Três. escrita por jubssanz


Capítulo 12
12. Ervilhas.


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Eu não gosto de ouvir músicas durante a leitura (e também nunca me acerto na hora de colocar o link no meio do texto) e usei apenas dois trechinhos da música, então não há necessidade de acompanhar a mesma durante a leitura do capítulo, mas, se alguém quiser, é One Thing da One Direction. (https://www.youtube.com/watch?v=EDv7efxb4No)
Beijos e boa leitura!
(Leiam as notas finais!)



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Alguns meses atrás, se alguém me dissesse que era possível uma pessoa ter um mix de sentimentos – com pelo menos quatro sensações diferentes – eu não acreditaria. Tolo equívoco. Raiva, alegria, tristeza, saudade, admiração, carinho e um sentimento “desnomeado” que te faz querer flutuar cada vez que uma pessoa te abraça, sorri para você, te faz um carinho ou um elogio bobo.

Raiva do idiota do Miles que não perdia uma única oportunidade de me provocar, de me chamar de sem sal, de dizer ao irmão dele que eu não passava de uma tonta necessitada de atenção. Oras! E infelizmente, de segunda-feira pra cá, tenho visto Miles muito mais vezes do que gostaria. Como se já não fosse suficiente vê-lo nos intervalos e na saída do colégio, minha querida irmã havia se tornado sua própria Princesa Ariel. Na terça-feira pela tarde, Miles havia se enfiado aqui em casa para assistir filmes com minha irmã. Devo dizer que dona Sophie – traidora! – o adorou? Ah sim, porque ela adorou. O que dona Sophie e senhorita Lucy têm na cabeça para gostarem de um pé no saco feito Miles? Oh, céus. Na quarta à tarde, tive que levar Lucy à casa dos Carter, pois Miles queria leva-la na pracinha mas não se dispunha a vir pegá-la ou encontra-la já na praça. Oras! Hoje, quinta feira, eu estava livre dele, mas ele e Lucy já haviam combinado um passeio para amanhã. Oras!

Em contrapartida, eu estava muito feliz. A amizade de Lucy com esse bendito troglodita estava a fazendo bem, no final das contas. Achei que ele fosse sentir muita falta do papai, mas felizmente – sabemos que para alguma coisa ele serve – o ridículo do Miles estava administrando bem o tempo da minha pequena. Mamãe e Marise, mãe de Rebecca, estavam se dando muito bem. As duas conversaram horas por telefone e trocaram várias receitas. Marise nos convidou para jantar hoje, e eu bati o pé, insistindo até o último fio de cabelo que não iria. Assim que soube que Miles estaria na casa de um amigo, corri para o guarda-roupas na intenção de escolher uma roupa.

Voltando ao meus sentimentos, eu detestava admitir, mas não podia. Meu pai estava fazendo uma falta imensa. Ele havia nos ligado todos os dias, mas não era a mesma coisa, de jeito nenhum. Eu esperava que, um dia, pudesse entender porque meu pai havia desistido de nós. Minha mãe parecia estar lidando bem com a situação, ela não chorava, não tocava no nome dele, ria e brincava por boa parte do dia. Mas nos últimos três dias, não havia salada na hora do jantar. Para mim, pelo menos, a saudade e a tristeza estavam batendo forte.

Eu estava também admirada com Lucy. Na segunda-feira, enquanto jantávamos após voltarmos do shopping, ela havia respirado fundo algumas vezes e então nos contado que papai estava fazendo uma coisa muito feia. Mamãe chegou a engasgar, e eu logo deduzi que ela achou que papai a traía. Como já sabia do que se tratava, eu apenas dava tapinhas em suas costas, tranquila. A situação seria cômica se não fosse trágica. Lucy contou que papai havia a convidado para morar com ele várias vezes, prometendo brinquedos, passeios e todo e qualquer tipo de coisa d’A Pequena Sereia. Minha pequena disse que respondeu a ele que o que ele estava fazendo era muito feio, e se iria mesmo desistir de nós, nem a própria Pequena Sereia a convenceria.

O carinho que eu estava sentindo por Rebecca, Marise e Ferdinand – pai de Rebecca – era algo indescritível. Rebecca me tratava como a uma irmã – uma irmã legal, diga-se de passagem. Não da forma que eu trato Lucy quando ela me incomoda, não. E Marise e Ferdinand tratavam a mim como tratavam Rebecca e os meninos. Eu fiquei sabendo que os pais deles – a mãe e o padrasto – eram biólogos marinhos e estavam viajando pelo mundo todo, fazendo uma pesquisa sobre algum peixe esquisito que eu não fiz questão de lembrar o nome. Eu me sentia bem com eles, Rebecca e eu parecíamos nos conhecer a anos, estávamos em sintonia. Marise me ligava pelo menos três vezes ao dia, para saber como eu, Lucy e mamãe estávamos, e Ferdinand nos chamava de sobrinhas e comadre, respectivamente.

E bom, sobre o último sentimento, ninguém quer saber, não é mesmo? Oh, querem? Ótimo. Louis é incrível. Ele é encantadora e deliciosamente incrível. A cada cinco minutos eu o pego me encarando durante as aulas. Ele faz o possível para me tocar na maior parte do tempo, seja segurando minha mão, apoiando a mão em minha cintura – céus! – ou até mesmo mexendo em meu cabelo, e já admitiu que faz isso porque gosta. Segundo ele, eu mesmo sem querer, praticamente peço para que ele me toque. Preciso lembrar a mim mesma – várias vezes por dia – que Louis é apenas um amigo muito carinhoso, só isso. Louis é bom demais para mim e eu já observei como várias garotas do colégio olham para ele. Segundo as piadinhas que Miles solta constantemente, Louis é o tipo de garoto que tem paixões passageiras, que geralmente acabam quando ele consegue... O que quer. E vocês sabem o que ele quer. Por isso, se Louis está tentando fazer de mim sua paixão passageira só para conseguir o que quer, é óbvio que eu vou cair na dele e ceder, afinal, como já foi dito, ele é irresistível. Oh, espera. Não, não, não! Aurora, contenha-se!

— Aurora, você está pronta? – minha mãe questionou, batendo a porta do quarto e eu dei graças a todos os deuses existentes – e inventei alguns, aliás.

— Sim, estou! – obrigada, querida mãezinha, por me tirar desses terríveis pensamentos antes que eu me entregasse por completo a Louis. Obrigada! – Pode entrar.

Olhei-me no espelho, satisfeita. Como o calor estava insuportável (aliás, não seria má ideia chamá-lo de Miles) eu usava apenas uma saia jeans e uma regata florida e solta no corpo. Meu cabelo, não preciso dizer, estava preso em um coque frouxo. Será que Louis gosta de garotas que usam coques? Aurora!

— Vamos! – eu murmurei para mamãe, rindo. Ela me olhou desconfiada, com um grande ponto de interrogação estampado na cara.

— Mamãe, vamos – Lucy murmurava, puxando minha mãe pelo braço.

— Nem se anime, pequena. – respondi. – Miles não estará.

— Mas tio Travis estará, e é quase a mesma coisa. – respondeu, dando de ombros.

— Céus! Não pode ser possível que só eu perceba o quão insuportável Miles é – murmurei, incrédula. Infelizmente, minha mãe ouviu.

— Aurora, já conversamos sobre isso. Não gosto que você fique julgando o rapaz dessa forma. Você não pode afirmar que não gosta dele, sendo que nem o conhece.

— Vocês também não o conhecem e o idolatram. – murmurei.

— Chega, Aurora.

— Qual é o seu problema, mãe? Já parou pra pensar que talvez ele me trate mal e é por isso que eu reclamo tanto dele? Oh, não, é claro que não. Então por favor, não fale do que não sabe.

— Aurora, já basta! – mamãe ralhou.

Isso resultou em uma coisa não muito interessante. Quando chegamos à casa de Rebecca e Ferdinand abriu a porta, ele quase esmagou meus beiços, pois eles estavam arrastando no chão. Ele cumprimentou minha mãe e pegou Lucy no colo, enquanto eu apenas cruzava os braços e perguntava a mim mesma quando poderia ir embora dali. Mas naquele instante, Louis apareceu atrás do tio, apoiando as mãos em seus ombros.

(n/a: Se quiserem, iniciem a música aqui!)

Eu o vi de relance e percebi que ele estava sério, mas, no instante seguinte Louis mexeu a cabeça, deixando-a a esquerda de Ferdinand, e assim ele me viu.


“I've tried playing it cool

But, when I'm looking at you

I can't ever be brave

'Cause you make my heart race

(Eu tentei parecer tranquilo

Mas quando eu estou olhando para você

Eu nunca consigo ser corajoso

Porque você faz meu coração disparar)

Foi uma coisa incrível, me arrepiou até o último fio de cabelo, senti minhas pernas tremerem e meu coração acelerar. Louis olhou em meus olhos no mesmo segundo em que eu focava os seus. Louis abriu o sorriso, sem se conter, no mesmo instante em que eu senti todo o meu mau humor ser transformado por todo o carinho que eu sentia por aquele garoto, e senti também que meus lábios se curvavam em um imenso sorriso.

— Oi – ele murmurou e eu sorri – ou chorei? – ao perceber que haviam nos deixado sozinhos ali.

— Olá – respondi, adiantando-me para abraça-lo.

Louis esticou seus braços e me envolveu, pousando suas mãos em minha cintura. Eu descansei minha cabeça na curva de seu pescoço, sentindo seu cheiro de morango, e senti que poderia passar horas fazendo aquilo. Ele me apertava contra seu corpo como se também não quisesse me soltar, e eu podia sentir até sua respiração, ora tranquila, ora descompassada.

— É incrível, não é? – ele murmurou.

— O que? – questionei, sem saber do que ele falava. Estava com preguiça de abrir os olhos e estava muito confortável naquela posição, logo, não viraria a cabeça para descobrir.

— Nós. – a forma como a única palavra saiu de sua boca fez-me arrepiar por inteira. Será que ele também estava sentindo minha respiração descompassada?

— C-c-como assim “nós”? – gaguejei.

— Digo em relação a essa amizade, a esse carinho que sinto por você e acho e espero que você também sinta por mim. É incrível, Aurora. Conheço você há uma semana e já lhe adoro! Sorrio quando você sorri, me estresso quando você se estressa, suspiro quando você suspira. E me sinto muito bem por estar perto de você, Aurora. Você consegue ficar perto de mim apenas... Estando perto de mim. Você não me parece o tipo de garota que vai subir em um prédio e fazer malabarismos para me conquistar.

— Ainda bem que você sabe – eu murmurei, rindo. Finalmente abri os olhos, e me deparei com aqueles intensos olhos azuis me encarando como se pudessem analisar minha alma. Eu não duvidaria. Louis parecia me conhecer tão bem.

— Ainda bem que você não precisa de malabarismos para me conquistar – Louis murmurou tão baixo que eu cheguei a me perguntar se eu deveria ou não ter escutado aquilo. Mas a questão é que eu havia sim escutado.

“...Somethings gotta get loud

'Cause I'm dying just to make you see

That I need you here with me now

'Cause you've got that one thing

(...Algumas coisas têm de ser ditas alto

Porque eu estou morrendo apenas para fazer você ver

Que eu preciso de você aqui comigo agora

Porque você tem aquilo)

— A comida está maravilhosa, Marise! – minha mãe exclamou, sorrindo. Marise agradeceu, também sorrindo. Todos comiam em silêncio, apreciando a saborosa janta e vez ou outra comentavam alguma coisa entre si e o silêncio rapidamente voltava a reinar. Eu estava sentada entre Louis e Rebecca, e, sinceramente, não sabia se aquela havia sido uma boa escolha. Quer dizer, que de anormal havia naquilo, não é mesmo? Nada. Até eu perceber que meus dois queridos amigos voavam de forma cúmplice a cada dois minutos. Senti quando Rebecca apoiou seu pé em minha cadeira e rapidamente começou a passa-lo por minha perna. Eu tentei afasta-la com meu próprio pé, mas como eu sou Aurora, tudo que consegui foi quase cair da cadeira. Tive que fazer esforço para conter o riso e minha mãe me olhou fazendo cara feia. Rebecca continuou me chutando. Filha da mãe!

Louis, por sua vez, tocava em minhas coxas a todo instante. Eu afastava sua mão, também fazendo esforço para não rir. Na quadragésima quinta vez em que aquele pervertido apoiou a mão em minha coxa, eu estendi minha própria mão para conte-lo, e senti que ele a segurou firme e entrelaçou nossos dedos. Louis passou um tempo segurando minha mão e eu sorri involuntariamente, encarando meu prato de comida. Ouvi um barulho esquisito a minha esquerda e me virei para encarar Rebecca que corava furiosamente e tentava a todo custo segurar o riso. Desconfiada, corri o olhar pelo resto da mesa e me deparei com Travis quase tão vermelho quanto Rebecca. O garoto estava vesgo, de tão forçada que estava sua careta para ficar sério. Não sabia o que Rebecca estava aprontando, mas sabia que Travis estava envolvido. E obviamente, meu querido Louis não estaria de fora. Olhei pra ele, desconfiada, e ele sorria descaradamente. Arqueei a sobrancelha e ele apertou minha mão contra a dele, ainda por baixo da mesa. Com a força que Louis apertava nossas mãos, senti algo... Estourar? Senti algo “melecar” nossas mãos e ele começou a gargalhar no mesmo instante, chamando a atenção de todos na mesa. Rebecca e Travis finalmente soltaram o riso, e minha amiga tinha lágrimas nos olhos. Por um segundo, quase me esqueci da sensação nojenta me minha mão. A ergui e constatei que realmente havia um tipo de gosma nela. Presas em minha mão havia bolinhas verdes. Olhei para Louis indignada e cheirei a mão. Mas que diabos... ?

— Ervilhas! – berrei, sacudindo a mão. – Que nojo! Que nojo! Ervilhas, cara! – gritei, levantando-me e correndo para o banheiro. Que nojo! Que raiva! Odeio ervilhas.

— Meu bem – ouvi Marise questionar a alguém. – por favor me diga que essas ervilhas das quais Aurora está reclamando não foram tiradas do seu prato.

Ouvi a gargalhada de Louis, Travis e Rebecca e gemi.

–———-———-

Miles.

Acordei ansioso. Era sexta-feira. Dia do encontro de Louis. Ou, no que dependesse de mim, dia do não encontro.

— Ei, Travis – chamei assim que vi Louis entrar no banheiro.

— Diga – Travis me respondeu.

Respirei fundo.

— É hoje que o Louis pretende levar Aurora para sair, então é hoje que nós vamos agir, maninho – sussurrei, sem conseguir conter um sorriso.

— Tudo bem. – meu irmão respondeu, mas não parecia lá muito animado.

— O que foi? – questionei. Travis não podia dar pra trás. Não agora, que estava tudo certo. Não!

— Eu queria saber uma coisa, Miles. Porque você está fazendo isso?

— Não acredito que você está me questionando justo agora! Pior ainda, não acredito que você vai me deixar na mão! Eu confiei em você, cara! Você disse que estava comigo nessa, me deu sua palavra. – dramatizei. Sabia que o bobalhão do Travis cairia.

— Ei, acalme-se. Eu estou com você. Eu vou fazer. Só gostaria de entender seus motivos.

— Ah, você quer motivos? Tudo bem. Eu não gosto dela. Aí está um motivo. Agora pare de me questionar, Travis. Você quis a Aurora desde a primeira vez que a viu, e agora, graças a mim, você vai tê-la. Nós dois sairemos ganhando. Fim.

— Tudo bem, Miles. – Travis murmurou. – Desculpe. Mas, cara... E se o Louis ficar chateado conosco?

— Já conversamos sobre isso, Travis! Na hora, ele vai ficar chateado. Com você, é claro. Eu sou inocente, não sou eu quem vai beijar a garota dele. Mas depois, ele vai nos agradecer por tê-lo livrado da chata da Aurora. É pelo bem de Louis, Travis, não se esqueça.

— E porque é que você tem essa implicância com a Aurora? – Travis questionou. – Não entendo como você pode se dar tão bem com Lucy e fazer isso com a irmã dela.

— Meu querido irmão, - respondi, entredentes – meus motivos não vêm ao caso. Isso é pelo bem de Louis. Faça. Apenas faça.


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Notas finais do capítulo

Eu particularmente não gosto de POV's aleatórios durante o texto, por isso, só os usarei quando forem realmente necessários (por exemplo, quando alguma coisa realmente relevante estiver acontecendo longe da Aurora, como foi o caso ali). No prox capítulo volta pra Aurora normal, e eu vou avisar sempre que tiver outros POV's (que, por incrível que pareça, serão na maioria das vezes, do Miles. hahahaha)
beijos e comentem!



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