O dia amanhecia tempestuoso, a noite de ontem foi um total mistério para Marry que não entendeu absolutamente nada do que se passou, pensou até que fosse um sonho. Acordou com sua gatinha lambendo sua mão, ela sorria fazendo carinho na sua Pepeta. Levantou-se e espreguiçou, posso jurar para você que a casa cheirava a café forte e torrada e foram esses cheiros que fizeram Marry descer a escada encontrando com o loiro de avental.

Vai por mim, era uma paisagem e tanto já que ele estava apenas de shorts e camisa regata. Meio que sem jeito ela sentou-se no balcão bem devagar para que ele não percebesse ela ali.

– Ei, Chocobo bom dia – Marry apoiava o rosto nas mãos.

– Bom dia, Chocobo? Da onde tirou isso – virava para ele servindo o café.

– Do seu cabelo, você parece um chocobo – ela ria enquanto o mais velho tocava alguns fios do seus próprio cabelo.

– Dormiu bem? – um sutil sorriso apareceu nos lábios dele quando colocou a torrada no balcão.

– Sem nenhum pesadelo.

Ela comia seu café da manhã em silêncio e ele apenas tomava uma xícara de café enquanto assistia o noticiário, mas algo chamou atenção de ambos na TV. Era uma chamada de ajuda por parte da Shinra, a foto de Marry como Mark estava na TV e eles pediam que para quem encontrasse o rapaz ligasse imediatamente. Era inacreditável para Marry, estavam procurando por ela.

– Eles injetaram não foi?

– Sim.

– Tá explicado porque estão te procurando.

– O que é isso que injetaram?

– É o que todo Soldier deve ter, mas o seu deve ser mais concentrado, é a essência do Lifestream misturado com parte de Jenova.

– Cloud – ela tocava a mão dele deixando ambos corados – Me conta vai.

Strife soltava um suspiro e a olhava nos olhos, era hora de contar. Ter que mergulhar novamente no passado que havia superado.

– Por onde começar... Eu era um simples soldado da Shinra quando conheci Zack, ele era um Soldier desde muito novo – ele olhava para a mão dela que estava parada sob a sua – Foi ele que inspirou em ser um Soldier, Sephiroth ele também era um Soldier, mas ele descobriu o que a Shinra fez com ele, ele foi um experimento.

– Assim como eu ... – o café esfriava e ela apertava a mão dele com força.

– Ele ficou com raiva e quis destruir a Shinra. Acabou que eu e Zack fomos em uma missão e descobrimos o laboratório de experimentos, foi lá que conheci Tifa – seus olhos traziam dor – E foi lá que travamos a batalha com Sephiroth, como no seu sonho, aquilo aconteceu – ele trazia a mão dela para mais próximo de si como se aquilo fosse retirar sua dor – Shinra descobriu que sabíamos demais e foi ai que enviaram seu exército para nos matar. Zack, meu melhor amigo, morreu em batalha naquela colina e eu jurei que seria seu legado vivo, que abraçaria seus sonhos e seria um Soldier como ele foi.

– Mas você saiu da Shinra – dizia ela tentando entender.

– Saí, ser um Soldier não é apenas um cargo da Shinra, é um modo de vida – sua voz saia rouca e agradável para Marry.

– Você disse que foi um acidente, não entendi Cloud – sua vontade era de abraçá-lo naquele momento, não estava agüentando vê-lo daquele jeito.

– Enquanto corríamos atrás de Sephiroth, inalamos parte do gás que foi usado nele, então sou parte desse monstro que a Shinra criou – ele se assustava quando a mão dela pousava no seu rosto.

– Você não é um monstro.

– Sou, assim como Sephiroth é, ele quer dominar e destruir nosso mundo, tenho parte dele dentro de mim e você... – ele foi interrompido.

– E eu também tenho, pelo que to vendo em maior concentração, acha que a Shinra quer revivê-lo?

– Você pode até ter, mas não é um monstro. Ele tirou a vida de muitas pessoas e até mesmo de uma amiga minha, a Aerith – naquele momento Marry achou que ele fosse desmoronar na frente dela – Sim, acho que querem revivê-lo através de você.

– Aerith? A moça das flores? – foi ai que ela levou um baque – Tá dizendo que eu vou virar o Sephiroth?! Que eu vou matar pessoas?!

– Não... Não se eu puder impedir, tem que haver um jeito, não posso te perder também.

Aquilo foi uma surpresa para ela. Marry não agüentava mais ver todo aquele sofrimento refletido dos olhos dele, levantou-se e deu a volta no balcão. Sim, sei que a história dele é triste, mas às vezes, males vem para o bem. Cloud a acompanhava com os olhos e corou assim que os braços dela envolveram seu pescoço e sentiu o corpo da moça nas suas costas. Ninguém nunca o havia abraçado ele com tanta ternura e carinho. Aquele abraço era o pedido de desculpas por ter que falar algo tão doloroso. Ficaram assim por alguns minutos até que Cloud quebrou o silêncio.

– Desculpa por ontem, eu não estava me aproveitando de você – suas bochechas ficaram vermelhas quando lembrou-se do beijo.

– Não tem que se desculpar – sussurrava ela próximo ao ouvido dele, aquilo definitivamente tirava o Chocobo de órbita – Sei que não estava se aproveitando.

– Fiquei preocupado que pensasse isso.

– Cloud olha para mim.

Marry se afastava terminando o abraço e ficava ao lado dele, não se cansava de olhá-lo bem no fundo dos olhos. Ele fez o que ela pediu, olhou para ela vendo que o lilás estava mais intenso hoje e o verde quase apagado. Moonlight se inclinava na frente do Strife ficando na altura do rosto dele, já que estava sentado.

– Você não se aproveitou de mim entendeu? Você me ajudou a sair do transe em que eu estava.

O rapaz confirmava com a cabeça e a via sorrir e endireitar-se. Seus olhos não sabiam desgrudar dela e a acompanhou quando sentou-se na sua frente novamente terminando suas torradas. Cloud sabia que precisava ajudá-la ou iria perdê-la para sempre.