Na verdade, Jhony nunca havia pensado sobre ter filhos. Desde que completara dezesseis anos, quando seu pai lhe passara oficialmente o comando da guilda — seu velho pai que já não estava mais naquele mundo —, todos os seus objetivos e preocupações giravam em torno dela. Manter a honra da guilda e se tornar um líder tão bom quanto o fora seu pai era tudo o que lhe passava pela cabeça. Mas então veio Whuthering, e quando ela lhe disse que estava esperando um filho seu, Jhony se sentiu como se sempre tivesse sonhado com um herdeiro.

Naquele dia, ele acordou com o sol batendo em cheio no rosto — porque alguém havia escancarado as janelas tão cedo — e com a algazarra de vozes dos desconhecidos que haviam invadido seu quarto. Então ele esfregou os olhos e, sentando-se na cama, viu que três homens arrastavam uma cômoda do lugar e mediam a parede e o espaço que ela havia deixado. Uma criada que vinha entrando pela porta percebeu que ele ainda não estava vestido e deixou escapar um gritinho antes de sair correndo. Jhony cobriu-se melhor com o lençol e pensou em que diabos significava aquilo tudo.

Whuthering andava de um lado ao outro e dava ordens que ele não entendia.

— Não, do outro lado! – ela dizia. — Assim a cabeceira ficará muito próxima da janela!

— Mas não há espaço, senhora.

— Então tirem aquela mesa e a coloquem para lá.

— Whuthering! – Jhony finalmente exclamou.

Ela o olhou e piscou lentamente, como se não houvesse nada de estranho ali.

— O que é isso? – ele apontou para os homens trabalhando.

— São os carpinteiros, oras.

— E o que eles estão fazendo aqui?!

Whuthering abriu um sorriso que ele ainda não conhecia, um sorriso doce e ameaçador, como se ela pudesse matá-lo com a maior delicadeza do mundo — e isso o deixou terrivelmente confuso. Então ela se aproximou e sentou-se na beira da cama, e Jhony soube que algo a havia mudado por dentro.

— Construindo o berço do nosso filho.

Aquela palavra, “filho”, ficou martelando na cabeça dele por um tempo até que ele finalmente entendeu do que ela estava falando. Alguma coisa apertou-lhe o peito de repente, como se alguém o tivesse batido com força, e ele praguejou coisas indecentes que fizeram Whuthering torcer a boca.

Então Jhony a agarrou pelos ombros e a olhou quase em desespero.

— Você quer dizer que...

— Sim. – ela suspirou, achando graça. — Eu estou carregando o nosso herdeiro.

E depois de esmagá-la num abraço — e de pedir desculpas, assustado, pois poderia ter “machucado o bebê” —, de gritar dezenas de vezes o quanto a amava e de sair espalhando a notícia pela guilda, enrolado num lençol e com um sorriso maior que o mundo no rosto, Jhony cancelou todos os seus compromissos e passou o restante do dia imaginando como seu garoto seria incrível e em como ele lhe ensinaria todos os segredos de Nevareth.