Três. escrita por jubssanz


Capítulo 10
10. Mark.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que gostem e etc.



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Caminhei vagarosamente até o quarto de minha mãe, sem saber bem o que fazer.

— Ei, mãe. – murmurei. Felizmente, ela já havia parado de chorar.

— Meu amor – ela disse, sorrindo. – Não me olhe com essa cara, eu estou bem.

— Você o ama, mamãe? – questionei.

— Não me julgue, Aurora, mas não. Não o amo. O que seu pai disse é verdade. Nós não amamos, apenas nos suportávamos, porque não queríamos que você e Lucy fossem obrigadas a passar por isso.

— Mas, mãe, você não precisava ter passado por isso. Que tivesse nos contado! Eu e Lucy com certeza entenderíamos.

— A verdade é que eu não queria desistir, Aurora. Não queria desistir da minha família.

— Assim como meu pai desistiu. – comentei e fui até ela, a abraçando. – Você vai ficar bem, não vai, mãe?

—É claro que vou. Tenho do meu lado as duas pessoas que mais amo nesse mundo, como poderia não ficar bem? Aliás, onde está Lucy?

— Com meus colegas.

— Aurora! – ela ralhou e eu ri.

— Relaxa, mãe. Eles são de confiança. São primos de Rebecca e moram com ela, e Lucy está na casa dela. Tudo tranquilo. Aliás, quer ver uma coisa? – questionei, enquanto dona Sophie me olhava desconfiada.

Peguei o celular mais uma vez e liguei para Louis. Ele não atendeu. Puta merda. Na frente da minha mãe não, por favor. Vamos, Louis, vadia, atende! Na segunda ligação e no quarto toque, Louis atendeu.

— Você sabia que está nos incomodando? – Louis disse.

— Porque? – questionei, rindo, e colocando no viva voz. – O que vocês estão fazendo?

— Assistindo A Pequena Sereia – ele respondeu, também rindo.

— Cale a boca, tio Louis – ouvimos a voz de Lucy. – Quero ouvir o filme!

— Tudo bem, pequena, desculpe – Louis murmurou e eu vi minha mãe sorrir docemente. Eu sabia que estava fazendo o mesmo.

— Logo vou busca-la, Louis. – murmurei. – Muito obrigada.

Encarei minha mãe como quem diz “eu avisei” e a abracei novamente.

— Eu te amo, dona Sophie – murmurei, pegando impulso e nos jogando na cama.

— Eu também te amo, meu pequeno tesouro. – mamãe respondeu, beijando minha testa.

— Vou buscar Lucy. Quer ir comigo? É perto.

— Muito obrigada, meu amor, mas preciso ficar um pouco sozinha.

— Tudo bem – levantei-me dando um beijo em minha mãe e fui tomar um banho.

Vesti um short jeans, uma camiseta qualquer e sai.

Eu sabia que estava lidando tão bem com a situação porque a ficha ainda não havia caído. Não havia percebido que meu pai havia ido embora. Meus pais estavam separados. Iriam de divorciar. Eu não teria mais meu pai para me pedir a salada, para entrar em meu quarto, me jogar uma almofada na cabeça e sair correndo. Não teria mais meu pai para passar os dedos na espuma do sabão da louça ou da máquina de lavar e passar em meu cabelo. Não teria mais meu pai perto de mim.

Quando percebi tudo aquilo, precisei parar para respirar por alguns instantes. Por sorte, estava na quadra da pracinha. Lembrei-me de Claire no mesmo instante, mas me sentei mesmo assim. Não fiquei cinco minutos sozinha e senti uma mão em meu ombro. Arquejei, levantando-me em um pulo.

— Desculpe, não era minha intenção te assustar – Mark me disse. Ele me encarava de cima a baixo. E pela primeira vez, eu percebi como ele era bonito. Seu rosto era quadrado, parecia agressivo. Sua pele era morena, parecendo bronzeada. Seu sorriso era simpático e seus olhos verdes prendiam a atenção. Acho melhor nem comentar sobre seus belos braços musculosos.

— Tudo bem – murmurei. – Claire está com você?

— Não. Definitivamente não. – ele me respondeu, seco, e eu estranhei. Tá.

— Então, Mark, eu gostaria de te agradecer por ter me defendido aquele dia. Eu sei que são seus amigos, mas não vou negar que são bem idiotas. – reclamei.

— Não há de que, Aurora. Te defendi porque era o certo a se fazer, você não acha? E eles não são meus amigos. Há muito tempo tento muda-los, mas quando uma pessoa não aceita a mudança nem mesmo sabendo que é para melhor, não podemos interferir. Desisti de classifica-los como meus amigos.

Tá. Tá legal. Eu estava boquiaberta.

— Uau. – murmurei. – Que profundo.

— Nada demais – Mark murmurou, rindo. – Então, Claire te procurou depois do ocorrido?

— Não – murmurei tristemente. – Ela me provocou no colégio, mas eu a ignorei e ela passou reto. Sinceramente, não sei se quero que ela me procure.

— Não queira.

— Eu posso te fazer uma pergunta? – questionei, confusa.

— Já fez. Mas lhe dou autorização para me fazer outra pergunta.

— Minha pergunta pode esperar, preciso comentar o quanto estou surpresa.

— Surpresa com o quê? – Mark questionou, sentando-se. Me sentei também.

— Com seu jeito de falar. Não me leve a mal, mas... Achei que você fosse um jogador de basquete trouxa que vive atrás da Claire.

— Passou longe, Aurora. Detesto basquete, não me intitulo trouxa e não vivo atrás de Claire, na verdade, o que se ocorre é totalmente o contrário. E minha fala se deve ao fato de minha vó ser professora de Literatura e me exigir desde cedo que falasse da forma correta, levando em consideração que fui criado por ela.

— E seus pais? – olha a língua grande, Aurora!

— Meus pais faleceram quando eu era pequeno.

— Lamento muito, Mark. – murmurei.

— Tudo bem. Quer saber de uma coisa? – ele questionou e eu assenti, ansiando mudar de assunto.

— Eu não falo bonito assim, eu sou jogador de basquete e sou o cara mais trouxa do mundo. Só estava brincando com você.

— Mas que idiota! – exclamei, rindo. Fiquei feliz em ter mudado de assunto, mas, pensar em pais falecidos me fez questionar o que os pais de Claire e Josh pensariam das atitudes dos filhos.

— Ei, Mark, Claire me contou que os pais dela também faleceram. Você os conheceu? Como eles eram? – questionei.

— Não acredito que Claire e Josh ainda contam essa história. – Mark reclamou, passando as mãos pela cabeça, aparentemente irritado.

— Como assim?

— Os pais deles não faleceram, Aurora. O pai os abandonou quando Josh tinha sete anos, eu me lembro. Foi no dia do meu aniversário de oito anos. Claire nem deve se lembrar dele. E a mãe deles... Bem, essa é uma das situações mais tristes que eu conheço. A mãe deles é uma mulher maravilhosa, mas tem uma doença mental. Assim que Josh atingiu a maioridade, eles a jogaram em uma clínica. Fazem três anos, e desde então, a única pessoa que visitou aquela pobre mulher fui eu.

— Eu... eu mal posso acreditar. – murmurei, sem saber o que falar.

— Josh e Claire não são boas pessoas, Aurora. Lamento.

— Então porque você anda com eles? – Aurora! A língua!

— Porque eu meio que me sentia responsável por eles. Sabe, conheço Josh desde os meus três anos de idade. O defendi muito em brigas de escola, o obriguei a estudar por várias vezes, já cuidei dele e de Claire quando chegavam bêbados em casa... Eu tentava ser um bom amigo. Mas como disse, eles não aceitam.

— Claire gosta de você, não é mesmo?

— Ah, como você é ingênua, Aurora. – ele comentou, rindo. – Para Claire gostar de mim, ela teria que me conhecer. Se ela me conhecesse, ela saberia que não há motivos para que ela goste de mim.

— Você me confunde, Mark.

— Claire não gosta de mim. Ela acha que é apaixonada por mim, mas não sente nada. Ela apenas sente, na cabeça dela, que tem que ficar comigo. Talvez pelo fato de que eu seja um dos únicos homens que nunca deu moral pra ela.

— E porque você nunca deu moral pra ela? Claire é bem bonita. Isso é por respeito a Josh?

— Josh já chegou ao ponto de me oferecer Claire, não seja tola. Aliás, foi isso que ele me disse no telefone. Que queria que eu “pegasse” Claire – ele fez aspas com os dedos – para que ele “pegasse” você. – Mark deu de ombros, constrangido. Fugi do assunto.

— Mas você ainda não me disse porque não fica com Claire.

— Bom, lá vamos nós. Eu sou gay, Aurora.


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