A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 76
Novos Horizontes - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Algumas equipes de Drugstrein passam por uma reformulação. Kayan e Thays tem uma longa conversa na taverna da ordem.



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Capítulo 075

Novos Horizontes (Parte 1)

Quase uma lua se passou desde que a missão do grupo de Gorgar foi cumprida com sucesso e, desde então, as três equipes ficaram em Drugstrein esse tempo todo, uma vez que era recomendado um grande tempo de repouso após missões da classe A.

Naquela noite, porém, Gorgar e Nathie haviam convidado Kayan e Thays para a taverna de Drugstrein dizendo que tinham algo importante para propor aos dois.

— Está meio vazio aqui hoje, não está? – indagou Thays, nervosa devido ao fato daquilo parecer mais um encontro entre casais.

— Um pouco, acho que é porque não tem nenhum bardo se apresentando – observou Nathie.

O quarteto, então, pediu a uma das taberneiras para que ela trouxesse-lhes vinho. Após isso, Kayan decidiu matar logo sua curiosidade.

— Ei, Gorgar, o que queria falar conosco?

— A Nathie e eu andamos conversando e achamos que seria bom para ela tentar o exame para mestres no próximo ano.

— Você já tinha comentado comigo que estava pensando nisso – disse Thays. – Que bom que decidiu tentar.

— Provavelmente não vou passar na primeira, mas a maioria dos mestres tem que tentar mais de uma vez, não é?

— Isso é verdade. Mesmo com Drugstrein sendo a que mais consegue mestres, aprovando de dois a três a cada ano, as taxas de sucesso são bem baixas – afirmou Kayan.

— Ser um mestre não é fácil e é normal que o exame seja difícil. Eu mesmo apenas consegui em minha quarta tentativa – afirmou Gorgar.

— Para me preparar para o exame, pedi para a Anita convencer o Allef a me deixar entrar para a equipe dele. Ele é mestre há pouco tempo, mas é da esfera da terra e pode me ensinar muita coisa. Depois pretendo voltar a liderar uma equipe, já que fiquei muito pouco tempo na liderança de uma.

— Isso quer dizer que vocês dois como equipe não durou muito – disse Thays.

— Não tem problema. Eu estava sem equipe na época em que o Gogar e eu começamos a namorar. Na verdade eu podia ter recrutado outra pessoa, já que a Ellien tinha terminado com o Fedrick e pediu para sair da equipe, mas eu nunca gostei muito daquele rapaz. Aí como o Gorgar também não tinha equipe juntamos o útil ao agradável.

— Tem outra equipe que vai ficar desfalcada aqui – afirmou Kayan. – O Mathen queria voltar a treinar com o Allef também, então acho que vocês estarão juntos nessa, Nathie. Espero que você seja razoável em magia branca porque os outros dois são terríveis.

— Não sou muito boa também, mas acho que podemos nos virar desde que ninguém se quebre inteiro.

— Já que estamos falando de equipes, vou ser sincero com você, Thays. Sei que a Ellien é sua amiga, mas sua equipe é muito fraca. Você é uma maga muito boa, merece magos mais fortes. Falo isso pelo próprio bem da Ellien e do Lair. Os dois deveriam ficar com outro mago como líder, não um mestre.

— Você me acha mesmo uma maga assim tão boa, Kayan?

— Sim, você é muito boa, Thays. Acho que está facilmente entre os melhores de Drugstrein.

Gorgar e Nathie apenas observavam enquanto o outro casal conversava de maneira isolada, como se apenas os dois estivessem ali. Até mesmo o Magnum, que não prestava muito atenção naquele tipo de coisa, percebia como eles se encaravam com admiração.

— Voltando ao assunto anterior.

Apenas quando Gorgar falou algo os dois perceberam que estavam se encarando há algum tempo. Constrangidos, voltaram sua atenção para o outro mestre.

— Como sabem, Drugstrein mantém cinco equipes formadas apenas por mestres para missões muito perigosas. Atualmente existe uma vaga para uma delas. Por isso queria propor que vocês dois e eu formemos uma dessas equipes. Acho que seria um desafio novo para nós.

Aquilo certamente surpreendeu os dois. Kayan foi o primeiro a responder.

— Eu aceito. E você, Thays?

— Com certeza eu aceito. Acha que eu iria perder a oportunidade de formar uma equipe com você?

— E já até tenho alguém para te substituir, Thays. Para se qualificar para o exame para mestre, Karzus precisa liderar uma equipe. Acho que ele pode assumir seu lugar como líder do Lair e da Ellien.

— Perfeito a ideia, Kayan. E a Cristallia é uma boa maga branca, será muito fácil encontrar uma equipe para ela – concluiu Nathie.

— Então está tudo certo. Amanhã mesmo irei acertar toda a documentação. Pegaremos a primeira missão da classe A que aparecer. Agora acho que podemos pedir mais algumas bebidas para comemorar. Continuamos com vinho?

— Eles podem continuar, mas nós dois não.

Nathie levantou-se enquanto dizia aquelas palavras. Em seguida, pegou a mão de Gorgar e insistiu para que ele se levantasse também.

— Aproveitem a noite. Nós aproveitaremos.

Kayan e Thays observaram o outro casal sair da taverna antes de voltarem a conversar.

— Essa Nathie não tem jeito mesmo. Quer pedir mais alguma coisa?

— Você não vai embora também, Kayan?

— Pensei em ficar mais, mas se não quiser minha companhia posso procurar outra mesa.

— Quem disse que eu não quero? Achei que você não queria a minha companhia. Nós mal conversamos depois que voltamos da última missão.

— Acho que você tem razão, mas é porque eu tenho ficado bastante tempo sozinho ultimamente. Apesar disso, tenho muita coisa para te contar, então, se você quiser me ouvir, podemos pedir mais alguma coisa e ficamos aqui mais um pouco.

Thays não poderia recusar aquele convite, então eles pediram mais vinho e continuaram a conversa.

— Eu falei com meu tio logo depois que voltamos daquela missão.

— E vocês estão se dando bem agora?

— Pode-se dizer que sim, e eu descobri muitas coisas sobre os Atreius, quer ouvir?

— Sim.

Durante as próximas duas horas, Kayan contou para Thays detalhadamente tudo o que havia descoberto sobre o passado dos Atreius. Nesse meio tempo, muito vinho foi consumido pelos dois, tanto que no final da noite ambos estavam um tanto quanto zonzos na hora de pagar pelas bebidas.

— Acho que eu bebi demais – disse Thays.

— Eu também, mas vamos melhorar um pouco até chegarmos à torre dos mestres.

O caminho era longo, mas os dois não pareciam ter pressa de percorrê-lo já que caminhavam lentamente enquanto conversavam sobre diversos assuntos. Quando finalmente chegaram em frente aos aposentos de Thays, eles pararam para se despedir.

— Então é isso, parece que a bebedeira passou mesmo. Obrigada pela noite, Kayan.

O Atreius não a respondeu. Limitou-se a ficar parado na frente da Cyren. Ele estava se sentindo tão bem em estar com ela que simplesmente não queria que a noite acabasse.

Por quase um minuto o casal permaneceu de frente um para o outro, quase um metro os separando. Pela mente de Kayan passavam-se os momentos em que ela mais fora importante para ele.

Lembrou-se de quando ela o apoiara durante a missão contra os sraths e de como os dois haviam se unido para proteger todos os amigos que não poderiam se proteger contra Kil-el-mih. Lembrou-se de todas as vezes em que pode confiar à ela o que sentia de mais profundo e não queria compartilhar com mais ninguém. E, principalmente, recordou-se de quando ela havia o encontrado naquele castelo meio destruído. No momento em que ele mais precisou de ajuda, no momento em que ele estava mais fragilizado, era aquela linda garota de cabelos azulados quem o havia encontrado e o resgatado de sua própria escuridão.

Ele não pensou mais, apenas deixou-se levar pelo que sentia no momento. Deu um passo a frente e lentamente, carinhosamente, tocou o rosto de Thays.

Ela sabia o que viria a seguir e sentia seu coração disparado como se ainda tivesse seus quatorze anos e fosse o primeiro garoto com o qual estava tendo aquele tipo de contato. Thays não esboçou reação nenhuma, apenas fechou os olhos e deixou que Kayan conduzisse aquele momento.

O Atreius se aproximou suavemente, inclinando a cabeça para baixo e deixando que seus lábios se tocassem, apreciando cada segundo daquele ato. Delicadamente ele a beijou ganhando espaço lentamente enquanto suas línguas se tocavam e se acariciavam. Ele, então, envolveu-a em um abraço, que foi retribuído imediatamente.

— É por isso que você não está mais usando o anel de mithril, você finalmente decidiu seguir em frente.

Kayan surpreendeu-se por ela ter reparado naquilo. Até então ele ainda usava o anel gêmeo daquele que ele havia dado para Sarah em Gynoolock, mas há alguns dias ele resolvera não usá-lo mais. Sua surpresa maior, entretanto foi perceber que havia lágrimas descendo dos olhos de Thays.

— Por que está chorando?

Ela, então, sorriu enquanto ele secava-lhe as lágrimas.

— É porque estou tão feliz que não sei nem o que fazer ou como reagir. Acho que fiquei tão emocionada que acabei chorando.

— Minha baixinha, eu nunca mais vou deixar você chorar por minha causa.

Com aquelas palavras ele a beijou novamente apenas para provar que falava a sério. Após isso, Thays abraçou-o forte e aninhou a cabeça em seu peito.

— Kayan, eu não quero deixar você ir para o seu quarto.

— E quem disse que eu vou? Eu nunca entrei nos seus novos aposentos, acho que esse é momento perfeito.

— Que tipo de garota você acha que eu sou? Do tipo que dorme com o rapaz na primeira noite do namoro?

Kayan olhou-o com uma expressão incrédula no rosto que fez com que Thays caísse na risada. Ela, em seguida, pegou as chaves e abriu a porta. Após isso, empurrou-o para dentro do quarto e trancou-a atrás de si.

— Espero que esteja descansado, porque essa noite vai ser bem longa.

A Cyren tinha um sorriso nada casto no rosto e o Atreius apressou-se em se livrar de suas roupas. Na manhã seguinte eles acordaram um no braço do outro e apenas após o sol ter passado da metade do céu.

* * *

Espalhado pelo castelo de Drugstrein havia várias cozinhas e salões para as refeições, mas o mais popular deles era aquele que ficava na estrutura central, próximo à taverna. Era um local muito amplo e com várias compridas mesas de madeira enfileiradas lado a lado. Todo o alimento ficava em uma mesa redonda no centro do salão e era sempre reabastecida pelos servos do castelo.

Nathie e Gorgar preparavam-se para se servir quando Thays surgiu pela porta e os avistou. Ela caminhou rapidamente até a Durgan e puxou-a pelo braço.

— Venha comigo, preciso conversar com você.

— Gorgar, eu já volto – disse ela enquanto era praticamente arrastada pela amiga.

Elas saíram do salão pela porta lateral, que conduzia até um dos pequenos jardins que havia espalhados por Drugstrein. Só quando chegaram a um local mais isolado a Cyren parou para que conversassem.

— O que foi que você quer falar que é tão urgente?

— Obrigada, Nathie, eu nem sei como te agradecer.

Animada, Thays abraçou a amiga bem apertado de maneira que tudo o que a outra pode fazer foi retribuir-lhe.

— De nada, seja lá pelo que.

— Por deixar o Kayan e eu sozinhos ontem na taverna – respondeu enquanto parava de sufocar a amiga.

— Espero que vocês tenham conversado bastante, você disse que parecia que ele estava te evitando, então quis dar uma forcinha.

— Ele me beijou! – disse ela, mal contendo a felicidade.

— Na taverna?

— Não, nós saímos de lá juntos e fomos até a torre dos mestres. Ele me beijou quando nos despedimos.

— Ele te beijou e depois subiu até os próprios aposentos, é isso, tipo um beijo de boa noite?

Thays balançou a cabeça energicamente em uma negativa.

— Nos beijamos e fizemos todo o resto também. Ele faz uns negócios com a língua que é incrível – respondeu ela, corando violentamente com as palavras.

— Negócios com a língua... você quer dizer lá embaixo?

Thays colocou as mãos na frente da boca como se tivesse falado mais do que gostaria.

— Esquece isso que acabei de te falar, mas passamos a noite juntos. Eu estou tão feliz que acho que ia explodir de tanta alegria se não compartilhasse isso com você.

Nathie apenas podia sorrir e acompanhar a alegria da amiga enquanto ela parecia que ia sair saltitando pelo castelo.

— Isso quer dizer que vocês estão namorando.

— Acho que sim, não tocamos nesse assunto, mas acho que ficou meio implícito, né? Quer dizer, dessa vez ele não fugiu depois de tudo. Ele dormiu comigo, acordamos faz pouco tempo. Eu só tomei um banho e vim te procurar.

— Estou muito feliz por você. Venha almoçar com a gente, o Gorgar vai ficar feliz em saber. Ele dizia que o Kayan devia parar de frescura e ficar logo com você. Ou você vai se encontrar com o Kayan de novo?

— Não, vamos nos encontrar de novo à noite. Ele disse que eu podia vir almoçar que ele precisava falar com o Spaak.

— Então venha, vamos comer.

* * *

Daquela vez Kayan bateu na porta antes de entrar na sala do Firyn. O mestre de elite estava em seu horário de almoço e havia um pernil assado, pães e frutas sobre uma mesa lateral.

— Boa tarde, Kayan, está com fome?

— Agora que você falou, estou sim. É bom ser um mestre e poder visitar os mestres de elite a qualquer momento.

O Atreius fez um lanche e sentou-se de forma bem descontraída em uma das poltronas da sala, sua perna direita pendendo displicentemente sobre o braço do assento.

— Eu segui seus conselhos – disse após dar uma grande mordida em seu lanche e engoli-lo.

— Meus conselhos? – indagou o mestre enquanto cruzava os braços sobre a mesa e se apoiava sobre os mesmos.

— Sim, sobre a minha relação com a Thays. Fazia quase uma lua que eu não conversava direito com ela e quando nos encontramos ontem à noite percebi o quanto sentia sua falta. Aí parei de ficar pensando em culpa ou qualquer outra coisa e apenas agi conforme o que me faria feliz.

— E isso quer dizer que vocês dois estão juntos novamente – concluiu o Firyn.

— Sim, definitivamente.

— Fico muito feliz por vocês dois. Preciso contar isso para o Sakuro. Ele também vai ficar muito feliz.

O sorriso no rosto de Spaak indicava a sinceridade no que dizia.

— Às vezes ainda fico me perguntando se estou fazendo a coisa certa. Faz apenas quatro luas que ela se foi, e eu já estou com outra pessoa.

O Firyn levantou-se de sua cadeira e caminhou até onde o Atreius estava, sentou-se na poltrona ao seu lado de maneira confortável.

— Se você tivesse morrido e houvesse alguém que amasse a Sarah da mesma maneira que a Thays te ama, você iria preferir que a Sarah fosse feliz com outra pessoa ou ficasse triste com a sua morte?

Aquelas palavras fizeram com que Kayan pensasse por outro ângulo, como os conselhos de Spaak sempre o faziam.

— Acho que eu iria preferir que ela fosse feliz.

— Acabou de encontrar sua resposta.

— Tenho outra novidade para lhe contar – o Atreius preferiu não alongar muito aquele assunto. – Fizemos algumas alterações nas equipes. Agora Gorgar, Thays e eu formamos uma equipe de mestres. O Gorgar Magnum será o líder.

— Por que não você? Você é um mago mais capaz do que ele.

— Apenas em termos de força. Gorgar ainda é mais experiente e um excelente mestre. Sei que você e ele têm suas diferenças, mas isso não muda esse fato. Além disso, ele está muito bem com a Nathie e esqueceu a Aghata completamente, não precisa ficar com ciúmes.

Spaak estreitou os olhos ao ouvir o comentário do amigo. Era verdade que ele não gostava muito do outro mestre, mas seus argumentos não tinham nada de pessoal.

— Assim todos terão seus papéis, ele com a liderança, você com a força e a Thays com a beleza da equipe.

— Fala isso porque não a viu lutando recentemente. Não consegui prestar muito atenção quando ela enfrentou Kil-el-mih, já que tinha meus próprios problemas, mas pelo que consegui acompanhar ela tem uma movimentação impecável e um controle de aura muito bom. Gorgar ainda tem mais poder bruto, mas do jeito que ela luta acho que poderia manter um duelo até mesmo contra você.

Spaak não tinha como comprovar aquilo, mas confiava no julgamento de Kayan, então achava que aquilo bem poderia ser verdade.

— E se fosse você a me enfrentar?

— Provavelmente você venceria, com alguma dificuldade. Ainda não te alcancei, Spaak, mas talvez no próximo ano.

Com aquele comentário o mestre da esfera do fogo passou o braço pelo pescoço do mago negro e apertou até que ele batesse no sofá em sinal de rendição.

— Está bem confiante, hein?

— Tenho que ir passando um por um até chegar no granmestre Radamanthys.

— Voltando ao assunto anterior – disse Spaak enquanto se levantava para voltar para sua mesa. – Provavelmente a missão de vocês será eliminar um rei dos taurinos que foi deposto. Acabou de chegar na ordem vindo do reino de Jurun.

Os reis dos taurinos eram os maiores lideres das tribos dos taurinos e consequentemente seus mais poderosos shamans. Quando um rei era desafiado e perdia o duelo, também perdia sua posição na tribo e era exilado. Sem ter para onde ir, muitos deles acabavam invadindo a planície Daran, onde os humanos viviam.

— Você e eu já enfrentamos um rei antes. Será um bom desafio, eu creio.

— Sim, tomem cuidado e proteja o Gorgar e a Thays.

— Pode deixar.

Após isso, os dois amigos deram-se a liberdade de conversar sobre assuntos diversos até o final da tarde.

* * *

No final da tarde do dia seguinte, a nova equipe já estava oficializada e Gorgar havia recebido a missão. O mestre havia convidado seus dois colegas da equipe para uma reunião naquele horário e caminhou ansioso até a sala que usariam para a reunião.

Assim que entrou na sala, deparou-se com uma cena inesperada. Kayan estava sentado no grande sofá que havia na sala. Ele abraçava Thays e a garota tinha a cabeça apoiada em seu peito. O casal cochilava pacificamente.

Sem saber exatamente o que fazer, Gorgar caminhou até a mesa no centro da sala e sentou-se na cadeira que havia na frente dela. Ficou alguns minutos observando o casal. Por sua cabeça se passava o como era possível que aqueles dois, tão jovens, pouco mais que crianças, estivessem entre os melhores mestres daquela ordem.

Por fim, quando percebeu que eles não acordariam tão facilmente, deu uma leve pancada na mesa, fazendo barulho suficiente para acordar Kayan, que, por sua vez, acordou Thays.

— Ahn... acabamos dormindo – disse ela, com uma voz sonolenta, enquanto passava as mãos sobre os olhos na tentativa de despertar totalmente.

— Não vou nem perguntar por que dormiam aqui. Se bem que pelo barulho que eu ouvi vindo dos aposentos ao lado do meu esta noite devo imaginar o porquê de estarem cansados – provocou o Magnum.

— Como assim? Dava pra ouvir?! – indagou Thays, surpresa.

— Na verdade não, as paredes do castelo são bem grossas – respondeu o mestre em meio a um sorriso debochado. – Eu nem sabia se você realmente tinha dormido no quarto do Kayan esta noite.

— Você nos enganou! – disse ela enquanto levantava-se irritada. – Certeza que aprendeu esses truques com a Nathie!

— Deixem isso pra lá, vamos falar de nossa missão.

— Acho que não será tão difícil – comentou Kayan. – Você também tem experiência em combater os shamans dos taurinos, não é Gorgar?

— Sim, mas como sabe que nossa missão envolve um taurino?

— Tenho meus contados dentre os mestres de elite – sorriu enquanto se aproximava da mesa. – O mestre Spaak me disse ontem. Ele estava certo? Um taurino rei que foi deposto?

— Sim, ele estava certo. Foi exatamente esta a missão. Algo bem simples, na verdade, ele esta em um covil próximo ao reino de Jurun e o rei teme um ataque. Apenas temos que nos livrar dele.

— Nunca enfrentei taurinos antes, são bons oponentes? – indagou Thays.

— São. Até mesmo seus guerreiros podem dar problemas para magos e seus shamans só podem ser combatidos por nossos melhores magos. Para derrubar um rei, realmente é necessário uma equipe com bons combatentes. Na guerra contra os bárbaros, Spaak e eu lutamos contra um deles.

Sarah também estava com eles naquela ocasião, mas o mago negro decidiu não mencionar o nome dela. Ainda não sabia direito como lidar com aquela situação sendo que tinha uma nova companheira ao seu lado.

— Acho que podemos partir amanhã bem cedo. Balão ou carruagem, verificarei a disponibilidade. Aproveitem essa última noite no castelo. Eu aproveitarei com a Nathie.

Dito aquilo, Gorgar saiu da sala e deixou o casal para trás.

— Este foi um belo conselho, não concorda? – perguntou Kayan, sorrindo.

— Completamente.

* * *

O percurso foi feito de balão devido a urgência de se eliminar a ameaça antes que o taurino atacasse algum reino humano. Mesmo assim, a viagem levou quase cinco dias devido a grande distância.

Os magos de Drugstrein haviam chegado ainda no final da tarde, mas estavam tão entediados da viagem que decidiram sair para procurar o seu alvo naquele mesmo dia. O taurino havia sido avistado pela última vez em uma grande campina utilizada para pastagem de gado e era lá que os magos começaram suas buscas.

— Não consegue perceber nenhuma aura, Kayan? – indagou Gorgar.

— Nada. E vocês?

— Se você, que é o melhor rastreador entre nós três não sente nada, que dirá de nós dois.

— Se ele não utilizou nenhum feitiço recentemente não haverá nenhum resíduo de aura para ser rastreado. Talvez seja necessário procurarmos por outros métodos – observou Thays.

— Então acho que terei que rastreá-lo através de métodos comuns – afirmou Gorgar.

— Você sabe fazer isso? – indagou Kayan.

— Sim. Quando uma criatura daquele tamanho passa por um local é impossível que não deixe marcas. Veja a vegetação ali, por exemplo, tem sinais de que algo passou por lá. Mas provavelmente foi apenas gado normal, podemos descobrir isso através das pegadas.

Seguindo os conhecimentos de Gorgar e tentando aprender o máximo que podiam com ele, os magos procuraram pelos rastros do taurino até encontrarem e começaram a segui-lo. A noite já havia caído e a lua crescente quase cheia fornecia boa iluminação para que continuassem por mais um tempo.

— Não sei se devemos continuar por hoje – comentou Gorgar. – Os rastros seguem para dentro deste bosque e não será fácil segui-lo à noite.

— Talvez fosse melhor montarmos acampamento – sugeriu Thays.

Seguindo a ideia da garota, o trio depositou suas mochilas no chão e começou a procurar as peças para montar suas barracas. Foi quando algo inesperado aconteceu. Do meio das árvores, derrubando algumas delas, um taurino com mais de três metros de altura surgiu em uma investida contra o trio.

Ele tinha um dos chifres quebrados. Sua armadura estava muito danificada e o manto vermelho que os reis usavam estava totalmente rasgado. Suas patas fendidas deixavam uma marca de mais de trinta centímetros de diâmetro no chão e seu punho de quatro dedos era do tamanho de uma cabeça humana.

O taurino rei corria de maneira desenfreada e conseguiu vencer os dez metros que o separava de Kayan em um instante. Sem aura para sentir, o Atreius acabou reagindo tarde demais e não teve tempo de conjurar um aurus pinn. Para se defender, colocou o braço direito na frente do soco desferido pelo inimigo e protegeu-se com aura.

O impacto do golpe foi tão forte que arremessou o rapaz uns cinco metros para trás. No momento do impacto ele sentiu o osso de seu braço direito se quebrando.

Apesar do gemido de dor abafado, o mago negro conseguiu parar em pé enquanto segurava o braço ferido. O taurino rei urrava, imitindo um grito quase ensurdecedor, desafiando os três magos para o combate.


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Notas finais do capítulo

Eu reli, revisei e reescrevi o momento do beijo entre Kayan e Thays um monte de vezes, então espero que tenha ficado bom.

Originalmente não era para os dois ficarem juntos. Haveria uma nova personagem que apareceria antes da missão dos sraths e Kayan se tornaria um mestre para ela. No entanto, enquanto escrevia os sete capítulos daquele arco percebi que a Thays não merecia isso, então mudei de ideia e estou muito feliz pela maneira como as coisas estão seguindo na história.

Além disso, decidi fazer com que eles ficassem juntos naturalmente ao invés de apelar para um clichê mais emocionante (que eu já usei com o Spaak e a Aghata, blame on me), e gostaria de saber se ficou bom de verdade como eu acho que ficou.

E daqui a quinze dias teremos um capítulo extra o/



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