Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 6
Aquele doce coração


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas! Aqui vai o sexto capítulo dessa fic *-* Obrigada aos que comentam, me incentivam muito! Espero que gostem e comentem sobre os personagens.
Apresento o maravilhoso Jiraiya que foi um grande mestre e amigo para o Naruto.



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Laurent Blanc andou até Sakura calmamente, pisando nas pequenas poças de água da rua de Paris com suas botas de couro puro, negras, duras. Seu olhar era de ferro, mas ele procurou buscar dentro de si o “Francis” escondido.

Sim, Laurent sabia que o tom simplório e engraçado com que o amigo dissera aquelas palavras sobre ter vontade de beijar Sakura, seriam uma ótima tática. Não que Laurent fosse um aproveitador, mas ele queria saber o que a encantava. Ele estava fazendo apenas um teste e não roubando nada de ninguém, pensou.

Sakura estava parada com Nicole na frente dos dois rapazes. Ela colocara as mãos nos bolsos do casaco vermelho, escondendo-as do frio. Piscava olhando atenta para os dois rapazes, procurando entender porque Laurent de repente deixara o amigo para trás tão depressa e fora ao encontro dela.

Mas Laurent não deu nenhuma pista. Os olhos atentos de gata de Sakura o olhavam, perspicazes e ele ficou um pouco trêmulo pela dissecação que eles faziam. Porém resolveu dizer a frase sem mais demoras.

Nicole estava ao lado de Sakura, olhando para os dois. Laurent tocou o rosto de Sakura.

–-- Sabe Sakura, eu não tinha reparado na sua testa. –disse Laurent, sério.

Nicole riu bobamente. Mas Laurent não se importou. Sakura estava envergonhada e olhava para o homem, apenas sem entender. Os olhos de gata redondos e um pouco puxados o encarando avidamente, duas pérolas verdes afogueadas no meio na escuridão da noite.

–-- Ela é grande e bonita. Dá-me vontade de beijá-la. –completou ele.

Nicole não aguentou e saiu de perto para poder gargalhar, indo na direção de Francis. Mas Sakura continuou de pé, com um sorriso bobo no rosto. As maças do rosto doíam, pois ela fazia um esforço para segurar o riso. Mas era um riso feliz, e uma vontade de beijar o homem se seguia.

Aquela era a coisa mais boba e bonita que alguém tinha dito a ela.

Laurent riu-se e olhou para o lado. Parece que Sakura não tinha gostado, pensou ele. Estava anotado. Ela não gostava de garotos do tipo de Francis. Ufa, pensou ele. Não teria que ser um bobalhão.

–-- Isso é algo que o meu amigo Francis diria. –gargalhou sutilmente Laurent. –Eu sou um pouco mais concreto. Digo... –murmurou ele, corrigindo o termo. –Menos poético...

Sakura o olhou confusamente. O que ele queria dizer? Que o amigo Francis é que tinha achado a testa dela bonita? Ou que ele é quem diria algo assim? Bem, não importava, pensou ela. O elogio era mesmo bobo.

Ela sorriu e tomou o braço de Laurent que a olhava também com um rosto engraçado. Ambos andaram na frente de Nicole e Francis que estavam atrás, conversando.

Nicole falava muito e Francis estava pouco atento. Ele estava com o olhar fixo em Sakura. Ele procurou tirar de sua cabeça o quanto os olhos dela eram bonitos, o quanto ela tinha uma voz doce e engraçada que mudava de tom quando falava com Laurent e quando falava com ele e com sua amiga. O quanto o casaco vermelho com plumas rosa queimado nos ombros caía bem no corpo pequeno e delineado dela. O quanto os cabelos lisos, sedosos e rosados caíam bem no rosto novo que ele acabara de conhecer, mas não conseguia tirar uma perfeita imagem dele da cabeça. Ele estava embasbacado pela beleza dela. Mas o coração de Francis apertou e apertou até ficar como se fosse numa gaiola de passarinho. Ele não podia pensar naquilo. Laurent estava sério sobre ela, não estava? Pensou o homem. Ele então tirou o olhar do casal caminhando em sua frente e olhou para Paris, um pouco angustiado.

~

Francis Morel era um rapaz simples. O que ele mais gostava no mundo estava em apenas um lugar e era muito fácil de achar. Quando chegou a casa naquela noite depois de sair com os ricos Laurent Blanc, Sakura Petit e Nicole Lancaster, as duas últimas novas conhecidas, ele foi logo falar com os seus pais. Porém deparou-se com a cozinha da casa vazia. Sua mãe não estava fazendo o jantar, e seu pai não estava lendo o “Jornal do Campo”... Aquilo era o contrário do que ele mais gostava.

Francis amava muito os pais e não havia nada que o deixasse triste que não pudesse ser curado pelo amor deles. Francis sequer podia imaginar como seria perdê-los. Porém ele via os pais pouco demais. Estavam sempre ocupados com os negócios, ainda que pequenos, da família. E aquele fim de dia era mais um que o pai e a mãe estavam pelos campos fazendo vistoria ou fechando negócios.

O caso era que seus pais e seu tio haviam comprado pequenos campos de lavanda na França do amigo falecido de seu tio, Thomas Blanc, a muito tempo, antes de ele nascer. Desde então, o tio ficara mais e mais velho e acabara deixando que o irmão mais novo, pai de Francis, Darden Morel, cuidasse dos negócios. Francis particularmente achava muito estranho que alguém com tanta vitalidade como o tio se recusasse a cuidar das plantações e dos negócios, deixando as tarefas todas para os pais dele, assim os ocupando muito. Ele sempre indagava o porque daquilo. O tio, como sempre, sorria com aquelas rugas charmosas nos olhos de homem experiente e suspirava falando com sua voz arrastada. “Porque as lavandas cheiram bem demais. Tão bem que eu não suporto”. Eram as únicas palavras dele.

Francis era um homem bobo, brincalhão, alegre, sempre estava distraído em seu mundo pacato. Mas ele conseguia sentir a tristeza nas palavras do tio, apesar de não entender. E ficava irritado por não poder ajudar. Se tinha uma coisa que o sobrinho de Bernard Morel não suportava era ser impotente diante de alguém que sofria. Francis tinha empatia profunda pelas pessoas. E isso o tornava alguém especial. Alguém cuja luz deixava as pessoas atraídas.

Bernard Morel trabalhava desde sempre nos campos de lavanda. Que pertenciam à Thomas Blanc, dono de uma empresa de vinhos e desses campos de lavanda. Ele juntara dinheiro desde o primeiro dia de trabalho, juntamente com o irmão pequeno, que mesmo muito novo, ajudava-o de bom grado no campo. Depois que a mãe de ambos morrera, os dois tornaram-se muito próximos e Bernard cuidava de Darden (pai de Francis) como se fosse um filho naquela época. Tinha muita responsabilidade. Pelo laço que os dois irmãos possuíam, conseguiram juntar o dinheiro e comprar terras ao longo dos anos, terras essas que eram do amigo de Bernard, Thomas, mas que ele vendia ao amigo de bom grado. Por isso a família estava no mesmo local, onde tinha-se os campos pertencentes a família Blanc e à família Morel. Claro que os Blanc ainda possuíam a maioria dos campos, esmagadora, herdada de Thomas, quando morreu. Então o laço entre Laurent Blanc e Francis Morel, que nasceram na mesma época e brincavam em suas infâncias naqueles campos, era um laço que parecia com o de Thomas e Bernard. Um laço que fazia Bernard ter uma terrível apunhalada no coração quando os via juntos.

Francis foi procurar o tio Bernard. Ele sabia que podia encontrá-lo na cabana à alguns metros da casa em que ele vivia com os pais. Mas precisava adentrar uma pequena plantação da família e atrás dela é que se encontrava isolada a cabana, escondida pelos diversos tipos de árvores ali plantadas.

O tio era como um eremita. Sempre isolado, sempre viajando pelos países afora. Mas quando voltava, costumava passar temporadas na propriedade e Francis tinha ao menos ele da família para conversar. Foi um alívio que sentiu naquela noite em que chegou em casa doido para esquecer que esteve com aquelas pessoas. Francis queria um modo de esquecer-se de Sakura. Não podia se enganar. Mas podia ao menos evitá-la em sua mente. Ele era o único dono, pensou. E iria esquecer aquela boba dúvida que pulsava em seu coração.

Entrou na cabana de madeira larga e bem feita. Devagar, sem querer incomodar o tio ou fazer barulho com suas pisadas no assoalho de madeira.

–-- Olá. –disse ele com voz branda. –Tio?

Francis sentou-se na poltrona sofá da sala e ficou em frente à lareira, aquecendo-se.

–-- Francis! –disse o tio, com uma risada calorosa.

O tio havia chegado fazia uma semana e Francis não tinha ido ainda na cabana visitá-lo. Ele levantou para abraçar o tio, feliz.

–-- Faz um tempão, tio Bernard. –disse Francis com os olhos brilhantes a dissecar o tio.

–-- Sim, Francis... –murmurou o tio, fazendo aquela cara saudosista.

–-- Por onde andou dessa vez? –indagou o sobrinho.

Bernard sentou-se no sofá ao lado do sobrinho e suspirou.

–-- Estava na China. Lá é um lugar que me faz ficar bem calmo, sabe. Além de que a meditação é ótima. –disse.

–-- Ah... Aqui no campo também é ótima. –disse o jovem, queixoso. –Você deveria ficar mais por aqui. Dois anos na China, tio... É até estranho sabe... Pensei que você não ia mais voltar. -disse, tentando atingir o tio, que suspirou para explicar as coisas ao sobrinho.

–-- Ora... –bufou o tio. –Você sempre falando demais einh Francis... –disse ele, sorrindo. –Na verdade, parece que passaram uns quatro anos einh? –disse ele, fitando o sobrinho dos pés a cabeça.

–-- Ahn? –indagou obtuso Francis.

–-- É que você está tão alto e forte... –disse o tio. –Será que Aubrey colocou você para trabalhar na plantação de tomates do nosso imenso quintal? –riu Bernard.

–-- Hahaha, muito engraçado, tio. –bufou Francis. –Isso é resultado de ajudá-los mesmo, com a Lavanda. E agora ainda sou um garçom... –murmurou, incomodado. –Eles disseram que não querem que eu fique pegando pesado com as coisas agora que os negócios voam. Contrataram mais pessoas para a plantação e abriram um restaurante depois que eu reclamei que não aguentava ficar parado como um trombadinha... –murmurou Francis, tendo lembranças do restaurante.

Ele lembrou-se da vez em que Sakura e Nicole tinham ido lá. Ele lembrava muito bem do rosto distraído da mulher quando entrara lá. Mas ela parecia não lembrar dele, durante o encontro... Fez uma cara emburrada, sem perceber.

–-- O que foi? Você não quer trabalhar no restaurante? –indagou o tio, confuso.

–-- Ah... Ah, não. Não é isso, quero dizer... É... -balbuciou o rapaz, sem saber como explicar, gesticulando sem parar e pondo a mão atrás da cabeça.

Aquilo era o que fazia quando estava nervoso.

O tio gargalhou.

–-- Nossa mas você não mudou nesse quesito, Francis. –o tio estava contente. –Ainda não passo dois minutos sem rir ao te encontrar.

–-- Bem, algumas coisas nunca mudam, não é? –sorriu Francis.

–-- Mas me responda. Não está fugindo de mim, está?

–-- Não, estou fugindo de outra pessoa... –cochichou para si mesmo o jovem.

–-- O que?

–-- Nada, tio. O que eu estava dizendo é que no começo eu não gostei muito porque sabe... Eu gosto de ficar mastigando o meu capim e tocando violão no meio de um milharal. Sem blusa, sentindo a brisa de outono no meu rosto um pouco ardido. E depois entrar em casa e tomar leite fresco... –Francis riu para si mesmo, encabulado. –Bem brega não é? Aquele monte de pessoas entrando e saindo do restaurante me deixa um pouco perturbado.

Bernard arregalou os olhos e então sorriu fazendo uma constatação em pensamento.

–-- Não, Francis. Você se parece comigo mesmo, garoto. O que você gosta, não é exatamente do campo, mas das coisas simples. Dos perfumes, dos sorrisos. É disso que você gosta meu caro. E da paz. –terminou o sábio tio.

O tio sorriu e depois pegou a mangueira do seu narguilé, já pronto perto do sofá, para fumar. Começou a fumar, relaxadamente. Bernard perdeu-se em lembranças tristes, com o cheiro de maçã verde puro do tabaco aromatizado.

–-- Mas não se esqueça de uma coisa, Francis. Não confunda paz com comodismo. A paz te ajuda a manter a cabeça erguida. O comodismo te mata. Corra atrás do que te apaixona, filho. O seu tio deixou morrer... –disse ele, ficando calado e pensativo de repente.

Francis não entendia quando o tio semicerrava o olhar negro e começava a falar coisas estranhas. Mas acreditava mais que qualquer coisa na sabedoria do tio.

–-- Ah... –murmurou o rapaz de voz rouca. –Não sei se estou pronto para acabar com a minha paz. –soltou de repente.

Francis não queria dizer aquilo, mas pensava. E sua boca como sempre, fazendo um serviço que ele não queria.

–-- O que houve? –indagou o tio, ainda fumando e olhando o teto ao em vez de fitar o sobrinho.

–-- Nada... Ainda estava me referindo o restaurante. –disse, remendando.

Francis não queria admitir que estava completamente apaixonado por Sakura. Ele nem sequer queria levar isso à frente. Principalmente porque ele vira no olhar da moça a devoção por Laurent. Então ele só queria ficar ali no seu campo, olhando para a plantação, conversando com o tio, como sempre. Ele ia esquecer aquilo logo logo, pensava, tentando confortar-se.

~

Naquele dia Sakura acordara sentindo cheiro de rosas. Ela sentira a brisa gelada soprando na janela e os seus lençóis de seda roçando em sua pele eram como um sonho... Um sonho... Sakura sentia aquele cheiro de rosas porque ela via seu casamento com Laurent e sentia o cheiro de um milhão de rosas que eram despejadas naquele lugar arejado onde acontecia o casamento. Ela sentou-se na cama, sentindo-se boba. Pegou o lençol de seda e roçou no seu rosto, sorrindo com seus dentes perfeitos naquela manhã gélida. Era inverno. Ela sentiu um arrepio. Seu corpo quase nu eriçou-se. O vento gélido entrava pela janela aberta, deixando-a com frio.

Mas ela estava muito feliz. Havia esquecido o seu vazio em algum lugar. Estava caída. Sakura levantou-se e olhou-se no espelho. Ela olhou o seu corpo. Achava-se magra. Achava que agora precisava engordar mais, criar mais corpo. Que Laurent não gostaria de ter uma noiva magricela. Olhou novamente para as suas mãos com o anel de diamantes em seu dedo anelar da mão direita. Laurent e ela estavam noivos fazia apenas seis meses, mas ele dissera a ela que queria casar-se o mais depressa possível. Sakura não fizera nenhuma objeção. Ela também queria casar-se o mais rápido possível...

Então ela olhou para o seu rosto novamente no espelho. Viu seus olhos verdes bonitos. Pensou que eles eram sensuais. Então olhou para a sua testa. Hm... Ela não era nada charmosa, pensou. Ela tinha uma insegurança com aquela parte de seu rosto... Mas Laurent a tinha dito que a testa dela era linda e que dava vontade de beijá-la... Bem, Sakura de repente lembrou que Laurent havia retirado o elogio. Que apenas alguém bobo como o amigo dele diria algo assim. Foi o que Laurent disse...

Mas Sakura preferia ficar com aquela lembrança. Era doce aquela colocação. E talvez Laurent houvesse ficado apenas com vergonha de dizer que fora ele o autor da frase. O que importava era que Sakura se sentia docemente embalada por aquelas palavras. Então estava tudo bem em enganar-se. Quem quer que tivesse dito aquilo, certamente era um doce coração.


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Notas finais do capítulo

E ai? Naruto (Francis) vai correr atrás do seu amor? Sakura irá casar-se com o Sasuke (Laurent) antes disso? Confiram. :D



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