E ela entrou mesmo no fogo. Demônio não podia acreditar no quão estupido tinha sido aquele ato. E ele não podia acreditar que tinha ido atrás dela. Ele era um idiota, um maldito idiota apaixonado.

Tudo ao redor deles era fogo e caos. Demônio estava com medo, mas não por si, por Julieta. Mas ela atravessava o fogo como se fosse agua. O calor não a incomodava, pelo menos ela não deixava transparecer.

Ela agarrava animais encurralados pelas chamas e os deixava em local seguro. Demônio também a imitava. Estavam indo bem até que o fogo aumentou, por causa do vento talvez, não importa muito.

Julieta não interrompeu seu trabalho de busca e salvamento, ela teria ficado até garantir que nenhum mísero animal se machucaria por causa das chamas. Mas Demônio não estava disposto a arriscar sua vida, muito menos a dela.

–Para, você vai se machucar!

–Os animais...

–Julie... – um galho caiu em cima de Demônio, interrompendo sua bronca.

–Não!! – O galho em chamas era gigante e muito grosso. Julieta não iria conseguir tirar Demônio dali de baixo sem por a mão no fogo.

Ela não pensou duas vezes, colocou seu ombro nas chamas e empurrou. As asas batiam buscando forças no vento, os pés cavavam sulcos na terra e seus músculos eram forçados ao máximo.

O tronco não saia do chão, seu ombro ardia, mas ela não ia desistir. Sabia que sua roupa também pegava fogo e que se ela não conseguisse empurrar, tanto ela quanto Demônio morreriam.

Ela batia as asas desesperadamente, o seu corpo ardia com a força que fazia, mas ela pode sentir o tronco se mexendo em baixo dela. Com a ultima força que lhe restava ela empurrou o tronco para longe

Julieta caiu no chão e rolou na terra para apagar o fogo das roupas. Quando conseguiu continuou deitada, não tinha mais forças para voar, ela estava exausta, precisava descansar, precisava dormir.

–Julieta, levanta, temos que dar o fora daqui! – Demônio estava queimado e dolorido, o tronco era mesmo muito pesado, mas eles tinham que sair daquele lugar.

Ele olhou ao redor, as chamas estavam mais altas, o calor mais intenso. Ele pegou a anjinha no colo e voou para longe daquele inferno. Ele tinha que leva-la para algum lugar seguro.

Ele voou para longe daquele calor e a deitou na grama úmida.

–Por favor. Não morre. – Ele se agarrou ao corpo quente dela. Sua roupa tinha sido destruída, e sua pele tinha queimaduras feias. E tudo porque ela havia salvado ele.

Demônio sabia que não merecia ter sido salvo, sabia que ela é quem devia sobreviver. Ele ia salvá-la. Demônio forçou sua memória, procurando técnicas de primeiros socorros. Camisa. Ele tinha que tirar a roupa dela para que não grudasse na pele.

Ele tinha que tirar, mas não ia conseguir. Ele não queria desrespeitá-la. Não, ele tinha que chamar o superior dela. Ele saberia o que fazer.

Não foi preciso, quando se virou um exercito de anjos já o havia encurralado.

–Demônio, solte esse anjo – Um anjo de asas douradas gritou apontando uma lança para ele. Demônio tinha que ensinar Julieta a lutar com lanças também, ele anotou mentalmente.

Demônio levantou os braços e se afastou do corpo de Julieta. Se eles vieram salvá-la, ele não iria impedir.

Ele percebeu que alguns anjos que estavam mais atrás, sem armas ou armaduras tinham asas brancas. Mas um desses anjos saiu de sua proteção e foi até Julieta.

Ainda haviam armas apontadas para Demônio quando o anjo de asas brancas perguntou.

–O que houve com ela?

–Estávamos em um incêndio na floresta, ela estava salvando os animais, eu tentei tirá-la de lá, mas um tronco caiu em cima de mim, ela se queimou seriamente tentando me salvar. Por favor, vocês precisam curá-la.

–Isso não vai ser necessário, ela já está se curando, veja. – A pele de Julieta ainda estava queimada e muito vermelha, mas uma camada fina de pele saudável estava crescendo.

–Como...?

–Eu espero que esse susto tenha sido o suficiente, mantenha-se longe dela. Você não tem nada a acrescentar na vida dela, apenas destruí-la. Você é uma bomba relógio. Não a machuque junto.

–Eu... Eu sinto muito.

Os anjos se assustaram com essa demonstração. O Demônio pedindo desculpas? Eles estavam sofrendo alguma alucinação?

–Bem... – O anjo de asas brancas estava desnorteado – É melhor voltar para seu mestre, tenho certeza que ele também não vai gostar nada dessa história.

Demônio duvidava disso. Lúcifer iria rir e aplaudir, mas Demônio não iria contar nada.

Ele observou enquanto os anjos levavam Julieta para um lugar seguro, o lugar onde ela pertencia e ele não. Ele observou enquanto ela partia.