Pequena Ameaça escrita por Pipe


Capítulo 7
E tudo está bem quando acaba bem




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CAPÍTULO 07 – E TUDO ESTÁ BEM QUANDO ACABA BEM

Talvez Mycroft não fosse dormir ou não intencionasse dormir muito, mas durante a madrugada um pequeno tormento se levantou e foi se sentar no colo dele, enquanto ele trabalhava. O Holmes mais velho não encontrou outra solução além de fechar o notebook e ir para a cama.

Quando ele acordou novamente, já passava das nove e ele estava sozinho na cama. Suspirou. Mas levou pelo lado prático – o que não tem remédio, remediado está – e foi se arrumar para enfrentar o dia. Enquanto descia as escadas ligou para o primo.

–Bom dia. Sherlock não teve mais febre, apesar do mal estar de ontem. Acho que podemos já tirar a contraprova que a vacina funcionou mesmo e voltá-lo ao normal.

–Sim. Como você avalia o soro de rejuvenescimento em seres humanos?

–Pelo lado físico, positivo. Mas as memórias se sobrepõem muito. Há momentos em que eu acho que ele confunde Mary e John com papai e mamãe.

–É um efeito colateral que o cachorro não teve. A experiência de vida anterior mostrou-se eficaz ao fazer o filhote atual evitar tudo que poderia machucá-lo.

–Veja bem, o ambiente a que o cachorro foi submetido é exatamente igual. Ele não mudou de dono. Um ser humano muda de habitat social a cada fase da vida. Entram novos personagens no palco e interagem com ele. É muito complicado lidar com essa sobreposição de experiências e lembranças.

–É uma pena. De volta à mesa de estudos, então. Bem, fico feliz que pudemos ser úteis em salvar a vida do nosso primo e ele foi nossa cobaia por uns dias.

–Não foi tudo em vão. Podemos marcar a que horas?

–Depois do almoço. Ele costuma tirar uma soneca, não? É bem mais fácil lidar com Sherlock sonolento.

–Está bem. Até mais tarde. Bom dia, estimados hóspedes!

–Bom dia, estimado anfitrião. Pelo jeito você dormiu muito bem...

–Acabei dormindo tarde, de fato. Mas vocês já tomaram café, espero. E meu pequeno tormento está correndo pela casa, como sempre.

–Sim, está brincando com o John e Lestrade. Hoje é o último dia...

–Sei que o bebê é um amor, mas temos que trazer o Sherlock de volta. Ah, Mary, já enviamos a assistência social até a casa do menino que tentou agredir Sherlock, o parente agressor era o tio dele, irmão da mãe, um tipinho folgado, desempregado e beberrão. A família inteira vai passar por ajuda psicológica depois que alguma formalidade for cumprida.

–Sherlock resolvendo um caso aos três anos. - riu ela – Fico feliz que tenha acabado bem.

Nos fundos, um grito infantil e gargalhadas. Mycroft balançou a cabeça e sorrindo, foi para a cozinha comer alguma coisa.

Durante o almoço, ao ver que três dos quatro homens presentes à mesa estavam evitando as verduras, Mary perguntou:

–Mas por que será que os meninos e vegetais não combinam?

–Quem responder a isso, responderá um dos grandes mistérios do universo.

–Eu sei a resposta. - disse Sherlock

–E qual é?

–42.

Todos na mesa riram. Mycroft esclareceu:

–Sim, eu li o Guia quando eu era pré-adolescente, e em voz alta, pra ele me deixar em paz...

–Agora sabemos porque o adulto deletou toneladas de informação do palácio mental. Estava atulhado de informações inúteis que você foi colocando lá.

–Nem todas eram inúteis...

–Mas eram muitas. Geralmente nas grandes faxinas acabamos jogando algo que não devíamos, no desespero de ganharmos espaço.

Mais risadas à mesa. Depois da sobremesa e de escovarem os dentinhos de Sherlock, todo mundo se preparou para ir à clínica. O menino estava excitado pelo passeio, depois de dois dias em casa com febre, mas depois de algum tempo, ele perguntou:

–Aconteceu alguma coisa?

–Por que, querido?

–Vocês estão tão quietos e tristes...

–Só estamos pensativos, tormento. Adultos pensam muito, você sabe.

–Ahn, tá. Acho que eu não quero ser adulto nunca, então.

Todo mundo sorriu, mas um sorriso dolorido. Na clínica, ele passou de colo em colo, ganhou beijo de todos os primos. Foi tão mimado que nem reclamou de tirar sangue. Os Rutherfords estavam satisfeitos consigo mesmos:

–O M-Factor trabalhou direitinho. Não há nem rastro do vírus.

–É uma pena termos que trazer Sherlock ao seu tamanho normal. Eu gosto desse menino.

–É o nosso remorso de ter judiado dele quando criança falando mais alto. - Marie fez um mea culpa. - Agora queremos recuperar o tempo perdido.

Mycroft sorriu. Todos os pensamentos e sentimentos convergiam na mesma direção. Mas o que estava feito estava feito. E somos resultado de todas as nossas experiências de vida, as boas e as más. Quem sabe essa semana cheia de carinho não deixasse uma pequena marca boa na história de Sherlock.

–Já vamos deixar a roupa com que ele veio no quarto.

John e Mary fizeram o pequeno dormir e preferiram ir pra casa. Levaram Lestrade. Mycroft esperou. Quando Sherlock acordou, estava na sua idade e tamanho habituais.

–Bem vindo de volta, estimado irmãozinho.

–Quanto tempo se passou?

–Uma semana. Você não se lembra de nada?

–Pouca coisa. Mais sensações que lembranças. Pelo arranhão no braço e pelo corte no lábio, percebi que fui um bebê hiperativo, mais uma vez. Por sorte, nessa volta não quebrei o braço.

–Graças ao vizinho dos Watsons e aos bombeiros, não. - Mycroft sorriu. - Venha, vou te dar uma carona para casa e te conto suas aventuras no caminho. Acho que você vai gostar delas.

–Acho que vamos ter que passar em algum lugar para comprar comida. Por que será que eu estou com vontade de comer pãozinho de canela?

–Não faço a mínima ideia, Sherlock. Não vai atrapalhar sua dieta?

–Vê se meu nome é Mycroft, o fura-dietas! Prezado irmão, imagine o tédio que seria a minha vida sem você por perto, Tormento Particular.

–Pois eu digo o mesmo, irmãozinho. Desde criança, você sempre foi uma Pequena Ameaça.

–E agora eu sou uma grande. - riu Sherlock – Capitão Grande Ameaça, ao seu dispor. Espere, de onde diabos veio ISSO?

Mycroft não respondeu, apenas foi conduzindo Sherlock para o carro, rindo gostosamente.


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Notas finais do capítulo

N/A: E assim, mais uma fic Pipe de bebês se encerra. Espero que vocês tenham se divertido lendo, tanto quanto eu me diverti escrevendo. Agora voltamos à programação normal. 22/02/2015.



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