Era tarde da noite quando Spencer Smith não conseguia pregar os olhos. Apesar de tudo o que tinha acontecido: as exaustivas conversas com Ryan e com Brendon sobre o relacionamento deles que o seu sentimento ficava de lado. O seu sentimento por Jonathan, escondido no fundo de sua alma. Ao contrário de Ryan e Brendon; ele e o seu cúmplice sabiam muito bem esconder, ser discreto e ao mesmo tempo, ser mortal para ambos.

            As coisas não eram tão tensas para eles como eram para Brendon e Ryan. Estavam tensas porque eles não queriam ceder, nenhum dos dois lados sabendo bem que precisavam ceder; que alguém tinha que dar o braço a torcer e dizer que se rendia. Naquela noite, na Califórnia, no apartamento de Brendon e Spencer, o último citado era quem estava cedendo. O sono lhe faltara e os olhos esverdeados do menino lhe viera a cabeça.

            Lembrou-se do quão lindo era vê-lo acordar e tomarem café juntos, só os dois, quando Brendon e Ryan acordavam mais tarde, ou preferiam não ir. Apreciavam a companhia um do outro, precisavam dessa rotina. Spencer olhou para seu celular e começou a ver as fotos que tinha dos dois juntos ali: Chicago, Denver, San Diego, Reino Unido – que tanto agradava Ryan -, e diversas outras apresentações. Seus hotéis, suas férias. Aliás, férias era algo tão incrível com Jonathan. Eles mentiam para os melhores amigos e iam passar juntos as férias. Tantas lembranças que arrancaram de Spencer, ao mesmo tempo, um sorriso doce e umas pequeninas lágrimas nostálgicas e saudosas.

            Percebeu na prática o quão era complicado ceder. Percebeu o que Brendon vivia lhe dizendo sobre o quanto era difícil se declarar para alguém ausente, mas ao contrário de Brendon, Spencer não hesitou. Ele não teria ninguém de cupido.

            Jon jogou-se para o lado da cama. Estava cansado, mas sem sono. Cassie abraçava seu corpo com todo o afeto possível, mas os pensamentos de Jonathan tinham dono. Por mais que o próprio baixista não quisesse, eles tinham dono e não era a mulher que lhe abraçava. Jonathan queria de volta o que era dele.

            Percebeu a luz que brilhava no bolso da calça jeans jogada no chão; luz essa vinda de seu celular. Desvencilhou-se com delicadeza do toque da namorada e sorriu ao ver de quem se tratava. Ao contrário de Ryan, Jon pegou o telefone, saiu do quarto e atendeu o mais rápido que pôde:

- Hey! – Disse com um sorriso nos lábios. Spencer sorriu ao escutar aquela voz que tanto lhe fazia falta. – Que bom que ligou, Spence.

- Eu cedi. – Suspirou e ouviu o menor fazer o mesmo – Não suportei sua ausência como disse que aconteceria.

- Me deve vinte pratas, uh?  - Jon brincou e Spencer riu. Eles tinham mesmo apostado sobre quem cederia primeiro e, bem, Jon não apostaria se não tivesse certeza que seria capaz de ganhar. – Sinto sua falta também.

- Eu quero... Quer dizer, eu...E-eu preciso ver você. – Spencer sussurrava. Provavelmente Brendon já estaria dormindo e ele não quis acordar – Eu estava aí há alguns dias, mas eu não quis procurar você. Pela Cassie.

- Uhm... – Resmungou Jonathan – Ta aonde? Califórnia?

- Yep! – Spencer disse rápido – Com Brendon. Ele está tentando voltar com o Ryan e eu acabei embarcando na dele... Com você.

- A gente precisa se ver. – Jon disse rápido, olhando para porta do quarto – Eu vou pra aí dentro de alguns dias, eu prometo.

- Awn, ta. – Respondeu desanimado – Acho melhor eu deixar você dormir.

- Spence, qual foi a última vez que eu deixei de cumprir uma promessa que te fiz?

- Quando saiu do Panic! – Spencer respondeu sem hesitar, mas depois resmungou baixinho – Não. Você não deixou de cumprir nenhuma das promessas que me fez na área pessoal.

- É realmente disso que eu digo. – Jon sussurrou – Eu não deixei de estar perto quando você precisou.

- Preciso agora e você não está. -  Spencer fez um bico e Jon soltou um grunhido manhoso – Em quanto tempo você chega aqui?

- Dias. No máximo dois.

- Tempo demais. – Smith resmungou – Tem como vir amanhã?

- Você tem alguma coisa em mente, Smith? – Jon riu baixinho e corou as bochechas. Sabia bem que Spencer tinha algo em mente – Smith, não me respondeu.

- Você sabe a resposta, Walker. – Smith disse cinicamente – Além do que, Brendon está em casa, mas eu dou um jeito. Eu juro que dou.

- Dá, é? – Jon não pôde deixar de rir enquanto Smith mostrou o dedo do meio aleatoriamente, como se fosse para o próprio menino de Chicago que não podia vê-lo – Adorei essa idéia, Smith. Tire o Brendon de casa.

- Vai se foder, Jon. – Spence rosnou.

- Também te amo, y’know. – Jon disse entre risos seguido de um ronronar.

- E quem disse que eu te amo? – Spencer disse em tom brincalhão e Jon, o conhecendo, não levou a sério. Ficaram em silêncio por longos minutos até que Smith cortou o silêncio. – Levou a sério?

- Noop. – Jon respondeu – Eu vou tentar chegar aí amanhã, mas não é certeza, okay?

- Okay, okay. – Spencer conformou-se. Não teve jeito de convencer Jon de que era melhor que ele viesse no próximo vôo. – Até mais, Jon.

- Até, Spence. – Ambos desligaram juntos e Spencer por fim pôde dormir, ao contrario de Jonathan que estava tão ansioso que não dormira durante dias. Os dais que tentou inventar qualquer coisa para Cassie. Ela não merecia ser traída, mas ele não queria contar como era realmente os bastidores do Panic! at the Disco e que os rumores sobre casais gays eram verdadeiros até mesmo Spence e ele.

            Conforme os dois dias passaram, Spencer se fazia mais desesperado que nunca. Anda de um lado para o outro, incomodado. Bogart levou tudo a máxima brincadeira e começou a andar atrás de Spencer, de um lado para o outro.

- Vocês dois vão furar o chão. – Brendon disse, esticando os pés na mesa de centro. O canino parou, olhou bem para o dono, pulou no sofá e ficou ali, quase ‘ronronando’ em seu colo pedindo-lhe carinho. “É o tempo que estivemos separados”, Brendon pensou. – Spencer, quer parar de andar de um lado para o outro?

- Quê? Qual é, Brendon. – Spencer cruzou os braços a altura do peito e quando entreabriu os lábios para começar a falar, a campainha tocou e ele sabia bem quem era. Spence praticamente voou na porta e olhou pelo olho mágico e sim, era ele. O seu Jonathan. Abriu a porta com voracidade e a fechou da mesma forma. Abraçou o garoto de Chicago que correspondeu da mesma forma carinhosa. – Ah, que saudades, Jonny.

- Vim buscar minhas vinte pratas. – Jon sussurrou contra a pele do pescoço de Spencer que arrepiou com aquele toque. Ergueu os pés para beijar-lhe docemente a face.

- Bobo.  – Respondeu Smith – Vem, vamos entrar.

- Claro.  – Spencer pegou a mala do outro e o conduziu para dentro. O canino latia muito, e abanava o rabinho. Brendon sabia que era uma surpresa boa. Quase achou que fosse delírio quando viu Jonathan entrando, meio tímido, aparentando uma felicidade extrema. – Olá, Brendon.

- Oi. – Brendon sorriu grandemente e foi até o amigo. Abraçou-o com cuidado, erguendo-o e o rodando pela casa. Bogart começou a latir mais enquanto tentava alcançar os amigos. Todos ficaram muito felizes com aquela visita, ficaram jogando conversa fora, mas quando o assunto foi ‘Ryan’ tudo ficou mais tenso: Brendon tinha enchido seus olhinhos d’água e pronunciava o nome do guitarrista com extremo carinho. Não dava mais para esconder o quanto o vocalista precisava do outro.

            A noite chegou e Spencer estava louco para ficar sozinho com Jonathan. Estava louco para conversar sobre o que realmente interessava para eles, o real motivo da visita de Jon. Por incrível que pareça, Brendon tinha percebido o clima entre o casal e decidiu levar Bogart à praia e depois ir dormir na casa de Shane. Tudo o que ele não queria era estragar a conversa dos ‘pombinhos’.

            Quando ficaram sozinhos, Jon apenas sorriu para o maior. Ambos não sabiam como começar essa conversa, apenas sabiam que precisavam conversar. Que necessitavam se falar sobre ‘eles’, sobre o que eram quando faziam partes da mesma banda.

            Smith assentou-se do lado de Jonathan e olhou para o teto. Encarou-o durante alguns minutos porque estava trêmulo, com medo e ao mesmo tempo, cheio de esperança. Smith queria Jon e vice-versa. Sabendo que ia ficar naquilo bom tempo, ele conhecia o seu amado, Jonathan segurou a mão de Spencer e a acariciou e em seguida, disse baixinho em seu ouvido:

- Dane-se a conversa, Smith. Eu sei quem eu quero e sei que você também sabe quem quer. Vamos fazer tudo sem pensar nas conseqüências e depois a gente vê o que vira, por favor.

- Ótimo, porque eu não tenho noção de como começar. – Disse o maior, segurando o rosto de Jon com a mão livre. Pelo queixo, aproximaram-se os dois lábios sedentos um pelo outro. Fizeram tudo sem pensar em conseqüências, se entregaram sem pensar nelas. Estavam dispostos a enfrentá-las depois, sem fugas, mas agora o que importava era o momento: os dois sozinhos, no apartamento de Smith por uma noite inteira, apenas para matar as saudades e para fazer coisas das quais nunca se tinha tentado. Não eles.