PEV - Pokémon Estilo de Vida escrita por Kevin


Capítulo 14
Capítulo 13 – Amigos?


Notas iniciais do capítulo

Salve, Salve leitores da PEV! Hoje temos a participação de mais um personagem antigo de PET. Isso porque temos mais uma dezena de comentários completas (dessa vez no capítulo 02) Quem será que vai se lembrar dele?



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Pokémon Estilo de Vida
Saga 01 - Estilo de Profissões
Etapa 04 – Coordenadores



Não deixe seu fogo se apagar, faíscas por insubstituíveis faíscas,
na troca perdida no não exato, do ainda não, do de jeito nenhum.
Não deixe o herói na sua alma se extinguir, numa frustração pela vida que você mereceu e nunca pôde alcançá-la.
O mundo que você deseja pode ser ganho.
Ele existe, é real.
Não asfixie. É possível.
É seu.”

(Anônimo)



Capítulo 13 – Amigos?

O corpo saltou, ou tentou. Algo gelado caiu por seu corpo molhando e assustando-a. Respirou ofegante e a medida que o corpo ia reclamando de frio também ia reclamando de dores. Seus olhos tentaram não demonstrar o quanto estava assustada e sofrendo, mas era difícil. Estar amarrada, presa a uma cadeira, sendo questionada por horas sobre onde estava Kevin Maerd Júnior já era frustrante, mas ser surrada enquanto forçava-se a ficar em silêncio era mais doloroso.

Mas, o que ela podia fazer? Mentir que não conhecia Kevin? Dizer que não era Juliana Pendraco? Dizer que não sabia onde ele estava? Ficar calada era mais fácil do que mentir, principalmente por saber que nenhuma resposta iria satisfazê-los. Já vira-os em ação, apesar de não ter ideia exata de quem eram. Seu estado no momento era deplorável, mas certamente as coisas iriam piorar assim que abrisse a boca.

Suas roupas estavam destruídas, mas ainda ocultavam seu corpo. Os golpes e pancadas que levava constantemente criaram cortes nas roupas e a pele já começava a se rasgar facilmente. Mas, não havia nada que pudesse fazer a não ser aguentar firme. Sabia que a machucariam muito, mas a manteriam viva para atrair Kevin.



– Onde está aquele covarde do Kevin? -



Eram dez pessoas vestidas com roupas casuais. Revezavam-se em interrogá-la e cada um parecia ter mais ódio de Kevin do que o outro. Sempre havia um adjetivo diferente para falar sobre o jovem Maerd. Verme, desgraçado, trapaceiro e muitos outros. Eles tinham algo contra o garoto da cidade de Tin, em Kanto, e pareciam dispostos a qualquer coisa para vingarem-se.



– Não vai falar? -



Ela viu estrelas. O soco fora tão forte em seu rosto que teve certeza que iria desmaiar. Sentiu o corpo balançar para o lado, junto a cadeira em que estava presa. Mas, mãos retiveram o movimento da cadeira e logo um balde de água gelada foi jogado. Iriam mantê-la acordada. Ela agradecia pelo soco, outros três gostavam de usar um cinto de couro.

Desde que fora capturada nas ruas de de Petrinya lutara para libertar-se, pois sabia que no momento em que saísse do furgão sofreria. Não tinha certeza do local que estava. Aproveitava cada segundo sem apanhar para recuperar as forças e analisar o local. Tinha certeza que ninguém viria atrás dela, afinal seu único companheiro de viagem descobriu sua traição e a abandonou.

Talvez aquilo até fosse bom, estar sozinha em uma região distante. Se mais alguém estivesse ali seria muito mais complicado. Ser torturada era uma coisa, sua mente ainda conseguia se manter, milagrosamente. Mas, como seria ver outra pessoa ser torturada? Iria realmente deixá-la sofrer sem dizer nada?

O ambiente era penumbra, mas podia ver que estava em um velho bar. Não tinha sinais de abandono e até estava bem limpo para o aspecto interno. Um balcão onde pessoas podiam sentar e algumas mesas espalhadas. Via uma prateleira de bebidas a mostra, mas nada de impressionante. Havia um armário de comida e da dispensa resmungos viam constantemente. Nada que lhe parecesse ser uma saída estava visível. Deveria haver uma porta atrás dela, porque via umas quatro janelas a sua frente.

Mas, de acordo com os resmungos e gemidos deveria haver outro pessoa prisioneira ali. Significava que fugir não era uma opção muito fácil. Se conhecesse a pessoa iriam chantageá-la mostrando. Caso não conhecesse ela não conseguia pensar se seria capaz de deixaria apessoa a própria sorte.



– Esqueceu a pergunta? -



O grito foi tão forte que Juliana assustou-se. Parecia que estavam saindo da diversão e passando para a irritação. Viu o punho de seu agressor, da vez, se fechar e preparou-se para levar um novo golpe no rosto, mas não veio. Abriu os olhos e viu o homem que a interrogava sendo tocado no ombro por alguém do grupo. Ela estranhou, cada um tinha uns dez minutos com ela e definitivamente aquele ainda não estava na hora de trocar.



– Boa noite, Fantasmas! -



A menina viu todos os dez rapazes correrem para a frente dela e perfilarem-se aós aquela estranha saudação ecoar. Ela evitava erguer a cabeça ou mesmo olhar com muita frequência. Doía só o pensar da ação, que dirá a própria ação, mas não se conteve. Percebeu então que havia uma nova pessoa no recinto, ou ao menos era o que dava a entender.



– Gostei do novo visual, Juliana Pendraco! -



A pessoa tinha um brilho azulado e por alguns instantes a prisioneira pensou estar delirando. Mas, o brilho foi diminuindo e a imagem chegou a retorcer-se por alguns instantes. Olhou para os pés do rapaz e viu que tratava-se de um holograma. Havia um pequeno objeto metálico emitindo luz.



São uma organização maior realmente. Não apenas um bando de pessoas desorganizadas. Concluía Juliana ao entender que aquele tipo de equipamento era caro.



– Se pintar de vermelho vai ficar uma gata fatal. - A imagem produzia som e já estava totalmente visível e sem o brilho azulado. - Mas, não se preocupe. Me contentarei com você no tom azul. -



Juliana agora via o rapaz claramente. Cabelos castanho escuro, pele clara com algumas sardas pelo corpo. Olhos azuis usando óculos de grau. Magro e relativamente alto, mas não tinha certeza do quanto por se tratar de um holograma. Trajava roupas sociais de cor cinza. Seu olhar era de satisfação com um misto de deboche.



– Não se preocupe que não vou te perguntar onde está Kevin. - Ele olhava calmamente para Juliana. - Se os Fantasmas não te convenceram a falar, não serei eu a convencê-la. Vou apenas trazê-la para perto de mim e esperar que Kevin venha salvá-la, como já fez com diversos outros amigos. -



Juliana se manteve calada. Todas as suspeitas de que as pessoas que caçavam Kevin eram conhecidos de um passado não muito distante era real. Mas, quem seriam eles? Por que pareciam tão bem organizados como uma organização criminosa?



– Talvez você consiga fugir sem que Kevin tenha que se envolver. - Ele mostrou os dentes em um sorriso descarado. - Existe sempre uma possibilidade. Por isso, direi meu nome para você levar até ele. Assim ele saberá quem deve procurar pelo estado deplorável que ficará. -



Juliana engoliu um seco. Já estava bem machucada e sabia que poderia sofrer ainda mais, mas sentiu naquelas palavras que o que fizeram com ela até aquele momento seria brincadeira.



– Mas, seu único amigo foi embora, sabe-se lá o motivo. Está sozinha, sem amigos. É somente você e os Fantasmas. - O rapaz falou parecendo deliciar-se com a fala e viu nos olhos de Juliana que realmente não esperava que ninguém viesse resgatá-la. Ninguém sabia onde ela estava. - Não batam mais nela. Quero quebrar o espirito dela antes que chegue onde estou. Em três horas um contêiner chegará aonde estão. Tirem a roupa dela, joguem-na dentro com três litros de água e três quilos de comida. O contêiner viajará em um navio até minha localização e assim, quando ela chegar estará viva, mas sem condição nenhuma de aprontar. Queimem tudo que ela tiver de pertence, exceto a pokeagenda e as pokebolas, um de vocês deve entregar isso a outro fantasma, em Sinnoh. -



– Eu farei isso, Fantasma. - Disse um deles começando a se mover.



Juliana respirou aliviada. Não iria mais apanhar por algum tempo. Mas, tinha certeza de que sua estadia no contêiner não seria nada agradável. O metal em contato direto com sua pele, esquentando e esfriando iria ser uma tortura da qual ela não conseguiria sobreviver. Confinada com pouca água e comida iria enlouquecer a cada barulho. Quanto ficaria presa naquela jaula de metal? Para onde estaria indo?



– Juliana, meu nome é Murilo Moonglade! - A imagem desapareceu em seguida.



Juliana escutou aquele nome repetindo-o diversas vezes, mentalmente. Se sobrevivesse e conseguisse escapar. Aquele era o nome que iria seguir, com certeza.



<><><><>



Fazia tempo que não tinha o luxo de acordar tão tarde. Seus pais estavam recuperando-se de alguns ferimentos e usavam-na de enfermeira a quase todo instante, mesmo tendo pessoas contratadas para isso. De certa forma, entendia que se não fosse assim ela mesma não passaria muito tempo com eles. Mas, finalmente estavam aptos a voltarem a fazer suas tarefas sem auxilio e isso permitiu acordar as dez da manhã e não as costumeiras cinco que vinha fazendo.

Pretendia tomar um café reforçado e sair para ir a cidade mais próxima fazer compras e logo depois decidir o que iria fazer naquele ano que estava para começar. Era uma treinadora e como tal deveria escolher uma região e aventurar-se por ela. Mas, estava sentindo a necessidade de estudar um pouco mais. Conheceu tanta gente em suas poucas viagens que percebeu o quanto fazia diferença para um treinador pokémon ter concluído os estudos. Talvez resolvesse participar da liga de sua região, Jotho. Poderia frequentar a escola durante a semana e nos finais de semana, férias e feriados correr para os ginásios. Era um método que lhe tiraria o prazer da jornada pela região e custaria caro, mas tinha suas vantagens.



– O que é isso? -



Juliana parou na sala de jantar, onde o café ainda estava servido a sua espera, e encontrou um garoto gordo e alto servindo-se.



– Café da manhã. - Disse o garoto.



Juliana revirou os olhos, mexendo nos cabelos castanhos com pontas alaranjadas. Odiava aquele garoto justamente por respostas idiotas como aquela. Talvez ele não tivesse percebido o tamanho da bagunça que estava fazendo na mesa de café. Além de já ter comido mais da metade, estava sujando tudo falando de boca cheia e comendo como se a muito não visse comida.



– Jura? Achei que fosse apenas um chiqueirinho particular para você. - Ela debochou e percebeu que ele parou de comer, levantando-se a encarando. - Por que está na minha casa? - Era civilizada com ele em alguns momentos, mas não se lembrava de tê-lo convidado para sua casa e visivelmente seu dia estava arruinado com a presença dele - Acaso viramos amigos e eu esqueci disso, Arentilmar? -



– O dia em que passarmos a nos considerar amigos, será o dia mais triste de minha vida. - O garoto respondeu pegando no bolso de sua bermuda uma poebola. - Não pretendo passar por isso todos os dias. Um contra um e o perdedor cala a boca. -



– Todos os dias? - Juliana escutou aquilo e não conseguiu deixar de demonstrar toda a confusão mental em que se enctrou.



Alguns serviçais chegaram para entender o que estava acontecendo, já que não era normal que Juliana estivesse gritando em meio a mansão. Sempre tratara bem todos os empregados e considerava-os amigos.



– Que bom que chegaram. - Disse Juliana encarando um segurança e uma moça da cozinha. - Podem me explicar o que essa baleia faz fora do oceano? Ou melhor, coloquem-no na rua! - Juliana estava muito irritada.



– Desculpe-nos senhorita, mas é convidado de seus pais. - Disse o segurança um pouco acanhado.



Juliana arregalou os olhos não acreditando no que escutara. Mas, de repente tudo fazia sentido. Seus pais eram mestres pokémon e pertencentes a Elite dos quatro de Jotho. Estavam velhos e queriam discípulos para ensinar algumas coisas que gostariam que os jovens não se esquecessem. Ela própria iria ser uma e lembrava-se de ter escutado falarem de Arentilmar. Mas, ela deixou claro que não iria fazer parceira com o jovem. Seus pais pareciam ter entendido o recado na época e não mais falaram sobre ele.

No entanto, cá estava o jovem, claramente pronto para ser discípulo. Toleraria a ideia de fazer parceria com ele não fosse o evidente detalhe que os pais pretendiam fazê-lo morar ali, na mansão Pendraco. Aturá-lo em qualquer outro lugar, sendo o idiota que ela considerava que ele era, estava aceitável. Mas, não em sua própria casa. Era ela ou ele e estava claro que os pais resolveram pagar para ver.



– Nesse caso, faça bom proveito de minha casa! - Gritou ela. - Avisem que partir em jornada e que podem fazer bom proveito do elefante. -



<><><><>



Aquele dia que cheguei a mansão Pendraco e Juliana saiu foi o dia em que eu tive certeza de que nunca nos daríamos bem. Enquanto eu fiquei na casa dela ela acabou, de alguma forma, sendo acolhida pela irmã de Kevin na casa deles. Nunca tive raiva real dela, só não conseguimos nos entender. Um sempre está querendo mostrar ser melhor que o outro, seja para os Mestre Pendraco, seja para Kevin ou para nós mesmos. E agora eu consegui fazer a burrada do século, deixei-a sozinha quando ela dizia estar em perigo. Acho que o pior de tudo é ter que admitir que minha frase estava certa. No dia que passei a considerá-la minha amiga, fiquei triste.

Are estava melancólico. Não conseguia parar de se culpar pelo sequestro de Juliana e temia por ela. O motivo do sequestro não estava claro, mas poderiam ser inúmeros. Ela era campeã de um Grande Festival e isso já a deixava com status de celebridade, mesmo que em Arton, poucos soubessem disso. Ela era filha de Mestres Pokémon. Sua família era rica. Tinha pokémon fortes e bem treinados. E, mesmo que Are não gostasse de admitir, era muito bonita.

Os irmãos Torques não sabiam explicar o motivo também. Eles estavam aguardando transporte quando viram ela do outro lado da rua sendo abordada por alguns caras que tentaram agarrá-la. Não parecia ser questão de agressão e sim de assédio naquele momento, conforme os torque. Juliana liberou Mudkip que deu uma surra nos caras que fugiram. Mas, quando ela preparou-se para continuar seu caminho um furgão preto parou e uns caras jogaram-na dentro.

De acordo com Brad foi tudo muito rápido. Ele apenas teve a chance de liberar um pokémon voador para segui-los enquanto procurava a polícia, que pareceu não acreditar muito nele. Dark conseguiu o carro e disse que os caras do assédio não eram os mesmos do sequestro, ao menos não aparentemente. Mas, não importava se eram ou não. Estavam longe de conseguir resolver o problema.



– Meu Dugtrio contou dez deles. - Disse Brad a meia voz. - Tem duas pessoas amarradas. -



Eles estavam escondendo-se atrás de alguns carros abandonados. Estava tudo escuro em volta, apenas uns cinco metros próximo de um bar estava iluminado. O furgão preto estava parado do lado de fora. O bar não parecia ser muito grande, mas possuía dois andares. Todos estavam no térreo e já fazia uma hora que os gritos haviam parado.

Quando chegaram compreenderam que precisavam observar primeiro. Ave noturna de Brad continuou observando as coisas em volta, sobrevoando o local. Dugtrio era um pokémon toupeira de três cabeças que conseguiu fazer um buraco no piso do bar e pode observar tudo. Não chamou a atenção, já que estavam batendo em Juliana naquele momento. Are achou interessante que Brad comunicava-se bem com seu pokémon a ponto de conseguir identificar a ideia de dois estarem amarrados.



– O que será que estão esperando? - Questionou Are. - Por que pegaram Juliana? -



– Foco! - Resmungou Brad. - Foda-se o motivo! Assim que Dark voltar e disser enquanto tempo a polícia chega, nós nos preparamos para agir. Você vai entrar chutando a porta, pegando três pelo pescoço, enquanto entrarei por uma janela liberando meus pokémon. Essa será sua deixa para fazer o mesmo. Vamos cercá-los entre minha força de ataque e a sua. Enquanto isso Dark vai retirar Juliana e a outra pessoa amarrada. -



Are ficou olhando sem responder nada. Para ele era evidente que o plano era louco. Estavam em clara desvantagem numérica, era melhor enganá-los do que enfrentá-los de frente. Usar o pó do sono de um pokémon planta e enquanto todos estivessem dormindo rendê-los parecia ser bem mais simples e seguro. Mas, discutir isso com Brad, naquele momento, estava fora de cogitação. Iria ser difícil explicar para o treinador ao lado que a segurança dos amarradas ficaria em risco. Talvez Brad não se preocupasse com a condição física dos reféns.



– Por que está ajudando Juliana? - Questionou Are. - Achei que não gostassem dela. -



Havia evitado aquela pergunta durante muito tempo. Não fazia sentido desconfiar das pessoas que queriam salvar sua amiga. Mas, diante dos planos que eram apresentados, talvez fosse hora de saber o porque estavam querendo salvar Juliana.



– Não gostamos. - Disse Brad. - Ela é uma rival de valor. Respeito-a como adversária. Se ela desistir das competições ou das batalhas, é uma pessoa de valor a menos para enfrentar. - Brad sorriu. - E queremos enfrentar os fortes. Ser o melhor enfrentando lixo não nos interessa. Se Juliana cair agora Dark jamais terá a oportunidade de uma revanche. -



Are por alguns instantes perguntou-se se era por isso que Brad insultou Kevin no navio tantas vezes. Não por achar que Kevin fosse tudo aquilo, mas talvez estivesse frustrado com a possibilidade do Maerd abandonar a carreira antes que ele pudesse ter sua revanche. Ao que parecia Brad era o tipo de cara que queria ser o melhor vencendo os fortes. Até ali achava que ele simplesmente detestava-os, mas começava a perceber que tinha seu próprio jeito de ser e se importar com as pessoas. Uma forma egoísta, mas uma forma.



– Acho que devemos... O que é aquilo? -



Are apontou para faróis que se aproximavam rápido. O jipe em que Dark estava nem de perto iluminava tanto e ela havia sido orientada a voltar apenas um pouco e sem faróis. A tentativa dela de pedir ajuda estava demorada e parecia que agora iria ter que se apressar.

Os faróis se revelaram um caminhão com contêiner atrás. Parou junto ao bar e dois caras desceram dele. Olharam em volta e logo depois bateram na porta do bar. A porta se abriu e dois outros saíram.



– Viemos buscá-la. -



Brad e Are puderam escutar perfeitamente a fala. Não estavam tão distantes e a falta de qualquer outro barulho, exceto o motor do caminhão que permaneceu ligado, ajudava. Are cerrou os punhos de tal forma que Brad pode escutar os dedos estalando.



Se não fizermos alguma coisa agora eles vão levá-la daqui. Are tentava controlar a respiração, mas estava sendo tomado pelo medo. Em minutos Juliana estaria novamente em movimento.

Olhou para Brad que estava atento a conversa, mas de repente olhou para trás. Na certa preocupado com a irmã que estava demorando a aparecer. Mas, eles não podiam mais esperar. Não haveria tempo de um plano cauteloso como o que Are queria.



– Estilo Brad! - Disse Are levantando-se e correndo para porta onde os quatro homens estavam.



Brad deu um sorriso debochado. Estilo Brad. Ele iria questionar aquele pífio comentário mais tarde. Por hora iria seguir o plano da janela.

Enquanto Brad seguia para seu plano da janela Are chegava gritando junto aos quatro homens já via soltado Eevee e Torchic. Enquanto um dos homens recebeu um forte ataque rápido no estomago outro levou um forte arranhão na face. Are se jogou contra os dois passando pelo porta e derrubando-os dentro do bar.

Os oito que estavam lá dentro assustaram-se com o ocorrido. Estavam preparando-se para deixar o local, já haviam jogado todos os pertences dela no forno e queimado. As pokebolas e pokeagenda estavam sendo colocadas em uma mochila preta. Mas, de repente, gritos vieram do lado de fora e um grande rapaz passava pela porta derrubando dois deles.

Are levantou-se ciente que os dois homens que haviam sido esmagados por ele não estavam mais conscientes. Estavam todos olhando para ele, um tanto quanto surpresos. Não podia perder o elemento surpresa, liberou mais um pokémon, agora um spearow. A ave saiu da pokebola furiosa atacando todos pelo caminho como se soubesse exatamente a situação em que se encontrava.

Spearow era um pokémon agressivo por natureza. Ainda não estava totalmente treinado, mas naquele momento aquilo era um trunfo. Atacaria qualquer um e isso é importante.

Alguns tentaram colocar seus pokémon para fora. Surgiu um arcanine e dois machoke. Mas, depois disso nenhum outro. Estouros seguidos aconteceram do lado de fora e Brad entrou pela janela, estilhaçando-a e libertando alguns outros pokémon que Are não conseguiu acompanhar.

Are olhou em volta. Viu alguns homens com facas, cacos de garrafas, cadeiras e facas. Escutava um grito de “É o Brad!” logo após sons de pessoas caindo. Não se importava, ainda não tinha conseguido identificar Juliana no meio daquela confusão. Escutou um estouro atrás de si, seguido demais dois. Por um momento pensou em Eevee e Torchic. Virou-se temendo que os dois homens que ficaram do lado de fora, apanhando de seus pokémon, tivessem virado o jogo. Mas, então viu um houndoom.

Pokémon negro com ossos recobrindo seu corpo e grandes chifres que olhou-o intensamente. Sentiu um arrepio percorrer seu corpo e em seguida seus pokémon apareceram atrás dele. Os três se lançaram no combate e então Are entendeu, era um pokémon de Brad.

Are sempre teve medo daquela espécie de pokémon. Sempre o vira sendo implacável, independente da qualidade de seu treinador. Nunca enfrentou nenhum, mas poucas vezes vira-os perder.



– Are... -



Foi balbuciado seu nome em meio a toda aquela gritaria e bagunça. Achou ter alucinado, mas então teve certeza. Uma cadeira com alguém amarrado a ela. As estranhas roupas escuras pareciam ser a de Juliana, apesar de estar bem destruída e ensanguentada. Só poderia ser ela.

Precipitou-se para ela. E então parou. Entre ela e ele tinha um pessoa armada. Era uma pistola brilhante que estava começando a ser apontada para ele. O cara tremia, estava sangrando e parecia bem irritado.



– Você! Adorador de Kevin! - Ele berrou preparando-se para atirar.



Um estrondo. Tudo sacudiu. A parede do local foi destruída por um carro que atravessou a parede e chocou-se contra o cara com a pistola que foi lançado contra parede. Are olhava assustado para situação, mas viu que de dentro do carro saia uma zonza Dark. Deixou-a saindo do carro e correu até Juliana.

Ela estava realmente machucada. O rosto inchado, roxo com muitos cortes. Via ela ainda respirando, mas tinha a impressão que um dos braços estava quebrado e que temia que a perna cortada e quase negra não fosse apenas sujeira. Tremeu ajoelhando-se próximo a ela.



– O que fizeram com você? -



Ele perguntou sem realmente esperar resposta. Mesmo durante a era das organizações criminosas criando uma guerra contra o mundo, ele não chegou a presenciar tamanha crueldade. Nunca estivera de frente para uma pessoa naquele estado e não parecia terem usado nada além de coisas comuns nela.

Colocou a mão na corda e tentou, por duas vezes, desfazer o nó. Mas, percebeu que estava tremendo. Irritado levantou-se e ergueu a cadeira e saiu carregando-a, com Juliana amarrada.

Aqueles que ainda lutavam pararam ao ver o gordo rapaz carregando a cadeira com a menina amarrada sem ao menos parecer estar se esforçando para aquilo. Os sequestradores ergueram os braços, rendendo-se de imediato. Não iriam arriscar terem de enfrentar aquele monstro.

Are parecia ignorar tudo o que acontecia. Caminhou para fora e viu que o caminhão estava inclinado. Viu os dois homens do caminhão desacordados caídos na porta e o caminhão com dois pneus destruídos. Agora entendia que os estouros foram daqueles pneus. O cão de fogo noturno de Brad havia realizado aquilo. Brad era esperto, não deixou jeito para que fugissem pois logo compreendeu que os estouros iniciais deveriam ser da van.

Are viu o quanto Brad era forte naquele momento. Esperou até saber que não havia mais reforço para chegar. Usou a primeira frente de combate como distração para eliminar as chances de fuga, assim poderia perder a batalha sem que eles pudessem fugir para muito distante. Quando entrou impôs medo com barulhos vindo de fora parecendo que existiam muitos outros além dele que estava dentro. Ainda assim deixou alguém do lado de fora, a sua própria rota de fuga e reforço. Um dia iria pensar naquela noite e entenderia como Brad Torque era um treinador terrível para se enfrentar. Mas, naquele momento o jovem Hoo somente pensava no estado de Juliana.

Quando colocou a cadeira no chão e conseguiu desfazer o nó foi que teve a certeza de que ela estava muito mal. Precisaria de socorro rápido. Viu Dark saindo com um senhor apoiado nela, meio amarrado. Ele também parecia precisar de ajuda. O único problema era que agora nenhum veículo estava disponível para levá-los.



– Fez contato? - Questionou Are deitando Juliana no chão. - Eles estão vindo? -



– Não tenho certeza. - Disse Dark sem cerimônias.



<><><><>



– Eles acordaram? -



Foi um sussurro. Quase inaudível. Falado ao pé do ouvido com os lábios roçando a orelha. Tinha receios de ter acordo alguém. Não tinha certeza de quantas vezes gritou durante o pesadelo. Acordou tão assustada que até se esquecera de onde estava. Viu a irmã, que dormia na cama ao lado, levantar tão assustada quanto. Olhou-a na penumbra em que estava o quarto e saiu sobre as pontas dos pés. Demorou algum tempo, mas não saberia precisar o coração ainda estava acelerado e a imagem da arma disparando contra ela ainda assustava.



– Ignoraram. -



Leila quando voltou deitou-se na cama de Lívia abraçando a irmã. Quando estavam em Khubar e aqueles gritos de Lívia começavam no meio da noite era assustador. As duas moravam sozinhas e as vezes era difícil escutar gritos e não pensar que algo estava acontecendo. Mas, ali visitando os pais, aqueles gritos eram mais incômodos do que assustador.

Elas nunca conversaram sobre aqueles pesadelos, eram intimas e confidentes. Mas, Lívia possuía uma linha a qual não atravessava com a irmã. Tudo Leila contava e sobre tudo falava. Nem tudo Lívia contava e nem sobre tudo Lívia falava. Havia um assunto sobre qual as duas não falavam, pois não era necessário. Mas, um assunto agora havia se tornado dois. Aquele sonho.



– Sinto muito! - Os lábios de Lívia estavam encostados na orelha esquerda da irmã. - Sonhei que atiravam em mim. -



Leila estremeceu. Apertou a irmã no abraço. Esteve curiosa sobre o sonho por diversas vezes, mas naquele momento estava desejando que ela não contasse. A irmã estava acordando aos berros a semanas, mas respeitou o espaço dela não contar o ocorrido. Achava ter feito bem, sonhar com morte tantas vezes era estranho.

Leila era inteligente e lógica. Não acreditava em presságios ou qualquer coisa do gênero. Mas, estava admitia que se espantava com o que pokémon psíquicos e fantasmas podiam fazer. Ver o futuro por meio do Visão Futura, ver o passado lendo a mente das pessoas, cruzar o tempo e o espaço em poucos segundos.

Estaria sua irmã recebendo uma mensagem de algo? Mas, seria um assalto? Um acidente? Seria um assassinato? Como gostaria de não estar na casa dos pais para poder conversar sobre isso, mas teria de tomar cuidado com as palavras para não deixá-la assustada.



<><><><>



O terreno em volta era realmente desabitado. O bar deveria ser o único ponto de parada para os viajantes por quilômetros. Ficava fora das rotas indicadas pelo mapa e talvez já tivesse salvo muitas pessoas perdidas. Mas, depois do confronto de salvamento, o bar precisaria de uma reforma para não ser confundido com ruínas.

O sol que nascia timidamente iluminava em volta dando a todos o tom de que se algo tivesse saído errado, poderiam jamais ter seus corpos encontrados por alguém. Por isso Brad vigiava atentamente os 12 que capturaram. Seus pokémon hostilizavam os amarrados para que soubessem o que aconteceria se tentassem escapar. Dark tentava cuidar do dono do bar, mas ele ainda estava em choque e só veio a começar a ficar tranquilo quando escutou sirenes aproximando-se. Sim, a cavalaria de Arton estava chegando completamente atrasada. Mas, se chegassem com uma ambulância já remediariam todo o descaso do momento. Ao menos para Are tudo que importava era que alguém pudesse cuidar dos ferimentos de Juliana.

A menina estava deitada no chão, com a cabeça em seu colo. O pouco material de primeiros socorros que possuíam serviram apenas para limpar os piores ferimentos e estancar alguns que estavam sangrando com mais abundancia. O rosto estava tão machucado que com os cabelos pintados de azul qualquer um iria dizer, não era Juliana Pendraco.



– Está chorando? -



Juliana abriu os olhos ao sentir algo molhado gotejando em seu rosto. Sua voz estava rouca e fraca, mas tranquila por ter sido salva. Ela havia escutado Dark dizer que já não possuíam mais nenhum item medicinal para usarem nela. Não achava que do nada estava começando a chover. Quando abriu os olhos viu a face vermelha com os olhos cheios de lagrimas de Are.



– Eu não devia tê-la deixado sozinha. - Are chorava, não chegava a soluçar ou coisa parecida. Apenas sentia o quanto errou em sua decisão. - Eu não levei a sério o que você falou de perigo. Se eu estivesse lá você não estaria assim. - Pela primeira vez ele soluçou. - Sinto muito! -



Durante todo o tempo que foi torturada segurou o choro com toda a força que pode. Gemeu de dor algumas vezes, não era tão forte quanto queria passar. Mas, em nenhum momento derramou uma lagrima. Mas, naquele momento sendo banhado pelas lagrimas de Are, ela não conseguia segurar.



– Você... é... - Ela gaguejou começando a chorar. - Seu burro! Idiota! -



Ela tentou bater nele, mas sentiu dor. Parou chorando por alguns instantes. Ela não acreditava que ele ainda se culpava por tudo o que havia acontecido. Ela era a única culpada daquilo tudo. Queria explicar isso para ele, mas não conseguia. A dor física já era grande e agora ainda tinha uma dor emocional.



– Sei que o Kevin não teria deixado nada disso acontecer. - Ele tentou conter o choro. - Ainda estou muito longe da pessoa que ele é, mas... -



– Você não pode ser como ele! - dizia Juliana em meio as palavras chorosas de Are, mas ele não parava de dizer, Kevin isso, Kevin aquilo. - Você não quer ser que nem ele! - Ela repetiu tento fazê-lo parar, mas Are parecia não escutá-la. - Ele os teria matado! - Juliana gritou para ele.



Are parou de falar e olhou para Juliana. Aquilo não parecia real. Teve vontade de na mesma hora chamá-la de mentirosa e mandá-la retirar o que havia dito. Kevin Maed Júnior, a pessoa que lhe deu um rumo, a pessoa que lhe ensinou como ser um treinador pokémon, um herói para o povo da região de Jotho jamais mataria alguém.

Are ficou sentindo aquelas palavras e não percebeu todo o movimento que a polícia fazia em sua volta. Levando pessoas para o camburão, gritando palavras de ordem, pegando juliana de seu colo e colocando-a numa maca. Falando com ele diversas vezes sem que ele se desse conta de nada.

Para ele Kevin Maerd Júnior era um exemplo a ser seguido. Mas, juliana dizia que se Kevin estivesse ali teria matado aqueles que a sequestraram, que a torturaram. Talvez ela estivesse tão assustada e desejando vingança contra aqueles caras que imaginava que o certo era matá-los. Mas, Kevin não faria aquilo. Ou faria?

Foi questionar Juliana o motivo daquela fala e então viu Juliana já na maca. A policia e o socorro chegaram e ele parecia não ter notado, mês mo com todo o barulho que estavam fazendo. De repente uma algema prendeu Juliana à maca. Só então percebeu que pessoas tentavam, em vão, algemá-lo. Seus pulsos eram grandes demais para as algemas comuns.



– O que é isso? - Are assustou-se levantando-se e empurrando alguns policiais. - Somos treinadores. Salvamos a menina e o dono! - Parecia ser ignorado enquanto diversos agentes tentavam cercá-lo. - Brad! - Ele virou-se procurando o rapaz. - Diga a eles! - Gritou uma vez, mas então viu que ele não iria ajudar.



Os pokémon de Brad estavam sendo enredados enquanto seu treinador havia sido dominado. Diversas pessoas estavam segurando-o no chão enquanto pernas e braços recebiam algemas. Dark havia se rendido e já estava no camburão.



– Somos os mocinhos! Somos os mocinhos! - Gritava Are tentando ser dominado. - Eles sequestraram ela. - Ele apontava para o grupo amarrado que era levado para outros camburões. - Estão loucos? -



– Loucos estavam vozes quando atacaram uma pessoa, roubaram um carro e usaram pokémon contra humanos. - A oficial Jane que liderava a operação acertou o cassetete na cabeça de Are. - Vocês vão passar muito tempo na cadeia! -


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram?
Lembram do Murilo?
Na próxima semana mais um personagem antigo aparecerá (completamos 10 comentários no capítulo 04).

O que será que vai rolar com essa galera nas mãos da policia?



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