Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 13
O sonho do eremita


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, novo capítulo. Bom pra quem curte JiraTsu uahauahuah
Bernard Morel tio de Naruto é Jirayia e Marie Haruno avó da Sakura é a Tsu



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Bernard Morel estava dormindo tranquilamente. Em seu “eu” subconsciente, ele podia perceber que aquela era uma noite incomum, pois ele nunca dormia tranquilamente. Pesadelos sobre um carro batendo numa arvore no alto de um precipício o assombravam em quase todas as suas noites de sono.

Quando o sonho começava, normalmente ele estava dentro do carro, mas simplesmente não conseguia tomar a direção e dirigir. Era como se ele estivesse totalmente paralisado. Angústia e temor passavam por cada veia do seu corpo durante aquele pesadelo recorrente. Ele não conseguia impedir que o carro batesse na árvore, explodindo logo após isso e queimando todo o seu corpo.

Algumas vezes ele não acordava sobressaltado na hora em que o fogo o queimava, fazendo assim, com que ele vivesse a agonia e pavor de estar queimando-se. Uma voz gritava socorro persistentemente. Mas nunca era a dele. Ele tinha certeza disso.

Naquela noite seu sono foi levemente macio. Ele, acostumado com o agouro do estranho pesadelo, começou logo a estranhar e querer se afundar naquela única boa noite de sono. Mas foi acordado por um despertador que marcava as cinco horas da manhã. Era a hora da meditação dele.

Ele não precisava de despertador, sempre acordava antes. Estava acostumado com a vida regrada de um monge. Porém, com aquele sonho macio e diferente dos sonhos dos outros dias, seu cérebro acabou se embaralhando e não acordando na hora.

Como uma espécie de eremita, Bernard sempre meditava àquela hora para depois comer sua sopa de legumes a qual ele adorava imensamente. As montanhas do Nepal eram impregnadas de uma névoa densa e de um silêncio persistente que o deixava maravilhado sempre.

No Nepal era onde o tio de Francis Morel passava a maior parte de sua vida. Sempre no templo budista que era gerido pelo seu amigo de meditação.

Quando Marie Haruno morreu, Bernard não soube mais para que caminho ir. Estava totalmente perdido sem a mulher que amava. Quase ficou louco e por isso ficava sonhando com o acidente de carro desde o dia da morte dela. Alguns dias o pesadelo não vinha, mas haviam dias em que ele era pior que antes.

Bernard chegou na eminência da loucura e andava pelas ruas de Paris, onde nascera, totalmente mal vestido e sujo, como um mendigo. Repelia as pessoas e Francis, Aubrey e Darden, sua família, ficaram muito chocados e tristes.

Até que um dia um monge que passava por Paris em missão o viu na rua. Ele o ajudou e conversou com ele sobre os seus problemas espirituais. Bernard sempre tinha sido muito religioso e já havia se encantado com o Nepal em certa viagem. O monge o convenceu a morar lá. Bernard então passou muito tempo viajando pelo mundo e aprendendo sobre as novas culturas. Ele tinha uma rotina nova, então.

Os pesadelos nunca o deixaram. Assim como Marie Haruno era viva como uma marca que fora marcada em brasa, em seu coração. Ele achava que seu espírito estava entranhado com o espírito dela. Porém não conseguia senti-la.

Algumas vezes perdidas, ele conseguia sentir o seu cheiro de lavanda pelo ar, sem ao menos qualquer coisa da planta estar presente. Bernard se sentia o homem mais sortudo da terra quando podia relembrar outra vez como foi alguém que deu a mão a sua amada e que a acolheu. E eles ficaram tão juntos que pareciam a mesma carne.

Quando Marie morreu, Bernard já tinha algum dinheiro com as plantações de lavandas. Estranhamente, Thomas Blanc, o seu amigo, deixou no seu testamento grande parte da fortuna para Bernard. Mas ele não quis o dinheiro. Era doloroso demais para ele pegar aquele dinheiro. Marie era algo que ele queria que ficasse quieto, venerado. Não queria tocar no dinheiro que era dela. E do amigo. Que se tornou inimigo de Bernard, por causa de Marie. Por isso o tio de Francis achou extremamente estranho que o amigo o tivesse deixado metade da fortuna, quando tinha uma filha, Annelise Haruno Blanc, para deixar a fortuna. A sorte da pequena Annelise era que Marie a amava como se fosse ela mesma e a deixou tudo que estava apenas em seu nome e patente, assim deixando a menina abastada, pois Marie havia sido uma ótima empreendedora.

Bernard jogou fora todo o dinheiro que lhe foi deixado, então Annelise também ficou com ele, pois era a filha legítima de Blanc.

–-- Olá Liang-sama. –cumprimentou Bernard em Nepalense depois de tomar a sua sopa, depois de ter meditado.

–-- Bom dia, amigo Bernard. –disse o monge, dando um sorriso simplório.

–-- A irmã Song disse que há uma ligação da França para você. É do seu sobrinho. –disse o monge, sentando-se em frente a grande janela do templo, juntando as mãos e fechando os olhos.

Bernard viu que o amigo ia meditar e simplesmente levantou fazendo uma reverência em silêncio, indo depois para a sala isolada onde podia atender o seu celular.

–-- Alô, Francis. –disse o tio, sorridente.

Francis Morel era o sobrinho querido de Bernard. Ele o amava muito e lembrava-o de como ele era quando mais novo. Aventureiro, campista, engraçado, e principalmente sem jeito com as mulheres. Quando ouvia a voz dele, sentia-se em paz. O sobrinho era um ótimo filho para o seu irmão e para a mulher.

–-- Oi tio Bernard! –exclamou Francis.

Fazia alguns meses que o tio tinha dado a sua passada na casa de Francis e ele se perguntava quando seria a era glacial para que o tio retornasse.

Bernard Morel tinha mais pesadelos e angústias quando voltava a Paris e por isso passava muito de seu tempo longe da família Morel. O Nepal o tinha aceitado e ajudado e ele não queria mais voltar a velha e rancorosa cidade que Paris havia se tornado para ele. O sobrinho sentia então muita falta do tio.

Além disso, o principal motivo para Francis ter ligado para o tio era obviamente Sakura. Ele notou o olhar perdido e arrasado de Sakura naquela ocasião e não suportaria vê-la ainda mais triste ao dizer que o tio não tinha nada para ela.

–-- Eu sei que nunca te pedi algo desse jeito, tio, mas preciso de você aqui. –disse Francis, aflito enquanto fitava o chão de paralelepípedos de madeira.

Bernard suspirou franzindo as sobrancelhas.

–-- Filho, já conversamos sobre isso. Seu tio não pode ir a Paris assim, do nada. Na verdade seu tio vai apenas para vê-los. Não faz muito tempo desde que nos vemos, não é mesmo?

Francis respirou fundo criando coragem.

–-- Preciso da sua ajuda, tio. De verdade.

Francis achou que o tio não iria querer ir até Paris para conversar com uma estranha sobre espíritos. Ele guardava solenemente todas as suas crenças com cadeados, principalmente para estranhos. Era algo sagrado. Então optou por fazer uma coisa a qual ele teve de reunir muita coragem para fazer. Omitir do tio a razão pela qual precisava dele.

–-- Sinto muito, Francis. Não posso ir sob hipótese alguma, Francis. –pigarreou Bernard.

Ele sabia que estava apenas fugindo de seus fantasmas. Mas ninguém além dele, Marie e (nem mesmo ele tinha certeza) Thomas Blanc sabiam que ele e Marie foram apaixonados. Então ele tinha que mentir para Francis sobre a sua angústia em sair do Nepal.

–-- Tio Bernard, eu estou falando sério. Não dá para te falar esse assunto por telefone. É realmente muito sério. Eu preciso da sua ajuda. –Francis apelou, com a voz já desanimada.

Ele queria realmente que o tio ajudasse Sakura. Porque sentia que o mesmo podia ajudá-la. E estava pensando que nada a faria mais feliz.

Bernard suspirou aflito. Ele ficou com um repentino medo de que o sobrinho necessitasse muito de sua presença. Pensou que Aubrey poderia estar doente. Ou Darden. Com o tanto que trabalhavam, era possível.

Mas mesmo que implorasse o sobrinho não queria dizer. Ele nunca tinha feito aquilo e a atitude assustou mais ainda a Bernard. Se ele não fosse, poderia perder algo importante. Achou melhor ir.

–-- Tudo bem, tudo bem, Francis. Partirei hoje mesmo. –disse Bernard. –Agora preciso desligar. Você interrompeu a minha meditação.

–-- Está bem, tio. Até mais. –Francis disse, sorrindo feliz do outro lado da linha, mas sem demonstrar a excitação para que o tio não desconfiasse.

Ele bateu o telefone contra o gancho e saiu andando feliz pelo salão de visitas do grande casarão.

Aubrey passou por ele e sorriu feliz ao ver que ele estava animado.

–-- O que houve?

–-- Tio Bernard vem em casa! –exclamou, enquanto a mãe observava suas costas.

~

Sakura acordou com os braços doloridos. Laurent não estava mais na cama. Como sempre. Tinha ido até as fábricas de vinho ou almoçar com negociantes. Voltaria tarde segundo o recado deixado no criado-mudo ao lado do guarda-roupa.

Sakura se espreguiçou e seus braços voltaram a doer. Ela olhou-se no espelho e viu que manchas roxas mais escuras tinham formado leves equimoses em seus braços. Procurou em seu guarda-roupa mais que depressa um casaco para esconder as manchas. Sua mãe poderia visitá-la. Ela tinha dessas de visitas surpresa.

O celular tocou e Sakura ficou ainda mais atrapalhada.

–-- Olá? –indagou ela.

Francis Morel deu um largo sorriso ao ouvir aquela voz docemente fina.

–-- Sakura? É o Francis. –disse ele com um sotaque francês repuxado que Sakura particularmente adorava.

Sakura arregalou os olhos e mordeu o lábio assustada de repente. Laurent tinha expressado com fúria que ela não deveria mais ir nem mesmo na casa de Francis. O que ele pensaria se soubesse que ela dera seu telefone residencial para o amigo?

–-- Ah... Francis, acho melhor você ligar apenas para o meu celular. –disse ela, agitada.

Ela poderia apagar as ligações do celular. Mas não do residencial.

Francis ficou confuso por um segundo do outro lado da linha. Porém logo depois, em sua ingenuidade, foi logo tagarelando sobre a boa notícia.

–-- Ei, ei, vamos tomar um café em qualquer lugar perto de Montemartre amanhã? Tio Bernard está vindo do Nepal. –disse ele, entusiasta.

Francis sabia que Sakura diversas reações quando estava em seu restaurante. Então quis levá-la a algum outro lugar.

–-- Francis... –murmurou Sakura, aflita. Ela levantou o braço para tocar a testa, preocupada, e então ele doeu.

Sakura gemeu de dor um pouco alto e no telefone deu para ouvir. Ela lembrou-se da noite passada e seus olhos começaram a lacrimejar.

–-- Francis eu... –murmurou, juntando os pedaços fortes de sua voz.

–-- Aconteceu alguma coisa? –indagou Francis, preocupado de repente.

–-- Nada... Ah... Tio Bernard? –indagou Sakura, tentando desviar do assunto.

–-- Sim, o meu tio, o nômade. Eu pedi que ele viesse especialmente para falar com você.

–-- O que? Você fez o que? –indagou Sakura com um largo sorriso estranho no rosto.

Por um momento ela sentiu-se envergonhada de dar aquele trabalho. Mas ficou infinitamente agradecida a Francis. Como ele poderia ser tão bom?

Então ela ficou aflita de repente pensando no que Laurent tinha dito. Mas ela não podia deixar de falar com o tio de Francis. Ele tinha grande possibilidade de saber de algo pois tinha trabalhado a vida inteira nos campos de lavanda. Se sua avó tinha ido a algum campo, este seria em Paris e a família Morel conhecia tudo. Ele a poderia dar pistas.

E ainda tinha o fato de que Francis dissera a ela que o tio tinha tido experiências parecidas com as dela.

–-- E-eu... Eu vou sim amanhã, Francis. No Les Tulipes, pode ser? –disse ela, decidida.

–-- Sim, claro! –disse ele, animado. –Ah... Sakura...

–-- Hum?

–-- Você... Não estará ocupada, estará? –indagou, de repente preocupado.

Sakura sorriu ternamente limpando as lágrimas.

–-- Não, seu bobo! Imagine se eu estarei ocupada para o grande Bernard, tio de Francis, que veio do Nepal para me ver.

–-- Então está bem... Até amanhã! –exclamou ele.

–-- Adeus Francis Morel. –sussurrou Sakura, o coração batendo acelerado.

Francis desligou e Sakura ficou sozinha consigo mesma, pensando em como não via a hora de chegar o dia de amanhã.

~

Francis tinha acordado bem naquela manhã. Ele ficara feliz porque ia encontrar o tio e porque ia encontrar Sakura. Duas pessoas de quem ele sentia falta.

Vestiu-se rapidamente depois de tomar um banho para se refrescar do calor daquele verão. Quando ia sair para buscar o tio, teve uma surpresa. Bernard já estava na soleira da porta do casarão.

–-- Tio... Bernard? –Francis arregalou os olhos, levemente assustado.

Ele ainda não tinha formulado a desculpa para o tio. Muito menos tinha se preparado psicologicamente para a inesperada chegada tão cedo da manhã.

–-- Onde está Aubrey? E Darden? O que eles tem? É sério? –indagou o homem de meia idade, formando rugas na testa.

–-- Bem... –murmurou o homem que parecia um garoto naquele momento.

Aubrey apareceu na soleira da porta do salão de visitas. Bernard suspirou aliviado ao vê-la bem.

–-- Então é Darden que está mal? –indagou Bernard com o suor escorrendo de sua testa.

–-- Do que está falando, tio Bernard? –indagou Aubrey rindo.

–-- Tio Bernard, você não entendeu nada... –riu-se Francis. –Nossa família está bem, não se preocupe. Eu te chamei aqui por outra urgência.

–-- O que? –indagou o tio com um rosto frustrado e cansado.

–-- Me desculpe tio, mesmo. Mas eu precisava falar com você.

–-- Francis, Francis... Você sempre deu trabalho... –suspirou Bernard, sentando no sofá empurrando as malas para o lado.

–-- Agora quem não entende sou eu! –exclamou a mãe de Francis, confusa. Mas seja bem-vindo tio Bernard! –gargalhou a prosaica mãe de Francis, adentrando o casarão para que tio e sobrinho pudessem se entender.

–-- Eu preciso da sua ajuda com uma mulher.

Bernard arregalou os olhos e riu. Ele gargalhou logo em seguida e simplesmente se tornou melancólico quando se lembrou de Marie. Mas não deixou que o sobirnho percebesse, logo ficando sério e atencioso.

–-- Pare com isso, tio... –murmurou Francis. –Bem, não é só do jeito que você está pensando que quero ajuda. Há uma mulher em Paris que gosta muito das nossas lavandas e ela precisa descobrir se a sua avó andou aqui. Ou se teve algo a ver com qualquer campo aqui na França. Eu sei que você conhece cada um como a palma da mão. Já trabalhou em muitos e tem amigos em todos. Ela me procurou e tristemente me contou que não sabe nada sobre o passado da avó. Por favor, você precisa me ajudar... –disse Francis, implorando.

Bernard ponderou por alguns segundos. Ele amava os campos de lavanda e era verdade que tinha muita informação sobre eles. Ajudar alguém não arrancaria um pedaço dele. Ainda que o lembrasse de Marie.

–-- As flores de Giverny estão cada vez mais lindas. Porque me forças a ir à Paris, Francis? –indagou inconformado o tio de Bernard.

Paris era sua afronta.

–-- Ela mora lá, tio. E é ocupada.

–-- Está bem. Mais tarde?

–-- Mais tarde, sim. Já combinei com ela.

–-- Tudo bem.

Tio e sobrinho trocaram abraços e conversas calorosas devido ao longo tempo sem se ver. Mas nenhuma delas, estranhamente, como se fosse obra do destino, tocou no nome de Sakura Haruno Petit, neta da amada e malfadada Marie, mulher a quem Bernard Morel amou incondicionalmente até o dia de sua precoce morte.


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