Won't you be Mine...?

Acordei cedo,antes mesmo do horário que geralmente acordo pra trabalhar. Rafaella ainda dormia profundamente..
Eu estava ansiosa,e andava pela casa toda em busca de dois "ingressos" em especial.Com o barulho que eu fazia abrindo-e-fechando as gavetas com tudo,Rafaella acordou...
–Dianna? Já acordou? Que milagre,rs. Tá fazendo o quê?
–Rafaella! Você lembra onde estão os ingressos daquela apresentação de hoje?
–Sim,deixei no criado-mudo da sala.Algum problema..? -Disse se sentando na cama.
Me aproximei,depois de pegar os ingressos na sala e voltar correndo.
–Sabe o que é? Mudei de ideia! Eu acho que a gente precisa de um tempo mais pra nós duas..
–Caramba Dih,eu peguei folga hoje só pra ir nisso com você...
–Ah,eu sei! Mas já vimos essa mesma apresentação duas vezes,E eu sei que você nem é tão fã assim de teatro..
–É não sou,rs. Então fala,qual sua outra ideia pra hoje?
–Pra hoje eu quero ficar em casa,só eu e você.Assim que eu chegar do estúdio a noite vai ser nossa, separei uns Dvd's,a gente pede uma pizza , abre um vinho, o quê você acha.. ?!
–Eu amei a ideia -Sorriu- mas... então o quê você vai fazer com os ingressos?
E eu sabia muito bem o que fazer com aqueles dois ingressos. Era minha peça LGBT preferida, ia ser perfeita pra abrir mais a mente e o mundinho fechado da Clara,melhor dizendo, abrir o "armário" da qual ela estava tão presa...
Depois de me arrumar, dei um beijo rápido na Rafaella e fui pro estúdio.



Estúdio de Marina Meirelles..
O dia foi tranquilo, Marina passou a manhã e a tarde com a Vanessa fazendo compras de novas telas e equipamentos enquanto eu,a Clara,Flavinha e Giselle ficamos nos estúdio concentradas em nossas tarefas habituais...
Até que finalmente a Marina e a Vanessa chegaram,já era por volta das 17h,não perdí tempo e puxei Marina para a cozinha,para que nem a Clara nem ninguém pudesse ouvir...
Marina : V-Você o quê!? -Dizia surpresa.
Dianna : Pois é! E ela não liga muito pra essas coisas,eu é que sou viciada nessa história e no teatro..
Marina : Dianna você tá falando sério?! Por quê se estiver,eu não vou ter nem palavras pra te agradecer! Quando eu ví em cartaz eu juro que corrí pra comprar mas já tinha esgotado tudo,eu sou louca pra assistir essa peça!
Dianna : haha,todo mundo é! E é sério sim! Olha,a apresentação é a noite mas por quê você não aproveita que hoje tá mais tranquilo pra sair logo com a Clara?! Já já dá a hora de irmos embora mesmo,Vai lá!Eu adianto o trabalho dela,vai!
Marina : Não sei...
Dianna : Vai! Tá esperando o quê?!
Marina foi se aproximando devagar,aproveitando que nesse instante Clara estava conversando com Flavinha, e fez o convite,Clara aceitou na hora.


Em um restaurante não muito longe dalí... (POV' MARINA)
Clara : Você é incrível,Marina! Primeiro esse restaurante lindo e depois tem até peça de Teatro?! Olha que desse jeito eu fico mal acostumada,hein...
Marina : E é só o começo....
Segurei carinhosamente uma das mãos de Clara sobre a mesa,ela ficou apreensiva no início mas logo me deixou continuar... eu amava ter qualquer tipo de contato com ela,seja ele visual,físico,até telepático,Clara me fazia muito bem...Então fiquei ali, segurando sua mão por um tempo..Só parei quando percebi que ela estava um pouco desconfortável olhando as pessoas ao redor que estranhavam essa atitude.
Marina : Ahn..me conta,Clara,como é que estão as coisas entre você e o Cadú?
Clara : Estou decidida,Marina.Não dá mais.Lembra que eu te falei que estávamos em crise? E não é só pela doença mental dele não, esses dias peguei uma camiseta dele pra lavar estava cheia de marcas de batom!
Marina : Meu Deus,Clara! Mas você acha que é uma pessoa próxima..?
Clara : Com certeza é uma das médicas dele, eu acho que até sei quem é! Quando eu vi,só aumentou mais minha vontade de dar início no nosso processo de separação! Eu já tinha comentado isso com ele,mas dessa vez é pra valer!
A situação era tensa sim,mas não consegui esconder meu sorriso ao ouvir Clara dizendo isso.
Marina : Bom então...se vocês vão terminar... será que finalmente você me deixa te mostrar como um relacionamento entre duas mulheres também pode ser bom? -Sorrí perversamente.
Nessa hora, o garçom se aproximou,trazendo nossos pedidos.
Só vi Clara sorrir depois de pronunciar baixo um "doida!" e logo começamos a comer,entrando num silêncio total.
Reparei que nesse meio-tempo,seu celular não parava de vibrar sobre a mesa.Tocou várias e várias vezes.
Clara : Desculpa Marina,vou ter que atender!
Marina : Claro,vai lá.
Clara se levantou e foi até uma parte mais afastada do restaurante,eu só podia observá-la de longe....

"Clara : Fala logo o que você quer,Cadú!
Cadú : O que eu quero!? Quero você! Você disse que o tal jantar-de-negócios com a lésbica aí ,ia ser rápido!
Clara : Ah! Vai lá com suas médicas! Tá pensando o quê?! Que se a gente se separar eu vou morar na rua? tenho que ficar nesse "jantar de negócios" com ela aqui sim, porque preciso juntar dinheiro pra pagar o aluguel do lugar que eu vou ficar...
Cadú : Dinheiro o caramba você precisa é dessa fotógrafa né Clara!
–chamada finalizada na cara de Cadú,por Clara"

Percebí Clara voltando,um pouco nervosa.
Clara : Desculpa...
Marina : Não tem que se desculpar... e aliás,a srta não respondeu a minha pergunta!
Isso fez com que ela sorrisse um pouco,se lembrando da questão anterior.
Clara : Marina eu não sei como isso é pra você mas ainda é um pouco confuso pra mim..
Marina : Ah,Clara,pra mim é fácil,sempre foi.Toda minha família me aceita,meus amigos...pra você também vai ser! A única coisa que te impede é o Cadú,não é?
Clara : Sim,só o Cadú! Sinto que estou "traindo" ele. Mas que se dane,ele também tá... Em questão da minha família,bom..eu não tenho mais 18 anos né..? -Sorriu-Só não sei se é isso que eu quero pra mim,Marina...quem foi sua primeira namorada? Foi fácil pra você?
Marina : Minha primeira namorada,poxa... velhos tempos,rs. Foi fácil sim,eu sempre lésbica e ela na época era bi. Foi no final da escola e início da faculdade,namoramos durante Muitos anos,e depois veio a Vanessa...
Clara : Qual era o nome dela e por quê vocês terminaram?
Marina : O nome dessa minha primeira? É Danny. Nós duas gostávamos de Arte só que aí ela se envolveu com outras pessoas,eu descobrí,terminei tudo e aí vim pro Rio com a Vanessa. Mas já faz Muito tempo! Rs , Por quê ?
Clara : Rsrs sei lá.É que eu gosto de saber mais sobre você. E..sobre nós duas,eu queria que você não fizesse tanta pressão agora,preciso decidir muita coisa primeiro...
Marina : É,Clara? Já vai dar o horário da peça,vamos..?
Pedí a conta e seguimos em direção ao Teatro.

"As Lágrimas amargas de Petra Von Kant"

Autor : Rainer Werner Fassbinder

Quando chegamos ao teatro,vimos que tinha uma grande fila na entrada.Depois da nossa conversa no restaurante eu confesso que fiquei tão insegura! Não sabia nem como tentar nada agora,uma hora dá a entender que ela quer e outra hora sinto que é melhor eu ficar longe... mas de hoje não passa! Eu amo a Clara,e ela vai ser minha,custe o que custar.... Sendo assim,pelo tamanho da fila,começamos a conversar e aí o gelo foi se quebrando aos poucos...
Vez ou outra ríamos muito contanto fatos engraçados das nossas vidas,mas eu sentí Clara um pouco nervosa,até que descobri o por quê..
–Marina,preciso ir ao banheiro,você me espera aqui? -E foi.
Banheiro?! banheiro coisa nenhuma! Eu sabia que ela foi é atender as ligações do marido e não queria que eu ouvisse! Ele me odeia,desde a primeira vez que me viu...
Nesse instante,em que Clara saiu, uma outra pessoa se aproximou. Da minha altura,magra,pele clara,cabelo castanho claro,quase loira..olhos castanhos quase mel,e um batom vermelho tão intenso quanto o meu. Aqueles olhos,que eu conhecia muito bem e que jamais esperei vê-los de novo na minha frente.Ela estava muito elegante num traje mega social,e veio caminhando sensualmente logo que me viu. #Shit.
–Marina!? O que você tá fazendo aqui?!
Marina : Ah,eu,vim assistir a peça.E você,o que faz aqui?
–Eu?! haha,eu meu amor,sou a diretora dessa peça! -Sorriu-Caramba Marina,eu nunca mais achei que fosse te ver de novo,v-você sumiu e..
Marina : Sim,eu tô na correria com meu estúdio..
–Você tem um estúdio!? Que legal!
Marina : Rs,é bem legal sim,um estúdio fotográfico.
Nesse instante ela se aproximou.
–Poxa,Marina,tô realmente surpresa de te ver de novo,você tá tão linda.....queria muito ter a oportunidade de sair pra conversar com você...
Marina : Olha aqui -eu disse me afastando-Eu acho melhor você ir agora,porque eu tô acompanhada!
Ela ficou olhando ao redor,e então me entregou um cartão.
–Então me liga quando der,eu vou amar falar com você.
Clara : Oi ?
Gelei,e meu coração foi a mil. Ela tinha que voltar logo agora?!?!
–Oiii !
Clara : Tô...atrapalhando alguma coisa? Rs.
–O quê ? Imagina!Só estava cumprimentando a Marina,eu sou a Carolline. Carolline Oliveira e diretora dessa peça,muito prazer!
Clara : Muito prazer,Carolline,eu sou Clara. -Sorriu.
–Bom,deixa eu ir! Boa apresentação pra vocês! -Piscou e saiu. Forcei um sorriso e entrei com a Clara...
Lá era lindo,as poltronas almofadadas vermelhas,aquelas luzes,e aquele ar condicionado que já estava me dando uns arrepios.
Depois de uns 10 minutos,finalmente as luzes ficaram baixas,dando foco somente em direção ao palco . As cortinas se abriram e podíamos ouvir os primeiros acordes da sonoplastia. Estremeci quando ví as primeiras atrizes entrando em cena,eu realmente queria ver aquela peça.


Cena on : Petra : Eu acho que o homem é feito assim,tem necessidade de outra pessoa.Mas...ainda não aprendeu a ser dois . (campainha toca)
Sidônia : Deve ser Karina!
Petra : Karina ?
Sidônia : Sim! Uma moça encantadora.Eu a conheci no barco que vai de Sidney a Southampton......
Cena off


Clara estava bem concentrada. Ela, assim como eu , sabia realmente apreciar a Arte . Mas eu ,naquele instante queria apreciar outra coisa... Um certo tempo depois,segurei firme sua mão entrelaçando nossos dedos,sua mão estava fria e ela estava imóvel.... poxa,que concentração . . .



Cena on :
Petra : Eu te amo.
Karina : Eu também.
Petra : Merda! Eu também,eu também.Você não sabe dizer ''eu te amo'' ?
Karina : Está bem,está bem ...
Petra : Vamos.
Karina : Ok ! Eu te amo muito ! Mas agora me larga por favor!
Petra : Quê foi!
Cena off

Vi como Clara ficou desconfortável vendo aquele tipo de cena,sua mão estava tremendo agora e ela estava inquieta.Poderia ser o meu momento de aproveitar o clímax clichê da peça pra me declarar a ela também,por quê não ?
Marina: Clara... (me aproximei do seu rosto,ajeitei seu cabelo para poder sussurrar em seu ouvido,me aproximei ainda mais)
Marina : Ei Clara, presta atenção nos sentimentos da protagonista... tudo o que a Petra sente pela Karina, é o mesmo que eu sinto,por v-você . .
Nessa hora,Clara se livrou ríspida do meu contato e me encarou de modo irreconhecivel.
Clara : Foi pra isso que você me trouxe aqui?!
Marina : C-como assim ?
Clara : Você sabia que a peça retratava o amor entre lésbicas por isso você me trouxe! Caramba Marina eu disse o quanto eu tô confusa ainda,só você sabe dos meus problemas com o Cadú e você faz isso!
Marina : Clara! Eu

– Shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiu!

Ficamos quietas depois que uma velha chata que estava no nosso lado fez esse maldito "shhh" pra gente se calar. Voltamos nossos olhares à cena,que por sinal,também era uma discussão. A cada palavra mencionada por cada personagem parecia um número descartado da contagem regressiva que a Clara parecia fazer para todo aquele amor lésbico acabar logo.

Cena on :
karina : Calma,calma. Não precisa ficar histérica desse jeito.Você ainda não ouviu o melhor.
Petra : Não seja odiosa!
Karina : Não estou sendo odiosa estou contando a verdade,Petra.Nós decidimos,já há muito tempo,que seríamos sinceras uma com a outra.Mas você não aguenta isso,você quer que eu minta.
Petra:Isso,mente.Por favor,mente.
Karina : Bom,na verdade.Passei a noite sozinha,refletindo sobre nós duas.
Petra : Sério mesmo Karina ?
Karina : Claro que não! Fui pra cama com um homem sim! Isso não tem nada de importante.Ou tem ?
Cena off

Clara me olhou novamente.
Clara : Não tô me sentindo bem,pode ficar aí se você quiser,tchau!
Se levantou, e estava indo em direção à saída,a seguí . Saímos,a noite estava fria,mas não tanto quanto ela que continou andando sem olhar para trás. Sentí meus olhos ficarem marejados,extremamente confusa com tudo,o que eu havia feito de errado,afinal?!?
Marina : Clara??
Clara : Marina...você sabia.
Marina : Sim,eu sabia! E não foi proposital! O que tinha de errado!?
Clara : O errado é que eu tô confusa! E cada vez que eu vejo qualquer coisa que seja relacionada a esse tema eu...eu me seguro pra continuar resistindo à você.
Não sei se ouvir aquilo tinha sido bom ou ruim só sei que sorrí e me aproximei,a segurando pela cintura.Percebi o quanto ela estava mais calma agora.
Marina : Então pára de hesitar com isso que você sente,vamos viver essa história!
Clara : Eu quero. Por quê pra mim parece certo.Mas é considerado tão errado aos olhos de outras pessoas..
Marina : Errado!? Rá! Vou te dizer o que é errado,esses monstros que saem matando e roubando tudo por aí,esses pedófilos,assassinos,isso sim é errado! Ou será que você conhece alguém que foi preso por amar alguém do mesmo sexo? Você já tá em crise com o Cadú,o que é que tem ficar comigo?
Clara suspirou,aparentemente mais calma,e acariciou de leve meu cabelo.
Marina : Vem cá... o que você realmente sente quando tá perto de mim ? -Falei,acariciando de leve seu rosto.
Clara : Não sei direito mas estou ficando com medo de descobrir.
Marina : Então Não fica. Só.... deixa acontecer.
Nesse instante, pude sentir Clara totalmente passiva aos meus toques eu sabia que ela queria aquilo tanto quanto eu...
Ela podia até dizer "não" ou me impedir,mas seu corpo e ações diziam totalmente o contrário,deixando livre espaço para que eu a segurasse firme pela cintura. Nossas respirações descompassadas estavam cada vez mais próximas...
Eu me aproximava devagar,colando seus corpos,fechamos os olhos e então,eu a beijei.


POV' CLARA

Eu já sabia que se isso acontecesse eu não ía resistir,mas nunca imaginei que ia gostar tanto de sentir os lábios de Marina nos meus!Ainda de olhos fechados sentí o toque macio,delicado,foi um beijo rápido, porém mais intenso do que qualquer um que eu já tinha dado no Cadú! Ahh,e ainda tinha o Cadú!
Clara : Marina,me leva pra casa.
Eu disse num tom frio. Ainda estava confusa e lembrar do Cadú só me fez lembrar de todos os problemas. Marina me olhou preocupada.
Marina : O quê foi,Clara? Não gostou?
Sim! Eu tinha amado! Mas não podia dar nenhuma esperança pra ela,não agora!
Clara : M-Marina,se você não me levar eu vou sozinha.
Marina não questionou,entramos em seu carro e ela me deixou em casa.Havia ainda muita coisa para resolver...
Abri a porta e entrei em passos lentos.
Cadú : Lembrou que tem casa?
Clara : Cadú escuta aqui. Lembra que a gente conversou sobre o processo de separação? Pois é,não dá mais.
Cadú : Não dá mais? Tá bom,quer separar a gente separa! Mas você Vai ter mesmo coragem de abandonar seu marido doente?
Clara : Doente não,você é louco! Acha que eu não sei dos seus casos naquele hospital!? Aliás,no hospital e fora dele,né!? -Eu disse,depois de ver algumas peças femininas de roupa sobre o sofá,que Não eram minhas -Pode tirar esses lixos daí agora !
Cadú se aproximou e tirou tudo que havia nele,jogando num canto qualquer da casa.
Cadú : Ah,a gente nunca usa esse sofá , ele sempre viveu cheio de bagunça,por quê você tá se importando com isso agora!?
Clara : Porque eu vou dormir nesse sofá,boa noite.
Cadú seguiu em direção ao quarto,batendo a porta em seguida.
Se a felicidade havia chegado pra mim?! Sim!E nem o Cadú,nem nada,vai me fazer abrir mão dela.Amanhã vou resolver essa história de uma vez por todas!