You are all I need escrita por MoonEyes


Capítulo 21
Capítulo 21




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Moira estava parada na sua frente, encarando o couro claro do sofá com uma expressão indecifrável. Desde que Oliver saíra, e isso já fazia uns dois minutos inteiros, ela não falara uma única palavra, o que significava que Felicity poderia ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Se aquela mulher estava tentando deixá-la maluca podia ter certeza que tinha atingido seu ponto fraco: a curiosidade.

— Então... Sra. Queen, sobre o que queria conversar? — Perguntou, já não aguentando mais. — A mulher a olhou, como se em todo aquele tempo não tivesse notado sua presença ali.

— Ah, desculpe-me. Eu estava pensando... Uma história e tanto a sua, não é querida? — Felicity assentiu com a cabeça, esperando o que diria em seguida. — Sinto muito por tudo que aconteceu. Nenhuma mulher deve passar por isso, ainda mais uma jovem como você, que parece ser uma boa moça.

— Hmm... Obrigada. — Respondeu timidamente.

— Sabe, em muitos aspectos sua história se assemelha à de duas pessoas que conheci, embora os desfechos de ambas tenham sido bem diferentes. — Finalmente Moira levantou o rosto, olhando-a nos olhos. — Talvez seja por isso que estou tentada a ajudá-la.

— Que duas pessoas? — A jovem não resistiu e perguntou.

— Minha mãe e minha melhor amiga. Eram duas pessoas iluminadas, que mereciam tudo de melhor e foram extremamente especiais para mim.

— Você fala no passado... O que aconteceu?

— Como disse, os desfechos foram totalmente distintos. Começando por minha mãe, ela era uma mulher muito forte, entenda... E isso aconteceu quando eu era criança ainda, em um tempo que a situação das mulheres era ainda pior que hoje em dia.

"Meu pai não era um homem ruim, mas houve uma época em que ele perdeu o emprego e, antes de se reerguer na vida, encontrou conforto na bebida. Não durou muito, apenas um mês, e na maioria das vezes, quando bebia, adquiria uma personalidade deprimida e solitária. Minha mãe entendia seu lado, o ajudava, cuidava dele e o aconselhava quando estava sóbrio. Mas houve um dia, ao final da quarta semana, que sua paciência acabou. Eu estava presente. Era quase meia noite, e ele ainda não havia chegado. Nós duas estávamos lendo na sala de estar, o esperando, quando ele chegou com a roupa em farrapos e uma garrafa na mão.

Naquela noite minha mãe não fez o mínimo de esforço para suportá-lo. Assim que ele entrou em casa ela o esperava com sete pedras na mão. — Moira sorriu. Havia alguma coisa nela que prendia atenção. Era impossível não estar atento quando ela falava, e Felicity sentiu isso na pele. — No sentido figurado, é claro, e ele não gostou daquilo. Ela falou a ele tudo que estava guardando dentro de si. Disse que ele estava arruinando sua vida, que estava se destruindo e nos levando junto. Declarou aos quatro ventos que o amava, mas que não suportaria mais um dia daquilo. Ele precisava fazer alguma coisa, precisava dar a volta por cima e mostrar que nada era capaz de derrubá-lo. Deu um verdadeiro choque de realidade nele, falando tudo que uma pessoa nas condições em que ele estava necessita ouvir mas não o quer.

Ele sempre havia sido muito carinhoso, e nos respeitava mais que tudo. Entretanto, naquela noite o álcool fazia efeito em seu sangue e ele não era ele mesmo. Assim que ela falou tudo que queria ele se tornou agressivo. A agarrou pelo braço a olhando com uma expressão furiosa que eu nunca tinha visto em seu rosto. Aquilo me assustou, mas minha mãe nem piscou. Se manteve ereta e de queixo erguido, o olhando nos olhos com uma força que parecia emanar dela.

Eu nunca imaginei uma coisa daquelas. Ela era frágil por fora, mas parecia feita de ferro por dentro. Assim que ele a tocou ela disse que se ele ousasse levantar a mão em sua direção, aquela seria a última vez que ele a tocaria. Não parece muito ameaçador quando eu o digo, mas nos lábios dela as palavras tiveram um efeito impressionante. Ele a soltou imediatamente e saiu. Voltou arrependido no dia seguinte, nos pediu desculpas, e desde então não colocou mais uma gota de álcool na boca."

Felicity não sabia o que dizer. Ela nunca pensara em dizer tal coisa a Ray achando que o estaria desrespeitando, mas na verdade tudo o que estaria fazendo era exigindo respeito da parte dele. Envergonhou-se por não ser tão forte como a mãe de Moira, por não agir da maneira certa por medo de qual poderia ser a reação dele.

— Eu gostaria de ter agido como ela quando tudo começou. — Falou de cabeça baixa.

— Não fique assim querida. Meu pai era um homem de boa índole que cometeu um único deslize. Ele a amava o bastante para reconhecer que estava errado e reparar o seu erro. Seu marido poderia ter uma reação muito diferente, e é por isso que vou lhe contar sobre minha melhor amiga. Mas devo lhe avisar, tem um final triste.

— Prossiga. — Felicity a encorajou.

— Bom... O nome dela era Elisabeth. Nós nos casamos mais ou menos na mesma época e estávamos muito felizes. Ela foi morar em uma casa mais afastada da cidade, pois o marido gostava do campo, enquanto eu vim para cá com Robert. Logo engravidei de Oliver, foi uma das minhas maiores alegrias, e apesar da distância Elisabeth estava sempre presente para que eu pudesse compartilhar tudo com ela.

"Ao longo dos meses eu percebi que ela se tornava mais fechada e quieta, não era mais a mesma pessoa. Alguma coisa estava acontecendo e eu precisava saber o que era. Então um dia ela chegou aqui chorando, dizendo que não suportava mais. Eu perguntei o que era e ela me contou. Seu marido era viciado em algum tipo de droga e a estava agredindo constantemente.

Ela não era uma mulher madura como minha mãe. Sempre fora uma menina inocente que se abalava por qualquer coisa. Parecia que mal havia deixado a infância e aquilo era mais do que podia suportar.

Eu a aconselhei que era melhor procurar a polícia, e enquanto eles faziam todo o trabalho ela poderia ficar aqui comigo, mas ela insistiu que era melhor voltar para casa e tentar falar mais um vez com ele, uma última vez, e assim ela fez. Foi a última vez que a vi com vida. Dois dias depois fui à casa dela pois não tinha tido mais notícias. A porta estava destrancada e eu não sei bem o que aconteceu naquela noite, mas encontrei os dois corpos, cada um com um tiro na cabeça. Pelo que a polícia identificou ele atirou primeiro nela, e depois, percebendo o que havia feito, atirou em si mesmo. Foi horrível... Jamais vou esquecer da cena."

Moira tinha lágrimas em seus olhos e Felicity estava chocada de mais para ter qualquer reação. Já tinha ouvido relatos do tipo, mas nunca um que fosse tão próximo dela. Eram sempre sobre pessoas desconhecidas, e embora não conhecesse Elisabeth, Moira era sua amiga, e isso era o mais próximo de que já chegara de uma tragédia assim. Nunca passou pela sua cabeça que isso pudesse acontecer com ela, mas de fato podia.

— Eu sinto muito. — Falou por fim.

— Está tudo bem. Com o tempo você aprende a lidar com as perdas. — Disse com o olhar triste. — Mas o que quero com isso é dizer que estou disposta a ajudá-la por diversos motivos, incluindo esses dois. Amanhã mesmo posso providenciar tudo o que precisa. Ofereço minha casa para você ficar, meus advogados estarão à seu dispor, até mesmo a mídia estará do seu lado se este se tornar um caso realmente grande. — Felicity corou devido à gentileza da mulher.

— Muito obrigada, serei eternamente grata.

— Só peço uma coisa em troca. — Agora sua voz trazia um toque de receio.

— Qualquer coisa. — Era o mínimo que podia fazer, pensou Felicity.

— Oliver é um homem bom que já passou por muitas coisas ruins na vida, e eu reparei o jeito como ele olha para você. Ele nunca olhou assim para mulher nenhuma, nem mesmo para Laurel, com quem quase se casou. Espero que entenda quando digo que ele não precisa passar por mais momentos difíceis do que já passou. — Aquelas palavras atingiram Felicity como um soco no estômago. — Ele precisa de uma mulher, uma família, filhos talvez... Algo fácil, alguém que ele conheça quando menos espera e o complete, que possa estar com ele sempre que precisar. Você, na situação em que se encontra, oferece a ele mais problemas do que soluções, e é por isso que peço que fique longe do meu filho. Não o dê esperanças sobre algo que não pode proporcionar.

A loira mais nova não sabia se poderia cumprir aquela promessa. Estar perto de Oliver a fazia esquecer dos problemas de uma forma que nada mais fazia. Ela se sentia mais leve e feliz ao seu lado, e era bom tê-lo por perto. Mas aquilo era egoísmo, e mesmo que fossem só amigos o que Moira falou era verdade. Ele a olhava de uma maneira diferente e ela sabia que apesar de se conhecerem de verdade há apenas uma noite aquele sentimento poderia aflorar se ela o desse esperanças, até que se tornasse algo que nenhum dos dois poderia controlar. Moira a ajudaria com tudo o que estava precisando no momento, e se ela queria apenas a felicidade de seu filho em troca, Felicity teria que abrir mão seja lá do que sentisse por ele.

— É claro. Posso ficar longe dele, sem problemas.

— Ótimo. — Moira lhe dirigiu um sorriso verdadeiro. — Daqui a pouco ele virá buscá-la para lhe mostrar seu quarto. Se soubesse qual ele preparou eu mesma te levaria, mas não sei. — Ela se levantou, indo em direção à porta. — Espero que não me decepcione Felicity. Tenha uma boa noite.

Moira saiu, deixando sozinha uma Felicity muda e tristonha. Ela não sabia se havia feito a decisão que mais a agradava, mas com certeza era o certo a se fazer. Agora teria que afastar Oliver, o que não seria uma tarefa nada fácil estando na mesma casa que ele, mas ela conseguiria. Ou assim imaginava.


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