Perina Series escrita por Kaori Ray


Capítulo 4
ANOTHER LOVE - Capítulo 2 - Perina Series #1


Notas iniciais do capítulo

oooooooooooooooooooooooi gente bonita :) então, aqui estou eu de volta. Esse é o segundo capítulo da primeira one shot, espero que gostem. Por favor, leiam lá embaixo as notas finais. Boa leitura pra vcs!



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Another Love - Capítulo 2

– K, esse é o Pedro. – Bianca disse, com uma mão apoiada no ombro dele. – Pedro, essa é Karina, minha irmãzinha mais nova e estagiária aqui no hospital. Ela acompanha as crianças e os pacientes mais novos, e também ajuda as enfermeiras.

– Oi. Prazer – disse ele sorrindo. Ele irradiou tanta simpatia, que ficava difícil acreditar que aquele garoto melancólico que tocara á poucos minutos atrás era a mesma pessoa. Fiquei encarando por alguns longos segundos o sorriso dele, e de como os olhos dele se fechavam quando ele sorria. Lindo. Senti minhas mãos começarem a suar, por algum motivo que eu desconhecia. Mais uma vez enterrei-as dentro dos bolsos do jaleco. – Bianca falou muito de você.

De repente saí do meu transe, e tentei falar como uma pessoa normal.

– Oi. Ahn...ah é mesmo? Quer dizer, ela faz muito isso né. Falar de mim.

Pedro riu e me encarou como se eu fosse algum tipo de divertimento para ele. E não sei porquê, isso me deixou irritada.

– Garanto que é só coisas boas.

– Viu, K? – Bianca me mostrou a língua – Bom, eu vim apresentar vocês, porque daqui pra frente, vocês vão se ver bastante. Pedro...- Bianca se virou para o garoto, que a encarou sério, assumindo de novo aquela postura triste. Por algum motivo, aquilo deixava meu coração apertado. Eu já devia estar acostumada, mas fiquei angustiada, já que sabia o que estava por vir. Como Bianca disse, nos veríamos bastante. E eu também já sabia como iria terminar. Tentei afastar o pensamento. – A K vai te acompanhar também daqui pra frente. Eu sei o quanto isso é difícil para você. – Bianca suspirou – Mas por isso pedi a K que ficasse aqui ao seu lado. Eu prometo que vamos fazer o possível para dar tudo certo. E espero que vocês se deem bem. Tudo bem, por você?

Pedro encarou Bianca com um olhar distante.

– Tudo ótimo.

Nós três ali, sabíamos que não estava.

– Bom, então por quê vocês não vão dar uma volta no jardim? Para se conhecerem melhor? – Bianca olhou para mim sorrindo, com alguma intenção oculta atrás daqueles olhinhos brilhantes.

– Por mim tudo bem. – Pedro sorriu me encarando

– Ahn...ok. Só vou dar mais um beijinho na Bia. – falei encarando os dois pares de olhos brilhantes.

Me virei de costas, ouvindo Bianca sussurrar algo com Pedro.

– Bia. – me aproximei da pequena menina

– Oi, K!

– Eu já vou indo, lindinha.

– Ahhhhhh, mas porquê? – ela cruzou os braços. Apesar de pequena, Bia tinha uma personalidade muito forte. Acho que por isso gostávamos tanto uma da outra. Ri do biquinho que ela estava fazendo.

– Porque eu tenho que cuidar de um...amigo. – falei desviando o olhar

– Um amigo? Que amigo? Cadê ele?

– É, um novo amigo, Bibi. Ele vai ficar com a gente a partir de agora. E eu vou cuidar dele, assim como cuido de você. – sorri fazendo carinho em sua pequena cabeça careca.

– Posso conhecer ele?

– Ahn...claro...porquê não? Vem cá. – peguei a pequena menina no colo e me dirigi até Pedro, que conversava com Bianca.- Pedro? – ele e Bianca se viraram para nós – Tem alguém aqui que quer conhecer você. Essa é a Bia. Bia, esse é o Pedro.

Pedro abriu mais um daqueles sorrisos, encantadores, que quase faziam seus olhos de fecharem.

– Oi, Bia. Tudo bem?

– Oi. – a menina disse e logo depois escondeu o rosto em meu pescoço.

– O que foi, Bia? – perguntei – Tá tudo bem?

– É que...ele é muito bonito. – ela falou para mim tentando ser discreta, porém Pedro e Bianca acabaram ouvindo.

– O quê? – perguntei desnorteada

– O Pedro é bonito não é Bia? – disse Bianca rindo

– É-é...- suas pequena bochechas estavam coradas

Ótimo. Então não é só comigo. Ele também causa em criancinhas. Te sinto, Bia.

– M-m-mas o q-quê...? – gaguejei ainda sem acreditar no que estava acontecendo

– Você também não acha, tia K? – Bia me encarou com aqueles olhinhos grandes e brilhantes

– E-e-eu...? Ahn...eu...

– Acho que tem mais alguém vermelha aqui. – Bianca disse rindo da minha cara

– Cala a boca, Bianca - eu disse fuzilando-a com os olhos.

– Esquentadinha, hein? – disse Pedro também rindo.

– O-olha só, esquentadinha é a sua...

– Ó! Olha a boca, esquentadinha! A Biazinha não merece ouvir palavras chulas.

– Biazinha? Desde quando...?

– Desde agora. Posso te chamar assim, Biazinha?

– C-claro, Pê.

– Pê? – perguntei alternando o olhar entre Pedro e Bia. Sentia que estava atrapalhando algo ali.

– Desculpa, mas vocês querem alguma privacidade? Acho que eu e a Bianca estamos meio de vela aqui. – eu disse começando a rir

– Então porque vocês não vão comer mais doces? – Bia disse tentando sair do meu colo

– OI? – perguntei com os olhos arregalados. Pedro só sabia rir da situação – Bia? Não acha que você é meio nova não?

– Não. – ela disse e cruzou os pequenos bracinhos, fazendo aquela cara de irritada.

– Tá bom então. – tentei controlar o riso, e botei ela no chão. – Olha, prometo trazer o seu ‘’Príncipe Pedro’’ pra te ver mais vezes, ok? Mas agora temos que ir. Posso pegar ele emprestado?

– Você promete?

– Prometo, minha linda.

– Tá bom. Tchau, Tia K. – ela disse abraçando meu pescoço. Dei um beijo no topo de sua cabeça, e a levantei no colo de novo.

– Tchau lindinha. Agora dê tchau para o Pedro.

Ela esticou os braços em direção a Pedro, pedindo para que ele a pegasse no colo. Ele a agarrou dos meus braços, e deu um beijinho em sua bochecha. A menina escondeu o rosto no pescoço dele. Ri com a reação da pequena.

– Tchau, Príncipe Pê.

– Tchau, pequena. Prometo que vou ver você todo dia.

– Vai?

– Claro. – ele disse sorrindo.

Ela o abraçou, e ele colocou-a no chão.

– Tchau, tia Bianca. – ela acenou

– Tchau, minha linda. – Bianca abaixou-se enchendo a menina de beijos.

Bia se virou e saiu correndo em direção as outras crianças.

– Bom, essa é minha deixa. Tenho que subir. Preciso voltar ao trabalho. K, você fica com o Pedro até a hora do almoço?

– Ahn...claro. Ah Bi, pode levar meu jaleco pra minha sala? – disse entregando o jaleco á ela

– Ok. Bom, divirtam-se – ela deu um sorrido malicioso, que não entendi o porquê. – Até mais, crianças.

– Até mais. – respondeu Pedro. Depois que Bianca subiu, ele se virou para mim sorrindo. – Então esquentadinha, para onde seguimos?

– Para de me chamar de esquentadinha. Tudo bem me chamar de K. Vamos para o jardim, como a Bianca falou.

– Tudo bem então, K. – logo que ele disse isso, me arrependi de o ter pedido que me chamasse de K. Esse apelido vindo dele, soava maravilhosamente melhor. E era melhor evitar mais situações constrangedoras, que me deixariam mais vermelha.

– Olha, por enquanto, me chama só de Karina.

– K é só pros íntimos? – disse ele rindo

– Tipo isso. Vamos.

Segui para a porta ao lado do salão, e saí em direção ao jardim. Vi que Pedro me seguia, e logo ele estava ao meu lado acompanhando meu ritmo. Andamos alguns metros ao longo do gramado, e logo estávamos em uma trilha de pedras que dava em um pequeno labirinto de flores, arbustos e árvores.

– Então...- tentei puxar assunto, já que passaríamos bastante tempo juntos, e queria tentar evitar o máximo possível lembrar da tal coisa que o consumia por dentro, apesar de ser o motivo pelo qual ele e eu estávamos ali. – Você toca piano?

– Achei que estava bem claro, sabe...pelos meus dedos pressionando o teclado, e pela melodia sendo...

– Ah, cala a boca! Só estou tentando puxar assunto. – olhei para ele irritada, enquanto o mesmo ria da minha cara – qual a graça, posso saber?

– A graça é você. E que graça.

– Nossa...que cantada mais barata. – revirei os olhos

– Ahn...não era uma cantada. – ele me encarou sério

Senti meu rosto queimar. Idiota! Mas porque diabos ele iria cantar você? Acorda. É óbvio que ele não iria me cantar. Afinal, olhe para a situação em que estamos. Se bem que, ele ainda tem 19 anos...mas ele não teria motivos para cantar alguém como eu. É claro.

– É brincadeira! – começou a rir mais uma vez – Você tinha que ver sua cara!

– Qual é? Você acha graça em tudo?

– Ultimamente não. – ele ficou sério de novo. Era incrível como ele podia mudar suas expressões em um segundo. E como ele parecia ser sincero em todas elas. Principalmente nas felizes, e nas que ele ria abertamente. – Até hoje.

– Hoje?

– Sim, eu conheci você.

– E eu sou uma piada pra você?

– Não uma piada, mas talvez uma grande fonte de humor. Fora que você fica ainda mais linda vermelhinha e com raiva. – disse ele sorrindo

– Olha...

– Aí está! Vermelhinha de novo!

– Ai que saco! Vocês faz isso com todas as pessoas que conhece?

– Só as que valem a pena.

– E você faz isso com seus médicos?

– Você é médica?

– Quase.

– Bianca me disse que você ainda tá no início da faculdade de medicina.

– O que mais ela falou?

– Que você adora isso aqui. E que você sonha em ser uma grande médica como seu pai é. Ela me contou dos seus pais, da rede de hospitais, e tudo mais.

– Ah. Bem, ela tem razão. Mas...e você? O que seus pais fazem?

– Eles tem um restaurante. Perto de casa, negócio de família. Mas faz bastante sucesso no bairro. Quem sabe um dia você não possa ir lá, bater um rango. – ele disse sorrindo

– Claro. – sorri. Era impossível não olhar para aquele sorriso sem automaticamente sorrir também. – M-mas então... – me obriguei a sair do meu transe – O que você faz?

– Bem, o que eu fazia, você quer dizer... – ele assumiu uma postura triste de novo.

Engoli em seco, pronta para dizer alguma coisa, quando ele continuou a falar.

– Eu sou músico. Tenho uma banda, ou pelo menos, tinha. Agora eles vão precisar de um novo guitarrista.- ele suspirou - Eu ia começar a faculdade, já que meus pais me pressionaram para ter um plano B caso a banda não desse certo. Ia começar o primeiro semestre de artes cênicas.

– Uau. Bem legal. Minha irmã já fez aulas de teatro. Ela adorava. Mas meu pai a pressionou a fazer medicina. Não que ela não goste do que faz, mas acho que se ela pudesse, teria escolhido outra opção.

– É...ás vezes a gente cede ao que as pessoas acham que é certo, e acabamos perdendo chances de ser feliz. Olha para mim agora. Eu não tenho mais tempo.

– Pedro...

– Quer dizer, tenho o tempo que me resta! E eu quero aproveitar muito bem. – ele olhou para mim, de repente assumindo uma expressão brincalhona, me encarando e sorrindo maliciosamente. Eu ainda não conseguia acompanhar suas variações repentinas de humor.

– Ahn...ótimo! E-e-eu posso te ajudar se quiser.

– Pode, é?

– Dependendo do que for...

– Pode ser uma boa ideia... – ele se aproximou um pouco mais de mim, me encarando com um olhar de divertimento.

– E-e-então, já andamos por aqui. Vamos até o píer.

– Tem um píer aqui?

– Sim, tem um ‘’lago’’ aqui atrás. Na verdade é uma parte do mar, estamos na costa do estado, porém aqui é meio afastado, essa parte aqui é calma, e temos um limite de até onde podemos chegar, por isso chamamos isso aqui de lago. Temos atividades de pesca, remo e nado de vez em quando por aqui. Muito raramente temos algumas atividades de jet ski.

– Que maneiro!

– É...

Seguimos em frente passando pela área do gramado, logo avistando a ponte que dava acesso ao píer. Subimos a ponte, e andamos calmamente pelo píer, até chegarmos ao final. Pedro sentou no chão de madeira, na ponta, balançando as pernas. Hesitei um pouco, mas por fim me sentei ao seu lado.

– Você trabalha aqui a muito tempo?

– Desde os meus 16 mais ou menos. Bem, eu só ajudava com as crianças. Só comecei a trabalhar de verdade quando eu entrei na faculdade.

– Entendi. O que você faz com elas aqui?

– Bem...em geral, só tento tornar os últimos momentos que elas tem nos melhores possíveis.

– Tenho certeza que você torna. – ele olhou para mim sorrindo

Sorri de volta, não conseguindo desviar meus olhos dos dele.

– Mas então, só tem eu de velho aqui?

– Velho? Ah, você é muito velho.

– Mas só tem crianças aqui. E porque a Bianca pediu para você cuidar de mim?

– Quando você descobriu..., a Bianca te perguntou se você queria continuar com o tratamento, não é? Ela perguntou se você queria vir para cá?

– Sim.

– A maioria do pessoal da nossa idade...eles dizem não.

– Espera...não?

– Não. Eles optam por não continuar fazendo tratamento. Eles preferem ficar em casa e...esperar.

– Uau. Isso é...

– Terrível? Ou corajoso, talvez? Ainda não encontrei uma palavra que descreva isso. É realmente estranho. Se espera que quando a pessoa é nova assim, queira se salvar...mas não é o que acontece na maioria das vezes.

– Então, eu posso ser considerado um covarde? – ele disse, mas em tom de divertimento.

– Hm...acho que sim. Frouxo. – eu disse rindo

– Nossa, assim você me magoa esquentadinha. Mas...só tem eu aqui mais velho mesmo?

– O que você tá querendo? Uma house party? – perguntei e começamos a rir – Até tem, um ou dois. Mas eles nunca descem. Ficam no quarto, ou no máximo na sala de filme. E a Bianca raramente me pede para lidar com eles.

– Ah é? Por que? E por que a Dra. Bianca pediu para que lidasse comigo?

– Ahn...porque eu já lidei com alguém da minha idade uma vez. E isso me devastou. – eu disse engolindo o nó que havia se formado em minha garganta. Comecei a sentir meus olhos marejarem e os esfreguei para tentar afastar esse sentimento. – E quanto á você...bem, a Bi deve pensar que você é especial. Ou sei lá, não faço ideia.

– Ei...tá tudo bem?

– Tá sim.

Senti ele me encarando por alguns longos segundos, mas logo que me recompus, ele voltou a olhar para o horizonte. Ficamos ali em silêncio, apenas observando o céu nublado e a água a nossa frente calma, indo no seu próprio ritmo, apenas dançando em várias ondulações brilhantes. Olhei a hora no celular, já estava quase na hora do almoço.

– Vamos? Está quase no horário de almoço.

– Tudo bem. – disse ele e nos levantamos

– Então, quer conhecer mais algum lugar? Temos uns 15 minutos.

– Bianca já me mostrou as partes que eu preciso conhecer.

Engoli em seco, sentindo meu corpo enrijecer. Foi como se alguém tivesse me espetado com uma agulha. E não entendi o porquê dessa sensação.

– Me desculpe... – ele disse parando e colocando a mão no meu ombro

– Tá tudo bem. – senti uma eletricidade percorrer meu corpo a partir do meu ombro. Ele olhava nos meus olhos e eu podia ver a tristeza dentro dos dele. – Eu já...

– Acostumou? Adolescentes rebeldes revoltados por ter seu tempo de vida diminuído consideravelmente? – ele continuou com a mão em meu ombro e me encarando, porém agora seu olhar adquiriu uma expressão de divertimento.

– Sim. – tentei sorrir

– Karina... – ele deslizou sua mão pelo meu braço

– O quê? – meu coração não parava de bater

De repente ouvi um som se instalar, e senti meu celular vibrar em meu bolso. O alarme do almoço.

– Hora do almoço...

Ele soltou meu braço, abrindo um sorriso divertido e passando a mão nos cabelos cheios.

– Até que enfim. Tava morrendo de fome já. Preciso bater uns pratos.

– Uns pratos? – ri com a forma que ele falou

– Claro. Ou vai me dizer que aqui tem controle de comida? Um prato não me dá forças não, esquentadinha. E outra, eu to doente mas comer ainda é uma das coisas preferidas que eu gosto de fazer na vida.

– Tá bom. Vamos lá então, esfomeado.

–----

Na hora do almoço, a maioria dos pacientes, exceto aqueles que optavam no dia por almoçar no quarto, ou os que estavam impossibilitados de descer, se dirigiam ao refeitório. Eu sempre trazia uma pequena marmita e comia na sala de reunião com a Bi, porém hoje acompanhei Pedro até o refeitório e me sentei com ele. Comemos e conversamos ao mesmo tempo, na maioria das vezes com ele me perturbando e tentando me irritar, e ainda piorou quando eu disse que tinha dificuldade de comer com pessoas me olhando. Ele passou a me observar e teve uma hora que me irritei e dei um pequeno chute em sua panturrilha por debaixo da mesa.

– Ai, Esquentadinha! Acho que é antiético agredir pacientes em estado terminal...

– Cala a boca.

Ele riu e surpreendentemente eu comecei a rir também. Ele quase engasgou a sua comida e quando arregalei os olhos e perguntei se ele estava bem, ele olhou para mim e começou a rir de novo.

– Não acredito! – dei mais um chute em sua perna, dessa vez com um pouco mais de força

– Oxe Esquentadinha! Assim eu vou ficar sem perna!

– Então para de fazer graça. E principalmente, não brinca com coisas sérias. Eu trabalho em um hospital. Já vi muita coisa. – peguei meu pote da marmita e me levantei.

– Ei, peraí Esquentadinha. – ele disse atrás de mim, enquanto eu ia em direção á minha sala. – Karina.

– Pacientes não podem entrar aqui. – disse eu botando o pote em cima da mesa e indo em direção ao banheiro para escovar os dentes. Ele me seguiu, e parou na porta, olhando para mim pelo espelho em cima da pia.

– Me desculpa. Não quis te chatear.

Comecei a escovar os dentes e o encarei pelo espelho. Eu via a sinceridade nos olhos dele. Ele me olhou com intensidade e depois sorriu para mim. Não pude evitar corar, e ele provavelmente percebeu pois seu sorriso aumentou e ele deu uma risada. Revirei os olhos e me abaixei para tirar a pasta da boca. Assim que terminei, virei para ele e pedi licença. Ele saiu da porta e eu me senti sendo observada em cada movimento que eu fazia. Guardei algumas coisas na bolsa e me sentei na mesa.

– Você vai ficar aí me olhando? Já disse que pacientes não podem entrar aqui.

– Bem, mas eu não sei onde fica meu quarto. Acho que você vai ter que me mostrar.

Eu suspirei e olhei para ele, que agora me encarava de braços cruzados encostado na parede.

– Tá. Senta aí. Só preciso preencher alguns papéis.

Ele sorriu e sentou na cadeira á minha frente. Ele observou os objetos em cima da mesa e pegou uma caneta rabiscando alguma coisa na mão. Voltei minha atenção para os papéis, e rapidamente os preenchi, guardando-os na gaveta e terminando de arrumar as coisas ali.

– Bom, terminei aqui. Vamos?

– Vamos. – ele disse se levantando

Levantei da cadeira e o segui até a porta, logo depois a trancando.

– Vem. – eu disse indo em direção ao elevador. – Os quartos ficam a partir do segundo andar. Aliás, como assim você não sabe qual é o seu quarto? Bianca não levou você até lá? Ela disse que você chegou ontem á noite.

– É...eu cheguei...mas, bem...eu meio que fugi. A ideia de eu ter que viver aqui a partir de agora me assustou, então eu pedi pra sair e meus pais não questionaram. Eu saí e depois fui pra casa. Meus pais me trouxeram de volta hoje de manhã, e aí a Dra. Bianca pediu que eu tocasse na festa da Bia. Eu aceitei, e meus pais levaram as malas pro quarto, mas eu ainda não fui lá. Só sei que é o quarto 11.

– Hm, entendi... – o elevador havia chegado e eu entrei, logo depois de Pedro.

Eu apertei o dois, e me afastei das portas, aguardando. Eu e ele estávamos a poucos centímetros de distância e eu sentia uma corrente elétrica naquele pequeno ambiente. Meu coração estava acelerado. Droga. Cruzei os braços, tentando me estabilizar, e sentindo o olhar dele sobre mim. Quando senti que ele iria fazer ou dizer alguma coisa, as portas se abriram. Eu saí primeiro, desesperada para quebrar aquele clima que havia se instalado, e seguindo rapidamente para o quarto 11. Ele andava ao meu lado, me acompanhando, em silêncio. Chegamos ao quarto, e eu peguei meu cartão de identificação. Passei-o em uma pequena abertura na fechadura da porta, ela deu um pequeno apito e abriu.

– Você tá com o cartão aí, certo?

– Tô sim. – ele disse tirando do bolso e me mostrando

– Ok. Suas malas estão aí?

– Estão. – ele apontou para um canto do quarto, perto da janela, onde se encontrava duas malas grandes e um violão dentro da capa.

– Bem, está tudo bem então. Tenho que pedir para algumas enfermeiras virem aqui e ajuda-lo a se instalar.

– Você não pode fazer isso? – ele disse se aproximando

– Hã...posso...m-mas...

– Fica aqui então. – ele falou baixo, quase sussurrando, e me olhando de forma intensa.

Engoli em seco. Depois suspirei e lembrei de que era meu trabalho. Por mais que eu quisesse evitar algo que poderia acontecer e acabar me machucando, era meu dever ficar ali ao lado dele e ajuda-lo no que precisasse. Então eu teria que me acostumar. Eu definitivamente estava encrencada.

– Tudo bem. O que você quer fazer primeiro?

– Sei lá. Só quero adiar o máximo possível ter que ficar deitado nessa cama. Por mais que um dia eu jamais teria recusado ficar o dia todo na cama vendo TV sem fazer nada, agora já não me parece mais tão prazeroso.

– Hm. Entendo...mas você não precisa ficar aqui parado...por enquanto você pode descer e fazer o que quiser. Desde que tome precauções e respeite seus limites. Mas no primeiro dia realmente é meio chato. Posso te ajudar a desfazer as malas e ficar aqui com você. Mas antes de você ir dormir, temos que arrumar o quarto com o que você realmente vai precisar.

– Tudo bem – ele disse suspirando

– E...mais tarde, também precisaremos fazer um exame. A Bi falou que você podia relaxar e fazer o que quiser, mas antes de anoitecer, você vai precisar vê-la. Ok?

– Ok.

– Tá...então, o que vai ser?

– Acho que é melhor começarmos pelas malas...

– Ok. Que tal, você abre uma mala e eu abro outra?

– Tá.

Nós pegamos nossas respectivas malas e abrimos, tirando todo o conteúdo que tinha dentro de cada uma e colocando tudo em cima da cama.

– Espera, isso aqui tá muito sem graça. – ele disse pegando alguma coisa no fundo da mala.

Olhei para ele sem entender, e ele puxou um Ipod e uma pequena caixinha de som. Ele foi até o criado mudo e conectou o Ipod na caixa, logo depois dando play em uma música. O som começou a ecoar pelo quarto e eu automaticamente reconheci.

– Legião?

– Isso. Você curte?

– Renato Russo é minha alma gêmea.

– Acho que não. Ele é a minha.

Olhei para ele sorrindo maliciosamente

– Opa! Peraí...não foi isso o que eu quis dizer.

– Acho que foi sim, hein. – continuei rindo

– Posso provar o contrário – ele disse se aproximando

– N-não. Tudo bem.

– Almas gêmeas não precisam ser apaixonados, Esquentadinha. Uma pessoa pode ser a alma gêmea de uma mãe, um amigo, um irmão...Trata-se de almas que se completam e são gêmeas, como o próprio nome diz.

– Uau. Nunca havia pensado nisso.

– Eu sou músico, sou sensível, viu?

– Aham.

– É verdade.

– Tá bom. – eu disse rindo

Continuamos a desfazer as malas, colocando as roupas no armário e na cômoda, cantando com a música. Começou a tocar Quase Sem Querer e Pedro me puxou para dançar. Eu resisti no começo, mas não pude dizer não á alegria dele. Esses momentos provavelmente seriam raros agora. Dançamos que nem loucos e logo eu já estava sem fôlego. Sentamos na cama para descansar e vi que Pedro ainda estava ofegante.

– Quer um copo de água?

– Sim.

Fui até o pequeno frigobar que tinha no quarto, vendo que tinha uma garrafa de água ali. Entreguei para ele, que bebeu quase metade da garrafa em um só gole.

– Está cansado?

– Eu tô bem.

– Ok. Mas é melhor pararmos por aqui. Lembra do que eu falei sobre os limites?

– Eu sei, Karina. Esses malditos limites.

– Você vai ter que se acostumar, Pedro...

– Eu sei!

Fiquei em silêncio o encarando, por algum motivo aquilo estava me consumindo. Cada vez que essas pequenas situações apareciam, era como se eu tivesse levando um soco no estômago.

– Me desculpe. – ele abaixou a cabeça passando a mão na testa. – Me desculpe.

– Tá tudo bem.

– Não. Não tá.

– Eu sei.

Ele me encarou, me olhando intensamente, nos meus olhos. Tive vontade de desviar o olhar, porém eu estava perdida naqueles olhos castanhos melancólicos.

– Um dos sintomas é virar um adolescente chato e rebelde?

– Mas você é um adolescente chato e rebelde. – eu ri com a pergunta

Ele não sorriu, então supus que era uma pergunta séria.

– Pedro...isso...essa coisa é complicada. Eu convivo com isso há anos e você não é nenhum alienígena. Isso não é algo fácil de se lidar.

Ele continuou me encarando como uma criança tentando entender algo que não era do mundinho dele, em silêncio. De repente ele se levantou, ficando de frente para mim. Tentei dar um passo para trás, porém ele segurou meu pulso. Não.

– Karina, eu posso te pedir uma coisa?

– D-d-depende. – meu coração batia muito forte

– Eu não tenho muito tempo. Então não vou desperdiça-lo. Não quero ter que partir com arrependimentos. O seu trabalho é fazer com que nossos últimos momentos sejam perfeitos, certo?

– S-sim.

– Então...eu provavelmente estou prestes a fazer uma grande merda. Mas eu não vou me arrepender.

– Pedro, o que...

Ele me calou com um beijo. Fiquei surpresa, em um momento ele estava olhando nos meus olhos e no outro ele já enlaçava minha cintura e me puxava para junto dele. Ele acariciava minha nuca, bagunçando um pouco meu cabelo, enquanto eu dava leves puxadas em seus cachos. Uma hora o ar se fez necessário, e afastamos nossos lábios mas não nos soltamos. Fiquei ali paralisada, sem saber o que fazer...

Meu coração batia muito rápido e eu sentia várias correntes elétricas por todo o meu corpo. Minha respiração falhou quando ele encostou sua testa na minha.

– Pedro...

Ele levantou meu queixo para que eu olhasse em seus olhos.

– K...

– Isso não pode acontecer. – engoli em seco

– Eu sei...eu...

– Pedro, isso...isso já me devastou. Duas vezes. Por mais que eu não tenha presenciado uma.

– Eu sei, eu sei. Mas, eu ainda não me arrependo. – ele me encarou – sei que pode soar egoísta, mas...eu queria provar seus lábios. Desde que eu te vi lá no salão.

Ele acariciou meu rosto me olhando profundamente. Sem perceber, inclinei meu rosto de encontro a sua mão. Fechei os olhos sentindo a sensação que era o seu toque.

– Karina.

Abri meus olhos e ele ia falar alguma coisa, quando ouvimos batidas na porta. Rapidamente nos separamos tentamos nos recompor. Gritei um ‘’entra’’, e Bianca adentrou o quarto com uma prancheta na mão.

– E aí galerinha? Tudo bem? – ela perguntou anotando alguma coisa na prancheta

Quando nenhum de nós dois respondemos, ela levantou o rosto para nos olhar.

– Hã...o gato comeu a língua de vocês? – ela riu

– N-não. Tá tudo bem. – respondi nervosa

– Aham. Sei. – ela disse semicerrando os olhos. – Bom, eu vim aqui porque temos que preparar tudo. Me disseram que vocês estavam aqui. – ela olhou para Pedro e depois para as malas – Vocês...terminaram as malas?

– Sim – ele respondeu, colocando as mãos nos bolsos de trás – O que eu tenho que fazer agora?

– Bem, vou pedir a algumas enfermeiras para arrumar o quarto e instalar tudo que é preciso. Você vem comigo para eu te examinar. Vamos fazer um exame de sangue, isso vai ser de costume a partir de agora. Portanto é importante que você coma direito também para se manter forte.

– Ah, isso com certeza ele pode fazer. – eu disse

– Eu vivo pra comer, eu não como pra viver – ele deu de ombros

– Tá bom então, esfomeado. – Bianca riu – Depois do exame, você está livre. E aí pode comer alguma coisa, ficar no quarto, ou lá embaixo...você decide.

– Tudo bem.

– Ok, então. K, pode buscar enfermeiras e arrumar o quarto?

– Posso. Claro.

– Ok. Então, vamos Pedro?

– Vamos.

Bianca saiu pela porta e Pedro se virou para mim.

– Eu posso ver você depois disso tudo? – ele disse sorrindo

– Pedro...

– Você tem que cuidar de mim, lembra?

– Tá. Tá bom. Agora vai.

– Até mais, Esquentadinha. – ele se aproximou, me deixando estática com medo do que ele ia fazer. Ele me deu um beijo na bochecha, e saiu atrás de Bianca.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Na verdade, eu desconfiava. Mas não podia ser verdade. Isso não podia estar acontecendo. Eu preciso pensar em algo o quanto antes. Antes que seja tarde demais. E antes que eu me quebre. De novo.


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Notas finais do capítulo

então galerissss, gostaram? digam o que acharam aqui embaixo, a maioria dos leitores que comentam sempre sabem que eu adoro ler os coments de vcs *-* bom, queria dizer que eu sei que demorei a postar, e sinto dizer também que isso irá ser normal. Eu estudo integral, então eu fico o dia todo na escola, portanto o meu tempo livre é mínimo :( ainda to me acostumando com essa vida de gado, mas não deixarei de escrever. Todo dia á noite tento escrever nem que seja duas linhas. Só peço que tenham paciência e não me odeiem, realmente agora minha rotina está uma loucura. Eu ando bem cansada, mas não quero deixar que isso atrapalhe o andamento das one shots. Além do mais como são one shots, os capítulos são grandes, então eles demoram um pouco mais para serem escritos. Bom, espero que entendam :/ então é isso. Espero muuuito que tenham gostado e até o próximo cap!
xoxo ♥