Era uma manhã chuvosa quando Spencer me ligou dizendo que chegaria dentro de dois dias. Pensei comigo mesmo e estava mais do que na hora dele voltar. Sinto-me excluído da sociedade sem o Spencer, ou melhor, sem o Ryan. O mais difícil disso tudo era suprir a sua ausência e ele tinha alguém que agora supria a minha, mesmo que não querendo ele estava enganando a ele a Z.

            Não gosto nem de pensar no que eles podem fazer juntos. Sinto que meu coração me trai com quando esses pensamentos me vêm na memória. Uma coisa repulsiva, mas que podia acontecer. Preferiria não pensar nesse tipo de coisas entre ela e ele.

#Flash Back#

Jon e Spencer tinham saído para comemorar qualquer coisa. Eu e Ryan acabamos ficando sozinhos naquele apartamento dividido com os outros dois. Ele estava na sala tocando seu violão e eu deitado no sofá todo largado. Levantei-me e o acompanhei com a voz e o teclado.

Algumas vezes ele olhava para mim carinhosamente, como se eu não soubesse o que ele queria com aquele olhar. Terminamos de tocar e ele encaminhou-se para o quarto. Corri e segurei seu braço e este se virou para mim, me encarando nos olhos.

- Não me negue isso agora. – Foi a única coisa que consegui dizer. Fui aproximando meu rosto do dele ate que pousei meus lábios nos seus. Ele não hesitou e ficou me olhando conforme eu me aproximava. Quando meus lábios se descolaram do dele ele me encarou e pareceu não ter gostado da minha atitude.

- Brendon, por favor, não faça mais isto.

- Ryan eu sei que você quer tanto quanto eu. – Segurei seus braços e puxei-o fortemente para mim. No começo ele quis resistir, mais quando encostei meus lábios novamente nos lábios dele, ele se acalmou e foi se entregando aos poucos.

Minha língua pedia passagem para conhecer o gosto doce dos beijos dele. Logo essa passagem foi concedida. Ficamos nos beijando por um tempo, eu passava minhas mãos por entre seus cabelos e ele arranhava minhas costas sob a minha camisa. Paramos de nos beijar e ficamos nos encarando com o olhar.

- E o que a gente faz agora? – Perguntou ele, um pouco aflito e confuso com a situação.

- Não fazemos nada. Só nos entregaremos um ao outro. O resto vira com o tempo. – E beijei seus lábios mais uma vez naquele dia.

#Fim do Flash Back#  

Minhas lembranças foram interrompidas pelo barulho da campainha. Olhei pelo olho mágico e vi que era o vizinho do segundo andar vindo atormentar a minha paciência mais uma vez. Resolvi ignorar os toques da campainha e logo ele se cansou e foi embora. Ate agora eu não acredito que meus pensamentos tão bons que estavam voltados ao Ryan foram interrompidos.

Após ter ficado deitado a manha inteira do dia seguinte pensando no que fazer, resolvi deitar um pouco depois do almoço. Foi quando fechei os olhos e me lembrei que me esqueci de pegar um velho amigo. Peguei as chaves do meu carro e dirigi ate chegar a uma clinica veterinária onde tinha deixado o meu melhor amigo.

A recepcionista veio me atender e eu entreguei um papel com os dados do dia em que deixei-o na clinica. Ela se retirou e foi procurá-lo no hotel canino que havia no local. Esperei por alguns minutos e ela voltou com ele: Bogart.

Paguei o que estava devendo por ter deixado meu amigo no hotel canino e fomos embora. Ele entrou no carro e sentou no banco da frente. Chegamos ao apartamento e ele logo foi deitar-se em sua cama e eu fui me deitar um pouco.

Assim que deitei no sofá ele veio e pulou em cima de mim. “Sentiu saudades Bogart? Eu também garoto.” Comecei a cariciá-lo e dormiu primeiro do que eu. De alguma forma, ele sentia que eu estava triste, essa minha tristeza era sentida por ele. Um pouco depois peguei no sono, acordando duas horas depois. Quando abri meus olhos, Bogart já não estava mais em cima de mim, tinha ido para a cama dele.

Já tinha entardecido e eu fui para a cozinha preparar algo para comermos. Fiz um pouco de salada e arroz. Para o Bogart eu preparei um pouco de carne. Enquanto comia, este estava sob os meus pés me olhando e pedindo um pouco de atenção. “Bogart, já que eu coloco a sua comida.” E continuei a comer a minha que terminei um pouco depois.

Encaminhei-me com a comida dele e coloquei em sua tigela. Ele comeu tudo rapidamente e foi deitar-se em sua casinha. Eu tive que lavar uma pia cheia de louça. Virei meu rosto e vi Bogart deitado de lado e com a barriga estufada, eu ri com aquilo. Meu cachorro estava de fato cansado.

Sentei para ver um pouco de TV e não tinha nada que interessava naquele momento. Peguei meu laptop e acessei meus e-mails, na expectativa de ter alguma coisa dele, mais infelizmente não tinha nada. No twitter foi a mesma coisa. Fiquei pensando em dar um reply para ele, mas não sabia como escrever, apenas mandei um “@thisisryanross: Eu preciso de você meu amigo.”

            Um pouco depois ouço meu celular tocar. Vejo quem é e o Bogart começa a latir. “Bogart fica quieto, o telefonema é para mim.” O mesmo senta-se e começa a abanar o rabo demonstrando alguma curiosidade em saber quem é.

- Spencer como vai?

- Bem e você?

- Tudo tranqüilo. O Bogart ta aqui querendo saber do que se trata.

- O Bogart é esperto, já te falei isso Brendon.

- E do que se trata a ligação?

- Estarei chegando amanhã, tem como você ir me pegar no aeroporto?

- Tem sim. Que horas o seu vôo chega?

- Às 13h no portão B.

- Nos vemos lá então. Ate amanha.

- Ok então.

            Desliguei o telefone e o Bogart ficou me olhando querendo saber uma resposta ou se o outro tinha deixado alguma lembrança pra ele, mas isso não tinha acontecido. “É Bogart, agora somos só eu, o Spencer, e você é claro.” Como se eu quisesse desabafar meus problemas com o meu cachorro. Nem terapeuta ele é.

            Liguei meu laptop para jogar um pouco de Rock Band, o que me trouxe uma boa lembrança. Após um show durante uma turnê eu e o Ryan ficamos jogando um bom tempo e nos divertimos muito. Joguei o jogo e passei por algumas etapas. Quando olhei no relógio já era 01h15min AM. Resolvi dar mais uma olhada no meu e-mail e twitter, mais não tinha nada de interessante. Pelo menos nada que viesse do Ryan. Do meu Ryan.

            Na manha seguinte eu acordei às 11h30min, porque coloquei meu celular pra despertar. Me arrumei e sai prontamente para ir ao encontro de Spencer. “Não posso te levar Bogart. Logo estarei de volta, garoto.” Antes de sair ele foi se deitar na sua casinha um pouco triste.

            Coloquei a chave na ignição do carro e dei a partida, saindo logo da garagem. O caminho ate o aeroporto era um pouco demorado. Liguei o som e começou a tocar Think for Yourself dos Beatles, o que me fez lembrar o Ross adorava essa musica, apenas aumentei o volume e fiquei contemplando aquela musica.

            Um tempo depois cheguei ao aeroporto. Sentei próximo ao portão de desembarque por qual o Spencer sairia. Cheguei um pouco cedo demais e tive que esperar por uma hora e meia ate que seu vôo aterrissasse.

            Já impaciente por ter que esperar, eis que ele aparece. Acenou de longe e eu retribui o aceno. O outro se aproximou de mim e me abraçou. Ajudei com suas malas e nos encaminhamos para o meu carro e pegamos o rumo de volta pra casa. Mal coloquei as chaves na porta e o Bogart começou a latir, reconhecendo minha voz e a do Spencer.

            Ele fez um carinho no Bogart e foi deitar em sua casinha todo feliz. Agora quem me encarava era o Spencer enquanto ia para a cozinha preparar alguma coisa pra gente comer.

- Brendon, ainda se lembra que a gente precisa conversar?

- Claro que lembro. Por quê?

- Porque esta parecendo que esta querendo fugir daquele assunto. E no carro você só falou o necessário.

- Eu não estou tentando fugir do assunto. Só estou um pouco cansado. – Talvez por medo de começar a conversa eu estivesse mesmo fugindo do assunto.

- Você pelo menos ligou para ele, não?

- Que? – Perguntei um pouco confuso já que meus pensamentos estavam mais uma vez no meu amado.

- Ligou para o Ryan, não?

- Liguei sim. – Só respondi o básico para as perguntas do Spencer.

- E?

- Bem, ele me deu a oportunidade de conversar com ele na semana que vem, já que a chata da Z Berg não vai estar lá pra atrapalhar a nossa conversa.

- Vocês vão estar a sós?

- Como a gente poderia estar com o Ryan a não ser a sós? – Como o Ryan é pervertido. Resolveu marcar um encontro somente com nos dois. Adoro isso.

- Sei Brendon. Mas e ai?

- E ai o que?

- Puta merda Brendon, como você esta com o raciocínio lento. Esta pensando nele, não?

- Você sabe que sim. – Dei um risinho forçado. – Mais o que você queria saber?

- Mais alguma coisa que eu saberia saber?

- Não tem mais nada. Não que eu me lembre.

- Tem certeza?

- Ah Spencer, é difícil de falar dele. Quando liguei pra ele quase que desliga o telefone porque aquela outra tava por perto, mas implorei que ele não desligasse. E dei um reply no twitter pra ele.

- E aquele e-mail que você mandou pra ele que ele me mostrou?

- Eu enviei quando a gente terminou a nossa turnê. Eu não estava conseguindo dormir e acabei fazendo esse gesto de amor.

- Quando ele me mostrou esse e-mail, ele me disse que ele tem tido insônias por conta das palavras que você escreveu e da musica que você enviou.

- Serio? – Olhei para ele um pouco tímido por ele ter lido aquelas palavras que eu tinha enviado para o Ry e que era somente para ele.

- Serio. Ele estava bem cansado quando me encontrei com ele.

- E você? Parece estar um pouco cansado.

- Estou mesmo muito cansado. Depois que comer alguma coisa eu vou me deitar.

            Enquanto o outro tinha ido tomar um banho eu terminava de preparar alguma coisa para a gente. Arrumei as coisas na mesa e sentei um pouco no sofá enquanto o outro não saia. Levantei-me para ir ate a cozinha e o mesmo vinha ate ela para comer alguma coisa. Comemos e conversamos sobre algumas coisas interessantes, mas também falamos um pouco de besteira.

            O outro se levantou e se encaminhou para o quarto me desejando boa noite e eu lavei a louça suja com a companhia do Bogart que me olhava. Terminei e fui para a pequena área que tinha no apartamento. Abri uma porta que dava para essa área e que tinha uma vista linda do resto da cidade. Debrucei-me sobre o parapeito e fiquei contemplando aquele momento pensando em como seria a conversa com o meu amado.

            Olhei para o céu e vi as poucas estrelas que havia nessa noite.  Suspirava algumas vezes ao pensar nele. Só ficava me perguntando se ele ainda é meu e se eu ainda era dele. O meu bom e velho amigo Ryan Ross estava me enlouquecendo com os últimos acontecimentos. E, de fato, ele devia estar confuso com tudo. Um pouco entristecido por não ter o outro do meu lado, olhei para o céu estrelado uma ultima vez e suspirei “Só não me deixe, o tempo pode fazer tanto por nós. Ryan eu te amo.” Como se alguém pudesse me ouvir e me atender. a279;