Liam

Ao ver meu nome no placar de segundo lugar, eu exalei um suspiro de alívio.

Meu cabelo loiro iria continuar lindo e intacto.

E bagunçado como sempre.

Olhei para o lado para ver a cara de Bryan. Dizer que o garoto estava chocado era um entendimento. Bryan parecia que tinha pulado para fora de um desenho animado com sua boca escancarada e olhos esbugalhados.

Segurei o riso por dó do meu amigo. Percebi que Ellie não foi tão gentil e se rolava no chão de tanto rir. Cherry dava gargalhadas gostosas e segurava o pote de tinta verde na mão como se fosse um prêmio a ser entregue.

— Mas que droga — ouvi Jack murmurar e entregar a Martin uma nota de dez dólares.

— Sério mesmo? — Ellie perguntou arqueando uma sobrancelha. — Sério que vocês fizeram uma aposta ridícula?

— Ridícula não — Martin disse. — Promissora.

Ambos fizeram cara de inocentes e deram de ombros como se dissessem “Ué, não foi nada demais”.

— Obrigado por colocar sua confiança em mim, bro — Bryan fingiu fungar.

Ellie revirou os olhos. Martin deu de ombros.

— Vamos, rapazes, vamos para a casa do Liam comer alguma coisa.

— Hey! — eu digo como aviso. As pessoas precisavam parar de ver minha casa como um ponto de encontro. Como se minha casa abrigasse tudo e todos.

— Certo, certo — Ellie revirou os olhos, ela provavelmente ia acabar vesga de tanto fazer isso. — Sua casa e a de Cherry. Certo?

— Não foi isso que eu quis dizer — eu murmurei. Olhei para Cherry e vi um leve rubor em suas bochechas.

— All you need is love… — Bryan começou a cantar.

Eu bati nele. Cherry ficou mais vermelha ainda.

***

Ellie e Cherry ficaram no banheiro com Bryan para tingir seu cabelo. Ellie disse que iria demorar. Algo sobre precisar descolorir uma vez o cabelo para a cor verde conseguir ficar no cabelo, afinal o cabelo de Bryan era castanho meio escuro.

Enquanto isso, Martin e Jack ficaram fazendo duelos de Injustice no videogame. Eu estava com fome, por isso peguei um Doritos e me joguei no sofá.

Mais ou menos, uma hora tinha se passado e Ellie saiu do banheiro seguido de Cherry.

Ela sorriu e eu sentei direito no sofá para ela sentar ao meu lado.

— Conseguiram? — perguntei com um sorriso diabólico.

Ela imitou meu sorriso e assentiu.

— Bryan ainda está tentando se conformar com seu temporário cabelo — Ellie disse sentando ao lado de seu namorado e estalando um beijo em sua bochecha.

Cherry pegou um Doritos e olhou para ele estranhamente.

— O que é isso?

— Hm, Doritos? — Jack disse como se ele não entendesse a pergunta, na verdade ninguém entendeu.

Cherry comeu um e fez uma careta.

— Isso é horrível!

— O Doritos? — Martin perguntou assustado.

— É. Esse pó laranja tem um gosto horrível e o salgadinho em si não tem gosto de nada...

— Meu Deus, ela não gosta de Doritos — Jack sussurrou horrorizado.

— Você nunca tinha comido Doritos antes? — Ellie perguntou algo que ninguém tinha percebido, surpresa.

— Eu costumava comer comidas não-saudáveis, como toda criança, quando meus pais ainda eram vivos. Depois, eu fiquei sob custódia de...meus outros parentes, e vamos dizer que eles não eram muito a favor desse tipo de comida — sua voz foi ficando mais baixa.

Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, Bryan saiu do banheiro com um cabelo parecendo grama crescendo.

— Olá, vadias. Espero que gostem da minha nova moda: verde grama-italiana.

Senti a indireta no “italiana”.

***

Depois de comentários muito maldosos de mim, Jack e Martin e de várias fotos guardadas com muito carinho na memória do Iphone de Ellie, Bryan finalmente conseguiu ter sossego até que Ellie teve a brilhante ideia de irmos pegar uns lanches num boteco perto de casa.

Assim que chegamos e sentamos numa mesa, todos os olhos se voltaram para Bryan.

— Isso não é uma boa ideia. Eu estou sendo visto perto do garoto-vômito aqui — Martin disse apontando para Bryan.

— Hey — Bryan levantou o braço com gesto de “pera aê”. — Isso não é verde-vômito, é verde grama-italian...

— Esse é o pior nome que você poderia dar, Bryan — Ellie disse comendo uma batata. — Não é assim que as pessoas dão nome...

— Ah, qual é, Elliezinha? Vocês têm nome pra tudo. Até pra cor que você nunca vai ver na sua vida. Me deixa ser feliz.

Depois dele ter dito isso, o resto da comida chegou e comemos numa boa.

Para sobremesa pedimos uma torta de cereja.

Ah, a ironia.

Cherry não levou a sério que nós iríamos pedir aquilo até a torta estar na frente dela. Alexis revirou os olhos e começou a comer a torta com fervor.

—Cherry gosta de cerejas. — Bryan disse sorrindo.

— Essa foi a pior piada que você poderia ter feito, Bryan — eu disse balançando minha cabeça negativamente.

— Vai ver que a tinta verde está afetando o cérebro — Jack disse fingindo estar pesando fortemente nisso.

Bryan chutou Jack por debaixo da mesa.

***

Depois que todos foram embora e eu e Cherry voltamos para casa e decidimos fazer uma maratona de filmes...

...De só dois filmes, já que eu e ela tínhamos que acordar cedo no dia seguinte.

Devo ter pegado no sono na metade do segundo filme porque quando eu acordei tinha um traço de baba escorrendo pela minha boca e os créditos do final já estavam passando pela tela.

Cherry deveria ter decidido não me acordar porque havia um cobertor quentinho em cima de mim e não havia sinal da garota de cabelos vermelhos.

— Lexi? — eu chamei roucamente.

— Na cozinha — ouvi ela gritar.

Quando cheguei lá, vi que ela estava fazendo um sanduíche de creme de amendoin com geleia.

— Quer um? — ela sorriu. — Estou esperando a torradeira — ela apontou para a torradeira que tinha seus pães dentro.

— Não, valeu. Acho que eu vou dormir. Já é... meia-noite e meia. E não precisa ficar ao lado da torradeira. Quando ficarem prontos os pães, ela apita e “joga” eles pra fora.

— Ah, tudo bem.

Ela disse assentindo e indo se sentar.

— Boa noi...

A campainha tocou.

Quem em sã consciência toca a campainha meia-noite e meia?!

Só uma pessoa veio em minha mente.

Bryan.

Suspirei.

— Que merda que ele deve ter feito? — perguntei indo atender a porta. — Não é possível que em quatro horas ele tenha se metido em confusão, né?

— Bem, é dele que estamos falando — Cherry deu de ombros.

Quando abri a porta, já estava pronto para xingá-lo.

Mas acontece que não era Bryan que estava na minha porta e sim um cara careca.

Cherry fez um barulho de susto e seu rosto ficou pálido.

— David — ela sussurrou assustada. Meu corpo já ficou rígido com a sua reação.

— Milady — o homem disse ignorando completamente minha presença.

Eu já ia perguntar seu nome quando percebi algo prateado em seu quadril.

Tinha um cara armado na porta da minha casa.

A torradeira apitou.