A Protegida escrita por Rosa Negra


Capítulo 9
Capítulo Nove - Em busca da chave




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A carteira permanecia em minhas mãos. Eu a olhava atentamente me perguntando se seria certo que eu a abrisse para fuxicar o que havia dentro. Perguntava-me também como encontraria Rosalya se eu nem ao menos a conhecia, ou se ela acharia que eu havia roubado a carteira. Nestes dias que eu havia permanecido com a carteira em minha posse, nunca havia me dado ao trabalho, ou me perguntado o que havia nela, mas após mexer no fundo da minha gaveta para pegar o meu diário, eu havia a encontrado logo abaixo e a curiosidade me atingiu finalmente.

A noite estava costumeiramente fria, fazendo com que os machucados da briga ficassem dormentes e nem mesmo o casacão verde era capaz de me confortar. Meu nariz vermelho, meu corpo quente e minha indisposição denunciavam que eu não estava me sentindo bem e a falta de apetite era presente. Deixei a carteira de lado, jogando-a na cama e me espreguicei. Esticando os braços com as mãos unidas, pude ouvir um estalo que eu não sabia dizer de onde veio, talvez entre os ombros e o pescoço ou talvez nas costas.

Deitei-me na cama em posição fetal lembrando-me das outras vezes em que estive resfriada desta maneira. Quando era criança, minha avó me obrigava a comer a horrível sopa de legume, o xarope doce, o remédio antialérgico, as nebulizações constantes quando as crises de bronquite eram frequentes, lembrei-me até mesmo de quando o irmão mais novo de Matthew ficara doente. Os pais deles estavam em viagens de negócios empresariais. Kentin era alguns anos mais novo que eu e na época, tinha treze anos. Mas o que ele pensava de mim agora, e a minha família?

Peguei a toalhinha ao meu lado e assuei.

Ri de algumas lembranças, como quando meu pai fazia gracinhas para que risse e abrisse a boca para comer.

Antes eu reclamava frequentemente da vida que tinha, porém eu sempre tive o suficiente para ser feliz ao lado da minha família. Talvez eu estivesse agora, sendo castigada por conta da minha ignorância. Talvez fosse melhor que eu acabasse logo com minha vida, do que sentir-me definhar com o tempo, pois me acabando com o tempo era uma dor lenta e absurdamente grande.

Limpei as lágrimas que escorriam na horizontal sobre o meu nariz.

Se eu acabasse com isso agora, quiçá toda a dor se esvaísse. Porém eu jamais seria capaz de fazê-lo, por causa da promessa interna que eu fizera há algum tempo atrás. Promessa esta que eu nunca a quebraria. Eu sobreviveria pela minha família e pelo Match.

Se eu ao menos pudesse dizer a minha mãe que eu estava bem, que os amava e que não fora minha culpa, me sentiria muito melhor. Teria um pouco do peso que jazia sobre minha cabeça, aliviado.

Respirei fundo pela boca e sentei-me pondo-me a pensar. Seria arriscado ligar para eles, mesmo que eu usasse outro chip. Além do mais, os telefones de todos podiam estar grampeados, mas se eu nunca tentasse, nunca conseguiria, ou me livraria de mais problemas. Se tentasse, poderia me dar muito mal, ou conseguir conversar com a minha mãe. Seria egoísmo ou burrice arriscar? Eu nunca saberia se não arriscasse.

Se eu fosse fazê-lo precisaria entrar no quarto de Castiel onde o telefone estava, mas era o quarto que ele me proibira de entrar. O quarto que eu nutria uma grande curiosidade de conhecê-lo interiormente. Seria eu uma Pandora dos tempos modernos?

Levantei-me ainda me sentindo indisposta, porém decidida. Como eu faria para adentrar no quarto onde ele dormia para roubar a chave do outro cômodo, sem ser vista? Talvez quando ele estivesse distraído na sala, no banheiro ou fumando.

...

Era por volta da meia noite quando Castiel saiu de seu quarto e eu o espiando pela fresta da porta, pude perceber que ele estava prestes a atender a uma ligação. Ele virou o corredor e foi em direção à sala.

Este era o momento perfeito para tentar furtar a chave do quarto ao qual eu era proibida de entrar. Quais eram as probabilidades de a chave estar guardada no quarto? Eu diria que eram médias as minhas expectativas que estivessem lá, mas eu precisava ter certeza estivesse lá, ou não.

Calcei minhas meias para que não fizesse muito barulho ao andar. Eu apenas esperava que isto funcionasse. Girei a maçaneta da porta do meu quarto vagarosamente agradecendo que as portas da casa do ruivo não gemiam quando abertas como as do meu antigo apartamento.

Como um piscar de olhos, a porta do quarto de Castiel já estava sendo fechada vagarosamente para que não fizesse estardalhaço e alertasse o dono do aposento. O quarto tinha o mesmo cheiro que o ruivo e estava frio por causa da janela que permanecia aberta dando vazão à luz dos postes do estacionamento que podia ser visto desta parte do apartamento, e se não fosse por elas, o quarto estaria em completa escuridão.

Eu não tinha tempo para ficar observando o quarto, por isso pus-me a procurar pela chave. Comecei pelas gavetas de cuecas, lenços, até mesmo no próprio guarda-roupa e, para minha surpresa, Castiel possuía muitos ternos, calças negras e blusas sociais. Também tinha o lado vago dos casacos de couro, os jeans e muito mais. Era tudo perfeitamente organizado.

Havia mais duas portas no aposento. A primeira, ao lado esquerdo da cama – que se localizava recostada à parede no centro quarto – era o banheiro, e a segunda, do lado direito, era apenas um pequeno cômodo usado para guardar casacos (o qual eu não sabia o nome que era dado).

Mas eu não sabia em que lugar deveria procurar e chave, pois já havia averiguado até mesmo embaixo da cama, no banheiro e em todas as roupas que possuíam bolsos.

Eu precisava voltar para o meu quarto e pensar novamente em qual lugar Castiel poderia ter guardado a chave prateada. Desejava internamente que ele não a mantivesse consigo mesmo.

Estava na porta com a mão na maçaneta, pronta para sair do quarto do ruivo. Mas como eu era estúpida! Por que não saí quando tive a chance?

Agora, Castiel vinha pelo corredor ainda conversando ao celular.

— Tudo bem.

O que eu faria? Pânico deduziria tudo o que eu estava sentindo no momento. Eu precisava pensar em algo a fazer, mas eu tinha a plena certeza de que nenhuma desculpa poderia engana-lo e mentir para ele era uma das coisas mais difíceis a se fazer, principalmente quando ele estivesse me encarando de modo superior e interrogativo. O nervosismo seria o primeiro fator e me entregar.

Então, como uma luz em minha mente, a única idéia que parecia racional apareceu. Eu me esconderia no cômodo usado para guardar casacos.

E lá estava eu, fechando a porta meio segundo antes de Castiel adentrar no quarto.

Castiel permanecia como sempre. O habitual figurino de usar em casa em tempos frios: um conjunto de moletom preto fora desta vez o escolhido, como de costume.

— Amanhã está bom pra você? – Castiel perguntou enquanto abria o armário e de lá tirava uma toalha preta com estampas circulares brancas. – Não. – Sem despedir-se, abandonou o aparelho em cima de seu criado mundo e a toalha jogou em cima da cama.

Senti-me ligeiramente envergonhada pelo o que estava fazendo, espiando pelas frestas tudo o que Castiel fazia. Os seus costumes eram um tanto diferentes do que eu chamaria de normal. O quarto dele permanecia todos os momentos com as luzes apagadas, aquele lindo lustre me causava medo, principalmente de que caísse na cabeça do ruivo.

Ele estava prestes a tomar banho, porém para meu azar ou sorte, um dos costumes do dono do quarto era tirar a roupa fora do banheiro.

Após ele retirar o casaco do moletom e ficar apenas com as calças, algo peculiar em seu cordão preto me chamou atenção. Juntamente com uma cruz preta, a chave jazia pendura no pescoço de Castiel.

Ele inclinou-se para frente para que se mantivesse melhor estruturado ao levantar sua perna para tirar mais facilmente a calça, que embolada com a cueca, puxou rapidamente para baixo.

Senti minha face corar instantaneamente, enquanto me perguntava por que estava o olhando, pois se eu quisesse, poderia apenas fechar os olhos ou tampa-los, porém a curiosidade sempre fora um defeito quando surgida em mim.

Os momentos dele nu a minha frente foram rápidos, e a oportunidade de sair do quarto apareceu quando Castiel entrou no banheiro, pronto para tomar seu banho.

Entrei no meu quarto como um gato: silenciosa, rápida e atenta a qualquer ruído.

O restante da noite não fora como eu havia planejado. Não estava com a chave, ainda tinha que arquitetar um plano para roubar a chave que estava pendurada no pescoço de Castiel e tinha que planejar como a devolveria depois.

E embora todos os problemas preenchessem minha cabeça em busca de uma solução, também tinha o maior problema que tiraria todo o meu sono: como me esqueceria da cena que havia presenciado a poucos minutos? Como me esqueceria de Castiel nu?


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