Emily acordou com alguém a cutucando. Ela rolou para longe da pessoa, mas não adiantou.

–Me deixa dormir!

–Eu te avisei que era para dormir cedo, quem mandou me seguir e ficar conversando até tarde?

–Will... Só mais cinco minutos.

–Eu tenho cara de mãe para você pedir mais cinco minutos? É bom dizer não!!

Emily riu.

–Está certo, agora saia para eu trocar de roupa.

–Você que deveria sair, está na minha barraca.

Emily abriu os olhos assustada.

–Como vim parar aqui?

–Bem, você dormiu lá no riacho e eu não sabia em que barraca você estava, então expulsei Samuel e o Leo e deixei você dormir aqui.

–Coitado deles. Andrew sabia onde eu estava...

–É, mas esse idiota não quis me ouvir quando disse a ele – Andrew entrou na barraca com uma bandeja de café da manhã – Trouxe seu café.

–Poxa Andrew, você nunca fez isso comigo... – Will fez cara de cachorro abandonado e pegou um pão de queijo da bandeja.

–Puxa, obrigada – Emily pegou a primeira coisa que tinha na bandeja e ficou olhando como o cabelo escuro de Andrew contrastava com a luz do sol. Ele lhe deu um meio sorriso.

Will se mexeu inquieto do lado de Emily. Ela olhou para ele e encontrou seus olhos. Não tinha percebido que eles eram tão profundos, ela quase podia se afogar neles.

Emily desviou os olhos e comeu olhando para a bandeja.

–Umm... vou trocar de roupa, se não vamos começar tarde o treino. Que horas são? Dez? Onze?

–São sete horas.

–O que? Por que vocês estão acordados a essa hora? Não é atoa que mal consigo abrir meus olhos!

–Eu te avisei que íamos treinar a essa hora – Will falou.

–As meninas vão me matar quando eu entrar a essa hora na barraca para pegar roupa.

–Não se preocupe, Vanessa deixou sua roupa. Na verdade foi mais uma desculpa, ela queria saber se você realmente ia dormir aqui e se o Andrew não queria ir dormir na sua barraca.

–E você não sabia onde era minha barraca né?

–Eu já estava quase dormindo quando ela veio.

Quando Emily estava pronta, Andrew a acompanhou ate a arena, Will tinha ido à frente para arrumar as coisas.

–Emily, você sabe que pode confiar em mim certo?

–Eu sei – Ela sentiu o estomago embrulhar, havia tantas coisas que não tinha contado para Andrew.

–Um, eu posso parecer um pouco ciumento agora, mas sei que tem coisas que você só contou para o Will. É porque você não confia em mim?

–Ah, tenho medo do que você possa pensar. – Ela olhou para o chão e mexeu com as mãos, inquieta.

–É algo tão serio?

–Mais ou menos. Eu...

–Se não quiser contar tudo bem, só queria deixar claro que você pode confiar em mim.

Emily tinha que contar, Andrew era o único que mantinha a esperança de encontrar os escolhidos, ele já tinha procurado por eles durante anos, ele podia ajudar.

–Eu consigo achar os escolhidos – Ela falou de uma vez e fechou os olhos esperando pela reação de Andrew.

–Abra os olhos. – Ela obedeceu – Por que não me disse antes, sabe há quanto tempo eu procuro por eles? – Ele gargalhou – Eu sabia que eu tinha que trazê-la! Você é meu amuleto da sorte, finalmente consegui algo. A guerra vai finalmente acabar e Guerd vai cair!

Emily sorriu

–Tem algo mais – Ele a olhou curioso – Will é um dos escolhidos.

–NÃO! Esquece, é o fim do mundo. Will? O Will que estamos indo encontrar agora? – Emily acenou sorrindo – Não sei agora o que é pior, essa guerra ou Will ser o escolhido. Ah minha princesa...

–Não, não. – Emily o interrompeu – Era esse o problema, não sou a princesa ou o herdeiro, disso tenho certeza, mas vou achá-lo.

–Ah, se é assim. Eu acredito em você.

Emily sorriu. Ela não tinha percebido que tinham parado de andar. Andrew deu um passo para mais perto dela, os olhos não se desviaram...

–Aham – Will apareceu de repente e Emily e Andrew se afastaram rapidamente – Vocês estavam demorando muito, achei que tivessem se perdido...

–Estávamos conversando – Andrew falou.

–Conversando é? Sobre o que? – Emily pode sentir raiva na voz dele.

–Sobre você ser o escolhido e o fim do mundo.

Will riu e relaxou um pouco.

–Se não tiverem mais nada para conversar, pode deixar que eu assumo daqui.

–Bom treino Emily, nos vemos daqui a pouco – Andrew deu meia volta e os deixou a sós.

–Resolveu contar a ele o nosso segredo? – A raiva voltara ao seu tom de voz.

–Eu tinha que contar, Andrew procurou durante anos pelos escolhidos, ele pode nos ajudar. Além disso, ele sabia que eu estava escondendo algo dele.

–Mas e quanto ao seu medo dele achar que você é o herdeiro?

–Eu estava certa, ele realmente achou isso, mas já esclareci tudo.

Chegaram ao campo de treinamento. Logo Emily viu em uma mesa duas espadas com lâminas tão afiadas que reluziam ao sol. O punho de uma delas era dourado com linhas intrigantes em um branco que parecia estar em movimento. O da outra era bronze cravejado de pedras que Emily imaginou serem rubis.

–Não vamos começar com espadas – Will a guiou até uma área mais afastada – Arco-e-flecha é a nossa primeira aula. Você já atirou?

–Nunca.

Ele lhe entregou um arco com a madeira toda trabalhada e uma aljava de flechas com penas verdes.

–São meus?

–Se você se der bem no arco-e-flecha, sim. – Emily sorriu enquanto admirava o arco

–São lindos!

Will sorriu, pegou a mão de Emily e a guiou até um alvo.

–Vamos começar tentando acertar o alvo a essa distancia, à medida que você melhorar a gente se afasta.

–Certo, mas onde está Ciro?

–Não sei, ontem a noite ele me acompanhou até a cabana e depois desapareceu. Mas agora se concentre, vocês se encontram mais tarde!

–Certo. Por que vocês usam arco e flecha e espadas? Vocês não tem armas?

–Temos, mas no exercito de Guerd há um soldado que consegue manipular armas e granadas, mas não objetos de lutas medievais – Ele sorriu como se compartilhasse uma piada interna. – Não vamos nos demorar. Postura reta, vire o tronco, afaste um pouco mais os pés – Emily foi fazendo tudo o que Will mandava, mas ela ainda sentia que tinha algo errado – Puxe a corda do arco e abra o peito. Isso, muito bem. – Will colocou uma flecha no arco e se afastou – Não dispare ainda!

Emily fechou os olhos. Ela via como se estivesse de olhos abertos o alvo, mas também podia sentir onde a flecha ia parar caso disparasse, ela ia errar feio.

Levantou um pouco os braços e afastou um pouco mais as pernas. Agora sim Emily ia acertar o alvo. Ela abriu os olhos e por reflexo atirou. A flecha fez um arco para parar exatamente no centro.

Emily ficou parada na mesma posição que atirou, impressionada.

Flechas caíram no chão e Emily se virou assustada. Will olhava o alvo de boca aberta.

–Como fez isso?

–Não sei, acho que usei meu poder...

Will fez Emily atirar de distancias maiores e ela acertou todas.

–Você é, simplesmente, a melhor do acampamento. Você é realmente a pessoa mais poderosa que já veio aqui...

–Pare com isso, tenho certeza de que você ou Andrew são muito melhores!

–Não éramos tão bons assim quando chegamos. Mas vamos ver como você se sai na esgrima.

Will acabou com Emily, era só as espadas se encostarem que a de Emily ia parar no chão e a de Will na garganta dela. Na hora do almoço Emily estava exausta e toda suada.

–Eu desisto, me devolve o arco-e-flecha, gosto mais dele...

Will se sentou no chão rindo. Ele não parecia nem um pouco cansado.

–Não desista – ele colocou uma mecha do cabelo de Emily atrás da orelha dela e acariciou o rosto. – Daqui a pouco vai se tão boa quanto no arco-e-flecha.

–Esgrima é complicada demais.

–Só porque você não tem tempo de se concentrar e pedir ajuda para seu poder, mas com o tempo ele vai vir naturalmente. Agora você tem que seguir seus instintos, os animais fazem muito isso, pense que nem eles, aja que nem eles.

Emily franziu a testa.

–Então tá, depois que Andrew trouxer o almoço vamos parar com a esgrima e te colocar para suar.

–Err, não sei se você percebeu, mas já parece que eu tomei banho!

–Você não viu nada! – Ele deu um sorriso malandro.

Andrew demorou uns cinco minutos para chegar com a comida. Ciro vinha logo atrás.

–Alguém está com fome?

–Fome, sede, dolorida, cansada... Estou com tudo! Will vai me matar até o fim da semana.

–Não se preocupe, já vi novatos piores que você. É por isso que Will não os treina, ele os acha fracos demais. – Andrew falou.

–Fracos não, despreparados – Will falou pegando um pedaço de pizza da sua bandeja – Não posso pegar pesado com eles. Mas Emily é muito boa, você tem que ver o que ela faz com um arco!

–Um arco?

–Ela deu vários tiros e não errou nenhum, nunca vi ninguém assim!

–Eu só usei meu poder... – Emily falou olhando para a pizza que Andrew tinha trazido para ela. Era de presunto.

–Ela é meio modesta, não liga, ela não vê o potencial que tem! – Will falou indiferente, como se Emily não estivesse ali. – Ela vai ser uma ótima guerreira, foi um achado e tanto o seu Andrew.

–Falando nisso, onde você espera encontrar os outros escolhidos? – Andrew perguntou.

–Não sei, não conheço Meceno tão bem para simplesmente dizer onde eles estão, mas posso dizer por onde ir. – Emily respondeu

–Creio que vocês vão partir logo, não?

–Assim que ela estiver pronta, não queremos adiar a guerra. Quanto mais rápido, melhor.

–Umm, estava pensando, eu poderia ir com vocês até uma parte do caminho, para garantir segurança.

Emily percebeu que Will ia recusar a proposta, mas ela sabia o quanto era importante para Andrew os acompanhar.

–É claro que você pode, vamos precisar de muita ajuda. Mas não vamos falar disso agora, até parece que vamos sair correndo amanha...