As Crônicas da Resistência escrita por Pec


Capítulo 3
Capítulo 2 – Um bêbado, um bardo e uma princesa!




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_Não diga nada, meu bem, apenas me dê esse copão de cerveja! – Gritou o alto garoto de pele branca e cabelos escuros ao pegar o maior dos copos de cerveja da bancada e degustar lentamente da bebida – Sabe o que é isso, Gabi?

_Isso é cerveja? O Senhor acabou de dizer – Disse Gabi, uma garota um tanto alta, cabelos castanhos e escuros, com seus olhos levemente puxados, negros como as sombras, sendo adorada com seu pequeno vestidinho negro e aventais brancos.

_Não... – Disse o rapaz gargalhando e acertando sua perna com rápidas batidas de sua mão – Isso é a minha água!

_Meu senhor... – Disse Gabi cabisbaixa segurando uma pequena lista, a garota portava uma pequena pena na mão direita, pronta para anotar algo a qualquer momento – O sino badalou! O senhor precisa separar o ouro para o comissário!

_É... – Continuou o rapaz a sorrir, repentinamente tossiu, virou-se para um grande barril cheio de vinho, respirou fundo e disse – Como eu pude esquecer de você, minha princesa?

_O senhor está falando com o vinho? – Disse Gabi ao inclinar-se um pouco a frente e tentar analisar a situação – Alex, você está bêbado de novo?

_Eu não “to” bêbado – Respondeu Alex ao tentar subir com dificuldade sobre o grande barril de vinho – Pedras vão rolar agora!

_Senhor... – Disse Gabi ao bater com a lista em sua perna e encarar Alex irritada – Quer me ouvir?

_Uma rodada! Opa...! – Gritou Alex ao levantar sua grande caneca de cerveja, posto sob o grande barril de vinho, forçando o pouco que restara de sua sanidade para se equilibrar – Uma rodada na minha conta!

_Euuubaaaa!!!!! – Gritaram todos os homens, mulheres e crianças presentes na grande Cervejaria Castanha.

_Ai! Desisto! – Disse Gabi recuperando sua postura e voltando a trabalhar como garçonete – Esse lugar vai falir a qualquer hora...

–--

A manhã estava gélida, o céu continuava escuro e ao longínquo horizonte via-se os relampejos de trovões arrebatadores, e a cada batida sinistra do comissário da legião, a felicidade de uma cabana era banhada por pavor.

_Comissário da Legião! Abram imediatamente esta porta! – Gritou o comissário quase esmurrando a pequena porta de madeira.

_Só um minuto, meu senhor – Disse Pamy delicadamente, antes de abrir a porta, olhou os pequenos arredores de sua cabana pela janela, ninguém além do comissário, perfeito! Pensou ela – Pronto, seja bem-vindo adorável comissário.

O comissário da legião, uma figura alta de roupa extravagante e colorida, entrou com seus braços levantados lembrando o formado do pescoço de um cisne, olhava para tudo e todos com deboche, cabelos negros e curtos, assim como o vazio de seus olhos, ao fitar a pequena Pamy, com sua humilde veste, segurando uma vassoura de palha, comentou sorrindo:

_Hã... Por que estais usando esse trapo de jumento?

_É minha vestimenta, meu senhor... – Disse Pamy cabisbaixa – Entre, por gentileza.

_Hã... Que barraco! Espero que esse monte de pau não tombe sobre nós – Disse o comissário ao estender sua mão para Pamy – Vamos! Ande logo!

Pamy inclinou-se e beijou a mão do comissário, este retirou um pequeno lenço rosado de um bolso de suas vestimentas, limpou o local do beijo e o atirou no chão com indiferença, caminhou enrustido até a pequena mesa da cozinha e ficou a encarar uma cadeira.

_Não vai puxar a cadeira para seu convidado? – Disse o Comissário novamente que sua voz odiosa – Estou esperando.

_Si... – Pamy se conteve para não acertá-lo com a vassoura, posicionando a cadeira cuidadosamente para o comissário – Sim, aqui está, meu senhor...

_Obrigado, lacaio imundo! – Disse o comissário com extremo deboche de Pamy.

_Se aquele imbecil falar mais alguma coisa eu vou cortar a cabeça dele! – Sussurrou Dennys escondido dentro do baú de armas, observando por uma fresta.

_Acalme-se... – Disse Elvis com leve falta de ar, o pequeno professor estava compactado dentro do baú, sua costela estava dobrada e pescoço encolhido, até mesmo um anel apertado tinha mais liberdade naquele momento – Vamos descobrir o motivo da sua visita antes de tomarmos qualquer decisão!

_Adorável... Comissário, porque o bondoso destino me concedeu a honra de uma visita tão adorável a esta bela manhã? –Disse Pamy espanando alguns armários.

_O rei enviou-me para cobrar os impostos imediatamente, estamos planejando um grande investimento – Disse o comissário ao olhar os inocentes gestos de Pamy com desprezo – O recolhimento será o dobro desta vez!

Pamy acidentalmente tropeçou com a insana notícia que acabara de ouvir, os impostos do vilarejo cinzento eram os mais altos do reino do norte, o diminuto saco de moedas que restava aos camponeses era repartido igualmente para sobreviverem à fome e a miséria, e em muitas vezes era insuficiente.

_Dobro?! – Questionou Pamy ao se levantar colocando a mão sobre seu joelho.

_Hahaha – Gargalhou o comissário – Vocês são todos uns miseráveis, deveriam ficar gratos, pois só cobramos isso pela proteção!

_Proteção... – Sussurrou Elvis dentro do baú – Traidores malditos, sucumbiram ao poder da escuridão e ainda abusavam de nossa ingenuidade!

_Por que precisam de tantas moedas? – Perguntou Pamy – Estão construindo outro reino?

_Não é do interesse de uma plebeia - Disse o comissário sorrindo e levantando-se – Por sorte, estou muito feliz e darei até o anoitecer para pagarem a dívida, no pôr-do-sol estarei frente à praça principal.

_Tem certeza disso? – Disse Dennys espetando levemente sua lâmina nas costas do comissário – Se não afrouxar sua língua, jamais vai conseguir encarar outro pôr-do-sol!

_Rato miserável! – Disse o comissário irritado – Não tenho medo de vermes como vocês! Se me machucar, vão enviar um exército de soldados para destruir e torturar toda essa vila de pobres!

_Giussep, o comissário... – Disse Elvis ainda preso no baú, todos ficaram a encarar esperando o garoto franzino levantar e continuar suas palavras – É... Pamy... me ajude a sair...

Pamy balançou velozmente sua espada e cortou parte do baú, Elvis agradeceu sorridente e em seguida encarou o comissário seriamente.

_Giussep, o comissário dos legionários traidores – Disse Elvis fitando-o – Pelo que me consta, não estamos perto do dia de pegar os impostos!

_Não me importo – Riu Giussep – Vocês vão pagar e queimar junto com seus lares e famílias.

_Já posso cortar esse desgraçado?! – Perguntou Dennys pressionando um pouco mais sua espada contra as costas de Giussep, esse começou a fazer uma expressão de dor.

_Queimaremos... – Disse Elvis ao colocar a mão sobre seu queixo e refletir, rapidamente exclamou espantado – Vocês....

_Elvis – Disse Pamy ao colocar a mão em seu ombro – O que foi?

_Temos que sair agora! – Gritou Elvis ao fincar sua espada no chão e colocar rapidamente um mapa sobre a mesa – Caverna... Caverna... Tem de haver uma por perto!

_Não podem fugir, o terror vermelho virá, os céus queimaram e se desdobraram em chamas, a esperança de vocês morreu quando ouviram as badaladas do sino... – Dizia Giussep antes de Pamy o acertar fortemente na cabeça com um pedaço de madeira, o fazendo desmaiar.

_O que ele quis dizer com “terror vermelho”? – Perguntou Dennys ao guardar sua espada em uma bainha.

_Ouvi boatos – Disse Elvis tateando o mapa nervoso – Dizem que os legionários guardam um monstro medonho em sua fortaleza, uma criatura negra de pele impenetrável com hálito de fogo, é capaz de perfurar até dez homens com suas garras e enfraquecer a bravura de um guerreiro somente com seu olhar... Em outras palavras...

_Dragão – Disse Dennys ao ligeiramente pegar algumas bolsas de couro e tecido, colocando vários frascos e alimentos dentro das mesmas – Se isso for verdade, então temos de fugir imediatamente!

_E esse jovem? – Perguntou Pamy olhando para giussep – Se o deixarmos vivo ele dirá sobre nós.

_Vamos usá-lo como refém – Disse Dennys ligeiramente – Pode salvar nossa vida.

_Encontrei uma caverna próxima desse lugar, é pequena, mas lembro de ser segura e protegida – Disse Elvis ao embrulhar seu mapa e preparar sua bolsa – Talvez consigamos nos esconder do dragão lá.

Momentaneamente Dennys parou, encarou Pamy e Elvis, falando lentamente:

_Mas e depois? Depois que o dragão vier e destruir tudo... O que faremos?

_Elvis... – Disse Pamy ajeitando sua franja e retirando um pouco de pó de sua roupa – Você disse que poderíamos criar um exército com algumas pessoas... jovens incríveis e poderosos, sabe como encontrá-los?

_Sim! – Disse Elvis ao colocar sua bolsa e ajeitar o colarinho de sua capa.

_Então já sabemos onde devemos ir, Ppu – Disse Pamy estendendo o braço para Dennys.

_Vocês dois são malucos... – Disse Dennys sorrindo e cumprimentando Pamy com firmeza – Vamos então, cadelo e cozinheira profissional!

–--

O bater de asas de Bartolomeu já o estava cansando, sobrevoando o bosque aos arredores da grande torre, o pássaro resmungava exaustivamente, Thaina! Essa bruxa! Gritava o papagaio, sua voz grave perturbava até as árvores, o som do riacho que cortava parte do reino era a única coisa capaz de distrair e calar o falante Bartolomeu. Planando calmamente sobre as águas correntes, olhava seu reflexo admirado, pousou em um galho fino a beira do rio e ficou a imaginar onde estaria o tal cavaleiro, a descrição feita por Thaina, apesar de objetiva, não o ajudava:

Um cavaleiro de prata balançando seus cabelos lisos, montando em um belo unicórnio, cavalgava em direção a torre, empunhando uma espada tão afiada capaz de cortar os céus, portando em suas costas um escuto que refletia o brilho celeste

_Eu nunca vi um unicórnio na minha vida... – Resmungou o papagaio irritado – Será que essa garota ficou doida?

Repentinamente o papagaio ouviu o galope lento de um cavalo junto com o som de latarias se batendo pausadamente.

_Só pode ser ele! – Disse Bartolomeu animado, virou-se rapidamente e encarou uma estranha figura em cima de um burro, usando um véu liso sobre sua cabeça, nas costas carregava um grande espelho e empunhava um longo e fino cilindro – É... Olá!

_Caramba! – Disse o rapaz de cabelos curtos, negros e encaracolados ao cair de seu burro, este tinha um grande galo na cabeça, como se alguém houvesse acertado-lhe com uma marretada, assustado, ele derrubou todas suas bolsas no chão, espalhando vários objetos de prata e pano – Um papagaio falante!

_É, incrível não é mesmo? – Disse Bartolomeu sarcasticamente – Escuta, coisa bizarra, será que você não avistou nenhum cavaleiro trajado de prata, empunhando uma espada e um escudo e... Montado em um unicórnio?

O jovem levantou-se e colocou a mão sobre sua nuca assustado, depois acariciou seu bigode e olhou para suas mãos, repentinamente começou a examinar seu corpo inteiro.

_Que estranho... – Sussurrou o rapaz – Não estou bêbado e parece que estou consciente, será mesmo que estou ouvindo um papagaio me perguntar de unicórnios?

_Veja bem rapaz! – Disse Bartolomeu rapidamente – Tenha mais respeito quando for argumentar com pássaros mágicos, que falta de consideração, até parece que sou fruto da mente de uma menininha, não sou um conto de fadas, sou real! E preciso encontrar logo esse maldito cavaleiro antes que eu morra de frio!

_É... Senhor pássaro, me desculpe... – Disse o rapaz ao ajeitar-se no burro, organizando suas bolsas e objetos prateados – Não vi cavaleiro ou unicórnio... Caramba, que fantástico, estou falando com um papagaio!

_Espere um pouco! – Disse Bartolomeu ao fitar o rapaz espantado, começou a voar em círculos em torno do mesmo.

Um cavaleiro de prata balançando seus cabelos lisos
Um andarilho com prata balançando seu véu liso

Montado em um belo unicórnio
Montado em um burro com galo na cabeça

Empunhando uma espada tão afiada capaz de cortar os céus
Empunhando um cilindro fino da cor do céu

Portando em suas costas um escudo que refletia o brilho celeste
Portando em suas costas um espelho que refletia o brilho celeste

_É... – Disse o rapaz entusiasmado – Vai fazer algum feitiço ou algo assim?

_Thaina... – Resmungou mentalmente Bartolomeu – Eu sabia! Essa garota andou fumando muitos cogumelos!

_Senhor papagaio? – Disse o rapaz encarando o pássaro estranhamente – Tudo bem?

_Senhor... – Disse o papagaio voando frente o rapaz e encarando seu bigode – Quem é você?

_Eu sou Leonardo, o artesão de prata! – Disse Leonardo entusiasmado – Vendo roupas e joias para damas!

O papagaio calou-se, isso explica esse grande espelho nas costas, a quantidade de prata em suas bolsas e seu cilindro cheio de tecidos, pensou Bartolomeu.

_Será que poderia vir comigo? – Perguntou Bartolomeu.

_Onde? Vamos para alguma cidade encantada nas nuvens? – Perguntou Leonardo entusiasmado – Ou para a terra dos papagaios falantes?

_Não! – Disse Bartolomeu – Me chame de Bartolomeu, sou o único animal falante do Reino do Norte, não existe terra de papagaios ou cidade nas nuvens... Mas tem algo bem mais impressionante do que essas idiotices!

_E o que seria? Bartolomeu? – Perguntou Leonardo colocando a mão sobre o queixo, sorrindo e curioso.

_Uma princesa, sr.Bigode! – Sorriu Bartolomeu.

–--

Na capital do Reino do Norte, Martosael caminhava frente a sua tropa de cavaleiros negros, ferozmente o jovem levantou sua espada, todos retribuíram o gesto instantaneamente.

_Cavaleiros Negros! – Gritou Martosael epicamente – Cavalgaremos para o vilarejo cinzento, em nome de Caeli, as trevas devem cair sobre todos os corações, nossa missão é destruir a esperança, destruir a luz, essa é a única maneira de alcançar a paz, através da ordem suprema dos legionários!

Todos os cavaleiros golpearam o peito com a mão esquerda e uivaram, um gesto de força e ordem da legião, os fortes e cruéis ventos da capital içavam os cabelos de Martosael ao ar, este encarava todos seus cavaleiros montando em seus cavalos e se preparando para o que estava por vir.

_Falou muito bem! Gordinho! – Disse Doug se aproximando, portava duas espadas vermelhas que pingavam sangue, o temor de apenas encarar o reflexo daquelas lâminas era sedento, Sedenta por Sangue, pensou Martosael, as espadas mortíferas – Mas até parece que estamos começando uma guerra, vamos apenas destruir um vilarejo cheio de ratos!

_Onde ele está? – Perguntou Martosael seriamente.

_Vou busca-lo, vocês podem ir na frente, alcançaremos vocês com facilidade, hehehe – Riu Doug malignamente.

_Entendido – Disse Martosael ao colocar a mão em seu ombro – Obrigado por fazer esse favor!

_Hahaha Tranquilo, Marto! – Disse Doug ao acariciar rapidamente o cabelo de Marto e caminhar em direção a um gigantesco salão.

_Espero que ele esteja com fome... – Sussurrou Martosael.

–--

Na grande cervejaria Castanha Alex dormia babando sobre uma mesa, abraçando uma grande garrafa de vinho, enquanto Gabi organizava todo o salão e recolhia as canecas.

_Esse é o “grande” cervejeiro? – Pensou Gabi acariciando os cabelos de Alex com amor – Quando não está bebendo está dormindo...

Caminhando lentamente entre as mesas, Gabi atravessou o balcão e ficou a encarar um grande barril lacrado, perfurado e selado com selos de ouro, dourados e brilhantes, a madeira estava entalhada com escrituras antigas, sozinha com um bêbado adormecido, a garçonete olhou para o vazio e o fitou por alguns segundos, repentinamente acordou de seus devaneios com o som de batidas na porta.

_Será que existe alguma bebida para um pobre apaixonado? – Disse uma voz dócil e alegre.

_Mais um bêbado... – Pensou Gabi antes de gritar – A cervejaria está fechada! Vá embora!

Novamente o lugar se silenciou, Gabi voltou a limpar o salão de comemoração, espanando as mesas com delicadeza, com a brisa gélida que atravessava as frestas das paredes, a doce garota ouviu uma linda melodia vinda de um alaúde (alaúde é uma espécie de violão, peço perdão aos músicos pela fraca definição), seu coração começou a bater mais devagar, seus pensamentos sujos foram se dissipando, a harmonia começou a tomar a mente de Gabi, os sons vinham por de trás da porta da cervejaria.

_É... Desculpe... – Disse Gabi ao abrir a porta da cervejaria e encarar aquele belo rapaz ao tocar um alaúde esverdeado, cabelos lisos e loiros, sua pele era branca e pura, mas nada se comparava a seus olhos concentrados com toda a maestria nas cordas do instrumento – Pensei que fosse um bêbado...

_ Eu quem é que não perde a lucidez, minha dama.... –Disse o rapaz ao brandir três cordas rapidamente e segurar as mesmas, interrompendo rapidamente o som do instrumento e encarando carinhosamente Gabi – Quando encontra uma pessoa tão bela quanto você!

_Nossa... – Disse Gabi timidamente e avermelhada – Obrigada! Venha, entre!

O alto rapaz levantou-se, tinha um cinturão rosado com uma linda flauta de cristal presa, em suas costas carregava seu alaúde, usava um chapéu com uma pluma que balançava graciosamente com os ventos, cumprimentou Gabiu beijando sua mão delicadamente e adentrou na grande cervejaria Castanha.

_Ouvi boatos de quem esta é a grande cervejaria do Reino do Norte? – Disse o misterioso homem ao sentar-se em um banco próximo a bancada dos cervejeiros – Onde produzem as mais saborosas bebidas.

_Sim – Disse Gabi sorridente ao carregar uma grande caneca com boa quantidade de vinho – Nós produzimos bebidas com propriedades mágicas.

_Então não seriam poções? – Perguntou o misterioso homem ao pegar a caneca e agradecer gentilmente com um sorriso.

_Poções não ficariam com um gosto tão delicioso assim – Disse Gabi.

_Concordo! – Argumento o homem satisfeito com seu vinho – Delicioso...

_Quem é você? – Perguntou Gabi ao junta-se a mesa do misterioso rapaz – Um andarilho?

_Mais que isso... – Respondeu o garoto calmamente – Sou um bardo!

_Um bardo?! – Gabi perdeu seu ar impressionada com o noticiado – Pensei que os bardos estivessem...

_Extintos! – Interrompeu o rapaz – Todos pensam isso, a verdade é que existem tão poucos de nós que é possível contar com vossos dedos.

_Como sobreviveu? Como sobrevive caminhando e trilhando vilarejos e cervejarias com este alaúde, se os legionários te encontrarem... – Disse Gabi cabisbaixa antes de fechar seus olhos – Antigamente chamavam esse lugar de O Recanto dos Bardos, a melodia para amargurados e apaixonadas era sempre tocada, mas desde que os legionários começaram a governar, nunca mais ouvi o tocar de outro músico.

_Eu sobrevivi para presenciar essa desgraça... – Disse o rapaz ao se levantar e encarar Gabi entristecido – Porque aprendi o verdadeiro poder que a música pode sintetizar.

_Como assim? – Perguntou Gabi curiosa.

_Ouça... – Disse o rapaz a pegar cuidadosamente sua flauta de cristal e começar a soprá-la, uma fraca melodia tomou toda a cervejaria, Gabi apoio os cotovelos sobre a mesa e com suas mãos apoiou seu rosto, agraciada pela música que ouvia, não percebeu que seus olhos começavam a pesar, perdendo lentamente a consciência, a jovem garota adormeceu – Obrigado, bela dama, pelo delicioso vinho!

O rapaz guardou sua flauta, fechou seus olhos e respirou profundamente, retirou algumas poucas moedas do bolso e deixou sobre a bancada junto com um pedaço de papel guardando uma pequena mensagem.

Em agradecimento dei a vossa dama o melhor dos seus sonhos, meu amável soneto dos desejos

~~Shu

–--

Sentado em cima de uma grande pedra, tremelicando de frio ouvia a brisa da gélida manhã, os trovões ao horizonte sempre conseguiam o assustar, temeroso com as batidas do sino que ouvira a pouco tempo, Henrique continuava a atirar lascas de pedra para quicarem na pequena lagoa.

_Por que será que badalaram o sino? – Questionava-se Henrique atirando lascas furiosamente na lagoa.

_O comissário da legião está no vilarejo – Disse uma voz meiga, uma garota sentou-se perto de Henrique cruzou suas pernas e estendeu-lhe um punhado de uvas – Quer uma?

_Não, valeu! – Disse Henrique ao atirar outra pedra na lagoa – Leslian, você não deveria estar na lagoa tão cedo, seu pai vai brigar contigo outra vez.

_Ele me mandou vir... – Disse Leslian selecionando cuidadosamente a próxima uva que iria comer – Depois que ouviu o som do sino mandou eu sair de casa para brincar.

_Sei... – Disse Henrique ao atirar a última lasca de pedra e ficar olhando as ondulações que se formavam na água – Por que será que o comissário está no vilarejo?

_Também não faço ideia... – Disse Leslian limpando suas mãos com leve batidas na rocha – Mas ele trouxe consigo muitos soldados, estão todos na praça principal, perto da minha cabana, também tem várias carruagens com muitos baús gigantescos.

_Esquisito isso... – Disse Henrique curioso – Vamos ver?

_Meu pai disse para não sair do lago até anoitecer – Disse Leslian em negação – Vamos chamar as outras crianças e...

_Não! – Disse Henrique segurando Leslian pelo braço e levando-a em direção a praça principal – Vamos descobrir o que o comissário está tramando!

–--

Nos fundos da pequena cabana de Pamy, Dennys preparava uma pequena carroça de madeira, ajeitando as rodas.

_Cadelo, já amarrou ele bem? – Perguntou Dennys ao martelar uma das rodas da carroça para fixa-la.

_Por favor... – Disse Elvis terminando de dar o último nó em uma corda que prendia o comissário dentro da carroça – Meu nome não é muito bonito, mas é melhor que cadelo.

_Gente! – Disse Pamy ao se aproximar e colocar alguns suprimentos dentro da carroça – As ruas da cidadela estão se enchendo de soldados, acho que estão procurando o comissário.

_Interessante... – Disse Elvis ao saltar da carroça e observar o movimento de alguns soldados distantes – Isso apenas dificulta nossa probabilidade de fuga...

_Consigo passar por alguns soldados com facilidade – Disse Dennys ao amarrar a carroça em um cavalo – Mas temos que fazer isso o mais depressa possível.

_Natan e Henrique ainda não voltaram – Disse Pamy irritada – Vou matar os dois...

_Não podemos esperar mais – Disse Dennys observando dois soldados se aproximando, ligeiramente Elvis pegou um grande pano preto e cobriu os suprimentos e o comissário desmaiado dentro da carroça – Professor, ainda lembra como brandir uma espada?

_Eu preferiria lutar com uma lança – Disse Elvis analisando sua lâmina antes de guardá-la na bainha – Mas isso vai servir.

_Jovens – Disse Pamy montando no cavalo – O ponto de encontro é a caverna ao oeste, certo?

_Certo! – Disse Dennys acertando o cavalo com leves tapas, indicando que o mesmo já podia partir – Encontraremos você lá, Pamy!

_Tragam Natan e meu irmão com vocês! – Gritou Pamy partindo no cavalo carregando com a carroça lentamente.

_Nós traremos! – Disse Dennys acenando em despedida – Agora é conosco, cadelo!

Os dois soldados apressaram-se, suas armaduras de bronze pouco lubrificadas estavam fragilizadas, o roso de ambos estava ferido e não eram muito fortes, um deles encarou os dois jovens e perguntou:

_Onde aquela carroça vai? Ninguém tem permissão para deixar o vilarejo!

_Ela vai apenas procurar algumas frutas na floresta... – Disse Elvis lentamente.

_Não! – Disse o soldado com uma forte voz – Temos ordens para manter todos neste vilarejo! Mande-a retornar!

Ligeiramente Dennys empunhou sua espada azulada, saltando acertou o rosto de um dos soldados com um forte chute, derrubando-o no chão, respectivamente Elvis empunhou sua lâmina e a apontou para o rosto do soltado caído.

_Continue no chão! – Disse Elvis fitando-o.

_Desgraçados! – Disse o outro soldado ao empunhar sua espada e encarar Dennys – Não tenho medo de crianças!

_Vejamos o que um lacaio da legião é capaz de fazer contra minha lâmina das marés! – Disse Dennys avançando em direção ao soldado, este tentou acertá-lo com um corte lateral, porém Dennys abaixou-se ligeiramente e o derrubou com um rasteira, ao o chão o soldado retirou rapidamente uma pequena adaga e lançou-a na direção do rosto de seu oponente, mas Dennys foi ágil e rebateu a adaga com sua espada, lançando-a longe – Espero que os legionários sejam mais fortes que isso...

O soldado que Elvis havia rendido o surpreendeu com um chute no peito, o garoto tropeçou e se debruçou ao chão, rapidamente o soldado levantou e ergueu sua espada em prontidão para cortá-lo, em uma fração de segundos Dennys girou sua espada fazendo com que a água de um pequeno balde levitasse em alta velocidade atingindo o rosto do soldado; Elvis levantou, aproveitando dessa distração, e perfurou do mesmo.

_Obrigado, Ppu! – Disse Elvis ao retirar sua espada do estômago do soldado e apontar para o remanescente amedrontado ao chão – Vejo que as propriedades mágicas que confinamos na sua espada não se perderam.

_Hahaha – Disse Dennys ao ficar sua espada no peito do soldado que o havia atacado – Blueslide é a única das quatro elementares que sobreviveu.

_Vamos prosseguir com o plano! – Disse Elvis correndo em direção ao vilarejo – Temos de encontrar os garotos!

_Você não tenha ideia de como senti falta desses tempos! – Disse Dennys ao correr junto do jovem professor – Vamos caçar alguns lacaios da legião!

–--

No supremo corredor de cristais de éter negro, lorde Caeli caminhava lentamente, carregava consigo uma bandeja de ouro de extrema brilho, sob ela havia uma linda xícara de vidro com um líquido avermelhado em tons escuros, e um prato com lindos detalhes de ouro, recheado de pequenos petiscos de carne e alguns grãos especiais. Em curtos passos o jovem lorde admirava a escuridão que tomava o mais sombrio dos corredores daquele castelo, pouca luz, assim as trevas devem se manter, devem se alimentar da luz, pensava Caeli, por isso, sempre mantinha pelo menos uma chama azulada acesa, as trevas precisam ter alguém para torturar, pensava Caeli sorridente.

O altíssimo lorde entrou em um quarto no final do corredor, frente a uma grande cama de prata, deixou a bandeja em cima de uma pequena mesa, e ajoelhou-se, os quadros macabros e a decoração assentia o coração de Caeli, possivelmente aquele poderia ser o lugar mais sombrio do temível castelo negro, neste lugar, as trevas descansam, pensava Caeli calmamente. O silencio era absoluto, nem mesmo o vento podia ser ouvido, absoluto e supremo silencio, as trevas devem ser silenciosas, ela criou esse lema...

_Silenciosa como um lobo perseguindo sua presa... – sussurrou uma fina voz feminina.

_Leu meus pensamentos sem conseguir me ver – Disse Caeli cabisbaixo e ajoelhado frente a cama – Suas habilidades estão aumentando, minha dama...

_Dama não... – Disse Estefany ao acender uma pequena vela ao lado de sua cama – Princesa!


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