A Rainha Dourada. escrita por AnaBonagamba


Capítulo 2
Mirkwood.


Notas iniciais do capítulo

Pelo que me consta, este deveria ser o terceiro. Porém, eu aprendi com o tempo que não consigo me resolver em menos de 1500 palavras.

Se há alguém da USP por aqui, vai me entender.

Por fim, a leitura!



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– Devem ser rápidos. - Beorn virou-se especialmente para Thorin, feroz. - Devem ser silenciosos. Só assim encontrarão o caminho com segurança.

– Que caminho? - protestou Ori.

Segurança? - arfou Kili. - Estamos sendo perseguidos por um bando de orcs há dias! Posso apostar minha última moeda de ouro que eles estão de esguio lá fora, apenas esperando uma oportunidade para nos atacar, como já tem feito. Não viemos parar aqui apenas ao acaso!

– Kili tem razão. - concordou o irmão. - Mesmo que sejamos rápidos ainda sim não evitaremos sérios problemas. Foi muita sorte termos encontrado essa cabana...

– E sermos acolhidos nela... - completou Dwálin.

Uma discussão ferrenha iniciou-se, vozes exaltadas que rapidamente se esqueceram do real propósito de estarem ali. Num impasse, Gandalf ergueu o cajado escurecendo todo o pequeno salão, antes avantajado pela luz solar, calando a todos impetuosamente. Beorn lançou um olhar significativo para o mago, compreendendo pacientemente a reação do homem-urso.

– Eu não gosto de anões. - declarou. - São pretensiosos, egoístas, e ignoram as outras vidas que os cercam.

Kili engoliu seco, procurando o olhar persistente do tio, que continuava a encarar o homem com repreensão.

– Mas orcs eu gosto menos ainda. O que vocês precisam?

– É impossível chegar ileso à floresta pelas próprias pernas. - disse o futuro Rei sob a Montanha. - Precisamos de locomoção rápida.

– Eu posso ceder alguns de meu pôneis, com a condição primordial de que serão devolvidos. - o skin-changer virou-se para o anão, pronunciando-se. - Algo mais?

– Distração para os orcs, algo que os retarde o máximo possível até que cheguemos à encosta da floresta. De lá, partiremos.

Bilbo arfou, sentado a mesa, o corpo tremendo suavemente à menção do perigo, ainda que já estivesse se acostumando a situação. Desajeitado, o hobbit levantou-se enquanto Gandalf tomava a palavra:

– Muito bem. - finalizou. - Esta é a hora.

Beorn arranjou agilmente transporte e alguns mantimentos, gentileza inesperada e extremamente bem-vinda. Os anões se reagruparam, enquanto ambos anfitrião e hóspede, ao longe do grupo, prosseguiam com suas conjecturas. Thorin Oakenshield os observava atentamente, na tentativa de compreender o que se passava: anões não são uma raça desconfiada e teimosa por própria natureza, suas experiências os fizeram assim

– Há um mal perambulando entre as terras. Um mal que, apesar de perceptível, nos assombra invisivelmente...

– Gandalf. - interpôs o outro. - Sabe que os elfos de Mirkwood são menos sábios e mais ásperos que seus parentes longínquos. Ignoram completamente a existência do sétimo portal para Stellaevi.

– Eles sabem? - questionou, num misto de lividez e curiosidade. - Como seria possível?

– Há séculos o domínio de seres ultrajantes se renovam para tentar uma proximidade, - respondeu Beorn. - depois do acontecimento fatal do líder, você sabe... - ele parou, observando o além com desconfiança. - Mesmo que sejam os seres mais belos do mundo conhecido, há cicatrizes incuráveis causadas por chamas piores que fogo flamejante de dragão.

– Eles não arriscariam maior contato, tenho certeza. - contrapôs. - De lá urgem as grandes bestas do Norte para aqueles que ameaçam sua paz, seres incontroláveis em nossas terras, eu garanto.

– Não há esperança em conseguir ajuda. Já vi outros tentarem, e falharam prontamente. Aquele é um pedaço isolado do mundo, pelo próprio pagamento do mundo para com ele. Por que pensa ser diferente?

– Eu conheço alguém, - declarou o mago. - que não me desapontaria. Alguém que há muito se importa com o que acontece conosco, e faria o possível para ajudar. Por tal não serei desamparado.

– Espero mesmo que não seja iludido, por fim.

O homem astuto fez seu último contato com os ombros do outro, antes de dar lugar a uma fera selvagem de presas imensas, e olhar conturbado. Assumindo seu lugar à montaria, Gandalf partiu junto aos anões, toda a planície iluminada pelo sol até os raios se perderem entre árvores de topos infinitos na floresta a frente. Um pouco de sorte, supunham, ante ao urso agressivo, rodeando o perímetro a afastar qualquer que se atrevesse a enfrentá-los.

– Devem deixar que os pôneis retornem para seu dono. - ordenou. - Mantenham suas armas em mãos, a qualquer momento, devem estar prontas para serem usadas.

O mago adentrou o mínimo possível, uma escultura élfica pairando sob a trilha a iniciar o caminho que deveria ser percorrido. Pequenas gotas de água irrompiam do céu. A leitura de suas inscrições foi interrompida, diante do estado crítico da runa em pedra, descalvando-se. Abaixo, e Gandalf não poderia estar menos enganado, a marca negra do Necromante, recém instituída, como se outorgasse ali um domínio fatal.

Ainda que o fosse, a floresta de Mirkwood conservava a si uma beleza ímpar, apesar de consideravelmente sombria. Ao contrário da folhagem de Rivendell, esta parecia mais escura, densa, o ar pesado contraindo-se com dificuldade. Era impossível pensar com clareza, mesmo seguindo a trilha élfica, os pés se confundiam, e as mentes turbavam.

– Deveria iluminar o caminho, mestre Gandalf. - reclamou Bálin, embargado. - O que há a frente, senão o próprio chão?

Os olhos do mago estavam atentos a algo que não poderia ser facilmente visto. Uma das maiores habilidades do povo Eldarien era a descrição em construir suas próprias moradas, de forma tão simples, que somente aqueles que não desejavam buscá-la poderiam sequer encontrá-la. Complicado, até mesmo para os que compartilham semelhante magia. Vagaram por horas, a pressa alimentada por um cansaço extremo, associado à própria natureza do local. A desconexão não poderia ser momentânea: precisava de um auxílio. Um sinal, qualquer que fosse.

– Para onde vai, estará nos levando? - Thorin perguntou agressivamente, encarando o mais alto.

– Não. Não pretendo.– corrigiu. - Há algo que preciso conferir antes de continuar o percurso original. Sigam a trilha. - sibilou. - Se cruzarem um passo em diferença, estarão perdidos.

– Parem todos, agora! - Bilbo surgiu entre ambos, respirando o máximo que podia, antes de bradar. - P-parem! Há algo a frente, b-br-branco e...arg...muito, mas muito pegajoso.

– Uma teia de aracnídeo! - Glóin arrebentou a estrutura com uma machadada. - Recente, pela textura úmida.

– Vamos voltar. - pronunciou Bifur.

– Não há volta. - irrompeu Gandalf. - A partir do momento que entramos aqui, só há duas opções: sucumbir ou continuar. Devo acrescentar que a primeira não é muito viável. Sejamos cautelosos. Agrupem-se, olhos em guarda. - olhou para Bilbo, puxando-o num sussurro. - Fique perto de mim.

As armadilhas seguiram floresta adentro, rondando a trilha élfica. Desviavam com cuidado, mas a habilidade dos animais em construí-las era admirável. Um ninho de fios brancos em meio ao aspecto musguento da vegetação local. Silêncio. Não havia sequer um som, a não ser os próprios pés esmagando folhas no chão. O vento deixara de penetrar na mata, um cheiro azedume da carne putrefeita empalada com liquens.

Silêncio.

– Bombur!

De sobressalto, o anão mais avantajado da companhia desabou sobre Bifur, arrancando seu chapéu. O peso do outro suportado com grande consideração antes de não aguentar mais. Estavam exaustos, e não havia outra alternativa para justificar alguns minutos de descanso.

– Não devíamos estar aqui, não é? - perguntou Bilbo, acalentado por Gandalf. - Esta...esta não é a trilha original?

É a trilha original. - assegurou. - Mas as presas precisam ser confundidas...fica mais fácil de capturá-las. Essas criaturas são as verdadeiras impostoras, e ainda não entendi muito bem o porquê de estarem aqui.

– Os elfos não guardam esta floresta? Deveriam ser mais atentos a esse tipo de ameaça.

– As trilhas percorrem sua morada há milênios. - explicou o mais alto, encostando-se em uma árvore. - São de responsabilidade do Rei, o líder, mas ao que me parece, ele não está muito preocupado com o lado de fora. - tomou o cachimbo em mãos, principiando o fumo. - Grande erro de sua parte.

– Gandalf?

– Sim?!

– O que exatamente foi tudo aquilo que você e Beorn conversaram nesta manhã? - o hobbit aparentava estar mais curioso que amedrontado. - Particularmente, não entendi uma só palavra.

O mago certificou-se, antes de responder, que a companhia estivesse atarefada com o compromisso do acampamento. Não encontrando o olhar austero de Thorin, foi incentivado a continuar:

– E não era pra entender. - riu solene. - Uma validação do que antes éramos, quando povos uniam-se pela paz íntegra, e não se repreendiam em fortalezas próprias.

– Ainda há um lugar assim? - espantou-se.

– Isso eu não sei dizer. - suspirou. - Há muito tempo não tenho visto qualquer sinal da existência de Stellaevie, como chamam os elfos de Lothlórien, para nós é conhecida apenas como "O império de doze reinos".

Silêncio. Eles vêm vindo, eles estão ali!

– O maravilhoso é, muitas vezes, aquilo que não pode ser visto. - dito isso, levantou-se e dirigiu-se aos demais. - Devem prosseguir. Eu os encontrarei... - e, Bilbo Baggins, não os deixe desviar da trilha!

E assim, se foi, para surpresa de todos, que urraram em desaprovação ao perceber que se encontravam sozinhos.


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Notas finais do capítulo

Devo admitir que a cena de Mirkwood no filme despertou muito a minha atenção, mas sinto ser impossível para mim recriá-la com menos pudor. Por tal, devo deixá-la, a partir deste momento, intacta. O que vêm a frente é exatamente o que vocês imaginam.

Desde minha primeira tentativa com o universo Tolkien me deparei com o fardo de ser uma ignorante nas linguagens de Arda. Seria reconfortante para mim ter uma fonte segura a qual pudesse buscar auxílio. Recomendações?

Ainda não agradeci por estarem me acompanhando, mesmo no anonimato. Sei que aí estão, e obrigada.