Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 7
Nevasca I


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas.(: Mais um capítulo. Sakura está em seu dia de casamento, rs. Um dia friiiio. (:



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Naquela manhã o inverno castigava as árvores já desfolhadas de Paris com neve grossa. Sakura acordou já ansiosa, olhando para a janela para ver em que hora do dia estavam. Mas não sabia, já que a cidade estava toda coberta de neve.

Se ela soubesse que aquele dia seria o mais frio daquele inverno, escolheria outro dia para se casar. As árvores estavam completamente secas e a neve corria solta por toda Paris.

Sakura se espreguiçou e sorriu ao virar de lado e se deparar com o homem de cabelos negros acordado de olhos vidrados no teto. Tomou coragem para falar do que lhe afligia.

–-- Laurent, mon amour, será que não seria melhor termos marcado o casamento para o verão? –indagou Sakura, fazendo um ar gélido sair de sua boca.

Laurent estava irritado naquela manhã. Não sabia que cara fazer. De verdade, do fundo do seu coração, ele não queria ter precisado casar-se. Era algo que realmente não era do seu interesse. E o seu coração batia preso e entalado. Como se se sentisse sufocado demais para pronunciar alguma palavra ou mesmo pensar numa frase feita para dizer. Ele fitava o teto com as sobrancelhas negras franzidas numa carranca de estresse. Mas não ia voltar atrás. Isso nunca. Já que não se importava em se casar, Laurent simplesmente resolveu tirar o lado bom daquilo. Pelo menos ele não odiava. O que o irritava, de verdade, era a condição de mentiroso...

Afinal ele já se sentia possessivo com Sakura. Apesar de não amá-la, ele não queria nem pensar em outro homem perto dela. E admirava-se dessa nova condição que experimentava pela primeira vez. Ele tinha consciência de que não a amava. Não, amor era um sentimento estranho, profundo demais. Mas ele sentia desejo. Sentia uma posse irresistível. E ficava louco de pensar que alguém podia algum dia tocar nela como ele fazia. Sim, Laurent dormia com Sakura no quarto dela, quando os dois chegavam de algum lugar. Ela pedia. Dizia que sentia-se sozinha e tinha pesadelos com a avó. Laurent achava Sakura um pouco louca. Ela pintava, esculpia miniaturas, tocava piano de vez em quando, dizia que as vezes podia ouvir vozes de tão perturbada que se sentia. E aquilo o deixava ansioso. Ele tinha medo de não suportar a tempestuosa e frágil personalidade dela.

–-- Laurent... –murmurou ela.

Sakura ficava confusa e perturbada quando Laurent não a ouvia. Ela se perdia em pensamentos inquisitivos que fazia a si mesma. Sua cabeça estourava. Pensava, pensava, pensava e não conseguia achar o “X” da questão. Queria desvendar a mente dele, mas somente Laurent sabia o que se passava lá. Por mais que ela tentasse, ele escondia muito bem. Ela chegava a pensar que casar-se com ele seria um erro, mas depois seu coração apertava, porque ela já o amava.

Fitou com um rosto queixoso aquele torso nu branco e macio dele e depois o seu rosto. Os olhos negros fitavam o teto e nenhum barulho se fazia naquele silêncio de seu quarto. Ela ouvia a respiração dele quieta, enquanto observava a boca delineada de lábios médios dele. Rosada, semiaberta, respirando ligeiramente. Ela, totalmente sem roupa sentiu-se impelida a recostar-se no peito dele. Tomou coragem e foi. Ficou com o ouvido em seu peito esquerdo ouvindo o seu coração, confortavelmente.

Laurent sentiu de repente que o corpo caloroso de Sakura se juntava ao seu torso, completamente nu e sentiu um arrepio. Ele de repente pensou que não seria tão mal assim estar com ela. Lembrou-se do seu corpo e de como já o tinha visto algumas vezes. Da sua barriga branca e dura, com uma pele quase transparente de tão branca. Era realmente algo de uma fineza indescritível. Ele lembrou-se de como queria possuir aquilo, porque era frágil e doce... Seus pensamentos pararam nos seios que se amassavam contra o seu peito naquele momento. Laurent apertou os olhos, tirando a lembrança de sua cabeça. Não queria se desconcertar.

Mas completou o pensamento. Ela era alguém que o amava, e ao menos poderia contar com ela. Ela seria útil.

–-- Não entendo quando você não me responde. Fica ai vagueando, Laurent Blanc. –disse a mulher, com os olhos perceptivos e o ouvido atento.

Sakura queria saber o que ele estava pensando.

Laurent lembrou-se da primeira pergunta de Sakura.

–-- Não seria melhor, Sakura. –disse, ríspido. –Agora é mais rápido. Não importa se está frio. Você não queria casar mais cedo? –indagou ele.

Laurent Blanc era dito como um homem duro. Embora se escondesse dos jornais e revistas e ficasse com sua personalidade para dentro de si a maior parte do tempo, sua sombra negra era mostrada quando ele se sentia a vontade. Ele ia se casar com Sakura. Pensou que já estava na hora de ela conhecê-lo. Há alguns meses, ele começara a ser ele mesmo. Respondia friamente as perguntas e isso deixava Sakura apenas pensativa. Mas ela já estava decidida a se casar. Ela sentia uma apunhalada em seu peito a cada vez que aquele homem dizia algo com rudeza, mas ela já não mais podia fazer nada. Estava irrevogavelmente presa.

Ela tentava, todos os dias, acostumar-se.

Embora não fizesse muito sentido viver daquela maneira, sempre aguentando aquele temperamento frio dele, Sakura àquela altura, entendeu que ele a amava. Ele parecia estar sempre perto dela, como um cão de caça, não deixando que nada a acontecesse. E a cada vez que ele dizia uma coisa direta e fechada, ela lembrava-se das palavras sábias de sua mãe. “Você precisa de alguém em que reconheça no olhar que está disposto a morrer por você”. Sakura reconhecia aquilo em Laurent. Ele estava sempre atento a ela.

–-- Está bem. –murmurou, conflituosa.

Seu coração palpitava e ela se sentia tensa em estar ali, tão íntima enquanto ele parecia estar esnobando-a.

–-- Não acha isso interessante? –indagou ele.

Ela ficou confusa. Mas o tom de voz dele tinha mudado e ela ficou menos tensa.

–-- O que?

–-- Casar-se na neve. É bem romântico, como dizem. –disse Laurent, tentando não deixá-la tensa.

Ele não queria estragar tudo para ela no dia em que ela ia se casar. Ainda não tinha virado o próprio demônio.

–-- Não sei. Mas fiz o vestido quentinho, ao menos. –sorriu ela.

De repente, ela tinha voltado a respirar aliviada. Sakura mal sabia o buraco em que caía. Ela estava totalmente entregue.

–-- Então é melhor eu ir. São apenas seis horas da manhã, Sakura. É que nós acordamos cedo... Ansiosos. –disse ele, fitando-a com um meio sorriso elegante.

Sakura estava bem, de repente.

–-- Até a noite. –disse ele, levantando-se e vestindo-se.

Ela ficou na cama, enrolada com seus lençóis caros, sentindo a falta do corpo quente dele. Ela começava a achar que aquilo era uma espécie de dependência. Mas ela gostava, o que a assustava um pouco. Um pouco. Afinal, ela já estava praticamente casada com o homem que queria. Sua “posse” sobre ele estava garantida. O que mais podia acontecer?

~

A neve só aumentava naquele dia. E Laurent se perguntav se era algum tipo de brincadeira do destino. Sakura talvez estivesse certa. Aquele dia parecia nefasto para se casar. Ele estava limpando os pés no tapete que estava do lado de fora da porta do casarão de Francis Morel, enquanto seu casaco negro ficava todo empoado de neve.

–-- Olá? Francis? –disse Laurent, entrando no velho casarão do amigo.

Os dois brincavam nos campos de lavanda quando eram pequenos e Laurent lembrava ternamente da sua infância. Quando não precisava se preocupar com os negócios da família e podia dar umas “porradas” em Francis quando ele implicava.

Mas fazia semanas que Laurent ia à casa de Francis e ele não estava lá. Estava ficando preocupado com o amigo.

Laurent estava no solado de dentro da porta, esperando.

–-- Ele está no restaurante, Laurent. –sorriu Aubrey, mãe de Francis. –Ele não anda em casa faz um tempão... Até pensei que ele não quisesse mesmo estar naquele restaurante, mas ele agora só vive e respira lá, Laurent. Acho isso ótimo. –ela riu.

Aubrey era uma mulher de longuíssimos cabelos ruivos brilhosos, olhos azuis da cor do oceano e sardas muito pequenas nas maçãs do rosto. Usava sempre uma espécie de avental verde escuro que parecia um vestido para cuidar dos jardins e plantas. Tinha um sorriso engraçado e uma voz melodiosa e calorosa. Parecia mais nova do que realmente era, com seu jeito de gesticular.

Viera dos Estados Unidos com os pais que migraram para a França e conhecera Darden quando muito nova. Era acostumada a trabalhar no campo e os dois eram como carne e osso. Ela o achava engraçado com seu jeito calmo, enquanto ela era explosiva. E a dupla acabara se casando e tendo Francis, que podia se dizer como o filho mais amado de todos os tempos.

–-- Ele realmente parece entregue, sabe como eu quero dizer não é? –disse ela, sentando-se num sofá na sala.

–-- Nunca mais o vi. Ele ainda sabe que hoje é o meu casamento, não é? –indagou Laurent, que tratava a mãe de Francis com muito respeito e intimidade.

–-- Sim, sabe, Laurent! –riu ela. –Mas é claro. Ele já comprou uma roupa especial.

–-- Ele seria o padrinho, mas não quis. Disse que não teria tempo de se comprometer, que estava ocupado... –confessou Laurent, que não entendia o afastamento do amigo.

Aubrey franziu o cenho ruivo, um pouco confusa. Perguntou-se se o filho não a escondera alguma coisa.

–-- Ah, bem... –disse ela.

O sotaque americano e de fazendeira desde jovem da mulher era repuxado e a fazia ter uma face mais terna ainda.

–-- Vou te dizer, Laurent... Não se aflija. Francis é um garoto engraçado, impetuoso, hiperativo, e calorosamente amoroso. –disse ela, lembrando docemente do filho. –Então, sabe, às vezes ele fica meio perdido na vida. Ele não consegue entender porque é tão sincero consigo mesmo, e fica confuso sobre as coisas quando elas ocorrem rápido. Acontece que casar-se assim, tão rápido, para ele é um choque. Já que vocês são da mesma idade e estavam sempre saindo. –explicou calmamente Aubrey. –Acho que não há nada de errado. Fique tranquilo. Ele está bem. Eu sou a mãe dele, eu saberia. –disse ela.

Mas Aubrey não estava tão certa daquilo. E suspirou baixinho, apenas para si. Ela queria que Laurent ficasse bem, afinal era o dia do casamento dele e não queria que ele ficasse preocupado.

Laurent estava aflito com o casamento e o amigo não falava com ele fazia dias. Ele precisava de alguém para implicar, infernizar, fazer qualquer coisa que o fizesse esquecer que ele ia estar preso algumas horas mais tarde.

~

Sakura estava tensa. Por mais que Catherine, a sua maquiadora quisesse que ela ficasse quieta, ela não conseguia. O coração dela pulou e dançou dentro de seu peito. O rosto suava, dificultando a maquiagem. Faltavam ainda algumas horas para o casamento, mas elas estavam fazendo uma prova de maquiagem e do vestido.

Porém Sakura não estava nada contente. Pelo contrário, sentia uma angústia, um aperto no peito, como se sofresse a cada minuto um pouco mais. Como se tivesse alguma coisa a resolver. Ela mordia o lábio com o batom, suava, piscava, respirava fundo e então a sofreguidão em seu peito voltava. O que ela sentia? Porque estava tão... Tão... Triste?

O vazio. Ele voltara? Porque? Ela simplesmente resolveu ignorar. Não fazia sentido. Era ridículo.

–-- Sakura, querida. Não vai dar para terminar a sua maquiagem se continuar assim. –disse Catherine impaciente.

–-- E-eu... –murmurou Sakura. –Tenho que ir! –disse, num grito eu estava sufocado.

Ela saiu sem dizer nada, deixando o ateliê esparso mais vazio ainda. As mulheres ficaram lá, estupefatas.

~

O restaurante de Lavanda estava um pouco vazio. O que fazia Francis angustiar-se a cada hora que se passava trazendo a gélida noite, a hora que ele queria ignorar, a hora do casamento.

Ele mordia o lábio rosado e levemente grosso e coçava a cabeça, inconformado. Sentava-se a girar na cadeira do caixa e olhava as poucas pessoas sentadas ali naquelas mesas. Seu ajudante, um conhecido seu, Andrew ia sempre atendê-las, tomando a função dele, fazendo com que ele ficasse com a mente cheia.

Francis também pensava em Laurent. Esse é que ele queria mesmo evitar de sua mente. Logo que o amigo vinha a tona, Francis sentia mais que uma angústia e tristeza, sentia uma vergonha inigualável. Tanto que fugira descaradamente do amigo durante as semanas antes do casório.

Ele não queria lutar por Sakura por apenas um motivo. E esse era Laurent. Primeiro porque Francis não admitia tirá-la, se conseguisse, do amigo. Não depois de ambos terem se conhecido e se gostado. Ele sentia-se realmente mal. E segundo porque uma parte de Francis achava que aquilo era o melhor para os dois. Para a mulher, que ele vergonhosamente mal conhecia, mas não conseguia ignorar como sua mente mandava. E para o amigo, que era um louco em alguns tempos, tendo um temperamento difícil e se metendo em confusões das quais Francis sempre tentava tirá-lo, apaziguando os danos. Com Sakura por perto, o lobo de Laurent parecia ficar quieto. Apenas escondido por um motivo que Francis não entendia.

Portanto Francis estava decidido. Já tinha combinado consigo mesmo que aquilo era apenas uma doença estranha. Aquele sentimento que o apertava a virava do avesso toda vez que ele se lembrava da amiga de Nicole. Era assim que ele se referia a ela, naquele momento, forçando o cérebro. Uma desconhecida.

Enquanto pensava, despercebeu que estava com um lápis na boca, quase o mordendo de tanta força no pensamento que fazia. O cenho franzido numa carranca no rosto belo que parecia esculpido por gregos, com traços cheios e angulosos, olhos atentos e vibrantes. As moças sentadas o olhavam atentas, terminando suas refeições como se elas fossem o homem. Enquanto isso Andrew apenas observava cabreiro a ação das mulheres.

–-- Uma desconhecida. Uma desconhecida! –gritou Francis, de repente, fazendo as pessoas se assustarem.

Depois ele deu uma gargalhada sonora e encabulada que fez a mulheres ficarem risonhas e logo depois rirem em coro. Andrew entrou na onda.

–-- Ah, ah... –murmurou entre gargalhadas. –Meu caro amigo Francis Morel... Você está cada vez mais doido. –disse, por fim batendo nas costas do amigo de leve, brincando.

–-- Haha, idiota. –praguejou Francis.

Ele simplesmente não conseguia esconder a vergonha que sentira. E então logo essa vergonha se transformou em raiva.

“Droga, seu trouxa. Ela vai se casar. E você a conhece sim. Você não seria capaz de esquecer o rosto dela nem em um milhão de anos! Ele está gravado na sua memória. Como se estivesse entalhado em mármore.”

A campainha do restaurante tocou. Naquele dia, a neve caía impetuosamente lá fora, embora ainda estivesse no início da tarde. Francis levantou o rosto para olhar para quem entrava. Era uma esperança aguda que surgia nele sempre que a campainha tocava. Ele tinha a esperança de que fosse alguém para tirar a aflição dele.

Era Sakura.

Os olhos dele quase se arregalaram. Não podia acreditar. Seu coração quase pulou fora e naquela hora ele teve certeza que mesmo que ele morresse naquele instante, e virasse apenas um espectro flutuante que não mais existe em lugar algum, sua mente jamais esqueceria aqueles olhos verdes afogueados procurando alguém ou algo assim que adentraram o restaurante.


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? Francis gatinho vai mesmo deixar a sua Sakura casar (?)



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