Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 12
Câncer




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Laurent Blanc andava de um lado para o outro enquanto olhava o relógio de cuco que tinha sido presente de sua sogra badalar, freneticamente. Ela pensava muito e sua cabeça estava cheia.

Laurent pensava que era bom demais para ser verdade que ele estivesse alavancando nos negócios e nada de ruim acontecesse. Seu pai, August Blanc estava com câncer. E havia descoberto naquele dia. Quando Laurent foi visitá-los, a mãe chorava, o pai estava sentado no sofá da sala e o chamou para conversar. Laurent logo e enfureceu ao ver a mãe chorar, pensando que o pai tinha gastado dinheiro com algo inútil e a tinha feito ficar nervosa.

Mas o pai conversou com ele a sós e deu a notícia. Laurent ficou chocado. Abriu a boca e simplesmente se enfureceu com o destino por lhe dar tamanho infortúnio na melhor fase da sua vida. Seu pai, embora muito displicente, era um homem calmo em situações difíceis. O que Laurent não tinha puxado dele. Mas sim o temperamento sensível da mãe. Embora Laurent fosse circunspecto, por dentro, ele era um verdadeiro vulcão de emoções violentas.

Então lá estava ele, andando de um lado para o outro com muita raiva inflamando em seu peito. Mas ele tinha mais raiva porque não era por causa de seu pai doente que ele estava mais estressado. Mas porque a sua esposa havia “desaparecido de casa” por algumas horas sem comunicá-lo e ele estava furioso com aquilo. Como ela podia fazer algo assim? Ele ficara preocupado. Sabia que não devia se preocupar tanto assim já que Sakura era uma mulher madura, mas ele achava que precisava ficar de olho nela. Achava que ela era rica demais para andar por ai perambulando e poderia ser sequestrada.

Ai a vida dele ia por água a baixo.

Além disso, Laurent sentia raiva de si mesmo por outro motivo. Cujo ele queria ignorar. Ele desconfiava de Sakura. E simplesmente não suportava a ideia de ser traído. Não tanto por gostar dela. Pois ele tinha apenas uma pequena afeição, uma espécie de gratidão indevida por ela salvá-lo do fracasso, ainda que indiretamente, enganada. Mas sim por causa de sua imagem e porque ele sentia uma espécie de posse por ela. Esse era o sentimento o qual ele mais queria ignorar.

E outro fato o incomodava, a possibilidade de que câmeras a flagrassem, afinal ela era conhecida internacionalmente. Essa possibilidade o deixava estarrecido.

–-- Sakura, onde está você, droga! –Laurent gritou irrompendo a noite com o sonoro grito e de repente chutando a mesinha no centro da sala com força.

Ele digitou novamente o número dela no celular, vendo a foto de contato e ficando mais furioso. Sakura não atendeu nenhuma das ligações que ele havia feito durante a tarde inteira.

Até que a porta abriu-se e Sakura passou por ela, direcionando seus bonitos olhos confusos para a mesa de centro da sala torta. E então depois para Laurent Blanc, devagar levantando-os, para depois perceber o rosto irado dele, na penumbra da noite.

Seus olhos se arregalaram e ela ficou mais surpresa do que pensou.

Quando foi para casa, ela foi apenas porque queria estar em casa quando o marido chegasse. Porque não queria estar por ai. E acabou não conseguindo nada sobre a avó. Frustrara-se no caminho ao perceber que se precipitou em ir embora de repente, sem ter ao menos pedido que Francis conversasse com o seu tio. E tudo isso para chegar a tempo para Laurent.

E então ela de repente ficou mais frustrada ainda, Laurent parecia extremamente bravo.

–-- Onde você estava? –as palavras clichê saíram da boca do marido de Sakura.

Ela tinha os olhos ainda um pouco confusos e depois procurou entender melhor a fúria no olhar dele. Sakura não achava que ele pudesse ficar tão furioso por conta de sua saída. Pelo que ela imaginava, Laurent não precisava saber onde ela tinha ido. Ela achava que não era importante incomodá-lo, já que ele nunca perguntava onde ela ia quando trabalhava até tarde.

–-- Laurent... Eu... –ela começou.

Mas Laurent andou até ela pesadamente e segurou seus ombros, machucando-a e puxando-a para mais perto dele.

–-- Ai! –gritou Sakura. –Me solte! –gritou novamente, agora furiosa com ele.

–-- Não vou soltar até você me dizer onde estava e o que estava fazendo, Haruno Sakura Petit! –cuspiu Laurent.

Sakura olhou bem dentro dos olhos dele e teve medo. Ela ficou chocada. Jamais, em toda a vida dela, imaginou que Laurent tivesse tanta raiva dentro de si.

–-- Laurent, eu juro... Se não me soltar...-ameaçou, já em prantos.

Laurent só ficou mais furioso. Achou uma afronta. E com o pensamento do seu pai no quarto de hospital que ele tinha, pensando num futuro, e da possível falência total do pai, atrasando ainda mais a família, ele se tornou quase um demônio, de tanta fúria.

Laurent soltou Sakura, jogando-a para um lado como se fosse lixo e a olhou de cima.

–-- Eu perguntei onde você estava. –disse ele, mais calmo um pouco, mas totalmente rancoroso.

–-- Quer saber mesmo? –indagou ela, revoltada. –Fui para um lugar onde alguém pode me escutar! Porque você só trabalha, e sempre acha que o que eu falo é irrelevante, não e Laurent Blanc? –indagou.

–-- Eu acho que você ainda não respondeu a minha pergunta, Sakura.

–-- Fui até Giverny, na casa do seu amigo, Francis. Satisfeito?

Laurent ficou extremamente furioso novamente. Ele imediatamente acho que o amigo estava tentando roubar Sakura dele. Ele aproximou-se de Sakura devagar e a olhou com rancor.

–-- Não quero que você vá lá, está me entendo? –disse ele, raivoso, mas contido. –Nunca mais, está me entendendo?! –gritou.

Sakura ficou estarrecida.

–-- Como tem coragem? –indagou ela, brava. –Eu jamais... Seu amigo jamais... Ele... Ele é seu amigo, Laurent!

–-- Eu... Não confio em ninguém. –disse, virando-se de repente.

Laurent ficou mais sombrio ao lembrar daquilo pela boca da esposa. Estava totalmente irritado porque Francis ainda o evitava, além de ele sentir ciúmes de Sakura com o amigo. Ele de repente culpou Sakura internamente por trincar a amizade dos dois.

Sakura mordeu o lábio de baixo. Fazia-o quando não sabia o que dizer. Colocou uma das mãos nos braços, que começavam a ficar levemente roxos, tamanha a força que Laurent os apertava, como se fosse estrangulá-los, como se ele tentasse dissipar a raiva naqueles braços. Ele simplesmente não conseguiu controlar-se.

Quando Laurent percebeu o que tinha feito, suspirou e ficou com raiva de si mesmo.

“Seu idiota, quer estragar ainda por cima o casamento...”, pensou.

–-- Me desculpe. –soltou ele, sufocado.

Sakura balançou a cabeça em sinal negativo. As lágrimas que caiam daqueles olhos gordos, grandes, bonitos, começaram a encharcar o seu rosto. Ela olhou para o chão e ficou perdida em pensamentos. Não queria irritá-lo, não sabia porque fazia isso. Não sabia porque Laurent era daquele jeito. E ele só piorava. Era frio. E quando ficava furioso era um pesadelo.

–-- Eu vou subir. –disse Sakura, resignada.

–-- Espere, Sakura... Eu...

Ela, que já estava quase na escada, parou e ficou em silencio esperando para ouvir o que ele tinha a dizer.

–-- Olhe só, meu pai ele...

Sakura começou a ouvir de verdade. Até ali, nada do que ele dissesse ia mudar a raiva que ela sentia dele. Mas então ele começou a dizer algo que fazia sentido para ela.

–-- Ele está com câncer. Irá ser internado amanhã, pois ele está já bem doente. Ele vinha escondendo os sintomas. Eu estou descontrolado. É verdade. –disse ele.

Laurent sabia como conseguir o que queria de Sakura. Por mais que ele falasse a verdade, não deixava de ter uma pitada de expectativas de concertar a situação em sua fala mansa.

–-- Mas peço que desconsidere isso. –disse, então sentando-se no sofá e abrindo uma das garrafas de whisky que estavam sempre cheias no cômodo ao lado.

Despejou a bebida e Sakura ouviu aquele som. Laurent tinha alguns vícios, que por mais que não fossem nocivos, ou persistentes, eram vícios, pois fazia com periodicidade. Ele bebia muito nas horas de amargura e Sakura já sabia quando ele estava extremamente desapontado com algo, só de vê-lo tomar whisky durante muitos dias.

Ela odiava aquilo. E quando o barulho aquoso alcançou seus ouvidos, ela entendeu que seu marido fizera de novo. Laurent fizera novamente o que ela mais odiava e que havia entendido, mesmo com apenas sete meses de casada, que ele fazia para se livrar.

Ele estava sendo frio. Dera a desculpa de seu pai, achara que aquilo era explicação suficiente. Então fora embebedar-se. Ele já estava casado mesmo.

Ela subiu a escada com passadas pesadas, apressadas e rígidas. Em seu quarto, ela sentou-se na cama e começou a escrever coisas desconexas em uma espécie de diário. Sakura colava asas de borboletas que ela criara quando era criança no começo do diário todo remendado, e olhara para elas sempre que abria o diário. No dia em que resolveu escrever, ela disse ao pai (pessoa da qual veio a ideia do diário) que a primeira coisa que queria colocar nele seriam as asas de sua borboleta Joana, quando ela morresse. Assim ela nunca deixaria de existir. Aquela lembrança a fez sorrir, em meio as amargas lágrimas.

Mas logo depois a dor em seu coração voltou. Infelizmente, Sakura, em vez de desligar-se do marido com a sua frieza, só conseguia gostar mais dele. Parecia que o seu coração estava preso aquele mistério que o marido exalava, e à vontade de ajudá-lo. Sakura sofria ao sentir uma sensação de impotência. E agora ela pensava em seu sogro, cujo ela tinha trocado talvez mais que três palavras. Ainda que mal o conhecesse, ela realmente sentia muito por ele. Estava triste e com medo de que o pai do marido falecesse.

Começou a esboçar dragões com rostos selvagens numa página em branco do diário. Seus rostos tinham muita angústia e ódio. Eles pareciam com fantasmas pois eram feitos em forma de espectro. No centro esboçou um dragão e pintou o rosto na cor de um pêssego rosa, com olhos ferozes, bonitos, mas assustados. Era apenas algo que a acalmava quando estava nervosa. E podia ser inspiração para os móveis.

Sakura suspirou, ela gostava mesmo de dragões. Costumava desenhá-los com muita frequência. Ela pensou que o dragão do meio a representava e em como o seu subconsciente estava assustado. No fundo, ela só conseguiu colorir tudo de um vermelho, com os dragões de cima, para um amarelo que se tornava branco, que a lembrou da luz do sol de Giverny. Enquanto pensava naquele dia bonito e no rosto de Francis, surpreendeu-se em como aquele rosto estava tão bem gravado em sua memória.

Mas quando ela tentou refletir mais, entrar dentro de si mesma, acabou deixando o diário cair e pegou no sono de repente, como se a visão que tinha daquela paisagem bonita de verão e calor confortável fosse onírica.

~

Francis havia ficado perturbado pela visita de Sakura. Mesmo cuidando dos cavalos, ele não conseguia ficar em paz. Mesmo dentro daquele lugar que era como a sua casa, seu habitat, ele não conseguia esquecer que achara o rosto dela triste.

Quando ela saiu e foi embora, naquele dia, Francis quis correr atrás dela e não deixá-la mais ir. Ele sentiu que Sakura não estava feliz, quando os olhos dela perderam o brilho de repente quando disse que tinha que voltar para casa. Então começou-se um inferno na sua cabeça.

Ele a tinha deixado ir, tinha pensado que tinha feito a coisa certa, ela amava Laurent. Seu amigo por outro lado, o dizia sempre que estava sério sobre Sakura, que a faria muito feliz, porque ele não tinha como deixar que uma pessoa tão especial quanto ela ficasse infeliz. Francis achou verídicas as palavras do amigo. Ele acho que o amigo não ficava daquele jeito nunca.

Mas Laurent escondera em seu coração outro ódio. Ele mentiu para Francis. Ele não queria que Francis estivesse metido em sua mentira, em seu plano. Não achava que o amigo merecia compartilhar daquele lapso em seu caráter, sempre orgulhoso demais para se aproveitar de algo. Queria sempre que o mérito fosse todo seu. Mas daquela vez ele tinha que admitir que a fama do pai nunca passaria e ele precisava de alguém para subir de degrau. E ele sentia ódio daquilo. Porque ele realmente só tinha um amigo e este era Francis.

E ele fingiu muito bem, levando Francis a simplesmente achar que não era bom o suficiente para Sakura.

E agora Francis se sentia um idiota por deixá-la ir. Ele sentia que Sakura era infeliz e ele tinha tanta vontade de fazê-la feliz... Ver que o que ele tinha feito a fizera infeliz o deixava muito perturbado.

Ele acariciava a cabeça de um dos cavalos quando Cécile entrou de repente no celeiro.

–-- F-francis... –murmurou ela, que estava usando apenas um avental e um vestido lilás por baixo.

Cécile ficava com muito calor no verão. Ela odiava a estação porque era tímida com o seu corpo mas tinha que vestir apenas o vestido de alça e um avental por cima para cuidar do jardim. Mas Aubrey a pedira que fosse chamar Francis, assinando a sentença de morte por desmaio da mulher.

–-- Cécile... –murmurou ele, virando-se para trás, dando um leve sorriso.

Ela ficou perplexa ao vê-lo daquele modo, no celeiro, estando tão próxima dele, quando desde sempre apenas se escondia atrás das paredes e se permitia observá-lo de longe, vendo-o relaxar. Era a primeira vez que estava tão perto dele.

Ela teve um ataque de pânico, que, surpreendentemente a fez ir para perto dele, olha-lo nos olhos, bem de perto. Um arrepio desceu até as bochechas de Cécile e ela sentiu que elas ardiam, doíam. Mas suas mãos sentiram infinita vontade de tocar o torso nu de Francis. Francis a olhou estupefato. Ele entendeu a expressão estranha no rosto da mulher. Mas nunca tinha visto aquilo e se perguntou porque ela tinha a cara tão deslumbrada.

Porque ele ficava sempre sem blusa? Pensou Cécile. Aquilo a deixava totalmente desnorteada.

Mas ao tocar no torso de Francis e aproximar sua boca da dele, Francis, assustado, segurou a mão dela que estava em seu peito, com gentileza e a afastou.

–-- Cécile... –a voz dele era grossa e sonora. –Por favor... –disse.

–-- Francis... –sussurou ela. Cécile estava totalmente envergonhada e se afastou dele, virando-se de lado, segurando a mão com a outra.

–-- Me me...

–-- Não se preocupe, Cécile. –disse Francis, olhando para o chão tristemente.

Ele ficou totalmente embaraçado por perceber que a mulher estava tentando beijá-lo. Mas não queria que ela ficasse triste, apesar de não poder deixá-la continuar.

–-- Aubrey está te chamando. –disse ela, com voz doce e circunspecta.

Cécile rapidamente saiu do celeiro com passos apressados, balançando a barra do vestido apressada.

Chegou rapidamente em sua casa que ficava dentro da propriedade e se jogou na cama, tapando o rosto com os travesseiros.

–-- Droga, como pude ser tão imprudente? –indagou a si mesma.

Cécile vinha tentando negar, esquecer, em seu subconsciente uma visão que teve no casamento de Sakura. Ela viu Francis olhar para a mulher com um olhar triste, que vagava por pensamentos que não pareciam os melhores. Depois daquilo, esquecera simplesmente a cena, pensando que Francis estava melhor, diferente. Ele estava calmo como nunca, depois do casamento, era verdade, mas parecia conformado e aquilo a deixou esquecer a visão que teve. Mas então o ato de Francis a fizera lembrar.

Ele tinha um par de olhos que não podia pertencer a ninguém naquele mundo senão àquela colecionadora de olhos, que também tinha olhos bonitos, chamativos, passionais, Haruno Sakura.


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