Dainibotan

Os pezinhos envoltos de lustrosos sapatos boneca, se espichavam na ponta dos dedos. Os olhos perolados, brilhavam de ansiedade e nervosismo enquanto vasculhavam o salão em busca da tão desejada cabeleira loura. Apertou o embrulho colorido em mãos e quando constatou que não acharia ele ali dentro, girou sobre os calcanhares e tentou sair do grande salão de festa de sua escola. Teve que empurrar com o ombro algumas pessoas e, contando com a euforia dos alunos que haviam se formado junto a ela naquele dia, acabou levando uma cotovelada no braço, que lhe rendeu uma bela careta e um hematoma bem feio mais tarde.

Hinata se encostou no batente da grande porta de ferro e, achando um espacinho entre a parede e uma garota, ela passou a perna por ele e foi forçando, roçando as costas na parede branca, abrindo caminho para o lado de fora. Deu um passo grande para fora do salão e quase tropeçou na rampa que havia ali. Ela caminhou desviando dos colegas que se abraçavam, as meninas choravam e até alguns dos meninos.

A cerimônia de enceramento do ano letivo havia sido tão linda quanto triste. É o começo de uma nova etapa, onde deixariam as infantilidades e comodidades para trás para seguir rumo ao futuro. Um futuro onde não havia lugar para tantas pessoas. Hinata nunca mais veria algumas delas e com o tempo esqueceria o nome e o rosto de outras, mas lembraria de sua presença e encontraria muitas pessoas estranhamente familiares pelas ruas.

Os antigos conhecidos deveriam ser esquecidos

e nunca relembrados?

Os antigos conhecidos deveriam ser esquecidos

e os velhos tempos!?

Ela também chorou quando todos cantaram a música Hotaru no Hikari. Ela tinha uma letra triste que questionava se deveríamos esquecer o que tinham passado. Mas é claro que não! Hinata, ao menos, não queria esquecer de absolutamente nada e de ninguém. De cada aprendizado, de cada amizade, cada sorriso...Tudo! Mas principalmente, ela não queria se esquecer dele. De Naruto. O menino que havia roubado seu coração desde muito cedo, antes mesmo dela saber o significado da palavra amor.

Seus sorrisos sinceros, sua determinação, sua espontaneidade, sua sinceridade, seus olhos azuis...

Mas o tempo e a distância não eram tão compreensivos com os corações apaixonados e só com a incerteza que vinha com o futuro, ela sentiu os olhos marejarem.

Ela correu entre os colegas, vasculhando o local. Ela precisava encontrá-lo e dizê-lo.

Esbarrou em uma menina, fazendo-a derrubar o embrulho que ela estendia a um menino. Só então parou e olhou para a colega Ino, pedindo desculpas. Ela ignorou o olhar preocupado da amiga e deu a volta, voltando a procurá-lo. Observou muitos dos uniformes dos meninos sem os botões. O segundo botão. Mesmo que contidos, alguns não conseguiam conter a vermelhidão que se apoderava das bochechas e dos sorrisos tímidos depois de receber uma declaração.

Hinata parou amedrontada. Estancou no meio da multidão de alunos que vestiam seus uniformes azuis escuros e continham expressões tristes. Não era como se estivesse diferente. Ela nunca conseguiria achá-lo no meio de tanta gente.

Ela sentiu uma pancada na cabeça, batendo em cima da presilha em forma de borboleta, que enfeitava e segurava algumas mechas de seus cabelos. Ela fez uma careta e imediatamente levou a mão ao local. Massageou o couro cabeludo, mas já não sentia dor, ou pelo menos não conseguia concentrar-se nela. Os olhos se encheram de lágrimas ao olhar ao local e notar que era a única pessoa que estava sozinha. Que não tinha dado ou recebido um abraço sequer, a não ser dos pais.

Não gostava de sentir pena de si mesma, mas naquele momento se sentiu uma miserável.

Ela sentiu uma ardência na cabeça, que ainda massageava e, triste e com raiva, ela agarrou aquela presilha detestável e puxou, arrancando alguns cabelos no processo e a atirando com força ao chão. As lágrimas caíram, desencadeadas pela dor e também pela tristeza daquela despedida que não aconteceria.

Os ventos amenos do início da primavera, traziam do jardim da grande e famosa escola, algumas flores de sakuras, fracas demais para conseguirem se segurar à árvore.

"Ou independentes demais para depender dela!"

Ela riu do próprio pensamento, esticou a mão que não segurava o embrulho, deixando a flor rosada pousar em sua delicada mão. Ela olhou aquela plantinha frágil e desejou ser com ela. Independente e corajosa a ponto de deixar os amigos e a família e se deixar levar pelos ventos vindos do norte.

Mas não poderia. Não poderia deixar todas as pessoas queridas para trás e viver um futuro sem elas.

Abandonando a ideia de independência, ela soltou, lentamente a frágil planta no chão, que logo em seguida foi pisoteada por um pé grande.

Ela levantou o rosto pequeno, com rastros de lágrimas e arregalou muito os olhos quando avistou Naruto a sua frente.

- Hinata, estava te procurando à um tempão já! - Hinata corou ao ouvir a voz preocupada dele.

- E-Eu ... - A morena baixou os olhos, tentando alcançar seus pés, mas seu olhar parou no peito do Uzumaki, exatamente onde devia estar o segundo botão.

Ela ofegou, surpresa e ainda mais triste do que pensou que ficaria quando descobrisse que o segundo botão nunca fora guardado para si.

Com os olhos arregalados e brilhando pelas lágrimas que ela não fez questão de segurar, deu um passo para trás, assustada. Acabou batendo as costas em alguém que pediu desculpas, mesmo não sendo culpado.

Ela olhou mais uma vez para o rosto de Naruto, que tinha uma expressão confusa, apreensiva e ainda angustiada. Como ela conseguia ler os sentimentos dele sendo que nem estava conseguindo pensar direito?

- T-Tenho que ir. Ja ne, N-Naruto-kun! - ela ouviu-se falar com a voz embargada.

Chegou a virar-se mas foi impedida de dar mais um passo a frente quando uma mão segurou firme em seu braço, no exato local onde havia recebido a cotovelada. Mordeu os lábios, reprimindo um gemido de dor.

- Hinata... - A voz de Naruto estava baixa, e Hinata corou por isso. - Eu preciso te dar algo antes, onegai!

As pernas da Hyuuga tremeram e ela se virou devagar, sendo guiada pelo loiro. Naruto estava sorrindo pequeno quando ela mirou seu rosto.

- E por favor, não chore! - ele pediu, angustiado.

O rosto de Hinata esquentou um pouquinho, mas mesmo ele pedindo seus olhos se encheram novamente. Ela ouviu ele respirar fundo e o viu inclinar a cabeça, encostando o queixo no próprio peito.

Naruto colocou a mão no bolso do casaco estilo militar do uniforme e tirou de lá um embrulho pequenino. Ele o observou por um instante, logo depois estendo a mão para a Hyuuga, que o fitava sem piscar os olhos, com medo de perder algum detalhe ou de deixar as lágrimas rolarem mais uma vez.

- Pegue, é seu! - Naruto sussurrou, sem olhá-la.

A mão da morena tremeu quando ela alcançou o pacotinho. Aconchegou-o nas mãos e o olhou, criando coragem para abri-lo alguns segundos mais tarde. Quando pôs os dedos finos na fita, ela ouviu a voz de Naruto, mas não parou seu trabalho de abrir o presente para olhá-lo, emocionada demais por ter sido lembrada por ele.

- Eu fiquei esperando, sabe!? - Oh, como ele estava nervoso, Hinata estranhou quando percebeu. - Mas você nunca apareceu! - ele riu e Hinata agora derramava o conteúdo do embrulho nas mãos. - Acho que porque você é muito tímida, não é!? Não tem problema! - Hinata arregalou os olhos. - É isso que eu gosto em você!

Ela ficou encarando o botão grande e preto que descansava em sua mão, surpresa demais para expressar qualquer outra reação. Somente ficou ouvindo as palavras do amado que a cada sopro, esquentavam seu coração.

- Sempre tão meiga e quieta, ajudando os outros sem esperar nada em troca... - Hinata levantou os olhos marejados na direção dele, sentindo uma estranha sensação de felicidade ao vê-lo corado pela primeira vez na vida. - Esse botão... - Ele tocou o peito, no lugar onde o mesmo estava a instantes atrás e estreitou os olhos brilhantes. - ...Sempre foi seu, Hinata! Acho que desde o primeiro momento em que você sorriu com as bochechas vermelhas para mim.

Hinata apertou o botão entre as mãos e o levou em direção ao peito, apertando tanto ele quanto o pacote que deveria entregar à Naruto. As borboletas fizeram piruetas em seu estômago quando ele deu um passo à frente.

- Você iria pedi-lo a mim, não é!? - ele perguntou, querendo saber se ela sentia a mesma coisa por ele.

Hinata teve que olhar para cima para encarar aqueles olhos ansiosos e brilhando em doçura. Ela poderia derreter abaixo daquele olhar. Só teve forças para balançar a cabeça concordando.

Naruto sorriu radiante, soltando o ar aliviado pela boca, e Hinata erubesceu ao sentir o hálito quente dele bater contra seu rosto.

- N-Naruto-kun!? - Hinata ofegou baixinho quando sentiu a mão dele passear por sua bochecha.

- Ah, Hinata! Você é tão linda! - Naruto murmurou, se aproximando ainda mais.

Hinata conteve o impulso de fechar os olhos quando a carícia continuou. A brisa soprou outra vez e junto dela, o perfume de loiro lhe inebriou, fazendo-a perceber o quão perto ele estava.

Um pouco trêmula, ela levou as mãos de encontro ao peito dele, mas esqueceu-se que estava segurando o presente do amado. Ele acabou caindo ao chão, assustando os dois, que afastaram-se minimamente.

- Ah! E-Esse é pra você, N-Naruto-kun! - ela sorriu, verdadeiramente feliz.

Naruto sentiu-se esquentar a observando e agradeceu, abrindo o embrulho sem o menor cuidado.

- Nossa, Hina! Um cachecol!? - Ele enrolou-se no mesmo. - Eu adorei! Arigato.

Hinata estava radiante e sorriu corada a ele.

- Eu s-sei que o inverno recém acabou! Eu pretendia dar ele ant...

- Não tem problema, Hinata! - Ela se assustou quando o loiro enlaçou sua cintura com o braço esquerdo. Levantou os olhos timidamente e sentiu as pernas bambas sob aquele olhar brilhante, cheio de carinho. - Eu posso usar em outros invernos! Eu vou sempre me lembrar de você quando estiver com ele.

Na verdade, já era difícil parar de pensar em Hinata quando não tinha nada que o fazia lembra-lo, imagina com um cachecol?

Hinata sorriu, emocionada, sentindo os olhos molhados. Levou suas mãos trêmulas ao peito do loiro e se aconchegou ali, sendo envolta por aqueles braços fortes e por aquele perfume masculino.

Naruto deslizou as mãos pelas costas da Hyuuga, perdendo-as em meios aos cabelos macios e cheirosos. Enterrou o rosto ali, aspirando o cheiro da morena. Era doce, ainda melhor do que esperava que fosse.

- Esse botão...O meu coração sempre foi seu, Hinata! - ele alisou os cabelos azulados, fechando os olhos, enquanto sentia a menina tremer e ouvia seu choro. - Sempre foi e sempre vai ser!

Hinata fungou, estava feliz.

Ela afastou-se do abraço e fitou Naruto, que estava um pouco envergonhado. Não mais que a mesma. Ela desviou os olhos para o peito dele, no lugar onde estava o segundo botão. Hinata sorriu e encostou a palma de sua mão ali e fechou os olhos ao sentir a batidas rápidas do coração de Naruto.

Não sabia qual dos dois batia mais alucinado.

- V-Você vai cuidar bem dele? - Naruto sussurrou, se aproximando novamente.

Hinata levantou os olhos e encarou aqueles olhos azuis tão de perto. As testas se uniram e eles suspiraram, mesclando as respirações já ofegantes.

Ela apertou o botão em sua mão.

- Com a minha vida!