Meceno escrita por lui


Capítulo 3
Capitulo 3




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Andrew a acordou no meio da noite.

–Rápido, pegue suas coisas, vamos partir agora.

–Partir? Para onde? – Emily falou sonolenta.

–Meceno Emily.

–Um... Agora? Que horas são?

–Não sei, mas deve ser duas horas da manha, mas a cidade esta sendo atacada, precisamos fugir. – Isso a acordou.

–Você quer sair no meio de um ataque? Por quê? Você é louco? Não quero morrer!

–Você confia em mim?

–Sim. – Por mais estranho que isso fosse, sim, Emily podia dizer que confiava em Andrew, ele contou segredos a ela, ele a reconfortou durante a noite, eram confidentes agora.

–Então sabe que eu vou te proteger! Eu juro que nada de ruim vai acontecer com você, isso é uma promessa!

–Certo, eu não sei qual é o seu plano, mas eu confio em você.

–Obrigado – Ele sorriu, pegou a mão de Emily e a puxou para que levantasse, entregou a mochila dela e colocou outra nas costas. Ele abriu o abrigo com uma das mãos, a outra não soltava a dela.

Saíram correndo, ele pareceu ficar meio pálido, Emily evitou o máximo não olhar para os lados, sua cidade destruída. Mas ela viu. Lugares de sua infância foram transformados em escombros, o mercadinho que fazia o melhor pão de queijo do mundo, o eixão que fechava todos os domingos para as pessoas andarem de bicicleta, correrem, fazerem o que quiserem, mas nenhum carro passava ali naquele dia.

Ela tropeçava a cada passo que dava, mas se recusava a olhar para baixo, sabia que o que veria a faria ficar apavorada, ela sabia que as ruas estavam repletas de corpos.

Ao menor sinal de soldados os dois se escondiam nos escombros, Emily não sabia se era impressão, mas os tiros pareciam ficar cada vez mais perto.

–Para... Para onde estamos indo?

–Tem uma passagem na 108 Sul, estamos chegando.

Quando criança ela brincou muito naquela quadra, foi à igrejinha, tinha uma galeteria deliciosa no comércio e tinha uma árvore perto da banca de jornal. Seu pai lhe disse que era uma fícus elástica, só que o mais legal é que ela tinha um buraco no meio, sua amiga costumava dizer que toda vez que passava por dentro era como se entrasse em um outro mundo.

Outro mundo, é isso, o buraco na árvore era a passagem. Emily adivinhou.

–Ei, olha, tem dois ali, peguem eles!

“Droga. Nos viram” pensou Emily. Andrew acelerou, mas a cada passo ele ficava mais pálido. Três soldados corriam em sua direção e se aproximavam.

Emily tentava correr tanto quanto Andrew, mas mesmo machucado ele era rápido e por isso tinha que arrastar Emily, exigindo mais dele. Emily não queria desistir, queria correr o máximo até seus pés sangrarem, mas sobreviver. Só que Andrew parecia prestes a desmaiar.

Talvez os soldados tivessem misericórdia se os dois se entregassem.

–Andrew, você não pode se esforçar tanto, vai acabar desmaiando – Ele a puxava, Emily tentou parar, mas ele era muito mais forte do que ela.

–Se você não cooperar vou te arrastar! – Ameaçou.

Uma granada fez o asfalto explodir, a mão de Emily soltou a de Andrew e ela foi parar a uns 200 metros de onde estava. Ela tinha o braço em carne viva, sua blusa estava rasgada em vários pontos e tinha queimaduras de primeiro grau em vários lugares do abdômen.

Ela tentou se levantar, mas o mundo inteiro girou e ela caiu no chão de novo, imponente.

–Veja essa garota, esta muito machucada, mas ainda da uma boa diversão! – Um dos soldados se aproximou.

–O garoto não serve para nada, deixamos ele ai e vamos usar só a garota.

Um deles pegou Emily pelo braço e a levantou. O mundo girava com as risadas dos soldados. Emily girou o braço do jeito que um amigo tinha lhe ensinado e a mão do soldado a soltou. Ela correu tonta tentando chegar até Andrew, mas tropeçou no asfalto quebrado e caiu, a dor no seu pé era enorme. Ela se arrastou ignorando a dor.

Os soldados riram ainda mais. Um deles a chutou quebrando uma de suas costelas, a dor foi muito forte e Emily gritou. Ela ficou no chão tremendo.

O soldado a pegou pela gola da camisa.

–Se acha corajosa é? Vamos ver como se sai com a cabeça explodida.

O soldado colocou a arma na cabeça dela, lagrimas saiam dos olhos de Emily. Mas algo tirou o soldado que a segurava de perto dela. Emily caiu e bateu com a cabeça, o mundo girou mais uma vez. Ela mal registrou os gritos de terror e os barulhos de tiros.

Algo molhado lhe tocou o rosto. Ela se virou e viu um lobo gigante, quase tres vezes o tamanho do maior lobo, o pelo era tão preto que pouquíssima luz era refletida.

–Achei que precisava da minha ajuda. – O lobo falou com ela. Andrew estava certo, ela pensou assustada, Emily realmente podia entender os animais. Mas ela também estava maravilhada.

–O... Obrigada – Sorriu aliviada. Ela passou um braço no pescoço do lobo e montou nele. Ele a levou até Andrew. O ferimento da cabeça tinha voltado a sangrar e a camisa estava rasgada mostrando o abdômen ralado, ele parecia muito mal. – Você aguenta nós dois?

–É claro

Emily desceu do lobo mancando, suas costelas gritavam ao menor movimento. Ele a ajudou a colocar Andrew nas costas dele, ela montou atrás para segurar caso Andrew escorregasse.

O lobo correu até a árvore da 108, Andrew acordou no meio do caminho.

–Onde estou?

–Encontrei um amigo que nos salvou dos guardas, esta nos levando para a árvore.

–Como sabe que a árvore é a passagem?

–É uma longa historia...

Andrew colocou a mão na boca, Emily já podia prever o desastre, desviou os olhos, não podia ver gente vomitando, o barulho já foi nauseante.

O lobo parou de repente. Andrew escorregou pelo lado e caiu no chão.

–Você pode se considerar um homem morto – O lobo arreganhou os dentes e segurou os braços do Andrew com as patas dianteiras.

–Não, não faça isso, foi sem querer, quer dizer, qualquer um faria isso se estivesse tão machucado quanto ele e estivesse viajando em um lobo. – Emily falou.

–Você esta muito mais machucada do que ele e não vomitou em mim!

–Não estou tão machucada.

–Já se olhou no espelho?

–Olha, qual é o seu nome?

–Ciro.

–Ciro, certo, eu preciso que você não o machuque.

–Por quê?

–Por tudo, eu preciso dele. Faça isso por mim. – Ele virou a cabeça para olhá-la e pareceu ver algo.

–Certo, desculpa – Saiu de cima de Andrew – Mas se ele fizer algo assim de novo no meu pelo, nem você vai me impedir de acabar com ele!

–Vem – Emily esticou a mão para Andrew.

–Obrigado – Ele falou pegando a mão que ela oferecia e montando em Ciro

–Acho que seria bom você não fazer isso de novo, não posso impedi-lo duas vezes...

–Certo, vou me controlar. – Ela agarrou na cintura dele – Um... que historia foi aquela de preciso dele?

–Ah... – Emily corou– Você é meu amigo e sem você nunca vou conhecer Meceno.

–Como se eu não pudesse te mostrar – Ciro murmurou. Ainda bem que Andrew não podia entendê-lo.

Tudo em volta da gloriosa árvore estava destruído, mas ela continuava em pé, como sempre esteve.

Andrew desmontou o mais rápido possível do lobo e vomitou de novo, dessa vez no chão.

–Me lembre de não montar mais em lobos.

–Em mim você não monta nem querendo nanico.

–Tudo bem, já chega! Andrew, como abre a passagem?

–Só alguém do outro lado pode abri-la – Ele olhou para a passagem – Meg, é seguro, pode abrir! – Gritou.

O som de água corrente chegou aos ouvidos de Emily e o cheiro de grama molhada estava por toda a parte.

Andrew esticou a mão para ela, Emily já estava desmontando de Ciro quando ele rosnou.

–Você vai entrar comigo, o nanico vai à frente.

–Ele quer que você vá à frente – Ela traduziu.

–Não confia em mim? Esquece, já sei a resposta – Andrew atravessou, mas não saiu do outro lado da árvore.

–Nossa vez... – Ela chegou mais para frente e segurou no pescoço do lobo – Nada de pânico Emily, nada de pânico!

–De que você tem medo?

–Do desconhecido, não é isso que todos tememos?

–Tem razão, é hora de descobrirmos.


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