Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 2
Doce Paris


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, escrevi mais um capítulo dessa história que adoro! haha Planejo deixá-la cada vez mais misteriosa e vocês vão ficar se mordendo de curiosidade! kkk Se quiserem indicar pros amigos se gostarem, agradeço! Quanto mais incentivo melhor! Boa leitura! (:



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Todos dizem que a melhor época do ano em Paris é o outono. Sakura sabia disso desde criança, quando sua mãe a levava para passear no Champ De Mars.* Ela tinha tenras memórias daqueles tempos, quando tinha mais ou menos cinco anos de idade. Já lá, olhavam para os seus olhos como se fossem comê-los.

Sakura lembrava de uma vez em que uma mulher dissera que seus olhos eram um presente. Que ela era um presente à sua mãe. Pois era tão linda como um dia de outono como aquele em que passeava por ali. Ela se lembrava das palavras porque a mulher as dissera olhando bem fundo em seus olhos.

De tanto passear ali, Sakura e Paris eram como um só. Desde sua infância até a adolescência e fase adulta ela era a chamada Sakura du Paris.** Sua mãe a chamava assim quando era criança. Ela lembrava bem. Sua mãe a olhava nos olhos e dizia que não havia pessoa que pertencesse a Paris como Sakura e não havia cidade que pertencesse a Sakura senão Paris. Que era onde sua avó havia nascido e feito a sua vida. Ela rodopiava Sakura, brincando de cirandinha no Champ de Mars e Sakura caía cansada no gramado abundante olhando para o céu com seus olhos verdes amorosos. As bochechas vermelhas de uma criança muito alva que passara um tempo no sol fraco se acentuavam. E Sakura lembrava-se de tudo aquilo com o seu mais belo sorriso no rosto. A infância tinha sido a melhor fase de sua vida.

Sem saber de nada sobre a avó. Sem saber sobre o dinheiro que os cercava e do quanto ele era importante para a sua mãe, que tinha tido uma vida extremamente rica com a fortuna tanto da mãe quanto do pai e temia como o diabo perdê-la. A mãe de Sakura era como um doce de limão. Era um doce, mas tinha um gostinho azedo no final. Ela amava Sakura e ela tinha certeza, tivera a melhor mãe que uma criança poderia ter. Porém depois da infância, Annelise mostrava-se estressada demais com os negócios. Mas nada contava à filha. Apenas que ela tinha que ajudá-la com os desenhos de móveis. Sakura era como a avó, dizia a mãe. Sabia desenhar e criar móveis como ninguém. Tinha um gosto puro, refinado, diferente. E apesar de Annelise ter continuado bem o trabalho da mãe quando ela morrera, dera graças a Deus ter tido uma filha tão talentosa. Os negócios voavam com os desenhos dela...

E enquanto Sakura trabalhava para a mãe, a mãe nada dizia a ela. Mesmo que Sakura fosse mais e mais crescendo e questionando, nada era dito. Porém a filha resolveu não cobrá-la. Ela achava que o amor que recebera em sua infância era muito pagamento por não ter que perguntar nada. Sakura era uma pessoa grata e amava muito a mãe. Achava que quem amava, esperava o tempo certo e não forçava ninguém a nada.

Porém, quando adulta, Sakura se sentia triste, como se algo faltasse nela por não saber sobre a avó. Era como se ela fosse adotada. O que era impossível, vendo as fotografias da avó que a mãe permitia, pois ela era muito parecida com Marie. Principalmente os famosos olhos verdes de gata.

A tarde estava caindo enquanto Sakura estava parada no Champ de Mars, deitada, revivendo os dias de sua infância enquanto roçava na grama, como quando era criança. Mas nada estava como deveria ser. Nada parecia deixá-la mais feliz como antes. Ela abriu os bonitos olhos, irritada por não conseguir sentir mais a mesma sensação de criança. Fitou o céu, que tinha tons laranja, rosa e azul ao entardecer de outono. Aquilo a deixou um pouco aliviada, não sabia porque. Mas a mistura do laranja com o rosa no céu era diferente do céu azul límpido das manhãs de sua infância. Ali, eram manhãs de primavera, gostosas como saborear um sorvete. Mas aquele céu inspirava paixão. Que Sakura entendeu, estava faltando em sua vida.

–-- Sakura! Sakura! –gritou Nicole, tentando acordá-la do seu sonho.

Sakura, que estava num marasmo infinito, acordou de súbito como quem acorda num pesadelo na hora em que vai morrer.

–-- Ai! –exclamou ela –Que susto Nicole! –sorriu, pensando no céu e na paixão.

Ela estava apaixonada pelo filho dos Blanc? Sakura se sentia mais viva desde aquela noite. Ela sentia correr por suas veias uma excitação diferente do que tinha sentido com seus romances.

Ela fitou Nicole, sentando-se na grama, com os olhos de gata atentos e afiados olhando a amiga. A mesma ficou assustada, com seus olhos azuis fitando a amiga com ar de estranheza.

–-- O que é, Sakura Du Paris, ah? Tu está delirando novamente? –indagou a amiga, que tinha um modo diferente e divertido de falar.

Sakura a amava muito. Era alguém que a entendia e acompanhava para todos os lugares e com quem tinha vivido uma adolescência invejável.

–-- Escute, Nicole. Acho que estou apaixonada, de verdade, me sinto fisgada. –disse ela, olhando nos olhos da amiga, ainda fissurada.

Nicole riu com aquela sua risada confortável e linda. Como uma verdadeira dama parisiense que era.

–-- Está disparatando, mulher! –riu-se –Você pertence a noite! Quando tomarmos alguns goles em Montmartre!***

–-- Não, Nicole, estou falando sério. Preciso me ajeitar, sabe? Acho que já me diverti o bastante. –disse.

Nicole suspirou.

–-- Você está estranha com essa conversa, Sakura... –Nicole suspirou.

A amiga olhou Sakura penetrantemente, tentando decifrar sua intenção.

–-- Mas acredito que o seu coração possa estar certo. Chega uma hora em que nós queremos ser presas. Porque a liberdade é divina, mas é exatamente como o ar, depois que você o tem facilmente, não lembra que está respirando. –disse, respondendo à amiga.

Sakura sentou sobre os joelhos. Nicole era uma pessoa desvairada pela noite, assim como Sakura. Por isso as duas se davam tão bem. Mas era uma verdadeira poetisa de vez em quando. E a gata de olhos verdes ria-se de sua amiga divertida.

–-- Você tá brincando não é Nicole? –sorriu Sakura, genuinamente.

–-- Ah, não me venha com essa, testuda. –sorriu ela. –Você quem pediu! –riu ela.

–-- Mamãe chamou uma família amiga dela que está morando aqui em Paris agora para jantar lá em casa na semana passada, como eu te disse... E... Ela parece querer que eu case com o filho deles. Laurent Blanc. Nicole... Oh, Nicole! –sorriu –Ele é lindo! E não me parece idiota.

–-- Se é lindo, case-se! –gargalhou Nicole.

–-- Ora, sua cavalinha! –exclamou Sakura.

Chamava a amiga assim porque Nicole sempre usava rabo de cavalo.

–-- Ah, Sakura, divirta-se. Se você não gostar dele, não se case. Só isso. –sorriu. –Agora vamos fazer várias despedidas de solteiro até o dia do seu casamento, começando de hoje, no Montmartre. Porque as nossas despedidas são assim, diferentes das normais... –disse, Nicole, levantando-se, desempoando o vestido.

–-- Sim, vamos! –disse Sakura, indo com ela.

Ao chegar a Montmartre, pegando o metrô de Blanche, Sakura e Nicole andaram pela rua do Moulin Rouge como sempre faziam. Elas adoravam andar por aquela rua a noite vendo os neons e as muitas pessoas andando pelo local icônico.

–-- Ouvi dizer que tem um novo restaurante aqui que nós não visitamos ainda Sakura! É uma boa pedida para uma das suas últimas noites, não é?

–-- Ah, Nicole, sempre engraçadinha... –disse Sakura, enquanto olhava para as pessoas e as luzes, pensativa.

–-- Vamos lá? É perto daqui. Se chama Morel’s café. –disse Nicole, entusiasta.

–-- Vamos, eu quero mesmo ares diferentes. –disse Sakura.

As duas viraram a rua e andaram até o novo café. Olharam a frente do café, paradas. Era decorada em lilás com algumas lavandas enfeitando a frente. O nome "Morel's Café" ficava em letras charmosas estampado no letreiro.

Entraram pela portinha de vidro decorada e ouviram o sininho da porta abrindo. Ficaram deslumbradas.

Era simples, mas tinha cheiro de lavanda e era todo decorado com elas. Nas velas que estavam em cima das mesas, havia pequenos ramos de lavanda amarrados num barbante em redor. Havia vasos de vidro com água e ramos de lavanda que pareciam naturais por todo o restaurante. Havia cabides pretos com vasinhos onde tinham a mesma planta. E a iluminação fraca fazia o roxo das lavandas espalhadas pelo local reluzir dando um tom lilás ao salão.

–-- É pequeno, mas é incrível, Nicole! –disse Sakura, admirada.

–-- Eu adoro roxo, você sabe. –disse a amiga, logo indo sentar-se numa mesa. –E o cheiro de lavanda, hmmm! –continuou. –Mas é romântico para Montmartre, não acha? –disse Nicole.

–-- Sim, talvez seja o diferencial... –murmurou Sakura, ainda deslumbrada.

–-- Olá senhoritas. –aproximou-se um jovem de olhos azuis reluzentes e cabelos loiros bagunçados em um avental charmoso em tom marrom. –Em que posso ajudá-las?

Nicole fitou-o por um longo momento e ele ficou sem entender, apenas um pouco confuso.

–-- Ah... Nunca vi vocês por aqui... –disse ela –Morel é a família do dono? –

Nicole gostava de conhecer tudo e todos em Paris. O rapaz ficou um pouco tímido em falar com ela como se a conhecesse. Mas logo falou.

–-- Bem, sim. Eu sou filho de um dos donos. Nós somos novíssimos aqui, diria. –disse ele, levantando a mão e colocando atrás da cabeça com um sorriso singelo.

–-- Oh, parabéns então! Nunca vi um lugar tão aconchegante! Principalmente em Montmartre... –disse Nicole –Eu quero o cardápio, por favor. –completou, satisfeita. –ah, que indelicado da minha parte, amigo. Qual o seu nome?

–-- Francis Morel. –disse o rapaz. -Nós sempre quisemos fazer esse diferencial aqui em Montmartre. Agora nós conseguimos fundar finalmente o Morel's café e está fazendo sucesso, ao que parece. -disse, olhando para os lados, vendo o café cheio.

–-- Sim, de fato, Francis... -respondeu Nicole, olhando ao redor.

Nicole era ousada e entrosada. Conhecia todos e era simpática até com os mendigos. Falava com Francis como se o conhecesse a muito tempo. Assim Sakura, que era um pouco mais tímida, se dava bem com ela, fazendo amigos com aquela naturalidade de Nicole.

–-- Ah, então, Francis, dê-me o cardápio por favor. E para a minha amiga tímida aqui. -disse, olhando para Sakura.

Sakura estava ocupada olhando deslumbrada para a extensão da sala. Tinha a sensação de estar no seu céu de lavanda. Quando criança, Annelise usava em Sakura esse perfume, porque dizia que era o que sua mãe usava e que ela adorava sentir aquilo quando Marie vinha chegando à casa.

Então sentia o cheiro abismada, enquanto olhava para o salão boba, como se quisesse ficar para sempre ali.

–-- Sakura... Sakura! –Nicole a tirou do transe novamente. –Amiga, pegue o cardápio. –disse ela, olhando para Sakura falando com o canto da boca tentando fazer com que o jovem não percebesse.

Sakura olhou para o rapaz que a estendia o cardápio sorrindo. Tinha os olhos azuis leves fitando-a curiosamente.

–-- Obrigada... Ah... –disse ela, fitando ele.

Para Sakura, o rapaz parecia estranhamente familiar. Não como se ela conhecesse ele, mas como se fosse confortável estar na presença dele. Por isso não ficou envergonhada de estar distraída.

–-- Desculpe...

–-- Que nada, Sakura. –disse ele, falando a última palavra baixinho, como se tivesse estranhado pronunciar aquele nome.

–-- Pode chamá-la assim. –disse Nicole percebendo o constrangimento dele. –Ela não atende por outro nome, está dormindo acordada estes dias, Francis. –completou ela, rindo da cara da amiga.

–-- Quando escolherem, podem chamar qualquer um dos caras aqui. –disse ele, coloquial como parecia ser. Estava mais a vontade. –Até logo, senhoritas. –fez uma reverência que Nicole achou engraçada e desajeitada, e saiu.

–-- Sakura, você estava onde, garota? –indagou ela, perplexa.

–-- Desculpe, Nicole. Essas lavandas me fazem voltar à infância. Deixam-me nostálgica. –disse. –Mas nós certamente vamos viver dentro desse café, amiga. –disse Sakura, sorridente.

–-- Nossa você gostou tanto assim?

–-- Sim, adorei, Nicole! Adorei! –disse ela, feliz.

–-- Vou pedir um capuchino com chantilly e creme de cereja. E você?

–-- Quero o mesmo, você sabe. –disse Sakura, com as mãos no queixo, apoiadas no cotovelo, na mesa. -Esses capuchinos caem bem em dias felizes.

As duas pediram para outro atendente, pois o primeiro que as atendera não estava mais lá. Beberam e saíram, com a relutância de Sakura, que parecia querer ficar ali para sempre.

~

Quando Sakura chegou à casa, sua mãe lhe esperava sentada na poltrona de camurça vermelha estampada com Sakuras, sob a meia luz da extensa sala de janta.

Sakura abriu a porta para deparar-se com essa cena, que a deixou com estranheza. A mãe estava de braços cruzados e pernas cruzadas. Parecendo preocupada. Ela acendeu a luz no interruptor, iluminando medianamente a sala. Os olhos da mãe pareciam brilhar no escuro, ao olhar de Sakura e isso a deixava um pouco amedrontada.

–-- O que está fazendo, Sakura? –indagou a mãe com aquela voz carrasca que Sakura conhecia bem.

Como a mãe sempre dizia que a avó era como um doce que nunca azeda, e Sakura sabia que a mãe era como um doce de limão, ela sabia, que o gosto de limão só poderia ter sido concedido pelo avô. A mãe de Sakura tinha esse tom azedo e que quase ia para o amargo e que Sakura detestava despertar.

–-- Como assim? –indagou Sakura, irritada com o tom da mãe.

–-- Você não estava me dizendo que pretendia ter um compromisso com o filho dos Blanc? –Annelise disse, incisiva.

Sakura pensou na conversa que teve com a mãe. Sobre como ela estava disposta a tentar conhecer Blanc. Talvez tivesse sido uma má ideia. A mãe se precipitou.

–-- Mas o que isso tem a ver? –indagou Sakura, pronta para explicar.

A mãe suspirou e se aproximou.

–-- O seu tempo de diversão acaba, quando assume compromissos. E espero que você honre os seus compromissos. Caso contrário, é melhor esquecer a sua herança, ouviu? –disse a mulher, como olhos mordazes verdes escuros desaparecendo na frente de Sakura.

Com isso, Sakura ficou calada, paralisada.

Annelise disse isso e virou-se, como se dissesse com aquela frase um “boa noite” como um tapa na cara. Subiu as largas escadas vagarosamente, arrastando a camisola de seda chinesa pelos degraus, deixando uma Sakura, que estava com seu interior cheio de lembranças e bons pensamentos, cortado e picotado.


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Notas finais do capítulo

Aqui as explicações pras ocês procurarem no google pra visualizar os lugares. São lindos *-* Paris!
* Campo de Marte, um campo de gramado extenso localizado desde a Escola Militar de Paris até a Torre Eiffel.
** Sakura de Paris, Sakura pertencente a Paris.
*** Montmartre, colina boêmia famosa por conter bares, sex shops, cafés, etc.



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