Família Dixon escrita por Andhromeda


Capítulo 11
Eu nunca...


Notas iniciais do capítulo

Então, resolvi postar esse capitulo porque ele já estava pronto – e me tornei uma maníaca por comentários. Quero realmente saber o que vocês estão acharando, pq de longe esse foi o que me deu mais trabalho, mas é o que mais amei.
Sério, ele tah muito foda!
Quanto aos comentários: Minha internet não esta funcionando – a ingrata – e não tenho orgulho de admitir que atualizei hoje pq estou surrupiando a internet do meu trabalho – que Deus me perdoe! Por isso não tenho muito tempo p/ responde-los – to com um medo ferrado de ser pega e tal’s. Porém, vai acontecer. Os anjos irão me ouvir é a voltarei a civilização virtual em breve...
Só não me odeiem por essa demora...



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Beth entrou na cozinha bufando, seu rosto estava quente e poderia jurar que sentia a fumaça saindo de seus ouvidos.

Que homem impossível. Pensou furiosamente.

– Ei, ei, que bicho te mordeu, pequena? – perguntou Ranger, quando a loira passou como um furacão.

Daryl guinchou, com toda irritação e frustração que sentia.

– Entendo – o vaqueiro assentiu.

Duvidava muito disso – pensou a loira – o maldito caipira não tinha sido só desrespeitoso, como cruel e cínico. E o que ela havia feito para merecer um tratamento desses? Tinha mantido a droga da bunda dele segura.

– Ele é tão ingrato – colocou a mecha de cabelo que caiu sobre seus olhos atrás da orelha, com raiva – e rude, me dá vontade de... de... – soltou algo entre um gemido e grunhido, odiava ser a boa moça, odiava não estar acostumada com conflitos, Deus, nem sabia usar um palavrão decente.

– Venha sente-se aqui, querida – disse a Sra. Parks, apontando para uma das cadeiras a mesa – homens são criaturas complicadas, são super-protetores e muito orgulhosos de sua força, o seu marido esta ferido e dependente de outras pessoas – sorriu – fui casada por 37 anos e o meu Johnny também era assim, odiava sentir-se impotente – um ar de nostalgia marcou suas feições – e quase sempre agia como um ogro nessas situações.

– Mas a única coisa que fiz foi ajudá-lo – choramingou.

– Ele sabe disso, querida – a idosa atravessou a sala e passou a mão pelo cabelo da Greene carinhosamente, o simples gesto a lembrou tanto de Annette, que seu coração doeu – só que na cabeça dele, esse era o seu trabalho e ele falhou.

– O ego masculino é uma coisa muito frágil... – essa foi à contribuição de Ranger a conversa.

Ego. Daryl estava com o ego ferido e por isso a tratava como seu saco de pancada particular?

A adolescente bufou.

– Não seja tão dura com o rapaz.

Os que menos demonstram, são os que mais sentem. Seu pai uma vez tinha lhe dito.

Beth lembrou-se do dia que o caçador tinha vindo ate a sua cela para lhe contar sobre a morte de Zach, ele parecia tão perturbado e culpado, que ela apenas o abraçou na tentativa de fazê-lo sentir-se melhor.

Eu não fui à única que perdi a minha família...

Ela não sabia muito sobre o passado dele, mas era inteligente o bastante para entender que confiança e afeição não eram coisas que vinham tão facilmente quando se tratava de Daryl Dixon.

Talvez essa seja a sua forma de sofrer...

– Só estou cansada de brigar – a garota abaixou a cabeça e sentiu o batente duro da mesa contra sua testa.

– Calma, ele vai se desculpar – disse a idosa com sabedoria, Beth levantou a cabeça e soltou uma risada descrente.

– Seria mais provável que os porcos voassem.

– Tenha um pouco de fé – a Sra. Parks devolveu e a loira ficou em silencio, não tinha argumentos contra suas próprias palavras.

Miranda escolheu esse momento para entrar na cozinha, interrompendo a conversa. Ela tinha os punhos serrados, os olhos em chamas e amaldiçoava a cada respiração.

– Aquele desgraçado filho da mãe... – vociferou.

A Sra. Parks suspirou e balançou a cabeça, Ranger apenas sorriu – mas ficou serio quando foi fulminado por olhos castanhos furiosos.

– O que ele fez dessa vez, menina? – perguntou à idosa.

– Acredita que ele disse que o meu maldito libido... – a mulher parou abruptamente, como se apenas naquele momento tivesse percebido onde estava e com quem falava – não importa, o miserável é um idiota.

Beth a observou – confusa – e depois encarou Ranger em busca de uma explicação.

“Ele?” perguntou sem pronunciar a palavra em voz alta.

“Sean” o vaqueiro respondeu, também sem emitir som algum.

Beth sentiu um sentimento de simpatia por Miranda – não pode evitar – aparentemente não era a única a ter problemas com homens teimosos.

– Acho que preciso de uma bebida – disse a morena, jogou-se em uma das cadeiras com cara de poucos amigos.

– Talvez não seja uma boa idéia – ponderou a Sra. Parks.

– Porque, é a droga do fim do mundo – por mais que demonstrasse raiva há alguns minutos atrás, naquele momento o seu tom era quase persuasivo, como uma criança que tentava convencer a mãe a deixá-la fazer uma coisa perigosa e divertida – temos um lugar seguro e talvez eu não tenha outra oportunidade de tomar um porre.

– A garota tem um ponto, Ivone – ajudou Ranger.

– Beber não ira resolver os seus problemas, menina.

– Sei disso, mas a outra opção é voltar lá fora e dar um tiro naquele Australiano cretino.

– E nós não queremos isso – a idosa suspirou derrotada – tudo bem, acho que tenho um licor de pêssego por aqui em algum lugar... – murmurou, enquanto remexia nos armários em cima da pia.

– Bem, melhor que nada – a morena deu de ombros e esperou pacientemente que a senhora encontrasse a bebida.

Beth olhou encantada a interação do grupo, as coisas ali eram diferentes da prisão. Por mais que amasse – e sentisse muita falta – do seu antigo lar, nos últimos tempos as coisas haviam ficado tão complicas que era como se uma camada de tensão permanente dominasse o ar. Logo depois da gripe, ela tinha voltado a arrumar a sua mochila – que no fim acabou não precisando – e passado a dormir com as roupas e a bota ao alcance das mãos, como se preparada para fugir a qualquer momento.

No reformatório, as coisas eram mais... leves. Ainda existia a constante preocupação com a segurança e aquele clima familiar, do tipo que só as pessoas que conviveram por muito tempo – e muita coisa – juntas podiam desenvolver. Mas ao mesmo tempo existia uma áurea de normalidade os envolvendo – era tão sutil que ela duvidava que algum deles percebesse.

Lembrou-se de ter tido a mesma sensação há dias atrás, quando estava parada no meio da rua de uma cidade infestada de caminhantes e havia acompanhado o estranho dialogo entre a morena e Sean, pela primeira vez.

– Achei – vitoriosa, a Sra. Parks colocou uma garrafa em cima da mesa e a tirou de seus pensamentos estranhos. A garrafa tinha o formato de uma ampulheta, já estava pela metade e sem o rotulo.

Prontamente, Mirando pegou um copo e o encheu, porém, antes que pudesse dar o primeiro gole ávido, o vaqueiro disso:

– Divida com Beth, ela também teve uma briga.

A adolescente sentiu uma pontada de irritação por Ranger falar da sua vida tão abertamente – tudo bem que havia irrompido no refeitório como um furacão e esbravejando contra Daryl, mas queria que aquela conversa permanecesse ali, não precisava de um anuncio no jornal para que todos soubessem.

– Problemas no paraíso? – Miranda virou-se para ela com um olhar de empatia.

– É – respondeu desconfortável.

– Bem-vinda ao meu mundo, loirinha – disse a morena com um sorriso.

Beth relaxou e devolveu o sorriso, quando a outra colocou um copo cheio na sua frente. Ela hesitou antes de pegar – o que lhe rendeu um olhar interrogativo.

– É que eu nunca bebi algo realmente alcoólico.

– Serio, mas nem uma cerveja roubada?

– Nada – poderia sentir seu rosto esquentar perante o olhar questionador da outra.

– Nossa, isso é impressionante – um sorriso bobo iluminou seu rosto – achei que adolescentes desse tipo só existissem nos seriados da Disney.

– O que tem a Disney? – perguntou Sean ao entrar no refeitório.

– Não é da sua conta – respondeu Miranda, seu rosto se fechou em uma carranca.

– Dá um tempo, mulher – devolveu o homem.

– Resposta errada, Mad Max – disse Maurice, atrás dele.

O garoto teve o descaramento de piscar para a irmã, com um sorriso de canto de boca.

– Vai se fu... – a morena começou, mas foi interrompida por Ranger.

– Quem esta de guarda, garoto?

– Jessie e Tommy – respondeu Liza, que entrou saltitante na cozinha e sentou-se ao lado de Beth.

– Uhum – resmungou o vaqueiro – não gosto disso...

– Deixe as crianças, Ranger – ralhou a Sra. Parks.

– Tommy não é mais criança – o homem tirou o Stetson, passou a mão pelo cabelo – e Jessie sabe disso.

– Ranger é super protetor – explicou Sean com um sorriso – acho que criaria a menina em um convento se o mundo não tivesse acabado.

– Longe de qualquer civilização minimamente masculina – completou Maurice com um sorriso tímido.

– Parem de me aborrecer – o vaqueiro bateu com o chapéu na coxa para enfatizar as suas palavras – vou render a Jessie.

E antes que alguém mais pudesse falar qualquer coisa, ele já havia passado pela porta.

– Falei pro garoto procurar outro rabo de saia – disse Sean.

– Claro, porque agora ele tem uma abundancia de opções à volta – disse Mirando com sarcasmo.

– Pensando por esse lado – o homem voltou-se para a morena e passou seus olhos preguiçosamente por seu corpo – acho que preferiria encarar a espingarda de Ranger a sua língua ferina, menina.

– Totalmente compreensível – Miranda deu um sorriso tão doce e inocente, que fez Sean empertigar-se instintivamente – afinal, nem todo menino tem cacife pra manter uma mulher de verdade.

Beth realmente tentou não sorrir – começou a pensar na chuva, ou no ultimo filme que tinha assistido – mas a expressão de Sean era tão engraçada – uma mistura de raiva, descrença e... diversão? – que simplesmente fez impossível manter suas boas intenções. Já Maurice e Liza não fizeram a mínima questão de esconder as suas risadas. A Sra. Parks apenas balançava a cabeça, seus olhos castanhos brilhavam.

– E o placar é: Miranda 1, Mad Max 0 – zombou o garoto, nem um pouco intimidado pelo olhar venenoso que Sean lhe lançava.

Todos riram. Beth percebeu que realmente gostava da companhia daquelas pessoas, não era besteira acreditar que ainda existia bondade no mundo.

A porta do refeitório foi aberta novamente e a Greene sentiu seu humor evaporar quando Daryl entrou segurando Judy em seus braços – a menina tinha o cão de pelúcia em suas mãos, mas a boca estava no botão do colete dele.

Porque ele tinha que parecer tão malditamente fofo segurando um bebê – perguntou-se.

O lugar caiu no silencio e todos o encararam, o caipira amarrou a cara e andou em sua direção. Não parecia esta exatamente com raiva – já convivia com ele tempo o bastante para decifra os seus humores apenas observando seus olhos – só inquieto e irritado por estar recebendo toda aquela atenção.

Beth lembrou-se do seu comportamento de mais cedo e sentiu sua raiva – agora mesclada com constrangimento – vir à tona novamente. O que aquelas pessoas estavam pensando a seu respeito depois daquele show de drama?

Soltou um gemido envergonhado, como queria simplesmente desaparecer.

– O que estão olhando? – Daryl grunhiu.

Liza o encarou por mais 2 segundos e depois se mudou para o outro lado da mesa. O caipira por sua vez, rosnou e tomou o lugar ao lado de Beth.

Miranda deu um gole demorado em sua bebida – deixando bem claro em sua expressão o que achava dele – a Sra. Parks foi fazer algo muito importante na pia, mas Sean e Maurice permaneceram o encarando sem nenhum pudor.

– Cheguei – gritou Jessie, entrou na cozinha como um tufão, ofegante e com o rosto vermelho, trazia uma garrafa âmbar em cada mão – espero que ninguém tenha tirado a roupa ainda – sorriu, totalmente indiferente ao clima a sua volta.

– Porque faríamos isso? – Sean a encarou com curiosidade.

– Bem, o tio me disse que a Miranda estava querendo tomar um porre – explicou – e na minha cabeça, porres sempre são acompanhados de atitudes vergonhosas e divertidas.

Quantos porres você já tomou, Jessie? – foi a vez da morena perguntar.

– Mais do que qualquer um deveria – sorriu brilhantemente – então, o tio Ranger me deu essas duas belezuras – colocou na mesa as duas garrafas com um floreio – disse que a primeira bebida da Beth não deveria ser uma merda de pêssego, o que concordo plenamente.

A Greene sentiu mais que viu, quando Daryl enriquecer a menção do nome do vaqueiro.

– Beth não vai beber – declarou o caçador.

– Claro que vou – na verdade não estava muito ansiosa para fazer aquilo, mas o simples incentivo de estar contrariado aquele ogro tornou a idéia infinitamente mais atraente – você não manda em mim.

– Um cacete que não mando, você é... – ele parou, olhou para a platéia a sua volta e bufou– foda-se.

Tomando isso como um sinal de que havia ganhado a discussão, a adolescente pegou a primeira garrafa.

– Bem, Tequila é um pouco forte pra a primeira vez – disse Sean – eu começaria com o Uísque.

– Papo furado – resmungou um Daryl emburrado ao seu lado – é tudo bebida – e para a grande surpresa de todos, ele tirou o lacre da garrafa com o dente, abriu, encheu um copo ate quase a metade e colocou na frente da Greene – vamos lá.

Beth sentiu as mãos suarem e as passou pela calça, encarou os olhos azuis do caipira e suspirou – podia ver o aborrecimento, desafio e algo mais...

– Tudo bem – sua voz transparecia uma segurança que não sentia – não pode ser tão ruim.

Ouviram-se alguns sorrisos disfarçados pelo refeitório – o que não ajudou com sua coragem.

– Só beba de uma vez, menina.

Era tudo que precisava, a gentileza e compreensão de Daryl Dixon – pensou com ironia. Pegou o copo e deu um longo gole.

A coisa era muito amarga, mas quando bateu no seu estomago, foi como se uma labareda de fogo tivesse feito o caminho de volta. Ela tossiu um pouco e sentiu seus olhos lacrimejarem.

– Ate que não é tão ruim – mentiu.

– Espere ate amanhã, loirinha – rebateu Miranda.

– Verdade – lamentou Maurice.

– Então vamos fazer a ressaca valer apena – declarou Jessie, distribuindo um copo para cada um.

– Já não tenho mais idade pra isso, querida – recusou a Sra. Parks e acariciou a bochecha da ruiva com um sorriso maternal.

– Não vou beber – grunhiu o caipira, quando foi posto um copo a sua frente.

– Vamos lá, Daryl – Beth o incentivou – estamos seguros, só relaxe um pouco.

– Tenho que cuidar da Bravinha.

– Eu posso fazer isso, meu rapaz – a idosa se voluntariou.

A Greene esperou pela resposta ríspida e grossa do caçador – que provavelmente a deixaria constrangida. No entanto, contrariando todas as probabilidades, ele encarou a senhora por instantes intermináveis e depois ofereceu Judy a seus cuidados.

Beth não pode esconder a descrença, logo o choque foi superado e ela só quis abraçá-lo, porém, o conhecia bem o bastante para saber que não reagiria bem ao gesto – principalmente na frente de todas aquelas pessoas – por isso, só inclinou-se e deu um beijo em sua bochecha.

Foi uma coisa rápida – só sentiu a barba áspera sob seus lábios – mas foi o bastante para esquentar seu corpo – de uma forma que bebida nenhum poderia fazer – e borboletas flutuarem na sua barriga.

– Obrigado – sussurrou, quando os olhos questionadores dele a encararam.

Aquele poderia ter sido um pequeno gesto, no entanto, para Daryl era um grande passo.

Ele esta tentando. Pensou com um sorriso.

Todos observavam o casal, mas bastou um olhar da Greene para que desviassem o olhar para qualquer outra coisa. Só a Sra. Parks a encarava com uma expressão que dizia “eu disse”, que fez a adolescente sorrir.

– Podemos fazer uma brincadeira – sugeriu Jessie, quando todos já estavam com suas bebidas à mão – temos o Sean, Maurice e o Sr. Dixon – apontou cada um respectivamente – eu, Beth e Miranda.

– Eu também – Liza levantou a mão animadamente.

– Desculpa filhote, mas é uma brincadeira de adulto – Jessie atravessou a sala e deu um abraço na menina.

– Nunca posso fazer nada – rebateu a menina.

– Daqui a alguns anos, pirralha – disse Sean, bagunçou os cabelos cacheados de Liza com afeição.

– Então, o que vai ser? – perguntou Miranda.

– Nunca precisei de motivo pra ficar de fogo – grunhiu o caipira.

– Imagino – disse a morena com sarcasmo.

– Foda-se – vociferou Daryl, empertigou-se.

– Miranda... – advertiu Sean.

Ambos ficaram presos em uma luta de olhares assustadores, nenhum dos dois iria ceder.

– Podemos jogar “eu nunca” – sussurrou Beth.

– É uma ótima idéia – a ruiva se agarrou as suas palavras como um bote salva-vidas.

Todos tomaram um lugar em volta da mesa, às garrafas foram postas no centro.

– É um jogo de perguntas – a loira se inclinou para o caçador e sussurrou em seu ouvido, quando percebeu o seu olhar perdido – eu digo algo que nunca fiz e se tiver feito você bebe.

– Como você sabe disso? – ele a encarou.

Seus rostos estavam tão próximos que Beth poderia ver perfeitamente a borda azul mais clara de seus olhos penetrantes, as linhas bem definidas do seu rosto e percebeu – pela primeira vez – que Daryl era um homem bonito.

– Meus amigos brincavam – murmurou, piscou e desviou o olhar – eu só observava.

– Bem, eu vou ser a primeira – declarou Jessie – eu nunca... beijei uma menina.

Com um sorriso, Sean esvaziou seu copo. Logo veio, Daryl e Maurice – que encarou a irmã de forma incisiva.

– Desgraçado – guinchou Miranda e virou o liquido âmbar de uma vez.

– Quem diria... – zombou a ruiva.

– Era a faculdade e eu estava bêbada – disse a morena na defensiva – foi só um beijo.

– Isso vai ser mais divertido que pensei – disse Sean.

– Você pensa? – Miranda fez uma cara de espanto tão exagerada que ate Daryl sorriu, apenas um repuxar de lábio, mas Beth viu antes que desaparecesse.

– Sua vez – Maurice disse para ela.

– Ok – a adolescente pensou por um momento – eu nunca... atirei com uma besta.

Daryl rosnou ao seu lado antes de beber, porém, não disse nada.

– Droga – Jessie virou o copo – o tio Ranger me levava pra caçar todos os anos, ele tinha um amigo chamado Billy que gostava de bestas, dizia que armas eram barulhentas demais.

– Agora é você – Beth virou-se para o caipira.

– Eu passo.

– Não, não, garotão – disse Miranda, talvez um pouco influenciada pelo álcool – não é assim que funciona.

– Pergunta a primeira coisa que vier a sua cabeça – a Greene o incentivou.

– Nunca fui a uma festa do pijama – tento.

Dessa vez quem bebeu foi Beth, Miranda, Jessie e... Maurice. Todos o encaram a espera de uma explicação.

– Não foi bem uma festa do pijama – disse o garoto, visivelmente envergonhado.

– Só tinha meninas, Maurice – soltou sua irmã com um sorriso zombeteiro.

– Eu era uma criança.

– Não pelo que me lembro – Miranda sorriu maliciosamente – você tinha 13 anos.

– Como essa merda foi acontecer, garoto? – perguntou Sean, realmente interessado.

– Ele era apaixonado pela Elena Scott – quem respondeu foi à morena – só que ela o tratava como um “amigo especial” – fez sinal de aspas com os dedos.

– Cala a boca, Miranda – rebateu – o papai te pegou fumando maconha na banheira da vovó com o Pinkman disse o nome como se tivesse pronunciando “barata asquerosa” – nada será mais vergonhoso que isso.

– OH MEU DEUS – gritou Jessie, e caiu em uma gargalhada convulsiva.

– Era uma hidromassagem – a morena fulminava o irmão com os olhos – e era ervamedicinal.

– Pra que, a puberdade? – perguntou Maurice, com um sorriso diabólico.

E daí para frente às coisas só deslancharam – conforme o nível alcoólico dos participantes aumentava. Daryl fez algumas perguntas – pulando a parte da “historia por trás dos fatos” – no entanto, Beth o pegou sorrindo mais de uma vez com as babaquices do grupo.

Beth decidiu que gostava da sensação de estar embriagada.

Jessie só gargalhava. Maurice e Miranda, soltavam historias constrangedoras sobre o passado um do outro, entre as perguntas. Sean tinha um humor sarcástico que quase sempre lhe rendia algumas risadas. Liza sorria e participava com alguns comentários e a Sra. Parks só balançava Judith em seus braços.

O caçador ao seu lado parecia relaxado e envolvido na brincadeira... ate que ela estragou tudo.

– Eu nunca... fui presa – se arrependeu das palavras no momento que sentiu a mudança na postura de Daryl.

– É isso que pensa de mim? – ele rosnou, seus olhos azuis estavam indecifráveis, o que a assustou como o inferno.

– Bem, todo mundo já foi preso alguma vez – justificou a loira, desesperada – ate meu pai, por causa de uma multa de transito.

– Verdade – alguém concordou, mas Beth não se atreveu a desviar o olhar para saber quem era.

– Vou dar uma mijada.

O caipira levantou em um rompante e saiu da cozinha. Beth estremeceu quando ouviu as grandes portas de metal baterem com força.

– Ah droga – sussurrou exasperada, levantou-se para ir atrás dele, mas parou e encarou Judy no colo da Sra. Parks.

– Fique tranqüila, querida – disse a idosa – vá atrás dele, eu cuido dela – a bebê soltou um balbucio divertido.

– Tudo bem – concordou, porém, permaneceu no mesmo lugar – eu já volto.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Daryl entrou na cabana que compartilhada com Beth e bateu a porta atrás de si.

Vadia estúpida. Pensou com raiva.

Jogou a besta na mesa – uma ação que só evidenciava o quanto estava descontrolado – e marchou ate o banheiro.

Durante todo o momento as palavras doces da adolescente – ditas de forma leve e despreocupada, quase divertida – perfuraram a sua mente. Quem ela achava que era para fazer algum tipo de julgamento a seu respeito? Não o conhecia.

Era como todos os outros que pensavam que Daryl Dixon não passava de um caipira burro.

E não é? Uma voz muito parecida com a do seu pai, perguntou em sua cabeça.

Sim, ele era. A porra de um caipira sujo que queria trepar com uma menina que nem tinha idade o suficiente para beber ainda.

O caçador rosnou e voltou para a sala.

Sentia-se desconfortável em sua própria pele – como se ela estivesse esticada demais sobre seus ossos. A casa era muito pequena, e os moves no seu caminho só lhe davam vontade de chutá-los ate restar apenas madeira e sucata. Mas se controlou.

A porta se abriu e uma Beth despenteada e ofegante entrou – o rosto vermelhos como se tivesse acabado de correr uma maratona. Daryl serrou os punhos ao lado do corpo e estreitou os olhos.

– Sinto muito – a garota teve a audácia de dizer – foi só uma brincadeira, Daryl.

– É isso que pensa de mim? – rosnou, seus olhos não escondiam a raiva reprimida.

Ela recuou e arregalou aqueles grandes olhos de corça. Ele desejou que pudesse ir para outro lugar – longe de Beth – para arrefecer o seu mau gênio, porque tudo que queria fazer era sacudi-la. No entanto, havia dito a Jessie que nunca encostaria um dedo nela, e iria manter a sua palavra.

– Não... – ela rebateu, com uma pontada de hesitação que só o irritou mais.

O que tinha começado com um simples jogo iria terminar com uma luta de gritos e acusações.

– O que você quer de mim, menina? – seu rosto estava obscurecido pela fúria.

– Eu quero que você pare de agir como se não desse a mínima pra nada – as palavras saíram em uma torrente raivosa – como se nenhuma das pessoas que perdemos significasse nada pra você – sua voz aumentou desafiadoramente, seus olhos como um relâmpago – é besteira!

– É isso que você acha? – por mais que não quisesse admitir, as palavras dela machucavam, e isso só fez seu temperamento explodir, pois a única maneira que conhecia de lidar com a dor era embrulhando-a com raiva, forte e incandescente.

Beth deixou uma lagrima escapar e recuou quando ele avançou mais um passo em sua direção. Uma parte do caçador – a que já tinha sido chutado o bastante em sua vida – sentiu-se satisfeito pela reação dela, porém, o resto esfriou com nojo de si mesmo.

– Isso é o que sei – ela o encarou, estava tremula e pálida, mas a obstinação e teimosia daqueles olhos azuis era uma coisa a se respeitar.

– Você não sabe de nada – Gritou Daryl.

– Sei que quando você me olha só vê outra menina morta – ela secou as lagrimas com a manga esganiçada do casaco – eu não sou Michonne, eu não sou Carol, eu não sou Maggiesua voz vacilou no nome da irmã.

Mas Beth ficou firme, de cabeça erguida e o encarou com olhos em chamas. Daryl hesitou, as palavras dela foram como uma faca torcendo em seu peito.

– Eu sobrevivi e você não consegue entender, porque não sou como você ou eles – vociferou – mas eu fiz e você não vai me tratar como lixo só porque esta com medo!

Medo! A palavra o acertou como um tapa na cara. Daryl avançou para ela novamente, raiva predatória deslizou para fora da sua boca como palavras que não soaram tão verdadeiras como esperava.

Não tenho medo de nada!

Beth olhou para ele demoradamente – já não parecia tão furiosa, mas... triste.

– Eu me lembro – disse – quando aquela menina saiu do celeiro depois da minha mãe – seus olhos estavam secos – você era igual a mim, por trás da sujeira e selvageria, você era... frágil – levantou a mão como se quisesse tocá-lo, mas deixou que ela caísse ao lado do corpo – agora Deus me livre se alguém chegar muito perto.

Daryl tentou em vão manter a parede de raiva entre eles.

– Muito perto, hein – perguntou com sarcasmo – você sabe tudo sobre isso, perdeu dois namorados e não derramou uma lagrima!

Eu não choro mais, Daryl. Ela havia lhe dito.

Manter a bunda de Zach segura era a sua responsabilidade e não ter conseguido era mais uma culpa que iria carregar para o seu maldito tumulo. No entanto, tinha feito a coisa certa ao ir dar a noticia para a garota. Ficou aliviado quando ela não tinha chorado, mas agora era diferente.

Tudo que ele queria era vê-la desmanchando-se em soluços miseráveis.

– Você perdeu a sua família inteira, mas tudo que faz é agir como se a porra do mundo não tivesse acabado e encher a cara com uma cadela de faculdade!

– Você não entende.

– Não, você não entende – os sentimentos dele estavam um desastre, sentia uma dor insuportável que não queimava a sua carne, mas em sua alma – todos que conhecemos estãomortos!

Era difícil respirar, seu coração batia forte em seu peito – como se trabalhasse em dobro para conter a torrente de emoção que crescia cada vez mais. Seus olhos nublaram, mas o caçador apenas os serrou.

Não iria chorar como um maldito moleque, tinha mais bolas que isso.

– Você não sabe! – ela gritou.

E lá estava à esperança que tanto o irritava – mas que agora só tinha o poder de machucá-lo. Beth realmente acreditava no que dizia, havia se agarrado a essa fé nos piores momentos da prisão e ate mesmo no seu fim.

Podemos nunca mais encontrar o Rick gritou o nome como uma oração, o homem era o Sal na sua ferida, pois ele era seu irmão e não suportava ter-lo perdido – ou a Maggie – o soluçar entrecortado dela não lhe parou; tinha finalmente conseguido fazer-la chorar, mas aquela porra queimava, porque também se sentia quebrar.

– Daryl, pare – não foi um pedido, mas uma suplica.

– Não – já não conseguia mais suportar, não sabia como lidar com aquela merda – o Governador veio ate as nossas portas – nem percebeu quando as lagrimas começaram a rolar por seu rosto – se eu tivesse procurado mais... se não tivesse desistido...

O rosto de cada um passou por sua cabeça; Carol, Rick, Carl, Maggie, Glenn, Hershel, Tyreese, Sasha e tantos outros.

– Seu pai... talvez... – choramingou como um animal ferido – talvez eu pudesse ter feito alguma coisa.

Seus joelhos vacilaram – e teria caído no chão se não fosse pelo sofá as suas costas – passou a mão pelo rosto, em um esforço inútil de conter a tempestade emocional. O peito se contraiu em um suspiro convulsivo que saiu como um imenso soluço angustiante.

Daryl não tinha consciência de muita coisa, apenas os braços quentes e delicados de Beth a sua volta. Mas ele não fez nada alem de soluçar – forte e violentamente – seu corpo tremia dos pés a cabeça.

Ao longe, ouviu os sussurros suaves e calmos da Greene.

– Vai ficar tudo bem, Daryl – o apertou mais – eu estou aqui.

Essas simples palavras tiveram um efeito assustador sobre ele. O caçador passou os braços em volta da cintura fina da garota e enterrou seu rosto no peito dela, numa atitude desamparada.

E pela primeira vez na sua vida, ele se permitiu ser consolado.

Deixou-se inebriar com o cheiro familiar da sua Beth, seu toque quente e o conforto que suas palavras lhe prometiam.

Mesmo que jamais fosse admitir para ninguém, Daryl precisava dela de uma forma que nunca imaginou possível – não para ele.

Isso era assustador e irremediavelmente incontrolável.


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Notas finais do capítulo

Explicação do Deus wikipedia: Mad Max é um filme australiano de 1979 estrelado por Mel Gibson e dirigido por George Miller. É um filme de ação com uma narrativa baseada no gênero faroeste e elementos de ficção científica. Gibson estrela como Max Rockatansky, um policial rodoviário em uma Austrália infestada por gangues de motociclistas.

Então, essa foi a minha adaptação de “eu nunca”
O que acharam? Ficou exagerado?

Ah, e para aqueles que estavam esperando beijos quentes e romance: calma, esta a caminho. E pode apostar que o nosso caipira tem pegada...
Rsrsrsrsrssss....
Ate!