Três. escrita por jubssanz


Capítulo 17
17. Volte logo, Aurora.


Notas iniciais do capítulo

Acho que minhas leitoras me abandonaram, mas, to postando mesmo assim, pra compensar os dias perdidos.
Boa leitura, espero que gostem e comentem, beijos!



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Eu sabia que Louis havia saído de meu quarto há pelo menos uma hora. Eu sabia que estava chorando, com a cara enterrada no travesseiro, há pelo menos uma hora. Certo. Minha primeira desilusão amorosa. Ou não. Não existe amor em três semanas, certo? Na verdade, existe sim. E a dor esmagadora que eu sentia em meu peito era a confirmação daquilo.

Mas, ora, eu era Aurora Westwood. Eu não me deixaria abater por causa de um simples garoto – lindo, maravilhoso e que eu pretendia encontrar no altar. Meu vestido, aliás, seria feito com a pele de uma cobra chamada Claire... FOCO, Aurora!

Certo. Dei um salto mortal, pulando da cama, antes que ela resolvesse me enredar mais uma vez. Eu precisava viver. Corri para o banheiro, praticamente rasgando minha roupa. Tentei contar cada gota que caía do chuveiro, tentando me distrair. Mas, de repente, as gotas se tornaram muito parecidas com um certo garoto louro. Droga. Felizmente, as gotas que caíam no ralo me lembravam Claire. Suspirei, diabolicamente.

Sai do quarto secando meu cabelo, e ouvi vozes na sala. Rapidamente as identifiquei. Mamãe, Mark e Becky. Será que Louis ainda estava ali? Estremeci apenas com o pensamento.

— Olá, Bela Adormecida – mamãe disse, sorrindo, ao me ver.

— Bom dia – murmurei.

— Boa tarde, dona moça. – Becky corrigiu. – São quase cinco da tarde.

— Venha cá – Mark murmurou me olhando de cima a baixo, me estendendo os braços. Me atirei em seu colo e rapidamente senti as mãos de mamãe e Becky ao meu redor.

— Sinto muito, Aurora. Nós achamos que você soubesse. Eu nunca o teria trazido aqui se você não soubesse.

— Como eu poderia saber? – questionei, chateada. – O evitei por duas semanas.

— Bom, meu amor, não quero ser rude, mas... Sua dor vai ter que esperar. – mamãe disse. Eu percebi que sua voz estava séria demais e me soltei do abraço, encarando-a atentamente. – Mais tarde, podemos nos sentar para ver algum filme e consumir quilos de sorvete, mas agora nós precisamos conversar.

— Nós? – questionei, olhando significativamente para Becky e Mark.

— Sim, Bela Adormecida – Mark respondeu, pegando minha mão. – Nós. Desde que você resolveu se trancar em seu casulo, dona Sophie tem estado com problemas, e nós, eu, ela e Becky, estamos tentando resolvê-los.

Aquilo me machucou. Era a segunda vez que alguém me acusava – mesmo sem querer – de ser egoísta. As pessoas que eu mais amava passavam por dificuldades e eu não percebia, porque me concentrava apenas nos meus problemas. Senti meus olhos arderem no mesmo instante.

— Desculpe, mamãe. – murmurei. – Eu não sei o que dizer.

— Tudo bem, meu anjo. Foi melhor assim. Não queríamos que você e Lucy soubessem antes da hora.

— Onde ela está, aliás? – questionei.

— Miles passou aqui mais cedo a levou para almoçar. Ela provavelmente vai dormir lá hoje.

— E nós dois – Mark se intrometeu, apontando para Rebecca e para si mesmo – vamos dormir aqui hoje.

Analisei atentamente a cena. Mark e minha mãe estavam de mãos dadas. Deus, desde quando eles eram amigos? Pelo jeito eu fiquei muito tempo... Como é que Mark diz? Trancada em meu casulo, isso mesmo. Pude perceber a seriedade no rosto dos três e senti meu coração disparar.

— O que está acontecendo? – questionei num sussurro.

— Nós vamos embora, Aurora. – minha mãe respondeu.

Eu sabia que a mão de Mark estava apertando a minha, mas não a sentia. Sentia Rebecca afagando meus cabelos, mas é como se ela não estivesse ali. Ouvia minha mãe chorando baixinho, mas preferia ignorar.

— Porque? – questionei depois de alguns minutos em silêncio.

— Não estou conseguindo nos manter. A escola de Lucy é muito cara e a sua também. Não posso pagar as duas, mais as parcelas do carro e da casa.

— E se eu trabalhar? Eu e você podemos trabalhar, mãe!

— E onde Lucy ficaria, meu bem?

— Na casa dos Carter! – exclamei. – Tenho certeza de que Rebecca não se importaria!

Olhei suplicante para minha amiga, e ela apenas sorriu. Naquele momento, soube que a guerra estava perdida.

— Mesmo que eles não se incomodem, não podemos depender deles para sempre, meu amor.

— E papai? Podemos recorrer a ele!

— Seu pai não vai nos dar um centavo. Ele se recusa a assinar o divórcio e separar os bens.

Aquilo me irritou profundamente.

— Ele não pode fazer isso! – gritei. Olhei furiosamente para Mark. – Você estuda Direito! Você pode nos ajudar! – acusei.

— Já tentei e procurei todas as formas possíveis, Bela Adormecida. – ele respondeu, sorrindo tristemente. – Não podemos forçar seu pai a assinar o divórcio.

— Mas podem tentar um acordo, não podem?

— Já tentamos isso também. – Rebecca disse. – Meu pai é advogado, ele e Mark correram atrás disso tudo durante esses dias. Mas seu pai não aceita o acordo. Ele quer algo em troca, na verdade, só assim assinará. E acho que você sabe bem o que ele quer.

— Não, não sei. – menti. Era óbvio que eu sabia. Mas me recusava a acreditar que meu pai era tão baixo. – Não sei. Diga-me, o que ele quer, mãe?

— Ele assina o divórcio se eu passar a guarda de Lucy para ele.

Eu apenas fechei os olhos e me deitei mais no sofá, aconchegando-me em três das quatro pessoas que eu mais amava naquele momento.

— Quando vamos? – questionei depois de alguns instantes. – E para onde vamos, aliás?

— Vovó e vovô vão adorar nos receber. – mamãe murmurou. Fiquei feliz com pelo menos aquilo. Eu adorava meus avós maternos. – Vamos segunda feira pela manhã. Só preciso trancar sua matrícula e vamos.

— Certo. – murmurei. – Lucy já sabe?

— Sim. Contei a ela antes de sair com Miles. Aproveitei para contar a ele e a Louis. Eles ficaram de dar a notícia a Travis, e Marise e Ferdinand já sabiam.

— Lucy deve estar arrasada. – murmurei, sentindo pena.

Todos estão arrasados. – Rebecca disse, dando ênfase no “todos”. Eu sabia o que ela estava querendo dizer, mas me recusava a acreditar.

— Pelo menos, Salem não é longe. Vamos visitar você todos os fins de semana – Mark murmurou. – Ainda mais se você me deixar brincar de fada madrinha novamente.

Fui obrigada a rir.

— Não sabia que você havia gostado tanto de me produzir para um desfile dentro do meu quarto, Mark – comentei rindo.

— Cale a boca – ele resmungou, fazendo minha mãe rir. – Ei, Bela Adormecida...

— Sim? – questionei.

— Eu amo você. – Mark sussurrou me apertando contra ele e Rebecca, e mesmo sem perceber eu já estava chorando.

— Mãe, eu não quero, quero ficar com vocês! – eu resmunguei.

— Aurora, vá e cale a boca – mamãe retrucava.

Mark e Rebecca estavam parados na porta do apartamento, me esperando, mas eu não queria ir.

Tudo bem, é óbvio que eu queria, aquela seria a última noite que eu poderia passar com meus amigos, mas eu me sentia culpada. Queria ajudar mamãe e Lucy a arrumarem as coisas.

— Aurora, por favor. Você ficará comigo e Lucy pelo resto da vida. Vá, aproveite. Você está apenas indo dormir na casa de Rebecca com ela e Mark. Não é como se você fosse se amarrar no chão da casa dela para não ter que ir embora.

— Vá, Rora – Lucy murmurou. – Aproveite seus amigos como eu aproveitei os meus hoje. – não pude deixar de rir. Sim, ela havia aproveitado bem os amigos dela. Louis, Travis e Miles haviam a levado em uma sorveteria pela tarde, e Louis estivera ali quinze minutos atrás para deixar Lucy. Senti um aperto no coração no instante em que ouvi a voz dele e corri para o banheiro, me trancando lá até ter certeza de que ele havia ido embora. E, sinceramente, Louis era mais um dos motivos pelo qual eu não queria dormir na casa de Rebecca. Não queria dar de cara com ele por lá.

— Porque é que não podemos dormir aqui? – questionei, segurando-me a porta da cozinha.

— Porque não vai ser a mesma coisa. – Rebecca respondeu, dando de ombros. Foi impossível não rir vendo que ela estava irritada.

— Aurora, pare de frescura. – Mark disse. – Louis não vai estar lá.

— Como é que você sabe? – questionei de cara amarrada.

— Porque ele vai sair com Claire.

— Porra, golpe baixo. – resmunguei.

— Pediu, levou, Bela Adormecida. Vamos.

Assenti, derrotada, e dei um beijo em mamãe e outro em Lucy. Mark segurava minha mochila roxa, e nem assim parecia gay. Porra de hormônio masculino que aquela cara tinha!

Descemos de elevador, em silêncio. Eu não queria falar nada e imaginei que eles se sentissem da mesma forma. Era estranho pensar que aquela seria a última noite com meus amigos.

­— Me expliquem uma coisa – pedi, entrando no banco do carona do carro de Mark enquanto Becky entrava atrás. – Seus pais deixaram um garoto dormir conosco, Becky?

— Meus pais sabem que Mark é gay. Sim, eu também sei. Não, os garotos não sabem.

— Ah. – resmunguei. De repente, um pensamento me chateou. – Bom, pelo menos agora vocês vão poder continuar a amizade.

Encostei minha cabeça no vidro do carro e, mais uma vez naquele dia, chorei. Eu sabia que não era culpa deles, afinal, os dois ainda estavam me aguentando em todo meu mau humor na esperança de me alegrar, mas... eu não achava justo que eles pudessem ter aquela oportunidade e eu não.

Antes que eu percebesse onde estava, Mark estacionava o carro em frente a casa dos Carter. Eu desci do carro me sentindo no piloto automático. Joguei minha mochila por sob o ombro e sequei os olhos. Não queria que Marise ou Ferdinand pensassem que eu estava fazendo drama. Encarei a porta de entrada da casa, lembrando que fazia exatamente um mês que eu havia pisado ali pela primeira vez. Desde então, quanta coisa havia mudado... Naquele dia, eu nem mesmo sabia que Louis era Louis, e então... Não só sabia quem era como também sabia que estava me apaixonando por ele. Ele, no entanto, estava apaixonado pela única garota que eu realmente detestava, ótimo, vida. Obrigada. Aquela seria a parte boa de ir embora. Ou não. Eu sentiria falta de Marise, Ferdinand, Travis e as garotas da escola, mas não era como se eu não fosse sobreviver. Rebecca e Mark haviam me prometido que manteríamos contato sempre, e conhecendo Mark, ele não me daria uma trégua para sentir saudade. Mas Louis... Eu sabia que não iria vê-lo. E ele, com certeza, era quem me faria mais falta. Sentiria falta de sentir seu cheiro de morango que, segundo ele, também era meu cheiro. Sentiria falta de encarar aqueles olhos azuis que eu tanto adorava. De ver e desejar aqueles lábios bem desenhados. Sentiria falta daquele toque macio no meu cabelo. Sentiria falta do meu amigo Louis. Sentiria falta do garoto que, nos meus sonhos mais íntimos, seria meu amor.

Quanto mais eu caminhava, mais distante parecia estar a porta da casa. Aquele gramado nunca parecera tão grande. Era como se cada pedacinho de grama estivesse se despedindo de mim.

Abaixei a cabeça, na intenção de esconder as lágrimas, e acabei percebendo uma coisa que fez meu coração acelerar. Eu usava um short jeans claro, um chinelo azul e minha camiseta – favorita – azul do Capitão América. Meu cabelo estava solto, coisa que raramente acontecia. Eu estava exatamente da mesma maneira que estava no dia em que conheci Louis. Tanto por fora quanto por dentro. Estava vestida da mesma forma e meus sentimentos eram os mesmos. Eu estava irritada, magoada com a vida, não queria me mudar, não queria me arriscar a ter uma nova vida, e nunca, nunca imaginaria encontrar Louis. A diferença era que, naquele momento, eu sabia que não o encontraria. Até pensei em tropeçar propositalmente, na intenção de que ele aparecesse, mas eu sabia que não. No muito, Miles apareceria para me zoar, mas Louis, não.

Há muito já havia esquecido de Rebecca e Mark, por isso, suspirei e dei o último passo até a porta. Estiquei a mãe e girei a maçaneta como se minha vida dependesse daquilo.

Se eu tivesse um coração um pouco mais fraco, teria morrido naquele momento. No instante em que abri a porta, gritos invadiram meus ouvidos como se eu fosse a jurada de um concurso de... gritos. Eram gritos animados, gritos agudos, gritos que pareciam ser meu nome... Confusa, dei uma passo a frente, mas a sala estava escura. A gritaria não cessava. Dei mais um passo a frente, curiosa e assustada, e então, pude ver. A sala de estar da casa de Rebecca estava cheia. Cheia de rostos conhecidos. Todos gritavam e sorriam... Para mim. Ferdinand, Marise, Travis, minhas colegas de sala, Anabelle, Charlie, Layla, Sandy, Lizzie e todos os outros que eu havia conhecido nas últimas três semanas. Eu não entendia o que estava acontecendo ali. Naquele momento, senti meu coração disparar. Eu sentia, mas não via. Eu sabia que ele estava me vendo, mesmo que eu não visse. Olhei ansiosamente ao redor da sala, o procurando. O achei, no topo da escada. Ele segurava um imenso cartaz na mão, com os dizeres “Volte logo, Aurora, sentiremos sua falta”. No mesmo instante, meus olhos se encheram novamente de lágrimas. Mas não pelas palavras no cartaz, nem mesmo por constatar que aquela era uma festa surpresa de despedida para mim. Chorei por contemplar a imensidão existente naqueles olhos azuis que me encaravam como se me convidassem a... conhecer tudo que ali havia. Quando Louis olhou diretamente para mim e sorriu o meu sorriso, eu tive certeza do que tentava negar para mim mesma há dias. Eu estava sim, apaixonada por Louis Adams. Minhas pernas trêmulas e meu coração acelerado eram a prova vida daquilo.


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