Três. escrita por jubssanz


Capítulo 2
2. Piranha.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, beijos!



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— Pode me passar a salada, Aurora? – meu pai pediu, sorrindo. Passei a salada a ele em silêncio. Ainda estava atordoada. Por quê? Por causa de certo cabelo loiro e espetado.

— Papai, quando vamos embora? – Lucy perguntou com sua voz manhosa.

— Amanhã de manhã, meu bem, – meu pai respondeu prontamente. – bem cedo. Por isso temos que jantar e ir logo dormir, quero todas em pé às seis.

— Vamos direto para o apartamento novo, pai? – questionei, sem sorrir.

— Vamos! Ouvi dizer que o apartamento é incrível. Já está mobiliado e pronto para nós!

Eu me sentia estranha, ingrata, por ver meu pai tão feliz e não conseguir partilhar da mesma felicidade. Mas o que eu poderia fazer? Era obrigada a aceitar. Não poderia me negar a ir embora e ficar morando em Salem sozinha – e se pudesse, não o faria. Não saberia viver longe dos supercuidados da minha mãe, das regras idiotas do meu pai e das birras sem sentido da minha pequena Lucy. Com todos os defeitos, eu os amava e meu lugar era junto deles. Por isso, decidi baixar a guarda. Tentaria, sim, ficar feliz com a “nova vida”.

— Que ótimo, pai! – exclamei, sorrindo. – Aposto que vamos todos gostar da nova casa.

— Você está falando sério, Aurora? – ele questionou. Seu sorriso chegava a forçar as ruguinhas nos olhos. – Não sabe o quanto isso me deixa feliz, filha!

­— Pegaram tudo, meus amores? – mamãe questionava, conferindo sua bolsa. – Não esqueceram nada embaixo das camas nem dentro do banheiro?

Eu neguei com a cabeça, sonolenta demais para responder. Eram seis e meia da manhã, qual é! Sentei-me no carro e afivelei o cinto, colocando os fones de ouvido e aconchegando-me sob o travesseiro. Minha mãe colocou Lucy na cadeirinha e entrou no banco do carona. Estávamos apenas esperando meu pai encerrar a conta do hotel e teríamos mais cinco horas de viagem até a nova cidade, Canby.

Em alguns minutos, estávamos em movimento.

Adeus, praia! Adeus, Gold Beach! Adeus, cabelos loiros espetados! Adeus, olhos azuis!

Era isso que eu pensava enquanto procurava minha música favorita no player do celular e fechava os olhos.

— Rora – acordei com Lucy me chamando pelo apelido ridículo que ela inventara. – Acorda. Chegamos à cidade.

Lembro-me de ter resmungado e fechado os olhos novamente, o que fez com que minha linda irmã de sete anos puxasse meus cabelos com uma força anormal.

— Mas que diabos...! – reclamei.

— Olha a boca, Aurora! – meu pai ralhou. – E, aliás, olhe ao redor também. Chegamos!

Olhei para o lado, coçando os olhos, e vi uma grande placa que dizia “Bem Vindos a Canby – Oregon.”. Suspirei, involuntariamente. Sorri quando meu pai nos mostrou o supermercado Safeway, sorri quando nos mostrou a lanchonete Burgerville, sorri quando me mostrou o colégio Canby High School, local onde eu estudaria. Até que não seria tão ruim. Mas sinceramente, sem querer ser chata, eu só queria dormir.

Finalmente chegamos ao bendito prédio. Eu estava exausta. Ajudei meus pais a descarregarem o carro e os ajudei a subir as malas. 200% exausta. Ajudei minha mãe a dispor as malas pelos três quartos. 300% exausta. Ajudei Lucy no banho, procurei lençóis limpos, forrei a cama dela e coloquei minha irmã para dormir. 400% exausta. Organizei algumas de minhas coisas em meu guarda roupa, tomei banho e vesti uma camiseta velha. 500% exausta. Porém, quando me deitei na cama, não conseguia dormir. Sentia-me incomodada, mas não sabia o motivo. Decidi analisar meu novo quarto até pegar no sono. As paredes eram de um azul claro um tanto quanto delicado, e a mobília era branca. O guarda roupa era planejado, e a cama box não possuía cabeceira. Do lado esquerdo da cama, um criado-mudo baixinho, e do lado direito, uma escrivaninha embutida na parede. A porta que dava acesso ao banheiro do quarto era de madeira, também branca, e decorada com flores azuis. Eu não podia negar que tudo estava bem até ali.

Remexi-me na cama até que peguei no sono. Sonhei com um par de olhos azuis.

— Ei, Aurora, acorde – a voz doce de Lucy chamava.

— O que você quer? – perguntei, revirando-me na cama.

— Quero passear. – ela resmungou.

— Ora, Lucy, não temos tempo para passear! Temos muita coisa para fazer.

— Tipo o que?

— Tipo... – pensei, procurando em alguma desculpa rápida para não ter que sair. — Ajudar a mamãe a organizar tudo!

— Não precisa, minha filha! – minha mãe gritou de algum lugar. – Podem ir passear a vontade!

Droga, mãe!

— Tá bem, Lucy – murmurei, sentando-me na cama, de má vontade. – Vá trocar de roupa, já estou indo.

Lavei o rosto, vesti um short jeans claro e uma camiseta preta. Calcei os chinelos e fiz um coque no cabelo. Tentei sorrir, mas...

— Ande logo, Lucy! – resmunguei.

— Onde é que vocês vão? – meu pai quis saber.

— Pergunte a Lucy – respondi.

— Quero ir à pracinha que passamos pelo caminho – a pequena respondeu.

— Ótimo! Se eu me lembro bem, a pracinha fica a uma quadra do colégio, Aurora! Você vai aprender o caminho – meu pai comentou, feliz.

— Ótimo – resmunguei antes de sair.

Eu caminhava segurando a mão de Lucy, memorizando cada casa pela qual passávamos na intenção de não me perder. Finalmente, chegamos à bendita praça. Lucy mais do que depressa correu para o escorregador, rindo. Olhando daquela forma, a garotinha nem parecia tão infernal. Suas bochechas rosadas e seus cachos escuros me lembravam da bebezinha sorridente que eu conhecera há sete anos. Sorri, distraída.

— Ela é sua? – uma voz soou a meu lado. Virei-me para conferir e uma garota ruiva de olhos verdes, magra e de nariz empinado me encarava.

— Des...desculpe? – ótimo, Aurora! Muito legal você gaguejar feito retardada.

— Essa pirralha – ela esclareceu, apontando Lucy com o queixo. – é sua?

— É minha irmã. – respondi, arqueando a sobrancelha.

— Hum... Eu sou Claire. – ela me disse. Sua voz era fina demais, irritante.

— Prazer, eu sou Aurora! – respondi, sorrindo.

— Aurora? – ela riu. – Porra, que nome é esse?

Fechei a cara, involuntariamente.

— Você é nova aqui, né? – ela questionou, sentando-se em um banco de madeira.

— Sou sim, cheguei hoje mesmo. – respondi, sentando-me também.

— E vai estudar na Canby? – ela questionou e eu assenti. – Terceiro ano? – assenti novamente. – Legal. Provavelmente seremos colegas.

— Legal. – resmunguei.

— Então... Quantos anos você tem e de onde você é? – questionou.

— Tenho 17 e sou de Salem. E você?

— Dezessete também, e sou daqui mesmo. – respondeu-me. – Então, você é virgem?

— Como é que é? – engasguei.

— Perguntei se você é virgem, ué. – ela repetiu, arqueando a sobrancelha. – Vai dizer que em Salem você vivia em um convento?

Analisei a situação por um momento. Claire parecia ser o tipo de garota que se deve sempre agradar, e pela forma de falar, ela com certeza não era virgem. Eu não poderia fazer papel de besta em meu primeiro contato ali. Mentiria. Respirei fundo.

— Oh, mas é claro que não! – respondi de uma vez.

— Não? – ela sorriu acidamente. – E como foi sua primeira vez?

— Porque todo esse questionário, Claire? – perguntei, desconfiada.

— São apenas perguntas de amigas, Aurora!

Amigas? Éramos amigas? Legal! Tinha minha primeira amiga e ela parecia ser fodasticamente foda – embora fosse o tipo de pessoa que meu pai jamais aprovaria. Mentir mais um pouco não faria mal, não é?

— Oh, minha primeira vez foi horrível! – inventei, sem saber o que falar.

— Horrível por quê? Você não aguentou?

— Na verdade, ele é que não me aguentou. – merda, Aurora! O que é que você está fazendo?! – Não foi capaz como eu achei que fosse.

— Safada! – ela exclamou, rindo. – Gostei de você. Vai deixar os garotos daqui loucos.

— Vou, é? – questionei, abobada.

— É claro que vai! – me respondeu, sorrindo e se levantando do banco. – Vem, vamos dar uma volta.

— Não posso, tenho que cuidar da minha irmã. – sorri tristemente.

— Você é quem sabe – ela deu de ombros. – Me dê seu telefone, outra hora combinamos alguma coisa.

Passei meu número para Claire e a garota disse que me ligaria no dia seguinte para planejar alguma coisa.

— A gente se vê! Até mais, piranha. – ela exclamou, sorrindo.

Piranha.

— Pode me passar a salada, Aurora? – meu pai pediu, sorrindo. Passei a salada a ele em silêncio. Ainda estava atordoada. Por quê? Por causa de certo cabelo loiro e espetado.

— Papai, quando vamos embora? – Lucy perguntou com sua voz manhosa.

— Amanhã de manhã, meu bem, – meu pai respondeu prontamente. – bem cedo. Por isso temos que jantar e ir logo dormir, quero todas em pé às seis.

— Vamos direto para o apartamento novo, pai? – questionei, sem sorrir.

— Vamos! Ouvi dizer que o apartamento é incrível. Já está mobiliado e pronto para nós!

Eu me sentia estranha, ingrata, por ver meu pai tão feliz e não conseguir partilhar da mesma felicidade. Mas o que eu poderia fazer? Era obrigada a aceitar. Não poderia me negar a ir embora e ficar morando em Salem sozinha – e se pudesse, não o faria. Não saberia viver longe dos supercuidados da minha mãe, das regras idiotas do meu pai e das birras sem sentido da minha pequena Lucy. Com todos os defeitos, eu os amava e meu lugar era junto deles. Por isso, decidi baixar a guarda. Tentaria, sim, ficar feliz com a “nova vida”.

— Que ótimo, pai! – exclamei, sorrindo. – Aposto que vamos todos gostar da nova casa.

— Você está falando sério, Aurora? – ele questionou. Seu sorriso chegava a forçar as ruguinhas nos olhos. – Não sabe o quanto isso me deixa feliz, filha!

­— Pegaram tudo, meus amores? – mamãe questionava, conferindo sua bolsa. – Não esqueceram nada embaixo das camas nem dentro do banheiro?

Eu neguei com a cabeça, sonolenta demais para responder. Eram seis e meia da manhã, qual é! Sentei-me no carro e afivelei o cinto, colocando os fones de ouvido e aconchegando-me sob o travesseiro. Minha mãe colocou Lucy na cadeirinha e entrou no banco do carona. Estávamos apenas esperando meu pai encerrar a conta do hotel e teríamos mais cinco horas de viagem até a nova cidade, Canby.

Em alguns minutos, estávamos em movimento.

Adeus, praia! Adeus, Gold Beach! Adeus, cabelos loiros espetados! Adeus, olhos azuis!

Era isso que eu pensava enquanto procurava minha música favorita no player do celular e fechava os olhos.

— Rora – acordei com Lucy me chamando pelo apelido ridículo que ela inventara. – Acorda. Chegamos à cidade.

Lembro-me de ter resmungado e fechado os olhos novamente, o que fez com que minha linda irmã de sete anos puxasse meus cabelos com uma força anormal.

— Mas que diabos...! – reclamei.

— Olha a boca, Aurora! – meu pai ralhou. – E, aliás, olhe ao redor também. Chegamos!

Olhei para o lado, coçando os olhos, e vi uma grande placa que dizia “Bem Vindos a Canby – Oregon.”. Suspirei, involuntariamente. Sorri quando meu pai nos mostrou o supermercado Safeway, sorri quando nos mostrou a lanchonete Burgerville, sorri quando me mostrou o colégio Canby High School, local onde eu estudaria. Até que não seria tão ruim. Mas sinceramente, sem querer ser chata, eu só queria dormir.

Finalmente chegamos ao bendito prédio. Eu estava exausta. Ajudei meus pais a descarregarem o carro e os ajudei a subir as malas. 200% exausta. Ajudei minha mãe a dispor as malas pelos três quartos. 300% exausta. Ajudei Lucy no banho, procurei lençóis limpos, forrei a cama dela e coloquei minha irmã para dormir. 400% exausta. Organizei algumas de minhas coisas em meu guarda roupa, tomei banho e vesti uma camiseta velha. 500% exausta. Porém, quando me deitei na cama, não conseguia dormir. Sentia-me incomodada, mas não sabia o motivo. Decidi analisar meu novo quarto até pegar no sono. As paredes eram de um azul claro um tanto quanto delicado, e a mobília era branca. O guarda roupa era planejado, e a cama box não possuía cabeceira. Do lado esquerdo da cama, um criado-mudo baixinho, e do lado direito, uma escrivaninha embutida na parede. A porta que dava acesso ao banheiro do quarto era de madeira, também branca, e decorada com flores azuis. Eu não podia negar que tudo estava bem até ali.

Remexi-me na cama até que peguei no sono. Sonhei com um par de olhos azuis.

— Ei, Aurora, acorde – a voz doce de Lucy chamava.

— O que você quer? – perguntei, revirando-me na cama.

— Quero passear. – ela resmungou.

— Ora, Lucy, não temos tempo para passear! Temos muita coisa para fazer.

— Tipo o que?

— Tipo... – pensei, procurando em alguma desculpa rápida para não ter que sair. — Ajudar a mamãe a organizar tudo!

— Não precisa, minha filha! – minha mãe gritou de algum lugar. – Podem ir passear a vontade!

Droga, mãe!

— Tá bem, Lucy – murmurei, sentando-me na cama, de má vontade. – Vá trocar de roupa, já estou indo.

Lavei o rosto, vesti um short jeans claro e uma camiseta preta. Calcei os chinelos e fiz um coque no cabelo. Tentei sorrir, mas...

— Ande logo, Lucy! – resmunguei.

— Onde é que vocês vão? – meu pai quis saber.

— Pergunte a Lucy – respondi.

— Quero ir à pracinha que passamos pelo caminho – a pequena respondeu.

— Ótimo! Se eu me lembro bem, a pracinha fica a uma quadra do colégio, Aurora! Você vai aprender o caminho – meu pai comentou, feliz.

— Ótimo – resmunguei antes de sair.

Eu caminhava segurando a mão de Lucy, memorizando cada casa pela qual passávamos na intenção de não me perder. Finalmente, chegamos à bendita praça. Lucy mais do que depressa correu para o escorregador, rindo. Olhando daquela forma, a garotinha nem parecia tão infernal. Suas bochechas rosadas e seus cachos escuros me lembravam da bebezinha sorridente que eu conhecera há sete anos. Sorri, distraída.

— Ela é sua? – uma voz soou a meu lado. Virei-me para conferir e uma garota ruiva de olhos verdes, magra e de nariz empinado me encarava.

— Des...desculpe? – ótimo, Aurora! Muito legal você gaguejar feito retardada.

— Essa pirralha – ela esclareceu, apontando Lucy com o queixo. – é sua?

— É minha irmã. – respondi, arqueando a sobrancelha.

— Hum... Eu sou Claire. – ela me disse. Sua voz era fina demais, irritante.

— Prazer, eu sou Aurora! – respondi, sorrindo.

— Aurora? – ela riu. – Porra, que nome é esse?

Fechei a cara, involuntariamente.

— Você é nova aqui, né? – ela questionou, sentando-se em um banco de madeira.

— Sou sim, cheguei hoje mesmo. – respondi, sentando-me também.

— E vai estudar na Canby? – ela questionou e eu assenti. – Terceiro ano? – assenti novamente. – Legal. Provavelmente seremos colegas.

— Legal. – resmunguei.

— Então... Quantos anos você tem e de onde você é? – questionou.

— Tenho 17 e sou de Salem. E você?

— Dezessete também, e sou daqui mesmo. – respondeu-me. – Então, você é virgem?

— Como é que é? – engasguei.

— Perguntei se você é virgem, ué. – ela repetiu, arqueando a sobrancelha. – Vai dizer que em Salem você vivia em um convento?

Analisei a situação por um momento. Claire parecia ser o tipo de garota que se deve sempre agradar, e pela forma de falar, ela com certeza não era virgem. Eu não poderia fazer papel de besta em meu primeiro contato ali. Mentiria. Respirei fundo.

— Oh, mas é claro que não! – respondi de uma vez.

— Não? – ela sorriu acidamente. – E como foi sua primeira vez?

— Porque todo esse questionário, Claire? – perguntei, desconfiada.

— São apenas perguntas de amigas, Aurora!

Amigas? Éramos amigas? Legal! Tinha minha primeira amiga e ela parecia ser fodasticamente foda – embora fosse o tipo de pessoa que meu pai jamais aprovaria. Mentir mais um pouco não faria mal, não é?

— Oh, minha primeira vez foi horrível! – inventei, sem saber o que falar.

— Horrível por quê? Você não aguentou?

— Na verdade, ele é que não me aguentou. – merda, Aurora! O que é que você está fazendo?! – Não foi capaz como eu achei que fosse.

— Safada! – ela exclamou, rindo. – Gostei de você. Vai deixar os garotos daqui loucos.

— Vou, é? – questionei, abobada.

— É claro que vai! – me respondeu, sorrindo e se levantando do banco. – Vem, vamos dar uma volta.

— Não posso, tenho que cuidar da minha irmã. – sorri tristemente.

— Você é quem sabe – ela deu de ombros. – Me dê seu telefone, outra hora combinamos alguma coisa.

Passei meu número para Claire e a garota disse que me ligaria no dia seguinte para planejar alguma coisa.

— A gente se vê! Até mais, piranha. – ela exclamou, sorrindo.

Piranha.


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