A Protegida escrita por Rosa Negra


Capítulo 8
Capítulo Oito – Terceiro Round


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se como eu!!!



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Levantei-me sobre o banco da arquibancada em que eu me alojara para assistir o jogo ao lado do ruivo que fora arrastado minutos antes por alguns garotos que se apresentaram como seus amigos de universidade e mais alguns que também eram do time de basquete que, por acaso, havia ouvido algo sobre Castiel já ter feito parte, mas no momento ser um mal-agradecido que só se importava com o trabalho e se esquecera dos bons tempos.

O ruivo mandou que eu aguardasse e havia sussurrado algo sobre estar de olho em mim e que eu não precisava me preocupar, mas eu já esperava mais de vinte minutos sem avistar uma cabeleira vermelha.

Se eu estava nervosa sem um real motivo? Para quem havia visto o mau de perto, ficar nervosa por estar sozinha sem quem me protegesse não era algo a que eu me culpasse e nem tentaria tal.

Desci da cadeira pronta para me sentar novamente e preparando um argumento para culpar Castiel por sua demora.

Bati os dedos na coxa respirando profundamente e fechando os olhos.

— Esperando alguém senhorita?

Olhei para cima incerta se o rapaz de cabelos meio loiros e meio castanhos se referia a mim. Seu sorriso extremamente branco brilhava e seus olhos tão verdes quanto às folhas de um coqueiro analisavam-me, talvez se perguntando o que eu ainda fazia ali enquanto a quadra se esvaziava e os torcedores marchavam para as saídas e as lanchonetes se lotavam de adolescentes com hormônios a flor da pele.

Assenti e ele sentou-se do meu lado.

— É um garoto? – Perguntou enquanto cruzava os braços musculosos vendo-me confirmar. Coçou o queixo que continha uma coleção de pêlos ralos de um castanho bastante claro. – Que tipo de homem deixa uma garota bonita esperar durante tanto tempo?

— Estava me observando? – perguntei inserta sobre continuar ali e com o receio apenas aumentando junto à desconfiança.

— É. Hoje eu fui encarregado de fechar o lugar. – Sorriu fraco enquanto eu corava pela vergonha de ter permanecido ali o atrapalhando durante tanto tempo.

— Desculpe... – Levantei-me certa de que estava escarlate.

— Dakota, mas pode me chamar de Dake e não precisa se desculpar, eu ainda acho que o cara que deixa uma garota como você esperando tanto tempo não conhece o lado bom da vida.

— O lado bom da vida? – Frisei os lábios ao perceber o tom de flerte enquanto virava-me para trás percebendo-o me acompanhar na caminhada rumo a uma das lanchonetes em que eu havia decidido passar o tempo esperando Castiel.

— É. Sabe, se ele fosse inteligente, preferiria curtir com você.

— Esse é o lado bom da vida? – O vi passar o braço sobre meu ombro e me perguntei se ele havia bebido, estava muito na seca – o que era improvável visto que ele era muito bonito – ou era assim com todas as garotas. – Estar comigo é o lado bom da vida?

— Talvez uma parte do lado bom. – Piscou sorrindo. – Eu nem sei o seu nome.

— Susan. – Menti estranhando como o nome falso soava em minha voz; era uma mentira dificultosa para se adequar e ainda assim muito fácil de fazer.

— Hm, Susan, você poderia me dar seu número.

— Você é sempre assim com as garotas? – Despejei minha curiosidade tentando desviar-me do pedido lembrando-me novamente que o ruivo havia pegado meu celular e dizimado o chip para a minha total aporrinhação.

— Não, porém hoje eu estou abrindo especialmente uma exceção pra você.

E que exceção.

Pensei mirando os músculos sob a camisa branca bastante justa. Eu sempre fora fã de homens que tivessem algo a mais para eu agarrar, principalmente quando fosse bunda.

Balancei a cabeça sorrindo e tentando desviar-me dos pensamentos maliciosos que especialmente durante estes dias estavam se fazendo mais presentes do que o habitual. Estava me transformando em uma pervertida e tinha total conhecimento de que um dia este meu lado podia me trair em situações inapropriadas como agora ao ser flagrada olhando para o peitoral do rapaz que me transferia um sorriso como o de um homem que leva mulheres para curtir noites baladeiras e depois as faz conhecer sua a cama. Se eu permitisse tal e sumisse do radar de Castiel, eu tinha a certeza de que faria dele um homem alienado. Seria engraçado ver sua cara depois de me achar, porém é claro que eu não iria para a cama com Dake, se fosse de seu feitio transar com as garotas após conhecê-las, eu apenas curtiria o máximo que pudesse, beberia apenas para começar a noite, pois tinha medo de que perdesse a consciência e algo ruim acontecesse. Era uma idéia terrivelmente louca, mas valeria apena apenas para ver como ficaria o Cerejinha? Talvez.

Mas será que Dakota era mesmo desse tipo ou era apenas o que parecia?

Ri percebendo sua atenção cair sobre mim quando passávamos pelos portões e ele se afastou, para fecha-los.

— Então, Dakota – eu preferi manter seu nome para transmitir um ar mais formal, pois havia acabado de conhece-lo – as garotas que você não abre uma exceção, quais são essas?

Ele me olhou ligeiramente interessado voltando a marchar devagar comigo.

— As fúteis, as jogadas, as que não têm coisas interessantes para falar, aquelas do tipo burrinhas que se preocupam em passar mais batom na tentativa de atrair a minha atenção para... – Ele mirou-me e logo sorriu aquele sorriso brilhante. – Garotas que não são como você. Flertou novamente.

— Você nem me conhece. – Rebati tentando não soar arrogante.

— Nós poderíamos, já que você está sozinha; poderíamos tomar umas margaritas ali e então você me demonstra se a minha hipótese está correta, ou não. – Apontou para um bar fechado onde no letreiro neon roxo se lia: Sweet Amoris Night. - O que acha?

Dei-lhe um sorriso me perguntando em meus pensamentos mais profundos o que aquele cara havia visto em mim, afinal? Para mim, eu era só eu e mais nada. Mas isto era o suficiente? Lembranças da tarde na casa abandonada me atraíram para o momento em que Castiel me dissera que eu era bonita, mas talvez eu não pensasse assim; e isto era porque, por mais que eu tentasse, nunca conseguiria esquecer aquele dia por completo. Era como uma montanha que nunca se curvava, por mais forte que o vento soprasse, por mais idiota que o ruivo fosse. Em fim, um orgulho não antes provado cresceu em mim, bem em meu peio esquerdo, onde o coração palpitava normalmente, embora às vezes acelerasse um pouco pelo constrangimento de estar andando com um garoto que acabara de conhecer, contudo meu animal interior parecia apenas notar a boa forma do rapaz e sua, vamos dizer: saúde.

E que saúde, hm?!

— Tudo bem. – Pus a idéia de esperar Castiel na lanchonete para escanteio.

Balancei novamente a cabeça... Que mente maliciosa!

Tentei espantar novamente os pensamentos perversos da minha cabeça e desta vez, obtive maior sucesso.

Entramos no lugar que era preenchido de pessoas na pista de dança, escuro; iluminado apenas pelas luzes coloridas que provinham do canto das paredes, algumas salas Vips e o bar, para onde o meio loiro me puxou. O lugar cheirava especialmente a cerveja e o chão era grudento, talvez pelo fato das pessoas que dançavam carregarem copos cheios e por conta disso deixassem que derramasse o liquido alcoólico. Após eu perceber o tipo de lugar em que estávamos apenas duas alternativas me vieram à mente: este ser o único lugar que vendia margaritas - o que eu torcia – ou ele era do tipo de homem que eu havia pensado, embora se mostrasse bastante gentil comigo durante todo o caminho, apesar disso o modo como ele me tratara da primeira vez poderia alterar-se a partir de agora, como a minha opinião por Nathaniel havia sido transformada no mesmo dia, mas horas depois.

Por que ele havia me trazido aqui mesmo? A sim, margarita.

— Qual a sua idade mesmo? – Ele perguntou ao pé do meu ouvido quando chegou nossa vez na fila do bar tendo de gritar por causa da música eletrônica muito alta.

— Vinte e um. – Respondi-lhe com a idade que estava em meu falso documento.

— Seis anos mais velha do que eu achava.

E com esse seu ultimo comentário minhas expectativas sobre ele ser do tipo ruim aumentaram mais que consideravelmente.

Eu não gostava deste tipo de lugar e não me concentrava no que acontecia a minha volta por conta do volume da música. Tudo ali era aborrecedor; dês da quantidade de pessoas bêbadas dançando sem vergonha por esfregarem os corpos até a carrancuda expressão do barman que me observava de modo suspeito enquanto eu pegava a minha taça gigantesca e bebericava no canudinho sentindo a bebida cítrica queimar levemente minha garganta não habituada a álcool, mas que também gostou da sensação que eu logo fui me acostumando e me esquecendo.

— Vem. – Dake, após pagar pela bebida, puxou-me pelo salão até uma mesa que havia sido segundos antes, desabitada por um grupo de garotas.

— O que você quer saber sobre mim mesmo?

— Primeiro, o seu bom gosto.

— Então manda. – Brinquei sorrindo e propositalmente jogando o canudo fora para logo passar a língua pela borda do copo. Estava me esforçando para parecer sensual, porém de modo que parecesse que eu fazia sem quaisquer resquícios de maldade. Talvez tenha funcionado, pois ele me olhou mordendo levemente os lábios, começando o nosso jogo silencioso de quem poderia ser mais sensual ou quem cairia primeiro na armadilha.

— Que tipo de música você prefere?

— Barroca.

— Então você é do tipo que gosta das coisas na linha; você é do tipo de menina certinha?

— Pense como quiser. Mas eu não acho que o meu gosto por música vá me definir. – Bebi mais alguns goles. – E se eu te dissesse que também gosto de rock e metálica?

Semicerrou os olhos e apoiou os cotovelos na mesa.

— É mesmo? Cite três bandas que você acha que são as melhores.

— Isso é algum dever de casa? – Ele deu uma risada sonoramente grave enquanto passava os braços por detrás da cabeça e esticava as pernas fazendo com que seus pés roçassem aos meus. – Hm, apenas três... Led Zeppelin, The Beatles e...

— Não sabe uma terceira? – Perguntou com seu típico sorriso enquanto se ajeitava melhor na cadeira cruzando os braços. – Bem...

— Judas Priest. – Respondi o interrompendo sem pensar direito visto que ele me pressionava.

— São bandas legais, mas faltou AC/DC.

— Apenas minha opinião. – Levantei as mãos num gesto de inocência percebendo que minha bebida e a de Dakota já haviam terminado.

— Eu vou comprar mais bebida pra gente. Espere-me aqui. – Confirmei enquanto ele se levantava e depois logo sumia enquanto se espremia na multidão de pessoas na pista de dança.

E finalmente, sem nada a me entreter, pude perceber a musica que estava a tocar. Era algo sobre uma mulher e um carro, uma música de batidas mais leves e ritmadas fazia com que as garotas rebolassem mais sensualmente e que alguns rapazes tarados passassem por trás apenas para se aproveitar e ainda tinham a desculpa de que o salão estava cheio. O pior era que elas aparentavam gostar, como se sentissem desejadas, orgulhosas, mas não mais que eu.

Hoje eu acabaria com as especulações de Castiel sobre eu ser uma criancinha, mas e se... E se em meu interior eu apenas quisesse atrair sua atenção? Por que eu faria isso? O que eu estava fazendo em uma boate com um cara que eu havia conhecido a pouco mais de meia hora? Agora, eu me sentia realmente infantil com a minha não intencionada falta de escrúpulos. Meu coração apertou-se enquanto eu olhava para a multidão dançante me perguntando se Dakota voltaria, se eu corria riscos ou se Castiel havia me deixado sozinha com aqueles assassinos me perseguindo. Eu estava entrando em pânico como uma menina sozinha em um ônibus que não tem a certeza de onde saltar. Eu estava me perdendo em minhas alucinações quando senti um liquido enregelado escorrer pelas minhas costas causando-me espasmos e um grito.

— O que?!

Levantei-me assustada sacudindo a blusa para tirar as pedrinhas de gelo da mesma, percebendo a contragosto que a bebida era azulada e que mancharia minha blusa antes completamente branca; a minha blusa nova que minha mãe havia me dado para que eu vestisse no natal.

Girei não estando pronta o suficiente para ver quem realmente fora o louco por jogar a bebida em minha cabeça, tão calculadamente que não poderia ser outra coisa se não proposital.

Ela estava com seus cabelos dourados mais pálidos que o de costume, assim como sua tez. Trajava um vestido vermelho que deixava suas curvas bem a mostra e saltos que fazia seu andar de certa forma mais voluptuoso. Encarava-me de forma decidida e mordaz com um sorriso ganancioso e doentio, o que me fez perguntar se ela estaria bêbada. Percebi que logo atrás dela havia mais duas garotas sorrindo entre si e esquadrinhando o local com olhares de abutre.

— Charlote, isso não é uma boa idéia.

— Não se meta isso é coisa da Ambre e não nossa!

Elas afastaram-se para os cantos tendo a morena com evidente receio sobre fazer algo que eu nutria dúvidas, contudo tinha uma suposição que palpitava mais forte entre as outras: Ambre queria briga, mas obviamente eu não faria como ela gostaria; virei-me e caminhei rumo à multidão.

Qual era o problema daquela garota, por fim? Eu não tinha a mínima idéia do por que nutrir tanta raiva por uma pessoa que mal conhecia que era injustamente eu mesma.

Mas ela não deixou que eu saísse, simplesmente segurou meu ombro direito e forçou para que eu virasse. O soco veio tão forte abaixo do olho que eu caí e com um baque oco, senti meus joelhos chocarem-se contra o chão fedendo a cerveja.

Uma roda de pessoas assustadas e entusiasmadas formou-se ao nosso redor. Primeiro em silencio e depois algumas eufóricas gritando: briga! Briga! Briga!

— Isso foi por você roubar o meu Castiel! – Indicou a si mesma com a mão no peito sendo energizada pelos gritinhos de alguns garotos que eram algo como: ui! Ui!

Talvez mais tarde eu pudesse entender sua paixão não correspondida, porém no momento tudo o que eu via era vermelho vivo. Podia sentir o sangue quente escorrendo de um corte debaixo do olho direito que eu tinha certeza estar muito inchado; isto apenas aumentava meu nível de fúria, e minha mente momentaneamente imperativa, começava a imaginar a situação como um jogo de vídeo game ao qual ela havia vencido o primeiro round com apenas um HADOUSHORYUKEN!

Levantei-me erguendo o rosto decidida a espanca-la.

— Vadia, eu vou fazer você sangrar feito um porco furado! – Não me preocupei em como o meu rugido havia soado RIDICULO, apenas avancei para cima dela na mesma posição que havia visto num jogo de MMA.

Ela desviou do primeiro soco e desfrutei de sua distração para dar-lhe uma rasteira, o que a fez cair como uma jaca madura. Subi em cima de sua barriga recebendo logo em seguida uma forte pancada de seu joelho nas costas. Sempre que via um vídeo de briga entre garotas, achava definitivamente ridícula a forma como uma puxava o cabelo da outra, mas juro que na hora da euforia é realmente impossível pensar de forma calculada e além do mais, Ambre tinha um cabelo incrivelmente longo. Sendo assim, não economizei forças ao descabelá-la para logo em seguida, descobrir alguns pedaços de aplique. 

A gritaria das pessoas continuava incentivando a nós duas. Meu olho estava quase se fechando pelo inchaço e agora que a luta havia dado um trégua, podia sentir melhor o pulsar e a palpitação no machucado. Limpei as mãos de suor no jeans e sorri para intimidar ao ver a menina levantar-se.

Ela se atirou em cima de mim e como que por extinto, desviei de seu punho que roçou em minha orelha esquerda e lhe atingi um golpe chute na barriga. Eu era rápida e havia utilizado disso, naquele momento. 

— O que você pensa que está fazendo? – Não precisava olhar para trás para saber que Castiel havia me encontrado e que teríamos uma longa noitada de discursão.

— Vencendo o terceiro round.

Após minhas palavras, ajustou mais o aperto envolvendo minha cintura com seu braço e me arrastando para a saída onde recebi uma lufada de ar gélido que me fez encolher-me e sentir que meu machucado ardia.

— Sua doente. – Me levava apressado pelas calçadas em direção ao lugar que havia deixado seu carro estacionado. – Não posso te deixar uma hora sozinha que você já arranja brigas.

Estava me olhando como se eu fosse um alienígena.

— Não arranjei nada. – Resmunguei. – Ela que veio pra cima de mim dizendo que eu tinha roubado o “meu Castiel”.

Ele hesitou antes de rir.

— Então você ficou com ciúmes e agrediu ela daquele jeito? Sinceramente, acho que o Nathaniel vai ficar desapontado.

— Ci-ciúmes?


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Notas finais do capítulo

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