Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 8
Nevasca II


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Demorei por causa de umas coisas que tinha pra fazer, mas está ai o capítulo bem grandão pra vocês! kkk Eu gostei muito desse capítulo. :3 Espero que curtam.



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Ela sentou-se numa das cadeiras da mesa, sentindo o cheiro de lavanda, sentindo-se embalada por uma melodia, logo que o sentiu. Não era explicável como ela podia sentir-se tão encantada, embalada, acalentada por aquele cheiro. Como se o conhecesse há muito tempo. Como se ele fosse o seu remédio ou algo do tipo. A angústia logo passou. E ela entendeu que aquele lugar fazia parte das suas entranhas. Sim, era aquilo que fazia o seu sangue voltar ao normal, correr como um rio e não como um mar tempestuoso.

Sentiu-se também protegida daquela neve medonha que a adentrava, sujava seu casaco preto com pele no pescoço. A fazia se sentir amedrontada.

–-- O-olá. –disse o jovem loiro com os olhos azuis a fitando, abobalhado.

Sakura sorriu singelamente ao lembrar-se do rosto de Francis. Ela estranhamente sentiu uma alegria que não sabia descrever. Depois entendeu que recordava a memória da primeira vez em que o vira e de seus olhos engraçados ao topar pela primeira vez com ela.

–-- Ora, Francis. –disse ela.

Fazia tempo que o homem não dava o ar da sua graça perto do amigo Laurent, para que ela o visse relaxar novamente. Não se lembrava de ter escutado direito o nome do rapaz naquela noite. Mas de um modo que não sabia explicar, ela se lembrava do nome dele.

–-- Está quentinho aqui, não é? –disse ela, com um sorriso feliz, esfregando as mãos, que mesmo com as luvas grossas pretas de veludo estavam geladas.

Os olhos verdes brilhantes daquela gata aquecida olhavam a nevasca arrasar aquele início de tarde em Paris. Ela fitava a neve caindo furiosamente lá fora com um ar de curiosidade mórbida.

Francis sentou-se na cadeira na frente da mesa, olhando para ela sem vergonha alguma de encará-la diretamente. Pôs os braços dobrados nos cotovelos em cima da mesa, entrelaçando as mãos num gesto pensativo. Sakura se encabulou.

–-- O-o que foi? –indagou ela, um pouco retraída.

–-- É que é incrível você ter vindo aqui... Com tantos lugares...

Sakura não entendeu e começou a rir. Mas é claro, ela não sabia o que Francis estava pensando. Ele pensava em como era coincidência a coisa que ele mais tentava evitar vir parar ali, como caindo do céu.

–-- O que? Eu não sou bem-vinda? Tenho que ir a qualquer um dos outros tantos lugares? –indagou ela, com a leve tensão que carregara outrora na neve, voltando a pensar em ter que deixar aquele lugar precioso.

–-- Não, não seja boba. Não é isso. –disse ele, sério. –Você... É que eu estava pensando em você exatamente naquele momento...

–-- Pensando em mim? –Sakura ficou estupefata.

–-- Bem, sim, sobre o seu casamento com o meu amigo. –conseguiu concertar ele, depressa.

Admirou-se de si mesmo e suspirou de alívio.

–-- Ah... –murmurou Sakura. Franziu a sobrancelha, novamente tensa.

Francis a olhava, com vontade de abraçá-la. Ele sabia sem seu coração que nada estava bem e afligia-o não poder ajudá-la.

–-- O que está havendo? –indagou ele, sério.

Sakura levantou o olhar para ele, de repente tensa ao sentir que ele a encarava. Ele a encarava de uma forma que ela conseguia distinguir o sentimento dele. E, para sua aflição, era o mesmo rosto que sua mãe mencionara. Aquela memória das palavras apavoradas da mãe furou seu cérebro como um punhal. “O rosto de um homem que seria capaz de dar a vida por ela”, sua mãe dissera. Só que daquela vez parecia mais forte. Mais forte do que o que ela via em Laurent.

Então Sakura achou que estava ficando louca. Que era uma maluca de vez. Ela nem conhecia Francis direito. Porque ele estaria disposto a morrer por ela?

Sorriu pensando no absurdo que aquilo parecia. Mas o rosto dele era completamente sério. E os olhos azuis a encaravam como bolotas determinadas.

–-- Ah... Nada, Francis. –o coração dela apertou.

Sakura de repente inspirou o cheiro de lavanda do restaurante e lembrou-se de uma foto antiga que vira de sua avó. Não entendia porque, mas aquilo provocava nela sensações melancólicas e nostálgicas. Então notou que tinha os olhos cheios de lágrimas, quando seu coração doía, ao lembrar-se da avó. Parecia algo que ela não podia alcançar e parecia que ela conseguia sentir o sofrimento da avó. Quase como se sentisse a sua presença.

–-- Ei ei ei... –murmurou Francis, desesperado por dentro.

Ele simplesmente não sabia o que fazer com a vontade que tinha de abraçá-la. Então ele suspirou cansadamente e estendeu a mão para ela. Francis pôs a sua outra mão atrás da cabeça, irritado consigo mesmo logo depois de ter feito tal ato.

No que ele estava pensando? Sakura não iria para qualquer lugar com um estranho que estava ali lhe chamando como um bobalhão para se aconchegar. Era inútil tentar ajudá-la sem que ele a deixasse descobrir que ele infelizmente estava apaixonado por ela.

–-- Venha, Sakura. –disse. –Vamos para dentro de uma sala do restaurante. Lá não tem lavandas, é bem arejado e fresco. Acho que você poderá respirar. –disse, aproximando-se mais.

Surpreendendo o homem, Sakura deu a ele imediatamente a mão trêmula envolta nas luvas de veludo. A mulher estava desconsolada.

Então Francis suspirou cansadamente muito baixo, apenas para ele mesmo, para que ninguém percebesse. E com calor e força recebeu a mão da trêmula mulher, ajudando-a a levantar da cadeira.

Ele a acalmava com sua voz segura, e o seu choro foi cessando um pouco mais. Sakura estava estupefata consigo mesma a aquela reação inesperada de pavor que sentira. Ela sabia o que sentira. Era como sentir a presença da avó dentro de seu ser, soprando gelidamente e tristemente. Sim, aquele sopro em sua espinha era tão triste como a morte. E ela decidiu que não queria senti-lo de novo.

Os dois adentraram a sala dentro do restaurante. Ali era onde Francis ficava de vez em quando. Tinha alguns Bonsais presentes de seu tio Bernard, uma decoração toda esverdeada e um cheiro de frutas frescas do aromatizante da sala. E uma janela de vidro com vista para a cidade aplacava toda a parede da frente.

–-- Francis eu... –murmurou Sakura, fragilmente. –Eu sinto uma enorme vontade de ser sincera com você... –os olhos avermelhados da moça branca demais olharam Francis e ele teve vontade impetuosa quase incontrolável de virar-se de lado.

Não queria ser despido por aqueles olhos, ou hipnotizado, ou sensibilizado. Francis considerava-se já um criminoso àquela altura por estar com a noiva no pré-casamento. A noiva que ele amava em silêncio. A noiva de seu melhor amigo.

Ele ficou calado. Doía nele saber que ela ia casar-se dali a algumas horas. E estava ainda pensando naquilo. Mas já não podia mais mentir. Ele a amava. Com todas as suas forças. E sentira mais forte ainda aquilo quando a vira chorar. Naquele momento ele apertou os olhos e seu coração não o obedeceu. Ele estava lá, pulsando forte, avisando a Francis que já não havia mais como fugir. Ele a amava sim, e nada o faria esquecer ou amenizar aquilo.

Mas Francis procurava com suas últimas forças apenas se manter calmo. Estava conseguindo, enquanto permanecia frio por fora, distante, sem fitar os olhos doces e fragilizados dela, ele conseguia a proeza.

–-- E- eu me lembrei da minha avó... Essas lavandas. Elas me fazem lembrar da minha avó, que faleceu faz tempo antes mesmo de eu nascer... Sabe, é... É complicado. É como se eu sentisse ela. Ela é tão real, droga! Mesmo que eu nunca a tenha visto pessoalmente. Isso é doentio... –Sakura gaguejava, entalada como se ela lembrasse da sensação de poder quase ver a avó.

Ela quase chorara novamente. Mas se conteve engolindo em seco. Ela percebera a reação de Francis erradamente. Ela pensava agora que ele se sentia assustado pelas lágrimas dela e se sentira envergonhada por dar trabalho a ele. Mas ele apenas se continha para não acalentá-la.

–-- Bem... Esqueça. –disse Sakura, fungando. Seu nariz estava gelado e ela parecia levemente resfriada.

–-- Não, Sakura. –disse ele, sério. Resolveu encará-la. –Continue.

O rosto dela estava distraído olhando para algum ponto no chão.

–-- Francis isso me deixa muito abalada. Estou até um pouco... Fraca. –disse ela, desabafando novamente, dessa vez sem pensar muito.

Ele, que estava encostado com as pernas cruzadas em sua mesa de “gerente obrigatório” que era como ele chamava o cargo, saiu finalmente dali, pensando que já era um homem para ficar com aquela moleza.

Se ele gostava dela, não importava. Era apenas uma pessoa frágil precisando de seu apoio. Ao menos o apoio imparcial... Ele resolveria o que faria sobre aquele sentimento angustiante depois.

Francis pigarreou e olhou para os lados buscando coragem. Encontrou logo e despejou rapidamente as palavras.

–-- Não se preocupe, Sakura, vai passar logo. Quero dizer, anime-se, você vai casar-se com o Laurent. –disse Francis, cortando-se por dentro para vê-la feliz. –Eu estarei lá... –murmurou ele, as bochechas ardendo em brasa, doloridas, como se ele forçasse o rosto a ficar inteiro, apático.

–-- Bem... –Sakura deu um sorriso torto. –É verdade! –disse, encabulada. –Francis, eu preciso ir. Preciso ajeitar algumas coisas ainda... –disse Sakura, abismada com sua falta de juízo.

–-- Calma, Sakura... –Francis riu-se de repente, divertindo-se da pressa e embaraço da mulher. –Não sei muito sobre casamentos, mas não deve-se ter que ter o dia inteiro... Na verdade, eu realmente não sei nada. –disse ele, dando um sorriso charmoso por cima do cachecol preto grosso de lã que usava.

Sakura sorriu e os dois se sentiram levemente aliviados por um singelo momento de suas tensões aprisionadoras.

–-- Pode sair por aqui. –disse o loiro indicando a porta da escada dos fundos do restaurante.

Ele entendera tudo sobre o pavor que vira nos doces olhos de Sakura. Ele não queria ver aquilo. Nunca mais. Doía. Então ele a guiou imediatamente à saída por trás, que não passava pelas lavandas. Ele não entendia bem o porque, mas tinha medo que ela novamente se sentisse daquela forma depois de sentir o cheiro outra vez.

Sakura via o homem que tirara o avental quando eles subiram as escadas, agora de uma maneira diferente. Com o suéter preto grosso e um cachecol preto combinava com ela naquele dia de terrível nevasca. Um tom sóbrio e polido que o deixava muito mais bonito do que quando o viu pela primeira vez, quando parecia um bobo do campo. Além de ser um cavalheiro. Apesar de ser de um jeito desajeitado. Francis tinha um doce e melancólico olhar quando a olhava. Ela tinha certeza de tê-lo visto normal quando o viu pela primeira vez, mas naquela tarde gelada ele a olhava com um cuidado estranho. E ela se sentia confortável.

Ela deu uma olhada nele novamente e então deu um sorriso de gratidão.

–-- Obrigada. –disse ela, do fundo de seu desamparado coração, naquele momento aquecido pela espécie de luz solar que Francis emanava.

–-- Por nada, Sakura. –disse Francis, segurando o coração na mão.

Os olhos azuis dele viam a beleza dela e queriam ficar ali, olhando. Mas não podiam.

–-- Até mais tarde. –murmurou ela, virando-se depressa num súbito ataque de pressa.

Francis sussurrou em sua mente um “Até mais tarde” amargo enquanto viu a mulher sair na rua cheia de neve, ficando branca com ela sujando todo o seu casaco e luvas aveludadas. Mais tarde, Sakura vestiria provavelmente um modelo daquela cor da neve, todo aquecido, um típico modelo para o inverno. E Francis olhava-a ficar toda branca, lembrando-se do vestido, do casamento, sem ter como afugentar aqueles pensamentos depois que o destino lhe fizera a crueldade de, com tantos lugares, mandá-la para lá, onde ele procrastinava.

Ele suspirou, suas pernas querendo andar até ela para que ele pudesse abrir seu coração. Dizê-la que surpreendentemente ele a amava. Não sabia como esse sentimento intruso tinha nascido, mas ele sentia como se uma bigorna fosse esmagar seu coração toda vez que a imaginava casada com o seu melhor amigo. Francis de repente sentiu como se não tivesse a capacidade de esquecê-la que planejava exercer. Mas odiava aquilo por alguns momentos, porque parecia absurdo como ele podia se apaixonar daquela forma, sem premissa. Ele apenas sentia que a alma de Sakura era linda.

De repente seu coração aqueceu-se como fogo enquanto Sakura ainda estava na metade da rua e suas pernas foram andando sem sua permissão. Francis não podia deixá-la casar-se. Não podia! Mas duas vozes começavam a ressonar em sua consciência. “Nunca viverá em paz se deixá-la ir assim” “Mas ela vai casar com o seu melhor amigo, além disso, ela não dá a mínima para um cara como você”. Mas ele não conseguia parar, porque a angústia o deixava louco naquele momento. Dentro dele as engrenagens corriam loucamente esquentando tudo enquanto a neve formava icebergs lá fora.

–-- Sakura! –duas vozes de repente gritaram na neve vaporosa.

Sakura parou no meio da rua. Ela olhava para o chão quando as vozes soaram para ela. Quando olhou para frente viu Laurent Blanc e sua presença fumegante vaporizando sobre a neve densa. Ela não conseguiu distinguir seus olhos pela distância, mas ele parecia muito sério.

Mas Sakura ouviu duas vozes chamando o seu nome. Francis? Sim, ela reconheceu a voz rouca e grossa gritando, soando pela neve como um furacão sônico. Como se viesse de dentro do peito com toda a força. A voz de Laurent também era grossa e tinha um tom grosso, parecia... Raivoso?

–-- Laurent... –murmurou Sakura levantando a cabeça e andando mais para alcançar o homem em sua frente.

Laurent fervilhava e seus olhos estavam semicerrados numa carranca que parecia ódio que Sakura ainda não tinha visto. O homem tinha o rosto frio e categórico e estava assustando Sakura, um pouco.

Sakura não sabia, mas Laurent tinha pensado muito na sua ida até a loja de Lavanda para visitar seu amigo. Ele tinha pensado no porque de Francis evitá-lo. Laurent tinha procurado até em sua memória mais retrógrada da infância. Ele era um homem muito fincado. Sempre queria saber direito das coisas. Não suportava saber de meias histórias. Mas então de repente ele encontrou uma resposta própria desagradável para o sumiço de Francis. Lembrou, numa das memórias, do dia em que Francis tinha dito falado sobre a testa de sua noiva. Uma estranha corrente de energia passeou pelo seu corpo, fazendo-o sentir um arrepio naquele momento em que tivera o pensamento. Era como um pequeno fio de raiva transtornando o seu sistema.

Francis era um homem desejado pelas mulheres que andavam com ele. Algumas mulheres muito ricas, finas, empresárias, modelos famosas, sempre ficavam importunando Laurent para saber o nome, telefone endereço de Francis. Elas achavam o jeito rústico dele atraente e o achavam engraçado. Impressionava Laurent aquelas mulheres ricas e bonitas caírem de quatro pelo seu amigo bobalhão e por isso as vezes quando queria algo, ele usava o jeito de Francis para conseguir das mulheres. Como fizera naquele dia com Sakura.

Ele nunca vira Francis se interessar em nenhuma mulher das que saiam com eles. Aubrey o criara de uma forma singela e simples e sempre espelhava a ele uma mulher ideal. Francis o contava sempre que sua mãe certa vez o dissera que ele arranjasse uma mulher como ela. E aquilo ficava ressonando na cabeça de Francis. Mas Laurent teve um acesso de riso nervoso quando pensou em como Sakura e Aubrey eram parecidas. As duas eram geniosas. Ele já havia presenciado a rebeldia de Sakura quando o conheceu. As duas eram lindas. As duas tinham olhos grandes e redondos levemente puxados como olhos de gata esperta. Tinham uma testa grandinha e feminina. Cabelos bonitos e vistosos. Trejeitos rápidos e leves alternados. Fala rápida e leve alternadas. Mexiam no cabelo quando estavam nervosas ou tímidas. Tinham um sorriso muito parecido.

Então Laurent ficou furioso enquanto andava para o restaurante. Ele pensou que Francis era uma ameaça aos seus planos de reerguer sua família. E de repente sentia uma coceira só de imaginar chegar perto dele e de ele desejar Sakura. Foi ai que Laurent percebeu a si mesmo. Ele tinha ciúmes de Francis. Não era de Sakura, mas sim de Francis. Sakura era dele, e ponto final.

Depois de muito pensar, ele ficara apenas cauteloso. Não ia dizer nada sobre suas conclusões, mas ficou tão enfurecido com a conclusão que não conseguiu mais fingir. Sua máscara caiu e queimou-se completamente até deixar apenas cinzas.

Andando freneticamente na direção de Sakura, sua cabeça doeu ao ver o amigo Francis atrás dela, e quando ele chamou seu nome, ao mesmo tempo que ele.

Então ele de repente soltou sua fúria como uma descarga daquela dor de cabeça gelada.

–-- Por onde andou? Você não tinha que estar ocupada com o casamento? –indagou Laurent furando Sakura com o olhar.

–-- E-eu... –murmurou ela, o estomago queimando em ácido e os pelos dos braços arrepiando mesmo com o casaco pesado, sentindo o frio da voz dele enregelar suas veias e ossos.

Sakura não entendeu absolutamente nada. Ela não entendia Laurent e naquele momento ficou mais difícil.

–-- Porque está falando assim? –indagou ela, com os olhos de gata ferozes.

Sakura não estava agredindo-o, ele viu nos seus olhos. Sakura jamais faria isso. Ela estava totalmente dobrada. Mas ela se sentia no direito de saber. E dentro dela, mesmo que Laurent não percebesse, ainda vivia uma alma que, apesar de atormentada, era feroz e não suportava injustiça.

–-- Por nada. Estou fazendo uma pergunta direta e acho que seria mais fácil respondê-la do que fazer outra pergunta, Sakura. –disse ele, ainda frio.

Laurent, em momento algum considerou os pensamentos dela. Ele estava cego demais pensando no que o amigo poderia ter feito para pensar nisso.

–-- Porque está sendo tão rude? Você sabe que não gosto... –ela soltou um grito de dentro do peito e seu coração bateu sufocado, como se uma mão de ferro estivesse o apertando novamente.

Sakura quis chorar. Não porque ela estivesse triste por Laurent tê-la tratado daquela forma, mas porque ela começara novamente a sentia a perturbação da qual tinha se livrado.

Francis não entendia, mas seu coração mandou-o ir lá. Ele andou na neve pisando forte, como se sentisse por dentro alguma coisa incomodá-lo e descontasse no atrito com o chão.

–-- Ei, olá, Laurent. –disse ele ao ver o amigo.

Francis estava cansado. Não queria estragar as coisas e ele sabia que tinha o poder todo para fazer isso. Francis sabia que Laurent não era burro e o conhecia demais. E quando chegou perto, pode ver que Sakura estava com os olhos tensos.

Ele tratou de passar com um trator por cima de si mesmo. Estava fadado a fazer isso toda vez, sacrificar-se toda vez por ela.

–-- Hey, Laurent, o que tá fazendo aqui, cara? Está tarde... –disse ele, com um sorriso simplório.

Por dentro ele estava a mil. Francis tinha medo de fingir. Ele não sabia como fazer aquilo. Mas sabia que podia fazer aquilo ao menos uma vez, por Sakura.

Laurent tinha o olhar bruto e cruel e fitou Francis com ele.

–-- Vim atrás de você. Não tinha te visto mais. Andou fugindo de mim? –um sorriso furioso se formou no rosto dele.

Francis fez uma careta. Franziu as sobrancelhas e seu “sorriso” desfez-se. Mas então ele suspirou e pôs a mão atrás da cabeça.

–-- Estava cansado. O trabalho no restaurante me mata e vou dormir logo que chego em casa, sabe como é. –disse o amigo, já querendo ir embora.

A presença de Laurent estava como naqueles dias. Nos dias em que ele se metia em brigas por causa do temperamento do amigo. Estava insuportável ficar na presença dele.

Sakura pôs a mão no peito e apertou-a em punho. Francis percebeu o gesto, mas não quis olhar. Laurent perceberia na hora.

–-- Vou indo, mais tarde nos veremos, Laurent, no seu casamento. –disse Francis.

Ele estava conformado. Nada do que ele dissesse para si mesmo sobre impedir que os dois se casassem, faria sentido. Porque Sakura amava o seu amigo. Porque seu amigo queria casar-se com ela. Então não fazia sentido não desistir dela. Ele só ia perder a cabeça, ficar louco. Resignou-se na solidão e decidiu ir para casa. Ele já pensava num modo de não vê-la mais...

Ocorreu-lhe então uma ideia. Apenas para fechar um cadeado no baú em que trancaria o seu coração. Apenas para que todos ficassem satisfeitos com a sua desculpa. Francis não queria mais lutar.

–-- Vou levar uma amiga, Laurent. Você lembra dela, não é? –indagou Francis, sorrindo ao lembrar de Cécile.

Era uma garota amável. E Laurent insistia desde que eram crianças, que a menina era totalmente obcecada por ele. Talvez aquilo acalmasse o amigo. Ele esperava que sim.

–-- Cécile? –indagou Laurent, circunspecto.

–-- Sim. Vou levá-la. –disse Francis, dando um aceno de mão e se despedindo rapidamente de Laurent e de Sakura, que ficaram lá, calados fitando-se.

–-- É impressão minha, ou Francis correu? –indagou Sakura, já mais aliviada pela discussão não ter durado.

Francis era como um anjo, pensou por um segundo. Ele fazia a tensão dela ir embora. Mesmo que sem querer, como naquela hora. Ela achava que fora sem querer...

Laurent suspirou e voltou a si um pouco. Mas ainda estava quente só de ter ouvido que Sakura agora falava como se conhecesse Francis.

–-- Ele é assim mesmo. –disse, procurando conter-se. –Vamos para casa, temos um casamento a poucas horas. –Laurent bufou, de repente agarrando a mão de Sakura pelo pulso e puxando-a.

Ela engoliu em seco e continuou andando, sentindo a neve cair em sua cabeça como pequenos raios, que sacudiam seu cérebro e a deixavam tonta. Odiou o jeito como Laurent a puxava, como se fosse o seu dono, mas seu coração estava apertado, ela não queria brigar com ele, dizia para si mesma, ela o amava.

Então piscou os olhos várias vezes e olhou para o chão nevoento. Pensou em Francis, de repente, naturalmente, como se ele estivesse natural em sua mente. Ele tinha ido tão rápido e ela vira em seus olhos azuis qualquer coisa parecida com melancolia.

~

Francis andou devagar até o restaurante, fazendo um silêncio moribundo até mesmo em sua mente. Disse para Andrew que ia embora, que ele cuidasse do lugar até a noite e o fechasse. Precisava se preparar para ir ao seu funeral.


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Notas finais do capítulo

Cécile é a Hinata pessoas. Não queria pô-la nessa história, mas uma mudança de planos a fez necessária. kkkk E esse "Andrew" eu considero como o Kiba. (: Kisses.



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