Ayaka

Meus pensamentos me afastaram por alguns instantes... Pro mais fundo do meu interior.

O que é ser criança? Diversão, brincadeiras, a melhor parte da vida. Mas não para mim, a primeira alma da escuridão. Onde eu passava era desgraça e maldições sobre mim. Maldito fosse meu pai, por ter deixado eu e minha mãe para viver daquele jeito. Mas a vida normal nunca me serviu. Eu era... Diferente. Minha alma estava vendida desde o dia que nasci. Com o tempo, eu já não era mais a única, mas seria, para sempre, a primeira.

Não se pode viver com normais. Vivemos como eles, esperando nossa oportunidade de ouro de trazê-los para o nosso lado. E as oportunidades sempre vem.

Sora estava no meu radar durante um tempo. Sua alma brilhava de jeito incrível. Mas eu cometi o erro de me envolver demais no mundo humano e, eventualmente, a alma dele foi me curando. Eu faria aquilo para qualquer um, mas nunca usaria meu poder para machucar Sora.

Aquilo era algo que Sora nunca lembraria. Ele nunca poderia saber. E ir até o tártaro era arriscar que suas memórias voltassem.

Nós tínhamos uma história maior que a memória dele podia dizer.

O que eu faria em uma situação daquelas? Poucas almas passavam pelo tártaro vivas, e agora eu teria que guiar Sora por aquele mundo de perdição. Uma alma como aquela não merecia sofrer.

"Por que essas coisas acontecem logo comigo?", eu murmurei, na escuridão do bar. "Maldito cargo de líder..."

"Milady.", Eu ouvi Sion se aproximar com cuidado. Me virei para encontrar Aoi e Soji com ele.

"O que querem? ", Disparei, me sentando novamente.

"Por que se importa tanto com a alma dele?", Soji retrucou, do jeito desafiante que sempre tinha.

Eu dei uma pausa, deixando o silêncio abraçar minhas memórias.

"Quando o tempo chegar, vocês saberão.", Eu murmurei, me levantando. O relógio na parede clamava 23:00. "Eu vou ir agora. Vocês três vão começar o treinamento com ele amanha."

"Sim, Lady Ayaka. ", Os três falaram em coro e eu me retirei.

A noite brilhava como nunca antes, as luas apagadas ressaltavam o brilho das estrelas. Apesar de sombrio, não havia o que me ferir, aquilo que sempre me foi familiar continuava me acolhendo. E eu sabia que não havia pessoa que fosse me machucar. Seriam poucos que me veriam naquela noite.

Meus passos eram o único som daquela noite, como se o mundo houvesse dormido com a lua. Minha casa estava igualmente apagada. Na sala, a Tv reproduzia para uma imagem adormecida no sofá. Assim que apaguei a Tv, ouvi seu murmuro sonolento.

" Ayaka? "

" Sou eu. ", Eu puxei um cobertor, cobrindo-a. " Estou indo dormir. "

Ela não foi capaz de me responder. Um leve murmuro foi o único consentimento, seguido do som profundo de sua respiração. Fui para o meu quarto de uma vez, me jogando na cama. Meu corpo não suportou muito e eu logo estava imersa em meus sonhos.

Sora

Quando finalmente acordei, tudo parecia um distante sonho. Aquilo parecia uma manha normal, mas eu não me sentia normal. Meu corpo parecia fraco e minha temperatura aumentava cada vez mais. Faltar seria ruim, mas não podia deixar Ayaka me ver daquele jeito. No final das contas, eu ainda penso nela... Aquele engraçado pensamento me atingiu. Balancei minha cabeça, me libertando daquilo. Não importa, ela continua sendo minha namorada.

Alguém bateu na porta durante a tarde. Os três garotos da noite anterior saltaram assim que eu abri a porta.

"Ainda bem! Achávamos que tinha morrido.", Aoi disse com animação, entrando na minha casa sem permissão. Sion fez um leve gesto e entrou envergonhado, atrás de Aoi. Soji não falou nada, mal olhou para mim, mas entrou de qualquer jeito.

"Sinceramente...", quando fui fechar a porta, notei uma terceira pessoa parada lá, olhando para a porta. Ayaka se mantinha inexpressiva, mas seus olhos mostravam a vergonha de pedir para entrar ou de se direcionar para mim depois de tudo. "Ayaka?", ela pareceu acordar em um estalo e me olhou com surpresa.

"Hum... Eu vim ver se você estava bem...", ela falou com calma. Antes, isso pareceria perfeitamente normal, mas eu ainda conseguia ver aquele ser superior por trás da doce Ayaka. "Você parece pálido...", ela se aproximou, colocando os lábios na minha testa com cuidado.

O ato me pegou desprevenido e consegui sentir meu corpo se aquecer mais com aquilo. Ela vai perceber... Droga. Eu recuei, instintivamente. Ayaka me olhou, parecendo decepcionada com a velocidade que eu havia rejeitado seu ato. "N-não, eu..."

"Ora ora...", Aoi falou, perto de nós. "Eu não sabia que você era tão galinha, Sora.", ele me provocou, abrindo um sorriso ganancioso. "Para rejeitar um lindo ato como esse..."

"Fique quieto!", Aoi me deu língua e voltou a mexer nas coisas da minha casa.

"Eu não sabia que você fazia atos tão bonitos, Líder.", Sion se aproximou, abrindo um sorriso gentil, "Ou sera que é só com ele?"

O rosto de Ayaka começou a tomar uma coloração engraçada, e ela logo desviou o olhar, escondendo o rosto. "Não diga bobagens!", todos pararam para rir da posição que sua líder estava.

Até que um bipe chamou a atenção de Ayaka. Seu celular brilhava, levando todos no cômodo a se tencionar de leve. Ela olhou na tela e se levantou imediatamente. "Eu vou confiar Sora á vocês. Cuidem dele.", ela disparou pela porta, me deixando confuso.

"O que aconteceu?", eu me sentei e Soji me deu um olhar nervoso.

"Um ataque.", ele replicou, olhando pela janela, "Que só ela pode resolver."

Ataque...?