Dez Desejos escrita por Gii


Capítulo 49
Vareta da compreensão


Notas iniciais do capítulo

É impressão minha, ou só tem capitulo do Jacob agora? Gente...



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Capitulo 50 — Vareta da compreensão

Jacob

Havia... Morte. Sangue e gritos para todos os lados. Um alarme alto e incessante. Aonde eu olhava ao redor, casas explodiam e mulheres, crianças e homens corriam tentando não serem acertados pelas bombas que caiam do céu.

Me perguntei aonde eu reconhecia aquele tipo de casa. Tinha um telhado diferente das que eu era acostumado a ver. As suas ruas mais inclinadas e o chão com tijolinhos em vez de cimento, agora esburacadas por conta das bombas. A terra voava para cima a cada novo impacto, fazendo uma densa neblina de área.

Apesar da gritaria e da correria, eu podia ver que suas roupas também eram diferentes. As armas eram diferentes.

— Fujam schnell! — gritou uma mulher para três crianças, que corriam preocupadas em baixo dos braços da mãe.

Minha cabeça estava rodando, eu estava confuso. Aonde eu estava? O que estava acontecendo?

Uma granada explode ao meu lado, mas não faz efeito algum em mim. Tentei ajudar uma garota que tropeçou ao meu lado enquanto tentava correr, mas minhas mãos a atravessam. Olho para minha mão e ela está translucida.

O que estava acontecendo comigo?

Vi uma garota abrir a porta de sua casa, com a cabeça abaixada e com os braços envolvendo vários livros. Ela tropeçou na sarjeta, mas logo se levantou, nem olhando o novo machucado em seus joelhos.

Vinha em minha direção, mas não olhava para frente. Ela correu com toda a velocidade e eu vi que seu destino era a casa no fim da rua, exatamente onde a maioria das pessoas corria. Talvez ali fosse um abrigo.

Ela correu atravessando o meu corpo e eu soltei uma exclamação ao sentir ela me atravessando.

A garota parou de correr ao ouvir o minha voz. Olhou em minha direção, mas parecia não enxergar nada ali. Então seus olhos pararam em alguma coisa ao meu lado. Vi seus olhos encherem de um brilho que me lembrava vitória mas ao mesmo tempo, derrota.

Eu me virei para procurar o que chamara sua atenção e encontrei. A casa de onde saíra estavam em chamas. Na janela da sua casa, a bandeira Nazista que antes bruxuleava com o vento, queimava com o fogo.

A garotinha deu um sorrisinho satisfeito antes de voltar a correr para o abrigo, onde todos estavam.

...

Uma vez que percebi que estava deitado no chão, sentei de súbito. Eu havia acordado e agora estava sentado no chão de madeira da varanda da casa de Tia Lesley, com a respiração pesada e com a cabeça meio dolorida.

O que...

— Melhor, garoto? — ouvi a voz de Howtheir atrás de mim e eu me levantei com um salto, tentando ficar o mais longe possível dele — Hey, relaxa. Nós já terminamos.

Minha cabeça girou. Eu estava mais confuso do que o normal.

— O que... foi aquilo?

— Ketlan te apagou para que conseguíssemos fazer tudo sem ouvir você berrando de dor. — Ele disse com simplicidade — Desculpe pelas memórias que ele te enviou no sonho, mas acho que ele nunca realmente esqueceu daquilo. Até mesmo um semideus pode ter problemas demais na cabeça, garoto. Acredite quando dizemos que somos parecidos com vocês.

Eu respirei fundo, sentindo minha boca seca.

— Bem, se eu estivesse na Primeira e na Segunda Guerra Mundial também não esqueceria. — ele sorriu um tanto triste — Mas não estamos aqui para falar sobre um massacre, estamos?

Eu fiquei em silencio.

Ele sorriu para mim.

— Você está mesmo bravo comigo? — Ele disse franzindo a testa enquanto um sorriso brotava em seus lábios — Muito mal agradecido você! Eu estou de dando a chance de escolha e você ainda fica bravo comigo por ter te apagado?

Eu não disse nada, apenas me abaixei e limpei minha bermuda que estava suja de poeira cinza.

— Olhe bem aqui Black, o que fizemos não foi nada, nada natural. Estamos nos colocando em risco fazer tudo isso com você;

— E o que exatamente vocês fizeram? Porque pelo jeito eu fui mesmo modificado, mesmo contra a minha vontade. — Perguntei tocando incoerentemente o local em meu peito onde formigava.

— Você tem um terceiro fio. Como... Como se você tivesse dois caminhos para seguir. Como foi mesmo que você explicou tudo aquilo sobre almas gêmeas? Pizza?

Eu assenti meio perdido, sem saber se entendia direito o que ele falava.

— Então... Imagine que você tenha duas pizzas em sua frente. Uma é de chocolate com morango, em seu todo muito doce e até mesmo um pouco enjoativo, mas com o leve ardido do morango ao fundo que deixa tudo melhor e faz o doce do chocolate diminuir consideravelmente. E a outra é uma mexicana. Queijo e todo tipo de pimenta. Aquelas pizzas que você sabe que irá arder sua boca por um bom tempo, mas tem certeza que valerá cada mordida. — Ele esticou as mãos como se segurasse em cada mão uma pizza. — Você só tem que escolher qual você vai comer, mas é melhor pensar bem garoto, porque você não poderá trocar o sabor.

Ele riu sua risada de Papai Noel quando eu pisquei aturdido e o encarei absorvendo tudo.

— E como eu farei para escolher?

— Na hora você saberá — Ele sorriu e me deu as costas, descendo as escadas da varanda e andando sobre a neve — Agora eu já vou indo, garoto. Você precisa pensar e eu... eu tenho problemas a resolver. Nos vemos em breve!

— Eu sinceramente espero que não. — murmurei para mim mesmo, mas Howtheir pareceu ouvir porque ele riu alto.

— Se cuide garoto. — disse ele com um ultimo olhar que considerei até mesmo carinhoso antes de sumir em uma chuva de flocos de neve.

O lugar onde ele explodiu em pedacinhos de neve ficou um pequeno montinho, como para me mostrar que aquilo havia mesmo acontecido. Eu fiquei um momento parado no mesmo lugar, fitando os flocos de neve grudando uns aos outros no chão, me sentindo um tanto atordoado com o mais novo problema em minha grande lista.

Escolher.

Agora era inevitável não pensar também em Renesmee. Todo o tempo até agora, tudo o que eu fiz, foi pensando em minha Leah. Eu dormia pensando em Leah, comia pensando em Leah, até mesmo respirava pensando onde cargas d’agua Leah havia se metido, pois ela sumira todo aquele tempo.

Eu tentei me reconfortar no começo. Talvez apenas escondida em alguma caverna em La Push como ela fazia quando estava muito, muito, muito triste. Mas algo martelava em meu peito, algo me fazia querer achar logo Anna e por algum motivo que desconheço, alguma coisa me dizia que se eu encontrasse Anna, eu encontraria Leah.

Eu evitei pensar em Leah quando me transformei com Quil para que ele não se preocupasse. Nós quatro já tínhamos preocupação demais... Ainda mais Seth.

Leah era sua irmã. Já não bastava pega-lo limpando algumas lagrimas pelos cantos da casa por causa do sumiço de Anna? Eu não podia deixa-lo mais preocupado do que ele já estava.

Eu sabia que ele tentava ser forte, mas eu conhecia aquela falta que ele sentia, aquela preocupação e incomodo que nunca cessava e sei o quanto é duro não fraquejar, ainda mais quando se trata da mulher que se ama. Eu mesmo já me pegara com o rosto enterrado nas mãos em agonia por não ter noticias de Leah.

Não me admiraria se ao encontrar Renesmee, Seth tente mata-la.

Ao pensar em Ness, algo adormecido se remexeu dentro de mim, revivendo memorias boas que eu eu havia guardado. Eu franzi a cara com desgosto que se eu não estivesse forçando ao extremo, não viria naturalmente.

Aquilo voltara. Meu carinho incondicional por ela estava ali, tentando ser igualando com o de Leah. Meu coração rachado ao meio, onde uma parte chorava por Leah e a outra chorava por Ness.

O que eu faria? Que lado escolher?

Não posso reclamar... Não foi o que eu pedi?

— Temos que admitir que ele se preocupa de verdade com você — Disse a voz feminina estridente e eu me sobressaltei ao ser arremessado de meu devaneio.

— Lesley!

Tia Lesley havia se materializado ao meu lado, com um pano azul enrolado na cabeça e olhando para o mesmo lugar que eu olhava antes. E apesar de eu ter dar um berro e empurrado ela — Ela até mesmo cambaleou um pouco —, apenas continuou falando como se eu tivesse apenas concordado com ela.

— Não é muito fácil achar um guardião que verdadeiramente se preocupa. A maioria só faz o seu trabalho e está pouco se lixando para o resto. Lembro muito bem quando falei com o meu... Alto, moreno, olhos tediosos e um sorriso tão branco que te deixava cego se olhassem por muito tempo.

Eu apenas continuei a encarando, tentando entender aonde ela queria chegar com aquilo.

— Ele não ligava muito para mim, nem ao menos lembrava o meu nome, mas quando eu pedi ele aceitou me ajudar e agora, aqui estou eu. Consegui o que eu queria e tudo o que precisei fazer foram algumas preces. — Lesley se virou lentamente para mim, me encarando por cima de seus óculos redondos que hoje tinham a lente vermelha. — Se quer alguma coisa que não é possivel ser realizada pelo homem, você pode rezar para que aconteça. Só precisa pedir para a pessoa certa.

Lesley continuou a me encarar, como se esperasse que eu entendesse o que ela estava dizendo, erguendo uma sobrancelha fina e olhando tão inquisitivamente dentro dos meus olhos que estava até me dando medo.

Ela queria uma resposta? Mas para que pergunta, sendo que ela não me fizera nenhuma pergunta? Talvez eu devesse fazer alguma pergunta em troca?

Talvez perguntar se ela já tinha ido para um hospício ou algo assim, porque aquilo explicaria seu jeito esquisito dos anos 70 ou 80 sou seja lá que for. Também pensei em perguntar se ela podia olhar para o outro lado porque aquele seu olhar estava me assustando, mas também deixei de lado.

Eu só sabia que ela esperava uma resposta minha e eu não tinha a mínima noção do que tinha que responder.

Eu estava ficando nervoso e começando a suar frio. Comecei a olhar ao redor, para a madeira do chão, meus tênis, minhas mãos, o telhado, a neve do lado de fora à procura de uma resposta, mas aquilo só estava de deixando mais nervoso ainda.

Quando eu vi, eu estava quase entrando em colapso e o que eu respondi foi quase um berro de desespero.

— Sim!

É, acho que a maconha finalmente estava me afetando.

— Sim o que? — Ela franziu a testa

— É... Eu não tenho certeza.

— O que está esperando? Pede.

— Pedir o que?

— Pedir para neve parar de cair, caraca! — Ela bateu com uma vareta na testa dele — Assim você pode continuar o seu caminho. Difícil?

— Au! Doeu!

Ela sorriu bondosa enquanto guardava a vareta no meio das roupas.

— Gostou? É a Vareta da Compreensão. Comprei em um site na internet. Acredita que paguei apenas cinquenta dólares e ainda ganhei um chaveiro do Sylvester Stallone coberto com sangue de verdade? — Ela deu uma risada estranha antes de me encarar novamente. — Mas sabe? Eu joguei ele no lixo. Tinha um cheiro estranho de bicho morto que me dava vontade de vomitar toda hora.

— Doeu... — Eu reclamei esfregando a minha testa continuamente.

— O importante é que você compreendeu o que deve ser feito. Mas não peça agora, seu guardião acabou de realizar alguma coisa pra você, não é? — Falou como se tivesse um papagaio preso na garganta. — Mas mudando de assunto...

Então, aquela velha que não tinha nada de velha se empoleirou em meu ombro, batendo os cilho tantas vezes que fiquei com medo de suas pálpebras caírem com o esforço extra.

Ela devia estar tirando uma com a minha cara. Eu bufei.

— Já escolheu que pizza vai comer? — perguntou com um tom que me pareceu forçadamente inocente.

Eu revirei os olhos. Que ótimo! A futura traficante do beco sabe o meu pequeno segredo-problema.

— Você falando assim parece até uma pergunta inocente — eu revirei os olhos tirando ela de cima de mim. Ela sorriu triunfante e forçou uma risadinha irritante.

— E é inocente! Tem pizza lá dentro. Melhor se apressar se não quer ficar sem um pedaço.

Eu parei um segundo para analisar a mulher em minha frente. Talvez ela não soubesse de nada mesmo. Era somente eu sendo alienado demais.

Aproveitei que ela não notara o assunto e tentei fingir que o fato de ter que escolher um sabor de pizza de verdade para comer não me afetava em nada.

Entrei na casa acompanhado de Lesley no meu calcanhar, passando pela multidão de pessoas que se espremiam para chegar na cozinha.

Senti o cheio quente de pizza e minha boca salivou. Eu nem percebera que fiquei tanto tempo sem comer nada. Minha barriga protestou em alto e bom tom.

— Daonde veio essas pizzas? — Perguntei ao ver a mesa com cinco pizzas em cima

— Ah, Tia Lesley que fez — Sorriu Jon logo mordendo um pedaço grande de pizza.

— Hmmmm que sabor que tem? Estou morrendo de fome...

— Morango com chocolate e mexicana. — Falou Seth de boca cheia enquanto distribuía um pedaço para uma mulher — Qual você vai querer Jake?

Meus olhos caíram diretamente em Lesley, que estava saindo do recinto apertado e voltando para o quarto que quase nunca saia.

Antes de entrar ela me deu um ultimo olhar inquisitivo e um sorriso, que considerando alguns filmes de terror que eu já havia assistido, era típico de um assassino em série tramando alguma coisa.

Mesmo com a porta agora fechada eu continuava a encarar, sentindo meu estomago dar voltas e me deixar uma vontade enorme de vomitar todo o NADA que eu havia comido.

— Jake? Vai querer qual? — Perguntou Seth chamando minha atenção novamente.

Encarei as pizzas por um segundo, tentando pensar em qual escolher, mas aquilo estava somente me afetando a minha sanidade.

Eu caminhei até perto da mesa e peguei ao mesmo tempo um pedaço de cada pizza, colocando uma em cima da outra, como se tivesse fazendo um sanduiche e dando uma mordida gigante.

— Ué?! Você não disse que odiava pimenta? — perguntou Seth olhando para mim curioso.

Eu franzi o nariz ao sentir a pimenta queimando minha boca.

— E odeio. — disse mastigando e engolindo a massa que havia em minha boca.

Eu apenas deixei o meu sanduíche de pizza em cima da mesa e me dirigi para um lugar silencioso. Eu precisava pedir para que a neve parasse de cair e acabar logo com tudo isso, se não... Eu acho que enlouqueceria.


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