Cheguei à escola – eu ia sozinha, não havia necessidade de fazer mamãe e Lucy levantarem cedo sendo que eu sabia o caminho. E estranhei o fato de Rebecca e os rapazes não estarem me esperando como faziam sempre. Dei de ombros, cumprimentando o porteiro e entrei. Dirigi-me para a escada do terceiro prédio, local onde nós ficávamos todos os dias. Apenas Miles e Travis estavam ali. Ótimo. Começar a sexta-feira dando de cara com Miles. Tudo que eu queria. O que me confortou foi ver um sorriso brincalhão no rosto de Travis. Deduzi que se eles estavam ali, Louis também estaria. Senti todo meu corpo se arrepiar só de pensar em Louis. Logo mais, à noite, teríamos nosso encontro-mas-não-de-amigos. Eu não saberia dizer se a mais ansiosa era eu, mamãe ou Becky. Enquanto me aproximava, vi que Miles cochichou algo com Travis e olhou debochadamente para mim. Ótimo. O dia seria longo. Forcei meus pensamentos a se manterem em Louis e no nosso encontro e dei o último passo.

— Bom dia, Travis – murmurei. – Bom dia, Miles. – Qual é! Nos últimos cinco dias eu estava tentando ser legal com Miles, vai que... Mas não, não adiantava.

— Bom dia, Rora! – Travis respondeu, usando o apelido pelo qual Lucy me chamava e eu corei. O outro loiro apenas virou a cara.

— Onde estão Rebecca e Louis? – questionei.

— Eles se atrasaram e nós viemos antes – Miles respondeu. – Aliás, já devem estar chegando.

Apenas assenti, sem saber o que falar. Uau. Miles me respondendo educadamente, sem sarcasmo, ironia nem nada. Uau!

Sentei-me ao lado de Travis, no degrau da escada, e no mesmo instante, o garoto passou seu braço por minha cintura. Eu deixei, afinal, gostava de Travis e nós éramos amigos, e eu particularmente não via nenhum problema em existir carinho entre amigos. Foi por isso que me surpreendi tanto com o que aconteceu.

–—

Louis

Eu não podia acreditar no que estava vendo. Não podia ou não queria. Não sei dizer. Assim que eu e Rebecca nos dirigimos até a escada em que costumávamos ficar, eu vi que lá estavam Travis, Miles e uma garota. Fiquei decepcionado com o fato de que Aurora não estava lá, por que... Bem, que isso não saia daqui, mas, eu estava contando os minutos para vê-la. Mas logo me distrai vendo que Travis beijava a tal garota. Quando chegamos perto o suficiente, senti meu coração dar um salto. Eu estava ficando louco.

Agarrava-me fortemente a esse pensamento, não querendo aceitar o que meus olhos viam. O tom da pele, o estilo das roupas, o coque frouxo... A garota estava de lado, mas eu a conhecia. Era Aurora. Beijando um garoto. Meu irmão. Aurora beijando Travis.

Virei às costas no mesmo instante e segui caminhando. Ouvi a voz dela.

— Lou, espera! – ela gritou. Não me virei, não respondi.

Eu não sabia o que pensar. De Aurora, é claro. Eu entendia o lado de Travis. Ele era um garoto e Aurora era muito bonita. Ele havia sido um pouco egoísta, sim, porque eu já havia dito a eles que estava me interessando por ela, mas, a culpa não era dele. Travis não faria aquilo comigo, poxa, ele é meu irmão! Aurora provavelmente havia forçado a barra e Travis como trouxa – leia-se: garoto – não havia resistido. Tudo bem, Já Aurora... Não era possível que ela não tivesse percebido meu interesse nela. Na noite anterior, eu poderia até dizer que... Poderia dizer... Oras, eu diria que ela também estava começando a se interessar por mim.

— Louis, espera! – ela gritou novamente, e eu percebi que nem cinco segundos haviam se passado. O tempo parecia ter parado no momento em que eu vira Aurora beijando Travis.

— Louis. Não faça isso comigo – a voz de Aurora que antes era doce agora parecia arder em meus ouvidos.

— Não fazer o que, Aurora? – questionei, virando-me. Arrependi-me. Ela estava a um passo de mim, corada. Ofegante. Com os lábios vermelhos. Desejei que o causador daquilo tudo fosse... Eu.

“He takes your hand, I die a little

I watch your eyes and I'm in riddles

Why can't you look at me like that”

(Ele pega sua mão, eu morro um pouco

Eu vejo os seus olhos, e estou em pedaços

Por que você não pode olhar para mim assim?)

Não consegui mais encará-la e novamente virei às costas.

— Loui, por favor, espere! – ela pediu e eu soube que ela vinha atrás de mim.

— Eu só não entendo uma coisa, Aurora. Todos esses dias você tem repetido a mesma coisa. “Somos apegas amigos, Loui.”. Tudo bem. Agora eu entendo o por que. Mas, cá entre nós, você não poderia ter me dito que estava pegando meu irmão?

— É claro que não, porque eu não estou “pegando seu irmão”! – ela exclamou, fazendo aspas com as mãos.

— Oh, não. Não mesmo. Pode até me chamar de burro, Aurora, mas não de cego.

— Louis, eu juro. Eu não estou com Travis e nem pretendo! Ele me beijou, do nada. Eu jamais faria isso. Inclusive, eu notei que ele e Miles... – ela disse, mas eu a interrompi.

— Aurora, cale a boca! Não basta se fazer de inocente, ainda por cima vem querer envolver o Miles na história? Admita.

— Mas Louis, não posso admitir uma coisa que não fiz! – ela exclamou, jogando as mãos para o alto. Eu vi seus olhos marejados e aquilo me doeu. Talvez eu estivesse sendo radical demais...

— Tudo bem, Aurora. Tudo bem. Pelo menos você não usou a desculpa de que confundiu os irmãos. Que bom que você não é baixa a esse ponto.

Cheguei à conclusão de que estava mesmo sendo radical, mas... Foda-se. Como eu disse, teria sido muito mais fácil se ela tivesse me contado que estava a fim de Travis. Eu a teria tirado da cabeça, não teria feito papel de idiota e ainda poderia ter dado conversa para a amiga ruivinha de Miles... Como é mesmo? Claire, isso.

— Só peço que acredite em mim. Eu não aceitaria sair com você, não me aproximaria de você da forma que fiz se estivesse interessada em Travis! – Aurora murmurou. Vacilei. Aquilo fazia sentido, mas... O que eu vi, nenhum dos dois podia mudar. E eu vi Aurora beijando Travis.

— Vou pra casa. A gente se vê – murmurei e virei às costas. Dessa vez ela não me pararia novamente.

— Nós ainda vamos sair hoje? – ela me questionou. Senti meu coração apertar.

— Agora sim você está falando com o garoto errado. Você deveria perguntar isso a Travis. – e assim sai do colégio, dando as costas a Aurora e desejando que assim fosse por um bom tempo. Não gostei de vê-la daquela forma, mas também não aceitaria o fato de que ela escondeu o interesse por meu irmão quando até mesmo meu tio e a irmã caçula dela perceberam que eu estava interessado nela.

E mais uma vez, mesmo naquele momento de raiva, eu só conseguia pensar em beijá-la. Como queria ter sido eu. Aquela maldita garota não sabia, mas eu queria beijá-la desde o instante em que a vi. Aurora me encantou desde o primeiro momento. Que tipo de garota cai de cara na calçada e mantem uma conversa como se estivesse de frente para você? Que tipo de garota se levanta da calçada e no instante seguinte está sorrindo para você com um brilho encantador nos olhos castanhos também encantadores? Que tipo de garota tem o cheiro de morango mais perfeito do mundo? Que tipo de garota tem uma mão que se encaixa perfeitamente na sua? Que tipo de garota fica encantadoramente sexy enquanto lê algum livro na sala de aula, usando óculos, coque no cabelo e mordendo uma caneta? Que tipo de garota sorri cada vez que te vê e praticamente te obriga a sorrir também? Que tipo de garota te encanta totalmente mesmo que se conheçam há apenas uma semana? Infelizmente, o tipo de garota que beija seu irmão quando você não está perto.

“... But I see you with him

Slow dancing

Tearing me apart

Cos you don't see

Whenever you kiss him

I'm breaking

Ohh, how I wish that was me”

(...Mas eu vejo você com ele

Dançando devagar

Dilacerando-me

Porque você não vê

Sempre que você o beija

Eu estou quebrando

Oh, Como eu desejo que aquele fosse eu.)

——

Aurora.

— Certo – murmurei, ao entrar no banheiro, secando as lágrimas que insistiam em cair. Porque é que eu estava chorando mesmo? Antes que eu pudesse me auto responder, avistei Rebecca – pelo espelho – parada no canto do banheiro. Ela me encarava.

— Eu não esperava isso de você, Aurora. – ela murmurou, dirigindo-se para a porta do banheiro. – Ou devo chamá-la de Claire?