Koala não gostava realmente de dançar. Era tímida e, como ela mesma não tinha vergonha de admitir, não era muito convidada para festas. Isso significava que não tinha lá muita experiência em dançar, exceto quando Bonney saia da república e ela podia colocar os fones de ouvido na maior altura e dançar pelo quarto inteiro enquanto arrumava a bagunça espalhada pela colega ou ainda quando Sabo inventava de gira-la sem aviso prévio com a música de abertura de algum desenho animado ou a música tema da Fox, dublando em ambas as ocasiões (tãn-tarân-tã-tã-TÃÃÃÃÃÃ). Mas não podia perder a oportunidade de fazer o amigo pagar mico.

Sabo era péssimo dançarino. Ace sabia disso. Koala sabia disso. A universidade INTEIRA sabia disso. Mas ele mesmo não sabia. E ele GOSTAVA de dançar. O que era um grande problema nas dezenas de festas universitárias que ele inventava de ir.

Mas, mesmo que no fundo ela estivesse agradecendo por isso, era estranho que o garoto estivesse com os braços cruzados, fazendo bico e encarando a garota de cima emburrado, como uma criança de cinco anos à qual foi negado o pedido de sobremesa antes do jantar.

–-Quanto tempo vai ficar aí, parado?

–-Eu não vou dançar.- Ele franziu ainda mais a testa.

–-Você dança o tempo todo naquelas porcarias de festas. Qual o problema de dançar comigo?

Sabo apontou para trás com o polegar, aonde presumia que o irmão adotivo estivesse, rindo da situação em que o jogara .

A garota inclinou a cabeça para o lado, tentando enxergar por detrás da muralha que chamava de melhor amigo.

–-Parece que seu conterrâneo de farmácia esta se dando bem com a Bay.- Ela soltou uma risadinha.

–-Conterrâneo de farmá... Espera, o que?- Ele se virou rapidamente, arregalando os olhos em choque.

De alguma forma, Marco conseguira ser derrubado por Bay, que ria da situação e fazia troça do parceiro de dança que, surpreendentemente, também ria da situação. O clima entre os dois era muito diferente do usual, aonde era possível sentir a energia competitiva saltando dos dois como pequenos raiozinhos efeito-especial-de-mangá. E isso era MUITO ESTRANHO.

–-Viu?- Koala endireitava a coluna- Música ajuda na união das pessoas!

–-Principalmente essas musiquinhas de natal.- Ele deu um sorrisinho de leve, ainda sem se virar, voltando a fecha a vara em menos de um segundo- Que, aliás, são péssimas para dançar.

–-Isso não é motivo para não dançar comigo.- Ela colocou as mãos na cintura- Principalmente se depender dos seus irmãos.

–-O que...?- Ele estreitou a vista na direção do palco onde a música era controlada, a tempo de ver Ace e Luffy mexendo nos instrumentos- Mas o quê...?

E, naquele momento, uma valsa leve começava a preencher o salão, atraindo os casais que se encontravam no recinto.

–-Desgra...- Sabo fez menção de ir atrás do par moreno que lhe lançava joinhas do outro lado do bar, sendo impedido pela amiga.

–-Ah NÃO!- Ela o segurou pelas bochechas, usando uma punica mão em forma de garra- NÃO SE ATREVA!

–-Mashi...- Ele tentava falar enquanto sentia os dentes machucarem a parte interna das bochechas- ...Eu daum shei danshar valsha.

Koala deu um sorrisinho.

–-Sorte a sua que eu sou ótima professora.- Ela soltou o rosto do amigo- Coloque a mão direita na minha cintura.

–-Q... Quê?- Sabo afagava as maçãs do rosto doloridas.

–-E use a esquerda para sustentar a minha mão direita.

Sabo teimava em continuar com as mãos no rosto, escondendo o rubor leve que passava por elas.

Koala soltou um suspiro, tomando as mãos do amigo.

–-A mão direita do cavalheiro...- Ela posicionou os dedos do amigo um pouco acima do próprio quadril- Vai na cintura da dama.

Ela lançou um olhar para o amigo, que desviava o rosto, antes de prosseguir.

–-E a mão esquerda do homem...- Ela posicionou ambos os membros na posição correta entrelaçando ligeiramente os dedos.- Sustenta a direita da dama.

–-E daí é só dois-pra-lá e dois-pra-cá?

–-Pra direita primeiro.- Ela pousou a mão esquerda no ombro do amigo com certa dificuldade.

A situação era um pouco divertida para quem visse a cena. Por mais que Koala usasse saltos, a diferença de 27 centímetros de altura entre os dois era claramente visível e dificultava um pouco a dança visto a diferença entre o alcance de passos. (mas é claro que aos olhos de shippers –presente!- a cena é incrivelmente kawaii ♥ )

–-Porque você tem que ser tão baixinha?- O loiro falhava quase que miseravelmente em conduzir a dança. Era óbvio que ele não fazia a menor ideia do que fazia ali.

–-A biologia explica que na espécie humana as fêmeas geralmente são menores que os machos.

–-A geografia explica que quanto menor a latitude mais quente é o lugar.

–-Que.. que tipo de comentário foi esse?

–-Um comentário aleatório de um estudante de cartografia.- Ele levantou a sobrancelha como se a desafiasse.

–-Idi...- Sabo levantou um pouco mais a mão direita, encaixando melhor o palmo na curva da cintura da parceira de dança.

E ele sentiu que a respiração dela falhou uma vez enquanto ela endurecia o corpo.

E soltou um risinho.

–-A senhorita Marsupial está corando?

–- Só... Cala a boca e dança comigo.- Era a vez de Koala desviar o olhar, o que era difícil já que ele a encarava de cima.

–-Sim senhora.

Mas ele ainda ria quando a girou pela primeira vez.

E, não muito longe dali, Ace, Luffy e Thatch trocavam High Five com a boca cheia de bolo.

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–-Um punhado de horas depois porque eu já perdi a noção de tempo nesse capítulo--

Sabo se jogou de volta no mesmo banco de onde fora tirado muito tempo antes, soltando o ar com força, como se fosse ajudar a extravasar o sono e o cansaço. Ao fundo escutava o choro do pequeno Eiji, o pequeno bebê de três meses de Makino. Era estranho ve-lo já relativamente grande (e chorão), afinal, da última vez que o vira ele não passava de um feto ainda crescendo dentro da barriga, reconhecido como menino apenas pela foto de baixa qualidade do ultra-som que Shanks carregava, todo corujão, para todo lado.

A festa de natal em si já acabara havia muito tempo, levando Koala embora. A garota costumava “dormir com as galinhas”, como diria Dadan, e depois de quase uma hora ralhando com o amigo para que dançasse direito, ela já começara a se apoiar no peito do mesmo, exausta e desmaiando de cansaço. No fim, ela voltara para casa carregando Luffy que caíra no sono ainda comendo bolo.

Mas, Sabo e o trio dos pixels de Shirohige haviam recebido outra missão: ajudar na limpeza do bar.

E era impossível negar qualquer coisa sob o olhar de Shanks.

–-Cansou Sabugo de milho?- O ruivo aparecia atrás do balcão, ninando o filho que ainda dava indícios de choro.

–-Detesto esse apelido.

–-Prefere que eu te chame de Visconde de Sabugosa?

Sabo voltou a encarar o teto ridiculamente interessante para o detentor de TDAH.

–-Não conheço esse.

–-Não esperava que conhecesse. É um personagem popular infantil do Brasil, lá da américa do Sul. O escritor dos livros é bem famoso por lá.

–-Nunca fui a América do Sul.

–-Pois devia.

Ace se sentou ao lado do irmão, soltando o esfregão de qualquer jeito.

–-Dá um tempo Ruivo. Não é todo mundo que consegue ter um emprego tão bom quanto o seu e conhecer o mundo inteiro.

O meia-idade ergueu a mão livre como se desistisse.

–-Certo, certo. Esquece.

O segundo loiro mais amado da fic chegava seguido pelo cover de Elvis Presley, visivelmente irritado.

–-Não acredito que me fez limpar os banheiros!

–-Eiei, abaixa o tom de voz! Meu filho quer dormir! -Era engraçado como ele gesticulava na direção da criança como se dissesse, orgulhoso, “FUI EU QUE FIZ!”.

–-Hunf.- Marco ainda não parecia feliz, mas baixara o tom de voz.- Porque eu tive que ficar mesmo?

–-Porque a Bay mandou.- Thatch revirava os olhos por ter de responder a mesma pergunta pelo que parecia ser a 1626523637 vez.

–-E o que você esta fazendo aqui Sabo? Ninguem te mandou ficar aqui.

–-E perder a oportunidade de ver você limpando o banheiro masculino?

–-Haha. Agora responde sério.

Sabo deu de ombros. Nem ele mesmo sabia o porque de ter ajudado com a limpeza ao ponto de ficar com bolhas nos dedos por culpa da maldita vassoura.

–-Sei lá. Koala foi embora e... Eu fiquei.

–-Resumindo, você simplesmente ficou pra ajudar simplesmente porque esqueceu de ir pra casa porque a Koala não veio te lembrar de ir embora?- Marco o encarava como se perguntasse “sério?!”.

–-Hã....

–-Pffffff- Ace soprou o ar imitando um cavalo.- Cara, você ta muito caído por ela.

–- Verdade.- Thatch completava- Tudo o que você fala ou faz tem a ver com ela.

–-Hã...

–-“Koala mandou eu ligar pra desejar feliz páscoa.”

–-“Não cortei o cabelo porque Koala disse que ficou legal assim.”

–-“Koala também gosta de vermelho.”

–-“Koala vai gostar de conhecer o Eiji. Ela adora bebês.

–-Não vai nem tentar negar?

–-E ia adiantar de alguma coisa?

–-Não.

–-Então não vou gastar saliva com isso.

–-Bom! Já concluiu o primeiro passo! Aceitação!

–-Haha.

–-Agora pula pro segundo: Já se confessou?

–-Ontem ela começou a reclamar comigo que ter peitos grandes era uma coisa inútil. O que você acha?

–-Que a sua friendzone chegou ao ponto de ela esquecer que você pertence ao genêro masculino.

–-Na real, eu tentei... Uma vez, uns meses atrás...

(--Flashback porque eu gosto de Flashbacks--)

Sabo brincava nervosamente com a barra do uniforme. Depois passava a coçar a nuca. Refazia o nó da faixa na cintura. Coçava o olho com a cicatriz da queimadura.

Tudo não necessariamente nessa ordem, mas que estivera repetindo pelos últimos vinte minutos até que a amiga terminasse a sequência de chutes no pobre Hack com equipamento de proteção.

–-O que eu não faço por aquele prê...PELA MINHA EQUIPE!- Hack se levantou, puxando a máscara de Baseball- Precisa treinar mais a perna esquerda Koala, mas chega de treino por hoje. Vão estudar.

Koala assentiu para o treinador que já se retirava da academia, provavelmente em busca de um analgésico, e se virou em busca da própria bolsa.

E se passaram mais cinco minutos até que Sabo tivesse coragem de se levantar e ir atrás da garota.

–-Uh... Koala?

–-Hun?- Ela continuava abaixada de costas, metodicamente arrumando a garrafa de agua entre os protetores de canela.

–-O que eu faço se eu estiver gostando de alguém?

Koala parou de fechar o zíper pela metade. E calmamente se levantou, virando para o lado certo antes de explodir.

–-AI MEU DEUS! SABO VOCÊ TEM UM QUEDA POR ALGUEM?!?!- Ela começou a dar pulinhos- QUE COISA MAIS FOFA!!!!!!

–-Bem...

–- É uma garota né?

–-Hã...

–-Não tem problema se for um garoto! Eu não tenho preconceito! Mas daí eu não posso te ajudar e...

E Sabo também explodiu.

–-ESTA DUVIDANDO DA MINHA MASCULINIDADE?!

–-Então é uma menina!! Ai meu Deus, você ficou todo vermelho! Então realmente esta gostando de alguém!!!! Owwwwnnt!!!

O loiro bufou. Não fora essa a reação que ele esperava.

–-Quem é? Eu posso saber? Você confia em mim, não confia? Ein? EIN? EEEEEIIINNNN?

Aquela DEFINITIVAMENTE não era a reação que ele esperava.

–-Ni... NINGUEM!-Ele cruzou os braços, envergonhado. Sua voz tinha saído um pouco além do que esperava- E-eu só... Só quero estar preparado pra... Pra...

–-Me elogia.

As horas ensaiando em frente ao espelho não tornaram a capacidade mental limitada do universitário preparada para isso.

–-Hã?

–-Eu quero ver se você está preparado pra elogiar bem! É uma das primeiras coisas que garotas costumam reparar!

–-Quando eu te elogio você começa a rir!

–-Perdão, eu quis dizer que garotas NORMAIS reparam. Agora manda, eu vou me esforçar pra ficar quieta.

Aquela era a hora em que ele desejava ter prestado atenção as cenas melosas dos filmes/séries que costumava assistir.

–-Hã... Ko...Koala... Você é.... Como um anjo sem asas?

–-Então.. Como uma pessoa normal?

–-Eh...

–-Todos os anjos com nomes na Bíblia são homens. Está me chamando de masculina?

Ela cruzou os braços. “Ai caramba, mau sinal...”- Era a única coisa que Sabo conseguia pensar.

–-Na..Não! É.. como um anjo... feminino?

–-Todos os outros anjos são completamente irrelevantes. Está me chamando de irrelevante?

–-Bããã...

–-Além disso, dizem que anjos são assexuados. Está dizendo que eu nem mesmo PAREÇO uma garota?

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–-... E daí meu cérebro entrou em colapso, ela saiu dando risada, eu corri atrás dela e passei um dia inteiro tentando aprender como elogiar uma garota. Fim da história.

E é claro que o grupo masculino já estava gargalhando na metade da história, inclusive o pequeno ser que não fazia a menor ideia do que se passava.

Sabo revirou os olhos.

–-Até um bebê está rindo da minha desgraça. Eu to perdido.

–-Até que (hehe) Não....- Shanks tentava falar enquanto dava risada- Se fosse qualquer outra garota teria sido um bom elogio.

–-A culpa é (haha) sua (haha) por ter escolhido uma tão difícil!- Ace terminava de constatar o óbvio.

–-Hunf.

–-Mas (hihi) e aí (hihi)- Marco parecia ser aquele com mais dificuldade em parar de rir- As aulas foram tão boas quanto as de valsa?

–-Esqueci tudo um segundo depois que ela falou.

–-Bom isso é meio óbvio.- Thatch tinha autocontrole o suficiente para recobrar o estado normal.

–-Ele devia estar muito concentrado em como os olhos azuis dela fecham enquanto ela ri...

–-E como eles brilham quando dão açúcar pra ela...

Sabo fechou a cara.

–-Parem de falar dela!

E é claro que isso fez todos voltarem a rir.