A Ordem de Drugstrein escrita por Kamui Black


Capítulo 23
Guilda Smalter - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Uma nova missão aguarda a equipe de Kayan. E Desta vez eles contarão com a ajuda de outra equipe e reencontrarão alguém que há muito não viam.



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Capítulo 022

Guilda Smalter (Parte 1)

O sol do final do verão iluminava o gramado dos jardins internos do castelo de Drugstrein, onde Kayan permanecia em pé e concentrado. O dia estava quente e o jovem mago permanecia apenas com as calças e sem a túnica. Tentou novamente o feitiço enquanto movimentava sua mão esquerda sobre o antebraço direito. A lâmina negra do giudecca alongou-se a partir de seu punho e tomou forma. Esforçou-se em enviar a energia necessária para que ela permanecesse ali, mas a espada explodiu em um relâmpago escuro. O choque arremessou o jovem para trás e ele desequilibrou-se e caiu na grama. Deitou-se e ali permaneceu alguns minutos entretido em seus próprios pensamentos.

Não deu certo... por que será que é tão difícil mantê-la ativa? Fechou os olhos enquanto raciocinava e sentia a breve brisa refrescando-lhe.

– Você está bem?

Reconheceu a voz e abriu os olhos no mesmo instante para observar os cabelos castanhos quase chegarem até o seu rosto. Sarah inclinava-se para fita-lo e Kayan observou por um instante os belos traços de seu rosto. Por fim, a garota sentou-se na grama ao seu lado. Ele imitou-a e eles permaneceram daquela maneira.

– Faz muito tempo que não ficamos aqui conversando, não é?

– É mesmo, Kayan. Principalmente esta última lua em que combatemos goblins e orcs no norte.

– Na época em que éramos aprendizes ficávamos aqui todos os dias de folga, você o Mathen e eu.

– Eu me lembro disso como se fosse ontem. Num dos primeiros dias de folga aquele Viktor Smalter atacou você, que quis enfrentá-lo sozinho para nos proteger.

Kayan pensou um pouco antes de responder.

– Ele acabou levando a melhor daquela vez. Se ainda estivesse aqui daria o troco nele. Talvez até você e o Mathen poderiam enfrentá-lo. Nossa equipe tem se tornado poderosa e estamos sendo bem reconhecidos aqui na Ordem.

– Sim. Kayan, me ajude em uma coisa?

Sarah virou-se para olhá-lo diretamente nos olhos. O Atreius apenas virou sua cabeça para lado da garota.

– E como eu poderia recusar quando me olha desta maneira?

Ela deu uma risada sem graça antes de prosseguir.

– Me ajude a treinar os feitiços de fogo?

– Claro. Mas por que esse interesse repentino?

–Quero me tornar mais ofensiva. A minha magia branca e as de água ajudam bastante, mas convenhamos que eu não seja muito boa em combate.

– Você é fundamental para a equipe, Sarah, nos dá suporte e já nos salvou diversas vezes.

– Sei disso e ainda desempenharei esta função na equipe. Mesmo assim gostaria de ajudar mais em combate.

– Se está tão determina a aprender, será um prazer ensiná-la.

Ele sorriu para ela, que sorriu de volta.

– Kayan.

Ao ouvir seu nome o rapaz virou-se para ver quem o chamara e deparou-se com um rapaz franzino e de cabelos loiros. Lembrava-se dele na época em que eram aprendizes, mas não recordava-se de seu nome. No entanto, sabia que ele não havia passado nos testes da primeira vez e fazia pouco tempo que ele engrossava as fileiras de Drugstrein.

– Pode falar.

O mestre de elite Ashtar Asford mandou chamá-lo. Ele está na sala de planejamento quatorze.

– O que será que ele quer comigo?

– Não sei, apenas pediu para que te chamasse.

– Então é melhor eu ir logo, ele não é o mais paciente entre os mestres de elite.

Levantou-se e ajudou a garota a se levantar.

– Te vejo mais tarde.

– Certo.

Em seguida, pegou a túnica que estava pendurada no galho de uma árvore próxima e caminhou em direção ao castelo enquanto se vestia.

* * *

Kayan caminhava pelo longo corredor enquanto imaginava o que o mestre poderia querer com ele. Suas respostas viriam em breve, pois ele acabara de chegar em frente a sala de reuniões quatorze e já virava a maçaneta para entrar – apesar de serem caras, a maioria das portas de Drugstrein que não eram trancadas por magia possuíam suas fechaduras.

Assim que entrou na sala viu o mestre de elite que estava sentado em uma cadeira atrás de sua mesa e observava o lado de fora por uma grande janela aberta. Uma suave brisa entrava na sala, agitando os cabelos negros e longos de Ashtar. À direita da entrada, sentada em uma confortável cadeira, estava uma conhecida de Kayan que possuía belos cabelos azuis. Surpreso, ele se dirigiu primeiramente à Cyren.

– Thays. Você também foi chamada?

– Você logo entenderá, jovem Kayan – o mestre dirigiu-se a ele ainda de costas. – Demorou para chegar, foi difícil encontrá-lo?

Enquanto o rapaz respondia, o Asford virava sua cadeira para fitar ambos os presentes.

– Peço-lhe desculpas pela demora, mestre Ashtar – respondeu com polidez. – Mas estava treinando e resolvi tomar um banho e trocar-me para estar apresentável.

– Acho que esqueceu-se dos cabelos.

– Na verdade gosto deles assim mesmo, bagunçados.

– Tudo bem, então – respondeu com um meio sorriso. – E como está sua equipe? Soube que passaram cerca de trinta dias ajudando a combater as invasões dos bárbaros no norte.

Mesmo sabendo que não estava ali apenas porque o mestre preocupava-se com sua equipe, Kayan segurou sua curiosidade e respondeu-lhe.

– Todos estão bem. Estive com Sarah Harppon há pouco e Mathen Muscort visita seu pai na enfermaria, porque ele se feriu em sua última missão.

– Ah sim, Alfonse Muscort e Marie Dier. Excelentes magos liderados pelo mestre Thomas Durgan. Geralmente fazem missões de classe B. Enfim, vamos ao que importa. Podem se aproximar?

Thays levantou-se e se aproximou de Kayan e, juntos, ficaram logo a frente da ampla mesa do mestre de elite.

– Agora vou lhes dizer o porque de ter chamado vocês até aqui. Escolhi as suas equipes devido ao mérito de missões anteriores, para executarem uma importante missão de classe A em conjunto.

– Uma classe A para duas equipes sem um mestre? – perguntou-lhe o Atreius, meio confuso.

– Ah sim, isso parece assustar vocês, mas haverá um mestre, e a missão será realizada com quatro equipes, na verdade. Vocês se unirão a duas equipes da guilda Smalter, que, como vocês sabem, é aliada de Drugstrein. Esta guilda está em guerra contra outra guilda chamada Garforden. Normalmente as ordens não tomam partidos, mas existem regras em uma guerra entre guildas e Garforden quebrou essas regras. Terão mais detalhes quando chegarem lá.

– Entendo. Antes de aceitar esta missão terei que conversar com minha equipe.

– O mesmo para mim.

Kayan explicou-se seguido por Thays.

– Certo. Estarei nesta sala, mas apressem-se, pois o tempo é curto. Dou-lhes uma hora.

Ao dizer aquilo, Ashtar retirou uma ampulheta de uma das gavetas e virou-a sobre a mesa enquanto sorria para o casal.

* * *

Assim como era esperado, as equipes concordaram em participar daquela missão e, assim que receberam as últimas instruções do mestre de elite, cavalgaram imediatamente para um pequeno vilarejo onde deveriam encontrar o mestre da guilda Smalter: Joseph.

Chegando no vilarejo eles descobriram, através do proprietário do estábulo onde deixaram seus cavalos, que os magos que procuravam estavam acampados a alguns quilômetros dali.

Durante o percurso, que resolveram vencer correndo impulsionados pelas próprias auras, Sarah resolveu deixar bem claro seu desagrado pela companhia de certa pessoa.

– São mais de mil magos, quase trezentas equipes contendo apenas magos e tínhamos que ser enviados para cá justamente com a equipe de Thays.

– Não comece com isso Sarah – respondeu-lhe Kayan. – Essa implicância sem motivos contra a Thays.

– Mas não é sem motivos. Você bem sabe que ela também não morre de amores por mim.

– Pode até ser, mas tentem cooperar. Sei que ela será bem profissional quanto a isso e gostaria que você agisse da mesma maneira. Afinal de contas, vocês não se odeiam e nem são rivais ou algo assim.

– Ei, Kayan, poderia falar com você? – disse Thays enquanto diminuía sua velocidade para ser alcançada.

– Essa não morre mais.

Após protestar, Sarah afastou-se e se uniu à Ellien, Mathen e Bren que corriam pouco mais ao lado do local de onde estavam.

– Pode falar – o Atreius respondeu para a garota que se aproximava.

– Tenho novidades sobre Sakuro. Meu primo finalmente resolveu se casar.

– Sério? E já marcaram a data?

– Ainda não, mas acho que será na metade do outono. Ele me disse que utilizará a influência dele como granmestre para que todos as pessoas mais próximas não estejam em missão no dia. Você certamente será convidado.

– Que bom, você e sua equipe também estarão lá, eu presumo.

– Com certeza. Achou mesmo que eu deixaria meu último parente mago se casar sem que eu estivesse presente?

– Último parente mago?

– Sim. Os Cyren também são uma família agonizante, assim como os Atreius. A mãe de Sakuro não consegue utilizar magia e nem sequer vive em Drugstrein. Minha mãe, que vive comigo, também não tem nosso dom. Sendo assim...

O assunto deles se encerrou assim que eles viram o rústico acampamento formado por uma grande tenda de couro e tecido. Assim que chegaram, um homem de rosto fino e longos cabelos ruivos aproximou-se. Ele trajava-se com vestes esverdeadas, contendo um camisão de cota de malha por trás de uma jaqueta de couro e uma longa capa que chegava até o chão.

– Devo presumir que vocês sejam os reforços de Drugstrein. Sou Joseph Smalter.

– Prazer em conhecê-lo, sou Kayan Atreius – agindo como porta voz, apertou a mão do homem à sua frente.

– Devo dizer que o prazer é meu em conhecer sua equipe. Resistir uma volta de lua no norte contra goblins e gnolls não é algo pra qualquer um.

Kayan retribuiu-lhe um sorriso sem graça.

– Isso não posso negar. É, realmente, feito nosso.

Em seguida ele direcionou-se para a outra equipe.

– E vocês devem ser a equipe de Thays Cyren, responsáveis pela captura de três feiticeiros perigosos. Parece-me que este tipo de missão tem se tornado a especialidade de sua equipe.

– Acho que sim – respondeu a maga, enrubescendo-se com certa timidez.

– Feiticeiros?

Mathen não compreendeu o termo, apesar de ter a certeza de já tê-lo ouvido em alguma outra ocasião. Joseph adiantou-se para explicar.

– São magos que nunca estudaram em nenhuma ordem ou guilda e aprenderam através de livros e praticas individuais. Geralmente não são muito poderosos e utilizam a magia para pequenos feitos e ganhar a vida. Alguns reis e senhores procuram seus serviços. Outros, entretanto, acham que seus poderes são enormes e acabam utilizando apenas em beneficio próprio, prejudicando outras pessoas. Estes são caçados pelos magos das ordens.

Fez uma pausa e recebeu um aceno afirmativo do jovem Muscort. Satisfeito por ele ter entendido, resolveu chamar os demais membros de sua guilda.

– Aguardem um minuto que chamarei os magos que também participarão desta missão.

Ele, então, caminhou até o barracão e entrou. Pouco tempo depois retornou com mais dois homens um pouco mais velhos. Atrás deles vieram dois rapazes sendo um bem alto e magro e o outro um pouco mais encorpado – para não dizer acima do peso. Entre meio estes dois últimos, um pouco mais afastado, vinha um outro rapaz de rosto bem conhecido por Kayan. Os cabelos ruivos e o sorriso orgulhoso eram impossíveis de não serem reconhecidos.

– Atreius? Mas o quê você faz aqui com essa sua equipe medíocre?

– Também estou muito feliz em te rever, Viktor – o rapaz respondeu com sarcasmo.

– Pai, nós não precisávamos de reforços de Drugstrein, além disso, olha só que equipe fraquinha que eles enviaram.

Kayan sentiu-se tentado a revidar as palavras com gestos que demonstrariam que eles não eram fracos, mas limitou-se a olhar de maneira irritada para o rival.

– Não seja grosseiro, meu filho. Sei que não precisaríamos de reforços caso aguardássemos que nossas equipes retornassem de suas missões, mas a Garforden decidiu envolver civis em nossas diferenças. Além do mais, estas duas equipes são muito bem reconhecidas dentro da Ordem de Drugstrein.

Apenas depois que o pai lhe repreendeu que ele percebeu que havia mias uma equipe presente.

– Thays, você também veio! Faz muito tempo que nos falamos é muito bom te rever.

Ao assistir aquela cena, Mathen aproximou-se do líder de sua equipe para sussurrar:

– É impressão minha, ou a personalidade dele mudou de repente?

– Parece que sim – o amigo concordou.

– Acho que ele é hostil apenas quando é com você, Kayan – Sarah completou as observações.

A tentativa de Viktor de abraçar a Cyren foi frustrada pela mesma, que o empurrou enquanto franzia o cenho.

– Pra que isso, Thays? Pensei que fossemos amigos – o Smalter protestou em meio à surpresa e decepção.

– Somo amigos, mas não gostei nem um pouco de te ouvir insultando os magos da ordem da qual faço parte.

– Mas... eu não estava falando de você – tentou explicar-se enquanto a garota cruzava os braços e virava-lhe as costas.

Assistindo a cena de certa distância estava Kayan, que ria discretamente da “desgraça” do rival.

– É isso aí, Thays, empurra esse otário, não deixe qualquer um ir te abraçando desse jeito – disse apenas para que a própria equipe ouvisse.

– Fala isso como se vivesse abraçando-a.

Mathen disse para o amigo, que fez uma cara de culpado.

– Na verdade ela é que me abraça às vezes quando nos encontramos.

– Que tipo de relação você tem com a Thays, Kayan?

Sarah perguntou-lhe em um tom acusador e o Atreius apressou-se em se explicar.

– Não é nada disso, Sarah, somos apenas bons amigos, nada mais.

– Mas vocês se falam bastante. E você passa quase tanto tempo com ela que conosco.

Sarah argumentou enquanto Mathen afastava-se para deixar os dois conversarem à sós.

– Sim, mas é para trocarmos nossas experiências das missões.

Sarah iria continuar questionando, mas Joseph Smalter chamou todos para dentro do barracão para explicar-lhes como seria a missão. Kayan ficou bem feliz com a mudança de assunto.

A barraca era relativamente espaçosa. Haviam tapetes no chão e seis camas de tecido estavam presas nos mastros de sustentação. No centro havia uma grande mesa com um mapa da região sobre a mesma. Ao ter que acomodar doze pessoas juntas, porém, o espaço tornou-se diminuto e todos queriam apressar aquilo para saírem logo daquele aperto.

– Nossa atual situação se consiste na guilda Garforden na vantagem. Eles dominaram os dois vilarejos na região para usarem como base militar – disse Joseph enquanto apontava no mapa. – Essa ação deles é o que motivou Drugstrein a aceitar nosso pedido de ajuda e interferir. Nosso primeiro objetivo será liberar esses vilarejos para que não fiquemos cercados quando atacarmos a sede da guilda.

– Nosso primeiro campo de batalha será uma vila? – perguntou Ellien. – Não gostei disso, alguém pode acabar ferido.

– Entendo sua preocupação – respondeu-lhe o mestre da guilda Smalter. – Por isso devemos evitar abrir combate em campo aberto. Também nos dividiremos em duas equipes para agirmos simultaneamente. Feito isso deveremos nos reunir novamente neste ponto – e apontou para o local designado.

Após saírem do acampamento, Joseph acionou três círculos rúnicos próximos a entrado do acampamento e ele começou a diminuir de tamanho e a se dobrar até tomar a forma de um baú de cerca de um metro de largura.

– Uau! – Mathen exclamou enquanto Bren liberava um sonoro assovio.

– Mestre Joseph, que feitiço foi este?

– Meu pai é poderoso e inteligente demais para você Atreius, ele não irá falar.

– Também estou feliz em não ter que lutar ao seu lado por enquanto, Viktor.

Kayan respondeu-lhe para observar uma careta do outro rapaz. Joseph ignorou as desavenças entre os dois e sanou a dúvida do jovem mago.

– Na verdade é um encantamento muito complexo. Um objeto é formado por partículas minúsculas e este encantamento nos permite manipular tais partículas para que elas se agrupem umas perto das outras. Existem limitações como, por exemplo, o peso que não diminui. Você poderá tentar aprende-lo, embora geralmente apenas mestres conseguem dominá-lo.

– Então vamos agir! – interrompeu-os Mathen.

E cada grupo seguiu seu caminho. Estavam otimistas e certos de que a vitória estava garantida.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí se lembra do Viktor? Aposto que sim.

E será que mais tretas irão rolar entre ele e o nosso protagonista?

Comentários, criticas, elogios, teorias mirabolantes, são todos muito bem vindos.



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