A Menina que Sorriu Para Mim escrita por Júlia Conto


Capítulo 2
2




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As pessoas dançavam, ao som das músicas, que ecoavam pela pracinha. Elas cantavam junto, felizes, como se não houvesse amanhã. O céu estava negro, e as ondas do mar não eram mais tão verdes. Ninguém propriamente se incomodou com aquilo. Ninguém nem mesmo se deu o trabalho de reparar na praia vazia, por causa do tamanho da folia do outro lado da rua.

Alejandra vagava sem rumo, em meio a toda aquela folia. Não tinha um lugar no mundo naquele momento que tivesse menos a ver com ela. A morena gostava de coisas simples. Coisas clássicas. Coisas leves. Coisas claras. Coisas vintage. Coisas sendo coisas, estavam boas na verdade.

Seu irmão, e o sobrinho pequeno, dançavam ao som de algum tipo de axé. Pareciam tão felizes! E então, Le se lembrou a razão de estar ali. Ela havia viajado do Rio para o litoral de São Paulo conhecer a mais nova namorada do irmão.

– Não acredito que você trouxe o Joshua! Ele só tem 3 anos, não é obrigado a escutar música ruim, no meio de um monte de gente, que podem muito sem serem raptores de crianças! – Berrou Le, pois só assim o irmão iria conseguir escutar.

– Lelezinha, relaxa, siga o flow... – foi o que a irmã mais velha, Adriela, fez questão de ressaltar. Pela oitava vez.

– Você sabe que eu não tinha escolha! – berrou em resposta André, com o filho sobre os ombros. – A Liv é louca por isso aqui! E como estamos namorando, está mais que na hora dela conhecer meu filho.

– Só espero que essa Liv seja muito ótima mesmo, porque para me fazer vir até aqui, e gastar o que sobrou da minha mesada... Se for mais uma das garotas sem sal que você namorou, juro que dou um jeito de vender ela no e-bay. – foi o que Ale gritou em resposta, em tom de brincadeira. Ela não conseguia entender como alguém amaria aquilo. A mesma se sentia tão... deslocada.

– Você está parecendo a mamãe falando assim. Vocês são muito iguais! Tente se divertir por um dia! – Ariela disse, fazendo Alejandra bufar de raiva. Ela detestava ser comparada com sua mãe.

– EU NÃO SOU A MAMÃE. – Berrou ela, muito irritada. Seu sobrinho a olhava com os olhos castanho escuros arregalados. Seu irmão colocou o braço em seu ombro.

– Olha, você tem todas as partes boas dela. – foi o que ele disse, tentando contornar o erro de Adriela. Mas Alejandra deu um tapa em sua mão, como se dissesse ‘’tire-a daí’’.

– Eu não sou nem um pouco igual a ela. Não vou abandonar meus filhos. – Falou Le, frustrada. Então virou as costas em meio a multidão, quando sentiu seu pulso ser segurando pelo braço do irmão.

– O que você está fazendo agora. É uma coisa que ela faria. – André insistiu, ainda a segurando. Então ela disse algo que não deveria ter dito. Ela torceu que por causa do barulho ele não tivesse ouvido. Mas ela sabia que ele tinha escutado, porque seus olhos se marejaram assim que ela mencionou Gabriela.

– Não sou eu quem está pulando de namorada em namorada, com esperança que uma delas seja a reencarnação da Gabi. – e então ela sentiu ser soltada. Dessa vez quem estava se afastando, era ele. E levou Ariela junto. Ótimo. Agora que ela ia voltar para casa mesmo.

Mas antes de começar a tentar lembrar o caminho, viu uma barraquinha de batidas. E ela pensou ‘’Nossa, como estou com sede!’’ . Pediu uma raspadinha.

O gosto era bom. Ela comprou mais uma, e mais uma, mais uma e por fim, outra. O sabor era ácido, de um jeito esquisito. Não se assemelhava nem de longe aquelas vendidas na praia. E lá no fundo, Le sabia que elas tinham algum teor alcoólico, mas meio que não ligou.

Então, em meio a toda a loucura do momento ela se equilibrou nas bordas do píer, com os braços abertos, como se fosse uma daquelas equilibristas. E, foi derrubada de lá de cima. Caindo direto na água funda.

O gosto era salgado, seus pulmões ardiam. Seus olhos queimavam. Seu corpo doía. E ela não sabia nadar. O seu estava negro, e Alejandra nem mesmo conseguia se localizar.

Sentiu seu corpo cair cada vez mais. E mais. E mais. Tentou ir para areia, mas não conseguia sair do lugar.

Ela se sentiu ser puxada. E se permitiu isso. Ela não conseguia respirar, e naquele momento, achou que ia morrer. Tudo iria acabar.

– POR DEUS, GAROTA! O QUE TINHA NA CABEÇA?! – Berrou o loiro, do lado de uma cama de hospital. Seus cabelos estavam bagunçados, e ele estava inteiro molhado. Era quem tinha a salvado, afinal. Seus olhos se ajustaram a luz, e ela pode ver a figura borrada de Pedro.

– Smi? – foi o que ela murmurou, tremendo. Estava com frio, com dor, e cansada. Mas não conseguia tirar os olhos dele. – M-m-me desculpe. – ela gaguejou.

– Le? – perguntou ele, preocupado. Se agachou para que seus rostos ficassem próximos. A aparência de Ale era péssima. Seus cabelos estavam molhados como o resto de seu corpo, e sua pele estava sem brilho. Ela agora era só mais uma das pessoas que beberam demais em um carnaval. Seu rímel estava escorrido, e delineador também. Mas estava viva. Um ponto para Pedro. – Por que você se jogou da plataforma? Aliás, porque você está aqui?

– Eu, eu... caí. Estou aqui, porque eu deveria estar aqui. O que você faz aqui? – ela devolveu a pergunta, ainda tremendo.

– Minha irmã mora aqui. Olha, você tentou se matar!

– NÃO TENTEI ME MATAR. Eu caí.

– Quem cai de um píer?

– Eu, oras. Eu preciso, preciso... ligar para meu irmão, avisar que eu não morri, sei lá. – Pedro lhe entregou um celular. Ela discou o número rapidamente, e escutou uma voz de uma mulher, não a de André. – Oi?

– Oi, o Dé não pode falar agora. – foi o que a voz de timbre rouco disse. Ela parecia preocupada. – Estamos procurando a irmã dele aqui no carnaval.

– Liv, não é? Diz que eu estou no... ? – Ela olhou para Pedro, que pegou o telefone da mão dela.

– Lívia? É, é o Pedro sim. Ela caiu do píer.

– Meu Deus! Onde vocês estão?! – Agora quem falava era André. Alejandra ficou com medo.

– No ambulatório móvel, perto do píer.

– Oh-oh, estamos indo.


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