Sombras de Cerejeira escrita por Mrs Flynn


Capítulo 11
Chuva calorosa


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas (: Novo capítulo fresquinho, haha



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/589862/chapter/11

O verão fazia com que algumas flores no meio do caminho estivessem vivas e reluzissem à luz forte do sol do fim de tarde. Sakura sentia a brisa levemente quente de verão no rosto enquanto dirigia até Giverny. Ela sorriu de repente, como se nunca tivesse sentido aquela sensação noutra vez em sua vida. Era uma sensação de liberdade. Não aquela libertinagem. Não, Sakura sabia que essas duas palavras realmente tinham o seu conceito confundido muitas vezes. Mas liberdade era poder sentir o vento no rosto sozinho. Bastar-se a si mesmo num momento de pureza de sentimento.

Era quando o imenso vazio que acomete as pessoas era preenchido, mesmo que por um momento singular, por ela mesma. Sakura sabia que liberdade era uma coisa efêmera. Ou ao menos era o que ela sentia.

Quando sentia liberdade, sentia apenas por alguns momentos. Achava que abaixo do amor, a liberdade era o sentimento divino do qual Deus havia privado os humanos de terem em plenitude. Pois eles acabavam se corrompendo por ela.

Ela a sentira poucas vezes em sua vida. Mas quando sentia, ela não conseguia parar de sorrir. E era como ela estava viajando. Dirigia o seu carro até aquela cidadezinha pequena em busca de respostas. Talvez as respostas não a agradassem. Talvez nem mesmo obtivesse respostas. Mas ela estranhamente sorria como boba ao sentir o ventinho levemente abafado no rosto.

Então de repente, como qualquer dia cálido e bipolar do temperamental verão, as nuvens começaram a se juntar no céu fazendo um amontoado cinzento e tempestuoso. Sakura pensou: “É, Agosto está chegando...”

Quando menos esperou, ela estava na entrada de Giverny, vendo as árvores altas e verdes a farfalhar sobre o vento e os pingos finos de chuva. Escutava-os molhando o carro e sentia-se bem sobre aquele calorzinho com chuva mas sem o sol, que agora estava escondido.

Ela dirigiu até chegar na estrada que indicava no endereço. Era cheia de árvores dos lados, altas, imponentes. Quando chegou ao final, avistou o portão largo de ferro com colunas bonitas que achou uma graça. Ela adorava “esculturas”, afinal ela fazia.

Ela saiu do carro colocando o capuz de sua blusa de moletom cinza para se livrar da chuva ainda fina. A calça jeans e as botas de couro não permitiam que ela se molhasse muito.

Tocou a campainha e uma voz branda de mulher perguntou quem era e do que se tratava.

–-- Ah... Olá. Sou Sakura Petit Blanc. Gostaria de ter com Francis Morel. –disse Sakura, suspirando no meio da chuva.

Ela estava se achando intrusa e mordia os lábios aflita, pensando que mesmo que tivesse dirigido até ali, não conseguiria falar com Francis. Ela afinal nunca tinha o visitado. Eles dois eram apenas colegas... Mas estranhamente ela se sentia a vontade para ir a casa dele. Talvez por causa de ele ser amigo e quase família de Laurent Blanc, que era seu marido. Mas Sakura constatou que não era esse o motivo. Ela simplesmente gostava de Francis e achava que, amável como se mostrara no dia de seu casamento, iria na certa querer ajudá-la mais uma vez. Além do que ela começou a querer dizer novamente “obrigada” por aquela vez.

Respirou fundo vendo que não houve uma resposta e falou.

–-- Por favor... Por favor, eu... Eu preciso falar com Francis. Só ele pode me ajudar. –disse, suplicando.

Aubrey estava do outro lado do interfone. Quando ouviu a voz de Sakura e a viu pela câmera logo lembrou-se das palavras do filho.

“Mãe, eu amo a noiva do Laurent”

Aubrey ficou com as palavras chacoalhando dentro de sua cabeça e um semblante triste logo veio a ela. Pensou que não podia deixar que a jovem entrasse. Que o seu filho já passara um mês melancólico e aquilo era o bastante para ela. Apesar de ser de mal gosto e mal educado deixar a moça na chuva do lado de fora, o coração de Aubrey estava machucado pelo filho e ela pensava freneticamente no que fazer, indecisa.

Mas então Sakura suplicou. Aubrey ficou com pena do que viu no rosto da garota. Era uma angústia que a fazia ficar triste. Então seu doce coração se compadeceu e ela abriu as portas para Sakura.

Da chuva Sakura entrou na propriedade, passando as mãos nos braços tentando aquecê-los. Depois do portão tinha um pequeno caminho de terra rodeado de capim verdíssimo e algumas florzinhas que estavam encharcadas. Sakura andou até o casarão. Chegou à porta e bateu.

Aubrey atendeu de pronto e pediu que a jovem entrasse.

–-- Francis está no estábulo norte. –disse Aubrey, que sentou-se no sofá vermelho da sala bem decorada a qual Sakura já prestava atenção.

–--A sua fazenda é grande assim?

Aubrey deu um leve sorriso. Sakura não parecia a bruxa que ela imaginara em sua mente fértil de mãe magoada. Pelo contrário, Aubrey entendeu porque o filho estava apaixonado por ela. Era uma moça extremamente delicada nos modos, mas com um olhar perdido, bonito, simples. Como uma boneca perfeitamente educada mas que não ligava para coisas frívolas.

–-- É sim um pouco. Temos dois estábulos. O norte e o sul. Ele está no norte, é perto daqui, ai pela frente... Se você quiser ir lá... Ou esperá-lo aqui... Bem, fique a vontade Sakura. –disse a mulher.

–-- Vo... Você é... A mãe do Francis? –Sakura indagou abismada.

Era uma mulher muito bonita. De cabelos incríveis. E ainda parecia jovem com suas vestes estranhas, nada parisienses. Uma jardineira incomum e um cabelo bem comprido.

–-- Sim, Sakura! –Aubrey sorriu sem jeito e pôs a mão atrás do cabelo enorme.

Sakura imediatamente sentiu como se visse Francis pondo a mão atrás da cabeça e sorriu gentilmente.

–-- Espero que você consiga o que veio buscar, Sakura... –disse Aubrey, de coração.

–-- Eu vou ao estábulo... Estou um pouco apressada.

–-- Tudo bem, Karl vai levá-la até lá, sim?

–-- Obrigada. –Sakura agradeceu e levantou-se indo com pressa até a porta.

Aubrey ficou observando de dentro do casarão, perguntando-se o que o marido Darden faria na situação dela. Perguntando-se se fazia o certo... Francis já estava um pouco desfocado de Sakura e justo naquele momento a mulher aparecera... Ela perguntava-se se o filho ficaria tão melancólico outra vez.

Pôs nas mãos do destino.

~

O empregado de Aubrey guiou Sakura até o estábulo e depois voltou ao casarão deixando-a sozinha a olhar para o enorme lugar com várias cabeças de cavalo saindo de cada compartimento.

Os olhos da mulher ficaram inundados de felicidade quando avistou aquela silhueta comprida e forte do jovem rapaz. Francis usava uma calça jeans, mas mesmo naquela chuva, o rapaz estava sem blusa!

Sakura, que ia dar um passo rápido e correr para ele para abraçá-lo depois de tanto tempo, conteve-se no segundo passo quando o viu sem blusa.

Ela virou o rosto num impulso cego e depois voltou a olhar, pensando que era uma bobagem ela ficar escondendo aquilo só porque era casada com o melhor amigo de Francis. Ela já era crescida para poder olhar um homem sem blusa sem ficar tendo espasmos.

–-- Francis! –gritou a jovem com sua voz fina e sinuosa.

O rapaz olhou para trás e rapidamente andou até ela. Ele vinha num passo apressado, com os olhos perplexos. Seu coração batia descompassado.

Francis Morel não conseguia pensar rápido às vezes. Ele não pensava, nessas vezes. Nessas vezes ele simplesmente desligava o modo on e acabava por agir por impulso. O que aconteceu foi que ele simplesmente reconheceu aquele rosto tão bonito que vira ali. Era Sakura. Sua amada.

O coração dele tinha ficado realmente empoeirado em todos os sete meses que ele contava na ausência do rosto dela. Ele ficava muito sozinho naqueles meses. Andava por aí a vagar, cuidava sem parar dos cavalos, dormia no celeiro longe de tudo, fazia todas as tarefas do casarão, deixando os empregados sem ter o que fazerem. Tudo sozinho. Sempre lamentando não ter impedido a Haruno de casar-se. Desde o dia em que ela dissera sim, Francis se arrependera de sua decisão. Na verdade, ele nunca tinha querido fazer aquilo. Só o fizera por senso de dever.

E estava sofrendo a cada minuto por não ter chutado o balde.

Francis teve o seu coração puxado por um solavanco violento e impertinente quando a viu. Correu imediatamente para ela, abraçando-a sem se importar com a chuva. Sem se importar com que o seu corpo estivesse molhado e desnudo na parte de cima.

Francis Morel abraçou-a com força bastante para fazê-la ficar um pouco sufocada. Porém não era somente a força do abraço que deixava Sakura sufocada. Mas o fato de o rapaz tocá-la com tanta ternura. De seu corpo encaixar-se no dela e o perfume bem leve de alfazema dele adentrar por suas narinas com ela sentindo a alegria que aquele homem tinha em vê-la. Em tocá-la, abraçá-la. E de que aquilo supostamente seria proibido aos dois.

–-- F- fran-cis... –murmurou Sakura para falar para ele largá-la.

A sanidade havia voltado por um segundo pequeno demais. Ela então abraçou-o levemente, recostando a cabeça em seu peito. Porque ela sentia que Francis estava triste e a sua presença tinha sido como uma luz para ele. Sakura queria que ele ficasse bem. E o cheiro levemente juvenil dele a deixou impactada, amorosa.

Foi então que dentro do peito de Francis Morel rugiu uma imensa culpa e uma imensa tristeza e aspereza consigo mesmo por abraçá-la daquela forma.

De súbito, tirou suas mãos de Sakura, tomou um pouco de distância e pôs a mão atrás da cabeça, agitado.

–-- Me... Me desculpe. Sakura, eu sinto muito... Sinto muito! –disse o homem deixando as mãos ao lado do corpo, cabisbaixo. Ele simplesmente não sabia como se retratar.

–-- Ei, está tudo bem! –exclamou ela. –Eu vim te ver mesmo, também... –completou, um pouco sem jeito. –Como você está? –mudou de assunto.

–-- E-eu... Preciso ir ao casarão. Preciso de uma camisa, se é que me entende. –riu-se Francis.

Sakura então olhou o peitoral nu dele. Foi um impulso inevitável psicológico quando ele falou da camisa. Mas ela de repente ficou encantada com a beleza dele. Era... Engraçada, doce.

–-- Vamos, me acompanhe. –disse Francis, chamando-a até o casarão.

Sakura andou às costas dele, olhando como a chuva parecia pingar num tipo de aura que ele emanava, não molhando-o. Ela riu de si mesma ao pensar que estava ficando doida.

~

Os dois estavam na varanda dos fundos do casarão, e Francis tomava capuchino.

–-- Você não quer mesmo? –indagou Francis, olhando nos olhos dela.

Ele já estava recuperado do medo que tinha de olhá-la nos olhos. Na verdade Francis era um homem forte. Os meses depressivos que passara haviam lhe servido para que ele aceitasse que nunca teria Sakura. Que ele a tinha deixado ir. Que a vida dela era outra naquele momento. Que a vida seguia normalmente. Mas Francis sabia de uma coisa. Ele ainda amava. Ele sabia disso mais ainda depois de revê-la.

Como ele tinha dito a si mesmo certa vez, aquele rosto não tinha saído da cabeça dele. Ele não conseguia apagá-lo. Principalmente o sorriso dela.

–-- Não, Francis, obrigada. –disse Sakura fitando-o.

–-- Aqui é tão bonito não é mesmo? –indagou ele. –Essas flores ai... –disse ele, apontando para as inúmeras espécies que se enroscavam nas colunas da varanda do casarão. –Aquelas árvores altas ali ao longe. –apontou ele para as árvores que rodeavam a propriedade ao longe.

–-- É lindo. –disse Sakura. –Você é um sortudo! –disse ela, dando um leve empurrão nas costas dele.

Quando o silêncio ficou por um tempo, Sakura lembrou-se da vez em que ele a tinha abrigado enquanto ela estava confusa e triste, no outro dia.

–-- Ah, obrigada garoto gentil...

Francis a olhou, confuso.

–-- Por aquela vez... Em que me ajudou, sabe, no restaurante... -disse Sakura, risonha.

–-- Ah! Aquilo... -Francis pôs a mão atrás da cabeça. -Por nada mesmo... -disse ele.

Se ela soubesse do que ele seria capaz para vê-la sorrir...

–-- Então... O que houve? Algum problema com Laurent? –indagou o loiro pensando que a mulher não viria ali atoa.

Ele procurava não ficar melancólico, fazer o assunto mudar de foco.

–-- Não, Laurent está muito bem... –Sakura disse, fitando a paisagem pensativa.

Laurent só tinha tido bons frutos do casamento, pensou ela. A fábrica de vinhos fazia a fortuna conjunta dos dois voar como um jato para o alto. E o marido estava muito feliz. Os Blanc estavam muito mais ricos pelo que Sakura sabia. As matérias com a família estampavam os jornais. O irmão de Laurent, Peter Blanc estava mais e mais rico com suas empresas de tecnologia computacionais e agora Laurent era tipo um iniciante magnata do vinho.

Laurent estava mesmo muito bem...

–-- E você... Está muito bem também, não é? –indagou Sakura olhando para ele. –Quero dizer, soube que os negócios vão de vento em poupa.

Francis suspirou. Ele estaria melhor se não tivesse que cruzar com ela em todas as esquinas da vida, sempre que estava tentando esquecê-la. Mas a verdade era que ele não conseguia ficar infeliz com a presença dela.

–-- Sim, estou bem... –disse ele, tomando um gole de capuchino.

–-- Francis, preciso da sua ajuda. –disse ela. –Lembra que eu lhe falei da minha avó? Pois é, eu fiquei sabendo que ela também gostava muito de lavanda...

Francis fitou as árvores ao longe ficando embaçadas sobre a fina chuva de verão, pensativo.

–-- Hm...

–-- O fato é que eu... –os olhos de Sakura tornaram-se temerosos. –Você acredita em espíritos?

Francis quase cuspiu o capuchino. Ele não queria rir dela, mas ele teve um ímpeto incontrolável de rir.

–-- Seu bobo idiota! –Sakura brincou com a piada que ele fez dela. –Tá... Acho que você não vai poder me ajudar.

Ela suspirou, verdadeiramente desanimada.

–-- Não, Sakura! –disse Francis, olhando seriamente o rosto dela. –Não se preocupe, eu tenho esses ataques... Mas bem... É que eu não tenho nenhuma experiência para contar sobre espíritos. Não sei, me parece surreal... –disse Francis ficando mais pensativo ainda.

Sakura percebeu que ele tinha ficado calado, mesmo que ela também tivesse silenciado.

–-- O que está pensando? –indagou ela.

–-- É que eu estava aqui lembrando do meu tio. –Francis então fitou-a com os olhos agudos. –Certa vez ele me disse algo assim: “Francis, você acredita que possamos sentir alguém que já morreu, aqui da terra?” Isso parece com o que você me perguntou agora...

–-- Sim! Exato! Quem é o seu tio? Eu preciso falar com ele, ele me entende...

–-- Você sente alguém que já morreu aqui? –indagou Francis, com um pequeno terror passando por dentro dele.

–-- Não não... Não é bem assim. Francis, é que eu juro que posso sentir como se a minha avó quisesse me dizer algo. Eu sinto as lavandas e fico tonta, ou quando estou em casa e não há nenhum sinal delas, eu sinto o cheiro! Isso está me perturbando mais que o comum! E hoje mamãe me disse que vovó tinha um diário e lá escreveu sobre as lavandas.

–-- Entendo o que quer dizer... –disse Francis, finalmente entendendo o objetivo da mulher.

–-- Eu preciso que você me leve até o seu tio, Francis.

–-- Sinto muito, Sakura, isso não é possível. - lamentou Francis - Tio Bernard viajou e sabe-se lá quando ele volta... Ele é um nômade eremita.

–-- Ah, não... –Sakura murmurou a si mesma. –Isso só acontece comigo...

–-- Mas não fique triste assim, olhos de gato, eu te ajudo no que puder. –disse Francis, agora tentando tossir o capuchino que tinha bebido depois que percebeu o que tinha dito.

Ele nunca ia mesmo aprender a não falar o que pensava.

–-- Quero dizer... Olhos de gato... Não sei, pensei que se parecessem com os seus. –disse ele, sorrindo sem mostrar os dentes, resignado às suas palavras.

Sakura sorriu. Seu olhar tornou-se distante e com um pingo de melancolia. Mas então de repente aproximou-se dele dando-lhe um beijo na bochecha.

–-- Você é um doce. –disse ela, levantando e pegando a bolsa.

Sakura lembrou-se de Laurent antes que Francis pronunciasse as palavras sobre os seus olhos serem de gata. Então imediatamente o seu coração foi caindo numa profunda culpa, medo, prisão. Aquela sensação era totalmente diferente da sensação que Sakura sentira quando ia até o casarão de Francis. A liberdade daqueles olhos que eram tão revoltos, insubordinados outrora, foi embora, se esvaindo devagar depois que ela casou-se. E tinha receio que quando Laurent chegasse, ela não estivesse em casa.

Apressou-se, andando pela escada dos fundos do casarão, carregando sua bolsa.

–-- Eu volto aqui. E então... Vamos achar respostas!–gritou ela, acenando de longe.

Francis acenou de volta. O beijo o tinha deixado completamente sem reação por alguns minutos.

A chuva molhava Sakura novamente enquanto ela andava resignada até o seu carro, com uma morbidez estranha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Perceberam ai as dicas? uahauha



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sombras de Cerejeira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.