Três. escrita por jubssanz


Capítulo 3
3. Ensinamentos.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, beijos!



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— Querida, pode me passar a salada? – meu pai pediu. Oh, como aquilo me irritava. Eu sabia que era a forma dele de iniciar uma conversa à mesa do jantar, mas não era mais fácil perguntar como havia sido meu dia? Suspirei e passei a bendita salada.

— Fiz uma amiga hoje, na praça – comentei, lembrando-me de Claire e torcendo para que meu pai não inventasse de conhece-la.

— Verdade? Mas que ótimo, Aurora! – minha mãe exclamou.

— Fico feliz, filha. – meu pai respondeu. – Você poderia trazê-la aqui em casa amanhã, para almoçar e passar à tarde!

Oh, céus.

— Na verdade, ela me convidou para ir ao shopping, amanhã à tarde. – murmurei. – Posso?

— É claro! – meu pai exclamou. Respirei aliviada. – Se você levar Lucy com você.

— O QUÊ? – gritamos eu e minha mãe ao mesmo tempo.

— Qual o problema? – meu pai indagou. – Lucy irá se comportar, não é mesmo, meu amor?

— É claro! – a pequena murmurou. Argh.

— George, isso não faz o menor sentido. – minha mãe explicou como se meu pai tivesse seis anos. – Aurora quer passear, não trabalhar de babá. Lucy não vai.

— E porque é que Lucy não pode ir? Por acaso, Aurora vai fazer algo que não deveria?

— Meu Deus, pai, claro que não! – respondi, irritada. – Eu só não quero ter que parar em todas as lojas de brinquedo porque Lucy achou algo interessante, não quero comer na hora em que Lucy quiser, não quero sentar quando Lucy bem entender, não quero vir embora quando Lucy cansar! Quero sair para mim e por mim! – desabafei. Estava cansada de, como minha mãe diz, servir de babá.

— Está bem. – meu pai murmurou, querendo cessar uma possível discussão. – Mas não se preocupe, minha pequena Lucy. Levo você a um shopping melhor do que esse.

— Perdi a fome. Vou dormir, boa noite. – resmunguei, levantando-me da mesa e me dirigindo até meu quarto. Certas atitudes de meu pai me incomodavam muito. Principalmente, essa mania chata de colocar Lucy em um pedestal. Não era ciúmes, era apenas senso do ridículo.

Me remexi muito na cama antes de dormir, estava irritada demais. Por fim, sonhei que estava em uma palestra sobre sexo. Oh, céus.

— Filha, está acordada? – ouvi minha mãe questionar.

— Não. – respondi prontamente, puxando mais o cobertor sob o rosto.

— Aurora, levante – ela riu – Vamos filha!

— Tô dormindo. – resmungo.

— Vamos lá, você tem cinco minutos. Preciso que vá a padaria.

Percebendo que não havia outra saída, levantei-me.

— Mas que diabos! – resmungo para mim mesma, parada em uma esquina. – Porque é que eu não perguntei onde era a bendita padaria?

— Com licença – uma voz feminina diz atrás de mim. Me viro e me deparo com uma garota loura muito bonita. Ela tem cabelos lisos, com cachos nas pontas, e oh! Ela definitivamente não é magra. Ela é gordinha, cheinha, e é uma das garotas mais bonitas que eu já. Xô, estereótipos de beleza!- Ouvi você dizer que procura uma padaria?

— Sim! – exclamei, agradecida.

— Estou indo até uma. – ela disse, sorrindo. – Gostaria de uma “carona”? – ela fez aspas com as mãos.

— É claro! – respondi.

— Então, vamos lá. – ela respondeu e começou a caminhar. – Me chamo Rebecca, mas pode me chamar de Becky. E você?

— Me chamo Aurora. – respondo, sem jeito. Sim, odeio meu nome. – Mas deve me chamar de Aurora.

— Tudo bem, Aurora. – ela dá ênfase a meu nome, rindo. – Você tem uma irmã caçula, não tem?

— Tenho, sim. Mas como é que você sabe?

— Eu vi vocês na praia, alguns dias atrás. Mas não sabia que moravam aqui, nunca vi vocês por aqui.

— Na verdade, acabamos de nos mudar pra cá. Chegamos ontem. – respondi, sorrindo.

— Entendo. – Becky responde, dobrando a esquerda. – Chegamos!

Entramos na padaria, e eu sorrindo feito boba. Becky foi para a o balcão escolher o que queria e eu fiz o mesmo, tentando não fazer papel de idiota.

— Você já sabe onde vai estudar? – a garota indagou.

— Na Canby High School. E você?

— Provavelmente. Meu pai demorou tempo demais para fazer a matrícula, espero que ainda consiga.

— Entendi... Espero sinceramente que você consiga estudar lá, Becky, eu adoraria ser sua colega! – comento, sinceramente.

— Eu também gostaria, Aurora. Você parece ser muito simpática. – ela responde, sorrindo. – Ei, gostaria de fazer algo hoje à tarde?

Opa. Vacilo. Alarme vermelho. Claire ou Becky? Rebecca parecia ser super legal, meus pais a adorariam e parecia ser mais fácil lidar com ela do que com Claire. 10 minutos de conversa e eu não tive que inventar nenhuma mentira ridícula. Porém... Becky não parecia ser o tipo de garota que te levava a festas e chamava atenção ao passar no corredor.

— Oh, lamento! Preciso ajudar minha mãe a organizar a casa hoje, mas podemos marcar algo outro dia! – minto. A consciência pesa.

— Ah, sem problemas! – Rebecca responde, sorrindo. – Bem, vou andando. Ainda preciso passar no escritório do meu pai. A gente se vê, Aurora, foi um prazer!

— O prazer foi meu, Becky. A gente se vê. – respondo, sorrindo forçadamente. Se eu estou me sentindo uma idiota? É obvio.

Saio da padaria e resolvo ligar para Claire, para confirmar o passeio – quem sabe não saio correndo atrás de Becky dizendo que minha mãe não precisa mais de ajuda?

— Claire? – questiono, assim que alguém resmunga “alô.”

Sou eu. Quem é? – ela pergunta, do outro lado da linha.

— É a Aurora. – murmurei, torcendo para que ela se lembrasse de mim.

Ah, oi piranha! É a safada de nome estranho, né? – ela questiona, rindo.

— É... é. Acho que sim. – respondi. Ou gemi, tanto faz. – Escute, liguei para perguntar se ainda vamos ao shopping hoje.

Claro! Às 14h está bom para você?

— Ótimo. Onde podemos nos encontrar?

Vou pedir ao meu irmão que nos dê carona. Te encontro na pracinha às duas (horas), pode ser?

— Certo, te encontro lá então.

Eu queria ir, mas não queria. Estava com medo que Claire abordasse novamente aquele assunto. Eu não mentiria mais. Não poderia correr o risco de inventar muitas coisas e depois me enrolar em minhas próprias histórias. Mas o que eu poderia fazer? Não poderia passar por boba na frente de Claire. Tive uma ideia, e sorri comigo mesma. Diria a ele que “quem muito fala, pouco faz”. Seria uma ótima desculpa para não comentar nada, e ela continuaria me achando uma... safada.

Olhei-me no grande espelho que ficava em meu guarda roupa e sorri, satisfeita. Usava um vestido florido de alcinha e uma sandália rasteira preta. O cabelo estava – como sempre – preso em um coque frouxo. Peguei minha bolsa, despedi-me de minha mãe e de Lucy e sai.

Eram 14h07min, eu estava sentada na pracinha e nada de Claire.

— Ótimo. – resmunguei. – Fui abandonada. Volte para mim, Becky!

— Desculpe, não sou Becky, sou Josh. – uma voz masculina murmurou atrás de mim. Me virei, assustada, e arquejei. Um garoto me encarava. Ele parecia ter uns vinte e alguns anos, sua pele era bronzeada, seus olhos eram verdes, seu cabelo escuro e liso. Seu sorriso branco ofuscava qualquer coisa e sua covinha no queixo me tirava a vontade de respirar.

— Ah... oi. – resmunguei.

— Você deve ser a Aurora, certo? – ele questionou e eu assenti, sem fôlego. – Claire se atrasou e me pediu para vir busca-la. Sou Josh, irmão de Claire.

— Oi, Josh. – murmurei, sem conseguir falar mais nada. Sentia-me... intimidada! Então quer dizer que aquele deus grego era irmão de Claire? Ótimo. Arranjei uma melhor amiga. Tomara que Claire conte a ele sobre minha safadeza.

— Certo, vamos? – ele questionou.

— Vamos? Aonde? – acorda, Aurora! Não faça papel de besta!

— Para minha casa, oras – ele respondeu, arqueando a sobrancelha e apontando para um carro vermelho estacionado. – Claire está terminando de se arrumar.

— Ah. Certo. Vamos. – meu Deus. Não acredito que vou entrar em um carro com um homem – lindo – desconhecido. Qualquer pessoa normal estaria pensando em agarrá-lo, mas eu só conseguia pensar no quanto meu pai ia me matar.

— Então vamos – ele riu, me olhando como se eu fosse retardada, e me estendeu a mão. Peguei a mão de Josh, tremendo, e me levantei.

Chegamos ao carro e fui direto para a porta traseira, mas ele me repreendeu.

— Ei, não sou motorista. Você vai na frente.

Assenti, respirando fundo, e abri a porta do carona, me jogando lá dentro. Afivelei o cinto e prendi a respiração. Eu não havia cheirado Josh, mas se o perfume que pairava no carro fosse o mesmo dele... Meu Deus, eu precisava beijar aquele cara!

Josh sentou-se no banco do motorista, rindo de qualquer coisa, afivelou o cinto e ligou o carro.

— Então, Aurora, Claire disse que você é nova na cidade – ele comentou, procurando alguma música no rádio.

— Sou sim. – murmurei. – Cheguei ontem.

— Entendo... Veja bem, Claire é muito desligada, não conte com ela. Mas eu estou de férias da faculdade, se você precisar que alguém lhe ensine as coisas nessa cidade – ele se virou para mim, sorrindo. – me procure.

— Ah. Certo. Pode deixar. Mas... me ensinar que tipo de coisas? – AURORA, LOUCA, SEGURA ESSA LÍNGUA.

— Tudo que você quiser aprender. – Josh me respondeu, sorrindo, antes de dar a partida no carro.


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