Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 4
Sorrateiro


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! :3 Mais um capítulo dessa fanfic maravilhosa! Irei falar um pouco do misterioso Laurent Blanc.
Não tem muito Naruto, mas peço paciência, eu estou tentando morrer de escrever pra ele aparecer logo, mas tudo a seu tempo einh? Sem inspiração fica feia, mal escrita. E eu adoro escrever bem escrito!

Ah! Quero comentários einh? O que acharam, se acharam chato, legal, etc. O que acham as ações dos personagens, etc! Isso estimula! (: Bjos, boa leitura.



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Sakura havia tido uma ideia, com o devaneio inquietante pelo qual passavam sua cabeça e seu coração naquela sóbria tarde.

Sob a luz daquele dia, ainda, quando Blanc deixou sua casa, ela colocou todo o seu material de pintura esparramado, mas ao mesmo tempo arrumado no ateliê esparso. Logo depois, trouxe em sua caixa enorme todas as ferramentas de escultura para o ateliê, que estava tão grande e vazio desde algum tempo, quando Sakura havia ficado parada, sem vontade de produzir.

Os raios de sol entravam pela janela vidrada e Sakura os encarou, procurando ficar aquecida com a brisa de um pré-inverno. Os olhos verdes absorveram a luz do sol, fechando-se logo em seguida, quando se irritaram com aquela invasão. Mas mesmo assim Sakura deu um sorriso. Estava incrivelmente inspirada.

O tempo passou como um vento que se esvai com o fim de tarde. Enquanto pintava, as pequenas mechas cabelos rosa caíam sobre a testa que já suava um pouco, balançando enquanto Sakura destrinchava o quadro.

Na pintura, um fundo vazio que continha a cor mogno em degradê ilustrava uma penteadeira com um espelho enorme. A peça tinha curvas acentuadas nas laterais e o enorme espelho, em vez de ficar no meio como nas penteadeiras comuns, se projetava largamente de lado, abaixo contendo gavetas. Do outro lado da larga, incomum e curvilínea penteadeira, Sakura trabalhava cautelosamente na pintura de um desenho de uma cerejeira grande e frondosa entrelaçando pelo pescoço, corpo e cauda, um dragão branco de olhos negros.

~

Annelise havia chegado a casa cansada. Havia ido conversar com os contabilistas da empresa sobre os lucros. Sempre fazia isso uma vez no mês. E naquele mês, Sakura estava muito confusa e abalada, o que prejudicava a empresa pois as ideias mais inovadoras e criativas vinham de sua filha.

Arthur esperava a esposa na varanda da casa, fumando um charuto, usando seu blazer simples. Era um homem moderno e despojado. Estava tentando relaxar da manhã tensa com Sakura, quando viu a mulher se aproximar dele, rapidamente.

Annelise correu com pulinhos até o jardim da casa, segurando sua pasta, depois de ter colocado seu adorado porsche na garagem.

–-- Mon amour, chegou cedo. –disse, soltando uma baforada. –E ai, o que houve?

Annelise suspirou e colocou uma mão atrás da cabeça, enquanto a outra segurava a pasta de documentos.

–-- Cher, você sabe. Sakura, ma Petit está infinitamente desfocada. Ela havia criado móveis lindos para nós no mês passado. Com uma espécie de requinte euro-japonês... E... Ah... –murmurou.

–-- Pode me dar um pouco? –indagou ela, pedindo pelo charuto do marido.

–-- Sim, cher. Mas você sabe, não pode fumar muito. –disse ele, preocupado.

Os dois haviam se conhecido em Paris. Desde a infância, os pais se conheciam e se apaixonaram. Viviam um casamento feliz e amavam muito Sakura. Tudo porque eram feitos um para o outro. Naquela época, Annelise fumava e bebia enquanto ficava de papo com os rapazes nos cafés. Arthur era um filho de um famoso pintor que frequentava a mesma escola de arte que a mãe de Annelise, avó de Sakura. Ele, como o pai, vivia uma vida livre e artística. E Annelise gostava da liberdade que ele a dava. Os dois birgavam as vezes por Arthur ser um homem engraçado e espalhafatoso, e ela ser mandona e altiva. Mas acabavam se reconciliando, rindo bêbados nas noites de adolescência.

As vezes, quando Annelise lembrava de sua paixão por Arthur e de como eram desajeitados de seus modos, mas mesmo assim ajustados e felizes, sentia pena da mãe. Annelise não sabia de nada, mas desconfiava que tinha sido omissa quando via a mãe chorar em seu quarto por horas, alguns anos antes de morrer. Nada tirava de sua cabeça que a mãe não era feliz com o pai...

Por outro lado pensava que não tinha culpa. Era apenas uma criança entrando na adolescência quando a avó de Sakura morreu. Tinha passado realmente pouco tempo com a mãe, que a tinha tido muito jovem.

–-- Eu sei, cher, eu sei. –murmurou Annelise, entregando o charuto para o marido.

Ela tentou deixar que a fumaça levasse as lembranças da mãe.

–-- O que você disse para a Sakura, ma cher? –indagou de repente o marido, soltando as baforadas do charuto na manhã que se encaminhava rapidamente enquanto conversavam para uma gélida tarde de fim de outono.

Annelise se tornou rígida. Ela e o marido só discutiam sobre a filha.

–-- Porque, Arthur? –indagou, agressivamente.

Ele suspirou. Annelise sabia que era um mal sinal. Era um homem irascível, apesar de bem humorado.

–-- Porque não vou permitir que a obrigue a nada, está me entendendo? –indagou ele, soltando uma baforada novamente.

Aquilo era uma advertência.

–-- Ora, isso é o que vamos ver, Arthur, querido. –respondeu ela, nervosa.

Quando estava irritada, Annelise não usava a carinhosa palavra francesa com o marido, mas sim um seco, inóspito e irônico “querido”.

–-- Hm. Mon amour, não me faça rir! –gargalhou ele –Sakura é uma garota grande. Sabe o que quer.

Ele, por outro lado, usava o francês num tom de deboche que a deixava louca, furiosa. Ela rangeu os dentes. Mas sabia como acabar com a brincadeira dele, e irritá-lo. Fez sua melhor cara de paisagem e respondeu em seu tom apático de quem não está mais jogando e apresenta uma bandeira branca. Arthur odiava quando ela parava de jogar.

–-- Querido, vamos falar sério. A empresa pode falir. É isso que você quer? Sakura está muito distraída. Ela precisa se casar e parar com essa sua incessante busca por um sentido da vida... –disse ela, fitando o marido seriamente.

Ele tossiu de mentira.

–-- Francamente, mon amour. –disse, firme. –Não sei a quem está tentando enganar, mas a mim não é. Você acha que é só isso mesmo com a Sakura? Eu acho que você tem algo que não quer me falar. –bufou ele.

–-- Um dia, Annelise, um dia, você terá que se abrir sobre o seu passado. Um dia, você terá que cortar as cordas em que seu coração está amarrado. –jogou ele.

Annelise arregalou os olhos e virou o rosto.

Fazia uma bela manhã que se esvaía enquanto a tarde de brisa chegava. Alguns pássaros piavam fracamente, como se estivesse preguiçosos, mortos. O inverno se aproximava.

–-- Você esconde de mim. Nunca disse nada! Olhe só, até de mim, mon amour. –disse ele, um tanto magoado.

Ela estava verdadeiramente com medo. Annelise estava trêmula e os pássaros fracos a irritavam, amedrontavam. Como se o vento que a soprasse não fosse normal, um calafrio terrível passou por ela.

–-- Não é verdade! –puxou o ar de dentro da garganta entalada. –Não é verdade! –repetiu a si mesma. -Arthur... –desengasgou ela, virando-se para olhar fundo nos olhos azuis de Arthur. –Não há nada que eu tenha para te contar, mon amour. –disse ela, o coração pesado. –Bem que eu queria, mon amour, bem que eu queria! Oh! Como eu desejava! –exclamou a mulher.

E Arthur viu em seus olhos a verdade.

–-- A verdade, mon amour... –praguejou com voz desgostosa. –A verdade é que ninguém me contou nada sobre o meu passado. Até hoje, a filha de Marie Haruno não sabe de nada sobre a mãe.

Com aquelas palavras, Annelise Haruno Petit (sobrenome dado a ela por casamento com Arthur Petit), se despediu do marido, melancolicamente. Ela tinha razão. Nada sabia ela. Ou pelo menos sua consciência estava limpa, ela tinha certeza.

~

A mãe de Sakura bateu na porta do quarto, irritando seus ouvidos, que ouviam o som da brisa de outono, outrora fresca e naquele dia tão gélida.

–-- Sakura, ma Petit, preciso falar com você. –falou a mãe, em tom calmo.

Sakura estava como no dia do jantar com Blanc. Sentada na cadeira de cerejeira feita pela avó, olhando a janela com a frondosa árvore melancólica que crescia em frente a ela. Sakura pensava que estava no paraíso, naquele momento. Porque Blanc era um homem muito sincero, bonito e que parecia inteligente. Ele não queria mostrar para os outros rapazes que tinha aquelas polidas esmeraldas dentro de um pote, como um conquistador. Não, ele não queria isso. Nem tampouco estava perdidamente apaixonado por ela. Ela não era tola de pensar isso! Por isso, ela sentia algo diferente por ele. Era doce como um suco de pera.

Mas Blanc era um homem que não estava apaixonado por ela. Isso nunca havia acontecido. E ela estava completamente apaixonada por aquele homem. Mas não planejava nada. Apenas planejava deixar que a correnteza a levasse como uma folha de Sakura sobre o rio. Porque, apesar de se sentir totalmente tomada por ele, Sakura ainda se sentia de uma forma incompleta. E sentia isso por causa da sua avó. Ela tinha certeza.

Porque ela era tão ligada à avó? Perguntava-se a mulher. Ela se sentia triste por não conhecê-la. Tinha vontade de contar tudo a mãe. De fazê-la contar sobre Marie. Mas não queria. Ela sentia um mau pressentimento. E se uma tragédia estava por trás da avó, Sakura decidira então, naquele dia solitário, esquecer-se daquela bobagem. Sim, pois ela imaginava que seu sentimento era a única coisa que tinha. Que nem mesmo sua mãe saberia se algo ruim envolvesse a sua querida avó. Então, para que remexer uma ferida? Pensou Sakura. Logo naquele momento, em que ela estava envolvida por aquele homem que parecia tão maravilhoso... Ela acabar com tudo, com a alegria que a mãe sentiria ao aprovar o namoro bem possível, com a união que os pais teriam após esse acordo, com a indescritível sensação de animação que ela sentia quando via Blanc... De que ia adiantar ela acabar com tudo por um simples sentimento seu? Não era justo, pensava aquele cérebro tão mártir e solidário. Era mesmo um coração cravejado de pedrinhas de quartzo o de Sakura. Valioso.

–-- Entre, mãe. –respondeu então, ela.

Annelise entrou no quarto lentamente, ficando na frente da porta, fechando-a. Suspirou, cansada.

–-- Filha me desculpe... –desembuchou. –Tenho andado tão ocupada, tão desnorteada com o trabalho... Você sabe... Desculpe... Só me desculpe, por favor. –disse, terminando, enquanto via que Sakura estava em silêncio ferrenho.

Annelise teve um baque pequeno em seu coração ao ver a filha na mesma posição que aquele dia em que havia dado o jantar em sua casa. Ela viu que Sakura estava se balançando, assustadoramente naquela maldita cadeira de balanço.

–-- Sakura, eu prometo que não vou mais importuná-la. Decidi que... –parou, entalada. –Que o que tiver que ser, será. Não quero ser o monstro causador do teu sofrimento, ma Petit. Não quero ser uma mãe assim. Nem quero que você me veja assim, tão horrenda, tão triste, morta, cansada. –disse a mãe, com uma lágrima no olhar.

Sakura riu, balançando-se na cadeira. O sorriso era genuíno e feliz. Ela estava prestes a levantar-se para dizer a mãe que parasse de ser tão amável. Sakura naquele momento a amava muito.

–-- Mamãe. –disse ela, levantando-se e olhando-a. –Não se preocupe.

Annelise chorou mais, ao ver que, estranhamente, a filha tinha aquele lindo semblante meigo de volta. Ela limpou as lágrimas com as costas das mãos e sentou-se na poltrona bege do quarto da filha.

–-- Não se preocupe, sua boba. –disse Sakura, indo ajoalhar-se perante a mãe, de roupa social, sentada em sua poltrona, com olheiras nos olhos, cansada e feliz.

–-- Tudo bem. –disse ela, um pouco tensa por pensar que abrira mão de seu plano inicial que era forçar a filha a casar-se com o jovem Blanc.

Annelise tinha medo.

–-- Hoje eu vou sair com Laurent Blanc. Ele veio aqui, mamãe. E eu gostei dele. –disse Sakura, direta. –Ele é um cavalheiro. Vamos ao Jules Verne... Nunca mais fui nesse restaurante, mamãe. Lá é bem caro... Blanc é de família rica, afinal? Você nem me disse isso! Na verdade, não me disse nada sobre essa família amiga sua...

A voz de Sakura ia ficando cada vez mais inaudível aos ouvidos de Annlise, que sorria bestamente e assentia à conversa da filha, mas pensava em outra coisa.

A mãe por um instante sentiu novamente o terrível arrepio. Ela queria sorrir aliviada, tirar de suas costas o fardo Blanc. Mas Annelise não conseguia. Ela sentia um frio na barriga. Uma queimação. Porque será que a mulher sentia como se, ao em vez de ter dado a filha um presente, a tivesse dado um epitáfio? Ela mesma não sabia. Decidiu achar que fosse apenas uma sensação boba.

~

Laurent Blanc estava perto da praia, enquanto o sol se punha e sua luz pouca iluminava fracamente seu rosto. Ele tinha uma mão no bolso e jogava pedrinhas que apanhava do chão o mais longe que podia. Laurent queria que elas caíssem bem no meio do mar, queria que elas atravessassem as águas, como se as furassem, as dobrassem. Ele queria poder agitar o mar inteiro com aquela pedrinha. Não, Laurent queria abrir o mar. Estava furioso.

A sua família estava passando por uma crise econômica. O pai gastava o dinheiro em investimentos nas bolsas, pensando que iria conseguir o mesmo sucesso que tinha no passado com tais investimentos. Ele sempre acreditava, como se estivesse revivendo o tempo em que os investimentos eram bons. Mas não eram. Não mais. E a família perdia dinheiro. Mas o pai não escutava o filho, que tinha talento para economia. E também não queria saber de questionamentos.

O irmão mais velho de Blanc, Peter, morava longe e não falava mais com o pai. Exatamente porque o pai de Laurent era insuportável, irascível e irredutível. Laurent tivera raiva do irmão por um tempo. Mas depois ele entendera, quando crescera um pouco mais. O irmão estava fugindo da ruína. E tinha empresas bem sucedidas onde quer que estivesse, pois se correspondia apenas com Laurent, que prometia, a pedido do irmão, não dizer uma palavra ao pai. Mas não dizia onde morava para Laurent, por precaução.

Naquela tarde, Laurent estava extremamente irritado por mais uma tentativa de conversa com o pai ter dado errado. E ainda estava sendo obrigado a cortejar uma mulher que não conhecia. E de quem o pai nada falava. Apenas ordenava que ele casasse com ela, pois seu futuro estaria garantido.

Ele jogou outra pedra com muita força contra o mar. Rangeu os dentes. Porque ele deveria se humilhar para uma mulher rica idiota por erros de seu pai? Ele tinha orgulho de ser um Blanc. Amava sua casa. Não queria passar por aquilo. Não admitia.

Porém, por isso Laurent se sentia responsável. Ele achava que ele era responsável por restaurar o tempo e dinheiro perdidos por culpa das ideias de seu pai. Estava disposto a conquistar tudo o que sua mãe merecia de volta. Não queria mais morar naquele casarão de frente para a praia. A mãe até que gostava, mas Laurent não. Ele queria de volta a mansão deles, os carros conversíveis, os cassinos que o tio irmão de seu pai deixara que também se acabaram com a idiotice de seu pai. Estava disposto a trazer o seu irmão de volta. Fazer com que as chacotas das revistas com o pai parassem de surgir, com que as fofocas de que o irmão “abortara” a família desaparecessem... E se para isso, precisava casar com Haruno Sakura Petit, ele estava disposto.

Ele pesquisara toda a fortuna dela. Avaliara cada loja de móveis espalhada pelo mundo que pertencia à família de Sakura. Os quadros de seu pai, que eram bastante valiosos e vendidos a vários compradores conceituados, duques, duquesas, imperadores excêntricos... Além da fortuna deixada pela avó e o avô, que não era pouca. Laurent fizera uma estimativa de mais ou menos duzentos milhões de dólares.

Laurent não mediria esforços. E quando conversara com a mulher naquele mesmo dia, ele tinha decidido mais ainda continuar com o plano. Ela não parecia um estorvo de casamento. Pelo contrário. Parecia quieta, não irritante, além de, Laurent não podia negar, bonita, muito bonita. Ele odiava ter que casar-se com ela como uma forma de calçar os pés descalços do pai, por um momento enquanto ele, com suas próprias pernas, conseguiria recuperar o dinheiro. Não queria, absolutamente roubar Sakura. Laurent tinha nojo a depender de alguém. Achava patético. Ele apenas precisava do status de marido dela para poder voltar a fazer a família Blanc crescer. Tinha os investimentos nas mãos. Sabia negociar e fazer várias coisas. Tinha muitos dotes de inteligência em várias áreas. Não demoraria muito. Só precisava tirar aquela machinha, suja, oleosa e gordurenta que o pai deixara no nome puro dos Blanc.


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Notas finais do capítulo

"Cher" significa "querido, querida" em FRANCÊS.
"Ma Petit" significa "Minha pequena" e a família de Sakura usa como um trocadilho carinhoso pois o sobrenome deles é "Petit"
"Porche" é um carro. :3
E ai? O que acharam? (:



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