Três. escrita por jubssanz


Capítulo 1
1. Louca, louquinha!


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que gostem, beijos!



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Por favor, diga que ninguém está olhando. Por favor, Deus, diga que ninguém está olhando!, murmurei para mim mesma, de olhos fechados. Ora, chega. Vamos, Aurora, abra os olhos. Ninguém viu você caindo. Além do mais, é supernormal ver uma louca atravessar a rua correndo e tropeçar, dando de cara com a calçada, certo? Não!

Abri os olhos lentamente, ainda fazendo uma prece silenciosa para que ninguém tivesse visto.

— Você está bem? – ouvi alguém dizer. Merda!

— Estou. – murmurei, sem querer encarar a pessoa. Pela voz, era um garoto. Ótimo!

— Fico feliz, mas... Você pretende ficar aí no chão? – ele questionou. Felizmente ele não podia me ver. Não estava verdadeiramente gostando de seu interrogatório.

— Sim. Acho que vou ficar por aqui uns minutinhos. Obrigada pela preocupação! – respondi, me sentindo a pessoa mais idiota do mundo.

— Ah... Tudo bem. Desculpe, eu não queria incomodar.

— Ah, eu é que te devo desculpas. – respondi, sem jeito. – É que você me pegou no momento mais vergonhoso de toda a minha vida, sabe?

— Tudo bem, entendo – ele disse e riu. A risada dele era simpática, assim como sua voz. – Então faremos o seguinte. Vou virar de costas e fingir que não estou aqui. Assim, você pode se levantar e se ajeitar. Certo?

— Ótimo! – respondi, rindo. E bem, devo dizer que a sensação de rir contra o concreto duro da calçada não é agradável. – Vire-se!

Mais do que depressa me levantei do chão, passando a mão pelo rosto, numa tentativa de limpá-lo. A curiosidade era grande, mas me contive. Era melhor estar apresentável antes de ver o garoto. Passei a mão por meus cabelos escuros e lisos, ajeitando-os. Pronto, estava linda! Olhei para baixo para dar uma conferida e... Oh, não! Imediatamente espalmei minha camiseta azul do Capitão América e meu short jeans, que estavam cobertos de poeira. Pronto. Virei-me de costas e me deparei com um garoto me encarando.

— Ei! – exclamei, rindo. – Você trapaceou! – disse, analisando-o. Ele era lindo! Loiro de cabelos espetados, mas cuidadosamente penteados. Seus dentes eram grandes, brancos e perfeitamente alinhados, e seu sorriso era extremamente simpático. Por um segundo, me perdi em seus olhos azuis.

— Perdoe-me – ele resmungou, rindo em seguida. – Eu apenas fiquei curioso demais para saber que tipo de garota gosta de ficar de cara na calçada.

— Idiota. – murmurei. Era óbvio que ele estava debochando de mim. Sentindo-me uma tola, dei as costas a ele.

— Ei, espere! Nem nos apresentamos!

Apenas parei de andar, mas não me virei. Cruzo os braços em sinal de teimosia.

— Você não vai me dizer seu nome? – ele questionou.

— Me chamo Aurora. – respondi, de má vontade.

— Pois bem, Me chamo Aurora. – ele resmungou mais uma vez e eu não pude não sorrir. – Meu nome é Louis, embora ache que você não esteja muito interessada em saber.

— Realmente não me interesso pelo nome de pessoas que caçoam de mim. – respondi e segui andando.

— Eu não estava caçoando de você! Na verdade, achei que você é quem estava caçoando de mim! – percebi que ele se aproximava e apurei o passo. Não ousaria sequer conversar com um garoto estando tão perto de casa. Se minha irmã caçula, Lucy visse, provavelmente diria ao papai que eu estava me agarrando com um marginal e bom, eu ficaria de castigo até o fim da eternidade.

— Eu realmente preciso ir para casa agora, Louis. – eu disse, sem olhar para trás. Sabia que se encarasse aqueles olhos, me sentiria na obrigação de sentar para horas de conversa ali mesmo, na calçada. – A gente se vê por aí.

— A gente se vê... – o garoto murmurou e jurei ter notado um tom de desânimo na voz dele.

— Mamãe, cheguei! – gritei, abrindo a porta da sala.

— Meu bem, já te disse para não gritar assim! Vai incomodar os vizinhos! – minha mãe respondeu, aparecendo na sala.

— E eu já disse que não me importo com os vizinhos! Amanhã mesmo vamos embora e pronto, nunca mais os veremos!

— Aurora, meu amor, não se esqueça de que não estamos assim tão longe de casa – mamãe respondeu, rindo. – Vários desses vizinhos podem morar em nossa cidade, ou até mesmo, serem seus colegas na nova escola!

Meu sorriso murchou no exato instante em que mamãe citou a nova escola. Eu não queria nem mesmo pensar na tal escola. Há meses ela e papai vinham tentando me confortar com essa coisa de vida nova, mas eu não estava gostando nada daquilo. Minha vida era perfeita na cidade onde morávamos – Salem, OR – e eu não estava nenhum pouquinho afim de me mudar. Não queria deixar minha escola, minhas amigas, minha vida pra trás. Eu não queria começar uma vida nova. Eu estava satisfeita com a vida que tinha.

— Ei meu amor – minha mãe chamou, e eu percebi que havia a deixado falando sozinha.

— Desculpe-me, mãe. Eu não estava prestando atenção.

— Percebi. Perguntei o que você quer fazer para aproveitar o último dia de férias na praia.

— Sinceramente, mãe? Não é implicância nem nada, mas sabemos que não vamos aproveitar nada. Lucy está chata demais, não vai nos dar sossego.

— Ah, Lucy saiu com seu pai! – mamãe respondeu, sorrindo. – Eles foram ao zoológico.

— Eu não acredito – murmurei, fechando os olhos.

— O que há de errado, Aurora?

— Eu perdi a chance de dialogar com um garoto lindo por medo que Lucy visse e inventasse fofocas para o papai! – choraminguei, abraçando minha mãe.

— Ah, não se preocupe! Você pode vê-lo mais vezes.

— Nós vamos embora amanhã, mãe. Não vou vê-lo.

— Não se preocupe, meu amor. – minha mãe disse, separando-se de mim e indo até o quarto. Voltou alguns instantes depois, com a bolsa e a chave da casa. – Vamos à sorveteria. Você pode aproveitar para me contar mais sobre esse garoto lindo.

Ri e sai correndo atrás de minha mãe.

— Aurora, você se importaria seu entrasse? – minha mãe questionou ao passarmos em frente ao supermercado. – Prometo não demorar!

— Dona Sophie, não faça promessas que não pode cumprir! – respondi, rindo.

Dona Sophie me deu um beijo no rosto e saiu rebolando, debochada, em direção ao estabelecimento. Suspirando, sentei-me em um dos bancos e coloquei meus fones de ouvido, já acostumada com a demora.

Depois de contar – três vezes – todos os carros que estavam no estacionamento, algo prendeu minha atenção. Um garoto saía do supermercado com duas sacolas na mão. Eu podia ver as latas de cerveja nas sacolas, mas o que realmente me chamou a atenção foi o cabelo do garoto. Loiro. Espetado. Ele se virou, provavelmente procurando pelo carro e eu pude ver seu rosto e seus... Olhos azuis. Louis!

Levantei-me imediatamente, mas, depois de meio segundo, me sentei novamente, sentindo-me idiota. Eu queria pedir desculpas por minha atitude de mais cedo, mas sentia vergonha. Sorri. O que eu poderia perder?

— Ei! – gritei me levantando, mas o garoto não se virou. Provavelmente havia se ofendido com minha grosseria. Aurora, sua idiota! Apertei o passo, praticamente correndo e o alcancei. Ofegante, coloquei a mão em seu ombro. – Ei. Eu gostaria de pedir desculpas. Agi mal com você mais cedo, não deveria ter sido tão grossa.

O garoto se virou lentamente, olhando primeiro para minha mão em seu ombro – que eu retirei imediatamente – e depois para meu rosto. Ele estava diferente. Seu rosto não era simpático, seus olhos não eram tão azuis... Estranho.

— Eu te conheço? – ele questionou. Sua voz era dura.

— Não exatamente, mas você... Ei. Você deve se lembrar! Eu queria ficar com a cara no chão, lembra? – perguntei, tentando sorrir.

— Não. Não lembro. Nunca te vi na vida, garota. Você só pode ser louca. – ele disse simplesmente antes de virar as costas, seguindo seu caminho até o carro.

Primeiro, fiquei pelo menos uns quatro segundos parada o encarando feito idiota. Depois, me belisquei. Doeu. Não era um pesadelo. Então voltei para o banco, lugar de onde nunca deveria ter saído.

Talvez eu estivesse ficando louca. Talvez eu tivesse sido um pouco rude, mas aquilo não era motivo para Louis me tratar daquela forma. Suspirei, repentinamente irritada e resolvi ir procurar minha mãe. Queria apenas ir embora, nem ânimo para sorveteria tinha mais. Acho que é isso que acontece quando as pessoas te chamam de louca.

Entrei no supermercado e suspirei ao constatar que ali existem três mil prateleiras e eu não fazia ideia de onde minha mãe estava. Comecei pelo lugar mais obvio, cosméticos. Nada de dona Sophie por lado nenhum. Ótimo. Notei que as pessoas me encaravam e isso me irritou ainda mais. Decidi procurar na seção de mães velhas que adoram comprar coisas inúteis para a casa. Dobrei o corredor e... Oh, de novo não!

Aqueles cabelos espetados estavam me perseguindo ou eu estava os perseguindo? Eu nunca saberia dizer. Pensei em dar meia volta, mas nesse exato instante Louis se virou e me viu. Sorriu, o idiota!

Fechei a cara, cruzei os braços e segui caminhando, focando o fim do corredor. Percebi que ele parou o que estava fazendo para me encarar. Provavelmente iria me chamar de louca mais uma vez. Prendi a respiração no instante em que passei por ele.

— E aí, gostosa, tá perdida? – ele disse, descaradamente.

Arquejei, sem conseguir evitar a surpresa. Mas que idiota!

Não o respondi e segui caminhando em passos largos, ansiando achar minha mãe. Por fim, encontrei-a no corredor de massas.

— Mamãe – murmurei assim que parei ao lado dela. – Chegando na cidade nova, quero procurar um psiquiatra. Estou ficando louca.

Virei a cabeça apenas para ver um par de olhos azuis acompanhados por cabelos espetados me encarando.


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Notas finais do capítulo

Se alguém ler, por favor comente o que achou!