A Protegida escrita por Rosa Negra


Capítulo 6
Capítulo Seis – Hipnose Momentânea


Notas iniciais do capítulo

PREPAREM-SE, ESTE CAPÍTULO... vão ter que ler para saber e depois digam o que acharam e se eu devo continuar com certas coisas, talvez vocês entendam quando lerem. Boa leitura!
RECOMENDAÇÃO: SEGUREM SEUS FORNINHOS!!



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Estava ficando com sono, recostada naquela parede escura que cheirava a mofo. Os móveis jaziam cobertos por plásticos transparentes, mas que devido às densas camadas do que era para protegê-los e conservá-los por mais tempo, eu não podia ver suas cores, porém tinha a certeza de que o sofá e a poltrona eram claros e estampados com flores em tom carmim.

A chuva que antes caía fina, apenas uma garoa, agora se firmava prepotente batendo contra o chão do lado de fora e também na janela; o que me fez temer de que certa hora ela pudesse rachar por conta dos pequenos, contudo fortes pedaços de gelo que acompanhava a tempestade a cair.

Meus olhos voltaram a pesar, fazendo com que cada piscada se tornasse pesada e dificultoso abrir novamente os olhos. Recostei-me de forma mais aconchegante, todavia ainda incomoda, pois o chão era mais duro e meu corpo mais molengo e facilmente alvo de sonhos obscuros e estranhos – que eu esqueceria facilmente – numa casa do mesmo porte e demais amedrontadora.

– Emilie. – Castiel chamou-me e eu fui capaz apenas de lhe dar um grunhido meio resmungo. Quiçá ele entendesse a língua dos sonâmbulos, entendesse que eu estava exausta demais para me mover ou dar atenção a qualquer coisa que ele resolvesse fazer. – Emilie, não durma.

Espreguicei-me esticando os braços e soltando uma lufada de ar quente pela boca ressecada. Com muito esforço abri os olhos mirando o ruivo agachado a minha frente sustentando uma expressão séria e olhando-me com seus olhos transparentes e brilhantes, mas também uma grande muralha de concreto e aço. Eu soube; só poderia descobrir coisas sobre ele se o próprio quisesse que eu soubesse.

Passou um dos braços pelos meus ombros e o outro por debaixo de meus joelhos flexionados. Castiel havia me carregado para o sofá e lá se sentara depositando meu corpo no mesmo e minha cabeça em suas pernas.

– Obrigada. – Murmurei fechando os olhos, mas os abrindo semicerrados logo em seguida, ciente do calor abdominal e o cheiro forte de erva doce que o ruivo possuía.

– Tente não dormir. – Ordenou a tarefa mais fácil e viável para mim naquele momento.

– Já conseguiu ligar para o rebocador?

Bufou pelo nariz largando o celular em cima de mim e cruzando os dois braços atrás da cabeça.

– Está sem sinal. – Respondeu-me permanecendo quieto.

Mexi-me desconfortavelmente ouvindo o plástico sob meu corpo ser amassado.

– E o que vamos fazer agora?

– Esperar que a tempestade passe, o sinal volte pra eu ligar.

– Esperar a tempestade passar?! – Ri sarcasticamente. Estava indignada diante a calma do rapaz. Como ele podia? – Olhe lá fora! – Apontei para a janela. – Está chovendo granizo. GRANIZO! – Quase gritei as ultimas palavras.

– Você quer ir durante a chuva? Se for assim, pode retirar-se.

– Você é mesmo um idiota! – Respirei fundo reunindo paciência que já estava escassa diante aquela situação. – Por que você fez aquilo no estacionamento?

– Não quero você andando com o Nathaniel. – Ainda estava de olhos fechados com a quietude imperando solene sobre ele, porém ainda parecia insatisfeito e tão desconfortável quanto eu mesma. – Ele não é gente boa.

– E aquela garota que estava com ele? – Preferi não citar que havíamos nos encontrado no supermercado também, já que fora um episódio um tanto desconfortável e irritantemente destruidor para a minha autoestima.

Olhou-me com seus olhos tempestuosos retirando os braços da nuca e deixando-os penderem ao lado de seu corpo, tendo um deles apoiado em minha barriga, pesando sobre a mesma, como se ele quisesse medir a força da minha respiração.

– Ambre é irmã dele. – Informou-me se referindo ao loiro a quem aparentava não conceder gosto a estar em sua companhia, pelo o que eu havia notado no estacionamento da escola. – Ela também não é gente boa.

Na verdade, talvez ela fosse, se a conhecesse melhor, mas parecia que o que Castiel realmente queria dizer com estas declarações com o modo que dizia era: Eles não são gente boa, para você.

Porém o que havia demais com o fato de me relacionar com outras pessoas? Ou, talvez, fossem apenas aquelas pessoas? Isso era algo que eu precisava anotar mentalmente para que eu não me esquecesse de assinalar em meu diário quando voltasse para a casa do ruivo.

Desviei meu olhar para o rapaz que permanecia calado a olhar para o teto desgastado e com infiltrações nos cantos; parecia pronto para cair em nossas cabeças.

– Você não precisava ter feito aquilo, foi constrangedor.

– Então esqueça. – Fitou-me de um modo estranho, quase como um desapontamento mal disfarçado que sumira rapidamente por detrás da neblina cinzenta.

– Gosto dos seus olhos. – Soltei corando logo em seguida, envergonhada por tê-lo feito. Castiel arqueou as sobrancelhas. – Às vezes fico me perguntando por que você pinta o cabelo de vermelho e também me pergunto se você tinge o cabelo do saco. – Queria parar de falar, mas inevitável tendo aqueles olhos sobre mim; olhos que queriam saber o que eu pensava. – Eu vi os seus cabelos pretos e você fica bonito de qualquer forma, até mesmo corando. – Toquei em sua bochecha branca com as pontas dos dedos e sorri sentindo a timidez ir embora e uma hipnose momentânea me possuir. – Você é irritante às vezes, mas eu gosto de você assim, porque não me sinto mais tão solitária, ao seu lado. Você me protege, do seu jeito, porém isso faz eu me sentir segura. Realmente fiquei nervosa dentro da escola, porque não vi você lá, comigo. Você é inteligente, sem dúvidas. É gentil quando quer, no entanto muito estourado e não gosta que lhe deem ordens, apesar disso trabalha exatamente com isso; recebendo ordens. Você pode ser mau como um demônio, tem uma personalidade terrível, parece até ser bipolar, o que não me beneficia em descobrir as suas intenções, suas opiniões e tudo mais. Você... É lindo, de uma forma diferente. Nunca vi um garoto igual a você.

Fechei os olhos velozmente esperando que aquela sensação de bile passasse, no entanto, parecia apenas piorar quanto mais sentia seu olhar pesar sobre mim. Estava completamente ruborizada e não havia outra forma se não me arquitetar levantando-me e postando-me o mais longe possível do ruivo, pelo maior tempo que conseguisse, porém quando estava prestes a fazê-lo, ele segura meus ombros, pressionando-os para baixo.

– É essa a sua opinião sobre mim? – Assenti e o vi sorrir e se curvar – Eu estive em todos os momentos bastante próximo de você, pois seria incapaz de deixa-la sozinha. – sussurrou seu segredo enquanto eu sentia seu hálito quente em meu rosto e suas mãos ainda em meus ombros movimentarem-se, fazendo com que seus dedos agora gélidos, tocassem meu pescoço quente, causando uma enorme onda de choque que se espalhou pelo meu corpo; uma sensação deliciosa que me fez suspirar.

Apenas seu toque era capaz de fazer isso comigo, o que gerou em meu profundo âmago, a dúvida lúcida e realista demais, o que me fez retraí-me um pouco. Seria isto o começo de uma paixão recíproca, ou apenas carência de meu coração recém-partido, que ansiava por algo que pudesse preencher este vazio em meu peito?

Uma de suas mãos massageava meus cabelos, enquanto a outra acolhia meu rosto, alisando minha bochecha com o dedão áspero. Ainda estava curvado, o suficiente para que seu nariz roçasse em minha pele quente, cor de pêssego. Fungou profundamente, como se buscasse por meu cheiro e logo depois beijou suavemente minha bochecha, descendo e deixando vários do mesmo modo até chegar ao pescoço semicoberto pelo tecido verde-escuro do casaco.

Eu estava inerte, incapaz de pronunciar algo que fizesse sentido, ou fazer qualquer coisa correta. Entorpecida pelo seu cheiro doce e cítrico. Estava sendo levada por seus movimentos, como quando suspirei sentindo sua língua quente em meu pescoço, seus chupões; a sensação gostosa que isso produzia, o aperto em minha cintura fazendo-me gemer baixinho e acordar desta hipnose. E ele nem ao menos havia tocado ainda meus lábios com os seus, tão rosados e receptivos quanto uma cereja. Isto apenas piorava quando ele mordiscava o inferior carnudo, fazendo-me perguntar-me se o sabor seria tão doce e apetitoso quanto parecia ser, se seria macio e se ele gostaria quando eu os mordiscasse. Sentia vontade de mordê-lo, de lambê-lo, apalpa-lo como havia feito dias antes para ver se estava com febre; queria adoece-lo com a minha epidemia, aquela que iria deixa-lo suado e gemendo meu...

Afastei-o pelos ombros vendo sua expressão de confusão e sentei-me do outro lado do sofá com as pernas flexionadas e os braços envolvendo as mesmas. Encostei a testa no joelho, tentando de todas as formas, dissolver os pensamentos obscenos e impróprios, regularizando a respiração entrecortada.

Senti-me exposta, mesmo sabendo que ele mirava a parede ainda em confusão. Ele não tinha culpa, não havia motivo para o meu surto repentino, na verdade, eu nem deveria ter me permitido sentir o seu toque, o seu carinho.

Meu namorado estava morto, este fora um dos motivos que me levara a estar do seu lado, eu era o seu trabalho, a sua missão, e ele não deveria se envolver com uma garotinha medrosa e com real motivo para tal medo.

Eu havia desenvolvido durante estes dias acrimoniosos uma promessa silenciosa: não deixariaque ninguém se aproximasse de mim com tal afeto, mesmo que ansiasse por isso, pois tinha medo, medo de que acabassem cruelmente com este vinculo, com a vida. Isto era porque eu me culpava pela morte de Matt e, talvez, minhas expectativas sobre o que Castiel queria dizer realmente estivessem corretas e ele, em verdade, apenas quisesse a distancia das pessoas de mim, pois eu era um imã para assassinos e nem mesmo sabia o motivo.

E mais uma vez, prometi a mim mesma que descobriria toda a verdade.

Era tão difícil. Desta vez não consegui; deixei que as lágrimas escorressem pelas minhas bochechas. Solucei alto incapaz de fazer qualquer outra coisa. Estava corroída e aos pedaços interiormente de tanto segurar-me, de tentar ocultar e fingir que não havia sofrimento. Talvez a bipolar fosse eu, no final. Em um momento suspirando em prazer, no outro chorando afligida.

Senti Castiel aproximar-se transferindo o peso de seu corpo para este lado do sofá velho que afundara um pouco.

– Desculpe. – Murmurei sentindo sua mão sobre as minhas costas esfregando-a em ritmadas pausas.

– Tudo bem. – Disse enquanto me aninhava junto ao seu corpo, envolvendo-me com seus braços que me transmitiam segurança. – Estou aqui, Emi. – Sussurrava diversas vezes seguidas enquanto eu me acalmava. – Estou aqui.

Fechei meus olhos com a cabeça recostada em seu peito. Tentei desviar minha atenção para outra coisa que não fosse meu corão apertado, as lágrimas gelando em meu rosto, ou a quentura do corpo e dos braços de Castiel. Então, olhei para a janela de vidro embaçado e percebi que a chuva se amenizava, mas ainda persistia. Ela caía assim como o nível da minha tristeza e, eu podia perceber; estava gostando daquela sensação de esvaziamento. Era como se a minha infelicidade fosse embora, aos poucos, com a chuva e as lágrimas.

Senti e respiração de Castiel no meu pescoço; ele havia enterrado sua cabeça ali.

– Estou confuso sobre você. – Confessou em um cochicho audível. – Eu... Você é uma incógnita; a mais difícil que eu já tentei desvendar. – Meus olhos se arregalaram diante as suas palavras que surpreenderam até meus fantasmas de um passado onde eu diria que o ruivo não tinha sentimentos. – Não sei se os seus olhos são da cor castanha ou verde, talvez uma mistura dos dois. Não sei qual castanho é o seu cabelo, talvez todos os tons. Você é uma garota decidida, mas só vive confusa. Você é bonita, mas eu tenho a certeza de que não sabe disso e não pensa assim. Você é legal, carismática e muito esperta; isso atrai as pessoas para perto de você, mas você é burra e ingênua também; não percebe quando as pessoas são más, ou... – Ele deslizou o nariz da curva do meu pescoço, até minha orelha e lá murmurou rouco: – Ou quando eu estou morrendo de ciúmes de você.

O celular nos alarmou vibrando e tocando um rock auto, capaz de ecoar por toda a casa. Castiel desprendeu-se de mim e tateou o sofá em busca do aparelho que eu sentia tremer em baixo da minha perna. O agarrei e rapidamente entreguei ao ruivo que atendeu pondo-se de pé e caminhando para algum lugar que julgava que o sinal seria melhor. Tudo o que eu pude escutar, foi algo relacionado a favor e alguém chamado Dajan.

Parando de prestar atenção na conversação do ruivo, foquei-me novamente na janela por onde entramos percebendo-a molhada, mas eu não era mais capaz de ouvir a chuva castigando os telhados. Apenas o que me restava agora, era esperar que a ajuda chegasse e que eu pudesse poupar-me da presença de certo ruivo que agora me causava vergonha por estar sendo observada pelo mesmo.

(...)

Deitada na cama estava eu, tentando concentrar-me em uma obra Shakespeariana. De barriga para cima e com as pernas dobradas, descansei os braços magros juntamente com o livro sobre a barriga e fechei os olhos. Não estava cansada, mas acordara cedo demais por conta de sonhos – pesadelos – inapropriados para uma jovem garota.

Qual era o problema com a minha mente, afinal? Tão traiçoeira e maligna que até mesmo em sonhos eu a temia.

Suspirei levantando-me e abrindo a janela do meu quarto para que sentisse os raios de Sol que, especialmente neste sábado, pareciam mais quentes.

Estava pensativa sobre ir ou recusar o convite de Dajan. Hoje seria o seu tão aclamado jogo de basquete em que sairia do banco de reservas e já começaria o esporte jogando como número dez do time. Eu o havia conhecido há três dias e ele já parecia bem disposto a me importunar e me arrastar para a quadra do condomínio – onde ele também morava – ou a quadra da universidade, onde seu time treinava. Ele e seu pai haviam nos ajudado a rebocar o carro de Castiel e havia nos dado uma carona.

Senti algo macio roçar entre as minhas pernas enquanto estava debruçada na janela, com os cotovelos apoiados na mesma, era apenas Damon, já tão carinhoso como não havia sido no primeiro dia. Agachei-me para brincar com ele.

– Seu traidor! – Acusou Castiel ao adentrar no cômodo – Você vai ao jogo?

– Sim.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Eu gostei bastante de escrever este capítulo.