Pequena Ameaça escrita por Pipe


Capítulo 1
Bomba Organica




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CAPÍTULO 01 – BOMBA ORGÂNICA

Sherlock suspirou por detrás dos óculos escuros.

Uma das coisas mais irritantes do planeta, talvez do universo: ter que fazer compras. É a parte mais chata resultante do casamento do Watson, eu mesmo tenho que ir ao mercado se eu quiser alguma coisa. Porque se eu não o fizer, centenas de pessoas bem intencionadas invadirão meu apartamento para me “ajudar” e essas mesmas pessoas ligarão ou mandarão mensagens perguntando se eu estou me cuidando direito. Como se o John fosse mesmo minha babá ou algo parecido. Gente cansativa.”

Mas antes de se virar para entrar no mercado, Sherlock captou uma imagem refletida por dentro da sua lente. Alguém vinha por detrás dele com um objeto pesado na mão, erguido.

-E aí vamos nós... - desviando da trajetória do objeto e já juntando os dedos para a força do golpe, ele se abaixou girando e dando com a mão abaixo das costelas do atacante, que se dobrou num “uff!” perdendo o fôlego, levando uma cotovelada certeira na nuca. - Que saco! Agora uma meia hora perdida preenchendo formulário na delegacia. - Puxou o celular – Lestrade! Fui atacado no meio da rua. Não, estou bem, mas estou faminto. Manda alguém prender esse fulano, mas trazer donuts e café. Eu estava indo ao mercado...

Lestrade saudou Sherlock:

-Pensei que você mandasse entregar as compras em casa.

-Ainda não achei uma confeitaria que entregue os biscoitos que eu gosto em domicilio.

-Ah, então até Sherlock Holmes tem seus pecadinhos da gula.

-Acredito que eu já seja estóico o suficiente para me dar ao luxo de um ou dois prazeres mundanos. Não era um assaltante comum, certo?

-Não. Alguém querendo te pegar exclusivamente. Mas nem adianta pedir para você ser mais cuidadoso ou andar com guarda costas, não é mesmo?

-Por que eu faria isso? Já não provei que sou capaz de cuidar bem de mim mesmo?

-Oh, claro... Mas se eu descobrir uma confeitaria que faz entregas, eu mandarei à sua casa.

-Não sem eu aprovar o sabor primeiro. Tenha um bom dia, Lestrade.

Mas demorou mais de quarenta dias para o próximo ataque. E não foi nada daquilo que Sherlock esperava. Ou estava acostumado.

A senhora Watson, Mary, havia feito um bolo para Sherlock e John veio trazer. Enquanto eles caminhavam conversando para a entrada do metrô, John ia para casa, Sherlock andar um pouco ainda, a pessoa à frente deles caiu, gemendo, com a mão sobre o rim direito. Watson entrou em modo “médico” e percebeu que havia sangue. De repente, havia MUITO sangue.

-Sherlock! Esta pessoa acabou de ser esfaqueada! Rápido! Me dê seu cachecol, aperte aqui.

-Estou me acostumando já a ser seu enfermeiro reserva. Mas espere, segure você o cachecol no lugar que eu vou tirar o sobretudo também. Esse coitado já está tremendo, o choque vem vindo.

-Adoro quando você já sabe o que fazer. Estou apertando a ferida, ligue para a ambulância, por favor. Quem, pelo amor de Deus, esfaquearia outra pessoa assim, friamente e ainda sairia andando?

-Um psicopata. Eles existem, sabia? Por favor, uma emergência na entrada do metrô na rua... - mas sua atenção foi desviada por uma picada na lateral do pescoço. Uma picada dolorida, que logo se transformou numa ardência terrível, como se ele pudesse sentir o caminho que o invasor fazia em seu sistema. Enquanto caía, Sherlock ouviu John gritando seu nome.

A ida para o hospital foi um borrão cheio de luzes e gritos. Quando Sherlock recuperou os sentidos por completo, foi o rosto do irmão e não de John quem apareceu à sua frente.

-Ótimo, você acordou. Bem vindo de volta!

-Para John ter te chamado, a coisa foi bem séria. Quantos dias eu passei desacordado?

-Uma vez rainha do drama... Não, irmãozinho, foi só uma meia hora... John me chamou para trazermos você para a clínica do nosso primo e não para o hospital, só porque você não colapsou no meio da rua à toa. - Mycroft colocou uma seringa na altura dos olhos de Sherlock – você foi atacado e ISTO merecia nossa atenção.

-Certo. Que tipo de substância ela continha?

-Como veículo, um diazóxido, que te derrubou. Mas eu chamei o Arthur, que é neuroendócrino, para encontrar qualquer outra substância no seu organismo.

-Não é à toa que eu senti tanta dor enquanto o líquido penetrava em minhas veias. E eu desmaiei porque minha pressão caiu de uma vez. Mas estou febril mesmo, Mycroft?

-Essa é a pista que não foi um simples ataque de alguém brincando de 007.

-Chame Marie e Frederick. Eu quero ver meus exames, e se eu não estiver bem para me acompanhar, preciso que nossos primos gênios em Química ajudem o Arthur. John foi para casa?

-A esposa está grávida, mandei ele tomar conta dela. Mas ele está de prontidão, como o bom soldado que é. Seja o que for, Sherlock, nós daremos um jeito.

Ronald e Arthur entraram no quarto:

-Está se sentindo um lixo, não é mesmo? Quem injetaria diazóxido num organismo sadio? As próximas doze horas vão ser um inferno até seu corpo eliminar a substância.

-Não, não temos doze horas. Se o diazóxido for só um veículo líquido para alguma outra coisa, doze horas me matarão. Ele também deve servir como camuflagem, já que está circulando no meu sangue mascarando qualquer outro sintoma. Estou com febre. O que pode estar estimulando a reação dos meus leucócitos?

-Leucócitos atacam QUALQUER corpo estranho. Vírus, bactérias mas também formas simples, coisinhas que te fazem ter reações alérgicas.

-Eu não sou alérgico. Meu Deus, Ron, me põe na hemodiálise, me dá 500 litros de água, mas faz esse mal estar passar. Não consigo pensar direito desse jeito!! Estou enjoado e eu não costumo ter enjoo à toa.

Marie e Frederick Rutherford chegaram e tomaram ciência do que estava acontecendo. Enquanto Ronald colocava Sherlock na hemodiálise, os outros três primos testavam sangue, células, hormônios, procurando anomalias.

Apesar de só chegarem a um resultado satisfatório de madrugada, ninguém parecia cansado.

-Sherry, achamos!

-Céus, que demora! O que eu tenho dentro de mim?

-Um vírus, que está tentando ludibriar os seus leucócitos, se camuflando nas hemácias. Descobrimos também que o gatilho para a duplicação do vírus é a privação de oxigênio. A cada vez que você se estressa e a oxigenação diminui, o vírus ataca suas hemácias e se multiplica.

-Que fantástico! - Mycroft olhou para ele horrorizado, mas Sherlock abanou a mão, descartando a preocupação – Mas já encontraram uma cura?

-Achamos uma solução para por o vírus em hibernação mais constante, enquanto trabalhamos nisso. Só não sabemos se você vai aprovar e o Mycroft vai permitir.

-Porque o Mycroft tem que permitir alguma coisa relacionada ao MEU corpo?

Os primos olharam para o citado, que rolou os olhos:

-Vocês vão usar aquilo? Mas não foi testado em seres humanos!

-Por isso é que precisamos da sua aprovação.

-Mas e se alguma coisa der errada? Sherlock morrerá!

-Mycroft, se não tomarmos uma providência ainda hoje, ele vai morrer do mesmo jeito.

-HEY! Com licença, mas EU ainda estou vivo, consciente e presente! Alguém pode me explicar do que, exatamente, estamos falando aqui? Não me incomodo, de forma alguma ser cobaia, se isso ajudar a encontrar uma cura. Em que projeto maluco vocês se meteram dessa vez?

-Rejuvenescimento. Estava tendo uma comoção familiar porque o cachorro do primo Albert estava chegando à idade avançada bem na época da morte da sogra dele e eles acharam que muito luto não era bom para as crianças. Então nós trabalhamos num soro de rejuvenescimento. O cachorro regrediu à infância e todos ficaram felizes!!

-Não entendo como vocês não ganharam nenhum Nobel ainda!!

-Porque eles teriam que divulgar a pesquisa, ampliá-la para testes em seres humanos e aí a humanidade enloqueceria! As empresas de comésticos iriam à falência, as nações mal intencionadas iriam querer a fórmula para fins escusos e nossos primos ficariam na mira de assassinos profissionais o tempo todo. - Mycroft encarou a seringa – Agora, vamos ser práticos. Você está mesmo disposto a encolher até uma idade em que não seja tão ansioso e estressado?

-Sim! Só não me regridam à idade das fraldas, porque seria muito embaraçoso.

-Três anos já tem um controle maior dessa parte, se bem que para dormir no frio eu recomendaria fralda. E não espere que você diminua de tamanho com o mesmo cérebro.

-É sim, Sherry. A regressão é completa, então, “acidentes na fralda” seriam coisas normais e corriqueiras.

-Estamos falando de Sherlock Holmes. Nada com ele foi normal e corriqueiro, desde que nasceu. Mas pelo menos, ele era mais tranquilo até os três ou quatro anos de idade. Vou comprar umas roupas.

-Vamos calcular a dose pelo peso x altura do Sherry.

Ao raiar do dia, já estavam todos ao redor da cama de Sherlock, ansiosos pelo resultado da aplicação.

-Tem certeza?

-Não temos muitas opções válidas, certo? Alguns dias como criança não vão me matar.

-Mary Watson se prontificou a ficar com você. Ao redor da casa de John, haverá vigias prontos a entrar em ação caso algo suspeito aconteça. Acredito que não, e a senhora Watson não é uma pessoa despreparada... Deus nos ajude a todos, porque você SEMPRE foi uma criança hiperativa.

-É só não deixar ele comer chocolate, pelo que eu me lembro. O doce mais a cafeína amplia muito a hiperatividade dele.

-Vamos com isso! - Sherlock estendeu o braço. - Eu não aguento mais essa febre! Quero sair logo dessa cama!

-Vai vendo o que espera os Watsons, coitados. - Ronald amarrou o torniquete no braço estendido e bateu na veia, para saltá-la. - Até mais, Sherlock.

Nos primeiros minutos, não aconteceu nada. Até que a regressão começou. Em menos de vinte minutos o homem deu lugar ao menino, um menino de grandes olhos azuis e uma basta cabeleira negra cheia de cachos nas pontas que olhava para as mãozinhas gorduchas com espanto.

-Venha, Sher. Vamos nos vestir. Mary e John chegam daqui a pouco.

-Vocês disseram que eu ia esquecer de tudo.

-Não é automático. Até o final do dia até sua linguagem vai se adaptar.

-Ainda bem que foi Anthea não você quem fez as compras. - Sherlock provocou Mycroft – você me vestiria como um garoto do século XIX.

-Na verdade, um garoto da década de 20 ficaria muito bom. Mas como eu disse a ela que você era hiperativo, ela achou que roupas que facilitariam seus movimentos seria melhor. E eu nunca imaginei que existessem jeans deste tamanho. Os tênis são para você não escorregar.

-NÃO VAI ME PENTEAR!! Você costumava puxar meu cabelo e ISSO eu não vou me esquecer nunca!

-Começou. Nessa nova versão você poderia ser menos chato, não é?

-John chegou. - Ronald abriu a porta para o casal. - Eu sei que avisamos vocês do procedimento, mas até eu fiquei chocado com o resultado. - ele baixou a voz – estou me contendo para não apertá-lo...

Mycroft olhou por cima do ombro sorrindo e saiu da frente. Mary colocou as mãos em frente à boca, John abriu um sorriso de orelha a orelha. Sherlock bufou, rolou na cama e procurou descer sem ajuda.

-Não sei o que é mais desagradável: ser a menor pessoa da sala ou esses olhares melosos pra cima de mim. - Sherlock suspirou – Por que diabos vocês ficam assim ao ver um filhote de mamífero?

-Ele continua quebrando o clima. - John suspirou. - Pelo menos, vossa excelência permite que o leve no colo para irmos mais rápido?

-Sim, acho que isso faz parte do disfarce. Podemos ir? Eu... estou com fome.

-Claro que está! Com certeza você não jantou ontem e esse tamanho exige comida para crescer. Vamos tomar um bom café da manhã agora! - Mary comandou.

-Só um aviso: em hipótese alguma, de jeito nenhum, deem chocolate a essa criaturinha fofa. Ele já é hiperativo por natureza, e o chocolate amplia os efeitos.

-Parece o aviso do Gremlins. - John riu.

-Confie em mim. É mesmo! - Mycroft acenou em despedida, rindo. Sherlock ergueu o dedo médio pra ele.


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Notas finais do capítulo

N/A: Eu precisei dos Rutherfords para acobertar o ataque e serem meus cientistas loucos nada de usar a máquina governamental, se você pode deixar tudo em família. No mais, não tem nada a ver com a linha de tempo-história Johnlock que eu estou fazendo. Para quem não gosta de slash ter que ir lá procurar ou vocês que já leram as outras e se esqueceram os primos são estes: Ronald Rutherford, que é médico geneticista e tem uma clínica de fertilização, Arthur Rutherford é neuroendocrinologista, Marie e Frederick são doutores em Química, mas Frederick é especialista em Bioquímica Metabólica. 17/012015.



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