Sabe, Miles – Travis disse, também me abraçando. – isso só aumenta a admiração que eu sinto por você. Você, mesmo com todo esse medo e insegurança, foi capaz de nos contar. Eu não seria. E fique sabendo de uma coisa: você não é uma aberração, de jeito nenhum.

— Travis tem razão. A homossexualidade é algo normal, e quem discorda com certeza é um gay enrustido. – Louis disse, rindo.

— Vocês não estão me odiando? Não estão envergonhados por mim? Enojados? – questionei, temeroso.

— Como Travis diz, eu estou completamente admirado. Em seu lugar, eu também não teria coragem de contar a verdade. Eu te amo muito, Miles, e tenho muito orgulho em ser seu irmão. – Louis disse e eu senti uma lágrima escorrer por meu rosto.

Eu sentia como se um peso tivesse sido tirado de minha consciência.

— Eu também te amo muito, irmãozão – Travis ronronou, se jogando por cima de mim e Louis feito um urso. – E aliás, gostaria de te agradecer por uma coisa.

— Que é... ? – questionei e Louis arqueou a sobrancelha. Vindo de Travis, boa coisa não seria.

— Já que você gosta de garotos, sobram mais gostosas pra mim.

— Louis, você está bravo comigo? Pelo que fiz com Aurora? – questionei.

— Sinceramente? Bravo, não. Estou chateado, sim. Mas, fazer o que, não é mesmo? Entendo seu lado. E agora ela foi embora, eu estou com Claire e...

— PELO AMOR DE DEUS! – gritei o interrompendo. – Você acha que eu fiz isso sozinho, Louis? Claire esteve comigo esse tempo todo! A ideia foi dela, aliás! Ela não gosta de você! Ela também queria se vingar de Aurora, porque, oras, ela também gosta de Mark.

— Então a... A Aurora... Então... Mas... Eu... Aurora... Preciso. – Louis murmurava coisas desconexas, me encarando. – Então a Aurora realmente é inocente na história?

— Sim. – eu suspirei.

— Meu Deus! Ela não traiu minha confiança! Ela não o fez! Eu gosto dela! Ela gosta de mim! Eu preciso vê-la! Eu vou até lá agora mesmo e...

— LOUIS! – gritei mais uma vez. – Escute! De jeito nenhum que tia Marise e tio Ferdinand vão deixar você sair assim, do nada, para ir atrás de Aurora.

— Mas Miles, eu preciso vê-la! Eu já perdi tempo demais, preciso tê-la a meu lado!

— Louis, pelo amor de Deus, cale a boca e me escute por um segundo. – meu irmão me olhou com os olhos arregalados, mas pelo menos calou a boca. – Tenho uma ideia melhor. Eu acho que nós poderíamos... – e terminei a frase sussurrando no ouvido de Louis, para provocar Travis, sabendo que ele ficaria curioso.

— DEMAIS! – Louis gritou. – Vamos agora mesmo falar com Rebecca, ela pode nos ajudar!

— Não sei do que se trata, mas a Becky vai achar estranho ver você de bem com a Aurora, Louis. – Travis disse, pensativo. – Teríamos que contar a ela o que aconteceu, e ela iria matar a mim e Miles.

— Bom, precisamos correr esse risco! – eu disse, rindo, e nós três saímos correndo para o quarto de Becky. Felizmente, tia Marise não estava mais lá.

— REBECCA CARTER, ACORDA! – nós três berramos em uníssono, fazendo Becky acordar e xingar todos os palavrões assustados.

Antes que ele tentasse nos matar por tê-la acordado, Louis imobilizou suas mãos e Travis tampou sua boca, e assim eu comecei todo o discurso. Contei a ela o que eu, Claire e Travis havíamos planejado e feito contra Aurora. Becky mordeu a mão de Travis até ele tirá-la de sua boca, e então ela me xingou e amaldiçoou até a minha quinta geração. Por fim, para acalmá-la, contei a ela e a Travis o que eu e Louis estávamos planejando. Ela adorou a ideia, e eu achei que o furacão Rebecca havia passado e o que eu havia feito seria esquecido sem mais explicações. Obviamente, me enganei. Rebecca quis saber o motivo da minha implicância com Aurora. Olhei temeroso para meus irmãos, buscando alguma ajuda, e Louis apenas balançou a cabeça, sem saber o que falar. Contar para meus irmãos sobre a minha opção sexual era uma coisa, mas começar a contar para a família toda... Eu não estava preparado.

— Bom, essa parte da conversa vai ficar para outra hora, Becky. – Travis disse, dando de ombros e eu sorri aliviado para ele, agradecendo.

— Tudo bem, então... – Becky murmurou nos olhando desconfiada. – Mas eu adorei a ideia e acho que Aurora também vai adorar!

— Teremos que ligar para tia Sophie e pedir ajuda a ela... – comentei.

— Podemos também pedir ajuda a Mark, ele se dá muito bem com a tia e adora a Aurora, ele não vai querer ficar fora dessa.

Engoli em seco, quase me engasgando. Queria chutar as bolas de Travis por causa da expressão presunçosa que ele tinha em seu rosto. Mas que droga!

— Na verdade, - Louis comentou, também prendendo o riso. – eu tenho ciúmes de Mark. Não ria, Rebecca. Eu acho que ele está interessado em Aurora. – oh, como eu amava meus irmãos. Louis mentindo para manter Mark longe da situação. Obrigada, maninho!

— Bom, se você soubesse do que eu sei, não acharia isso. – Becky cantarolou, rindo.

— O que você sabe? – questionei rápido demais, fazendo os garotos rirem. Ora, se eu descobrisse quem era a namoradinha de Mark eu me tornaria um homicida.

— Vocês prometem que não vou contar a ninguém? – ela perguntou e nós três assentimos. Pude ver que os garotos estavam tão ansiosos quanto eu.

Rebecca respirou fundo, ainda rindo, e olhou ao redor, como se tivesse medo de que alguém escutasse. Então ela baixou o tom de voz e murmurou:

— Mark é gay.

Eu poderia voltar no tempo e reviver aquela cena mais três milhões de vezes, eu NUNCA saberia dizer se mais alto foi: a gargalhada de Travis, o grito de Louis ou o pulo que eu dei. Jesus. Acode, pai, alguém me abana! Arranjei o bofe que vai me aturar pelo resto da vida. Obrigada, Deus!


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Notas finais do capítulo

E aí, amorecos, alguém gostou de conhecer um pouquinho do Miles? Eu, particularmente gosto muito dele, mas sempre achei que ele não seria bem recebido, porque convenhamos... Ele é um chato hahahaha mas, tá aí. Espero que gostem! (E gente, preciso saber uma coisa: vocês shippam Mark e Miles? Sei que nem todo mundo é a favor de casal gay, então depende de vocês! Respondam!)
Beijinhos