Lavender Hypnosis escrita por Miss Venomania


Capítulo 19
My last love words


Notas iniciais do capítulo

Yooooooooooh pessoas! :3 Então, um capitulo gigante como eu havia "prometido" >.< É meio grande pra caramba e tem muita informação, mas também tem algo que vocês devem ter imaginado somente por ler o título. Então, espero que gostem ^_^ POR FAVOR, leiam as notas finais ;^; São importantes! AYE!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587780/chapter/19

– Mas a obcessão de Eusine por Suicune é algo que não é saudável. – Kuni interrompe Sayo, enquanto traz as xícaras com o chá de cor escarlate. – Você o conhece?

– Conheço. Morty me apresentou ele em Goldenrod. – Respondo, tomando um curto gole da bebida quente. Apesar de eu não gostar de chá, este realmente estava bom.

– Mudando de assunto – Miki bate suas mãos, erguendo o olhar, como se estivesse cansada de falar sobre lendas locais. – Deu pra notar que rola certa química entre você e o Morty! Conta mais disso aí!

Todas parecem se animar com o tópico iniciado por Miki, que sorri maliciosamente. Sinto minhas bochechas arderem de leve.

– Não há nada entre nós dois. – Respondo diretamente.

– Fala sério! Mesmo te conhecendo há pouco tempo, dá pra notar que tem alguma coisa. O modo como vocês se olham diz muita coisa. – Sayo argumenta, tomando um gole de chá. Eu suspiro, derrotada. Sabia que teria de conta-las a verdade que nem eu mesma sei se é real, ou não me deixariam em paz. Talvez até pudessem me ajudar de certo modo.

– Pode até ser que eu o veja com outros olhos. – Confesso. O calor que já havia em minhas bochechas se torna um verdadeiro inferno. Todas se silenciam por completo para me escutar. – Mas mesmo se esse sentimento que nem sei se é real fosse recíproco, e daí? Ele provavelmente sente isso por várias garotas...

– Nada disso. – Sayo olha-me de canto, com um pequeno sorriso nos lábios corados. – Eu conheço bem o jovem Morty. Conheço-o desde a juventude. Lembro-me de quando eu tinha apenas oito anos e via aquele garotinho dos cabelos dourados como ouro brincar com meu Eevee, que quatorze anos mais tarde me ajudou a evoluir para um Jolteon...

Ela se perde em seus devaneios momentaneamente, logo retornando á realidade.

– Enfim, o que quero dizer é que ele não tem sentimentos por noventa por cento das garotas com quem sai. Mas se o olhar que ele te lança é de paixão, com certeza será diferente!

– Desde os dezesseis anos ele parou de pôr limites em si mesmo. – Zuki diz. – Farras, bebida, drogas, mulheres... Ele pareceu esquecer-se de seus princípios depois que começou a ter acesso á essas coisas sempre que quisesse.

– Pois é! A puberdade tardia o transformou muito rapidamente. – Miki afirma, rindo. Ergo uma sobrancelha.

– Como assim? – Pergunto curiosa.

– Enquanto na maioria dos rapazes a puberdade chega por volta dos quatorze anos, nesta idade ele ainda tinha voz oscilante entre fina e forte e fisionomia de criança.

– Além de que o estilo dele não colaborava muito... – Sayo conclui, retirando a carteira vermelha com desenhos de galhos de cerejeira estampados de dentro do bolso. Da mesma, ela retira uma foto e desdobra, entregando-me.

Na fotografia, vejo-a abraçada á um Jolteon ao lado de um garoto estranho, de aparentemente quatorze anos, com um sorriso mostrando todos os dentes, fazendo sinal da paz nas duas mãos, de cabelos loiros até abaixo dos ombros e roupas longas de cores descombinadas, uma grossa faixa cruzava-lhe os cabelos da testa. Parecia muito um tipo de hippie mirim bizarro. Não consigo conter o riso.

– N-Não... Não me digam que... Que esse é... – Tento dizer por entre minhas gargalhadas. Elas riem baixo em conjunto.

– Exato! Esse garoto sem a mínima noção de estilo é o Senhor Morty Matsuba de oito anos atrás. – Naoko mistura um pouco de açúcar ao seu chá com uma colher. – Quando a idade finalmente o alcançou, notou que era mais do que ridículo e resolveu cortar o cabelo e adotar um estilo mais decente.

– E desde então ele virou um cafajeste de marca maior. – Miki afirma. Zuki consente com a cabeça.

– De todas as garotas com quem já o vi ficar, – Zuki começa. – ele tinha algum sentimento apenas por uma. Uma líder de ginásio de Kanto. Qual era mesmo o nome dela? Samantha, Sandrina...

– Sabrina! – Concluo sua frase, um pouco surpresa. Não imaginava que Morty já havia tido relações com Sabrina, visto que ela é, de longe, a garota mais difícil que eu conheço. Havia rejeitado propostas até mesmo do antigo campeão da liga de Hoenn, Steven Stone, que a desejava fortemente para uma relação aberta, até se envolver e noivar com a campeã da liga de Sinnoh.

– Essa mesma!

– Teve outra garota além dessa. – Miki diz, levantando-se para guardar sua xícara. – Lembro-me claramente. Ele traiu a tal Sabrina por uma que ele parecia ter alguma paixão.

Ergo uma sobrancelha, com dúvida. Para ele trocar a Sabrina por outra, essa tal garota deveria ser uma deusa ou algo do gênero. A memória parece voltar para Sayo.

– Sim, sim! A da canga esquisita. Apesar de ele parecer gostar dela, eles tinham uma relação bem agridoce. Ora estavam brigados, ora estavam aos beijos em um canto da cidade.

As palavras de Sayo parecem atingir-me como uma lança no peito. Um pouco de chá e bile é regurgitado de meu estômago para dentro de minha boca. Levo a mão cerrada em punho aos meus lábios, olhando cada uma delas nos olhos. Se tiver um casal que eu desaprove mais do que quando dizem que eu gosto do Falkner, é o Morty com a Phoebe.

– Algum problema, senhorita? – Naoko fita-me, preocupada. Consigo engolir o líquido azedo e grosso que havia subido de minhas entranhas antes que o mesmo escapasse por minha boca.

– Essa tal garota– Tento falar, com uma queimação no esôfago. – era uma tal de Phoebe?

– Não me recordo do nome dela. – Naoko diz, em tom penitente. – Acho que o Senhor Morty nunca nos contou.

Raiva e um pouco de desespero meu possuem por completo. Se ele havia trocado Sabrina por uma ninguém como Phoebe... Quem seria eu em sua vasta lista de namoradas? Apenas mais uma para ele trair, abandonar, fazer o que bem quiser depois de suprir suas vontades? Momentaneamente eu estava odiando-o, e eu odiava odia-lo. Aperto a xícara com força em minhas mãos enquanto centenas de pensamentos fluem em minha mente confusa. De certo modo, somos tão diferentes, mas tão parecidos... Eu consigo enxergar apenas o meu lado da moeda, a minha soma de fatores do que já vi de sua vida. Mas se ele gosta de mim no mesmo sentido que eu acho que gosto dele, não deve ter ficado feliz ao saber que já fiquei com o Falkner, alguém com quem ele não se dá bem. Mas eu estou aqui, mordendo-me de ciúmes por ele ter namorado uma garota que eu odeio mesmo sem conhecê-la direito, em uma época que ele ainda nem sabia que eu existia. Claro, ele traiu a Sabrina, e isso é completamente errado em todos os sentidos, mas mesmo sendo o fator de maior importância, não era o foco de minha preocupação, e sim esses ciúmes que têm me condenado. Algumas lágrimas se formam em meus olhos, enturvando minha visão. As garotas parecem perceber, olhando-me com piedade.

– Não fique assim... – Naoko põe a mão em meu ombro.

–... E se ele apenas me quiser como um brinquedo, como fez com todas essas garotas com quem já ficou? – As lágrimas já escorriam em um ritmo frenético por meu rosto corado. Naoko abre a boca para falar algo, mas Sayo a interrompe.

– Se você o ama verdadeiramente, vai correr o risco. Se não, você segue sua vida e ele segue dele. A escolha é sua. – Olha-me com seriedade. Suas palavras exercem um efeito grande sobre mim, que não tenho certeza se foi positivo ou negativo. – Não querendo te pôr pressão, claro. Você tem todo o tempo do mundo para pensar nisso. Mas as oportunidades vão embora com o vento se não forem aproveitadas.

– Vamos parar de falar sobre o Morty e suas centenas de ex-namoradas! – Kuni pede, erguendo os palmos em sinal para pararmos. – Vamos falar sobre algo mais feliz. Quais seus planos para o ano novo, senhorita?

Pondero por alguns segundos, selecionando a resposta mais coerente.

– Eu gostaria de viajar para Unova. – Respondo, com um sorriso de canto. – Falo sobre isso sempre, com todos os meus amigos. Eu também comentei isso com o Morty em uma aposta, mas não acho que ele tenha prestado atenção. É um verdadeiro sonho meu, conhecer aquela região vasta e linda.

E, de minha frase, é iniciada uma longa conversa sobre diversos tópicos, interrompida apenas para almoçar e saborear pequenos lanches quando tínhamos fome. Sonhos, desejos, garotos, música, amigos, praia, festas, bebida... Todos esses tópicos foram abordados em conversas. E o tempo passou sem nem sentirmos. Aos poucos, os céus começavam a adquirir sua clássica tonalidade alaranjada e violeta de fim de tarde. Naquele pequeno quarto fechado, o único guia temporal que possuíamos era a enorme janela, e sem nos darmos conta já parecia ser inicio de noite. Desde que capturei de canto de olho a mudança de tom do céu, meus pensamentos não mudavam de foco. Queria saber onde Morty estava, o que estava fazendo, com quem estava. Minha distração havia se aumentado de um modo que respondia perguntas direcionadas a mim apenas com palavras monossilábicas.

– Algum problema, senhorita? – Naoko pergunta-me, enquanto mordisca um biscoito de aveia. Viro-me em sua direção.

– N-Não. – Afirmo, meio sem jeito, só agora notando quão indelicada estava sendo por ignora-las enquanto mantinha-me presa em meus devaneios estranhos.

– São cinco e quarenta e sete. – Kuni diz, como se lesse minha mente. – Acho que deveria ir á torre do sino.

Meu sorriso retorna subitamente. Levanto-me depressa, criando caminho por entre a esteira em que conversávamos.

– Tchau, meninas! Foi muito bom conversar com vocês. – Despeço-me, descendo as escadas antes mesmo de elas poderem responder algo. Desço do palco, correndo em direção á porta. Um vento gelado sopra assim que abro as mesmas, fazendo-me tremer um pouco.

Demoro um pouco para acostumar-me ás ruas largas da cidade movimentada. Pessoas andavam de um lado para o outro, com sorrisos convidativos estampados em face. As lanternas orientais já haviam sido acesas, e iluminavam as passagens com a luz amarelada do fogo dentro das mesmas, com um leve tom avermelhado devido á cor do papel suave utilizado para a manufatura das mesmas. Logo avisto a alta torre, que parecia ainda mais vibrante, em sincronia com o sol que parecia me cegar quando eu tentava admirar o topo da mesma. Com um surto de ânimo, corro para a torre.

Um pouco constrangida, entro pelo portão de madeira, olhando em volta. Possui um estilo bem oriental, como a maioria das coisas nessa cidade. Um monge de trajes roxos e um colar de esferas de madeira no pescoço tomava conta de uma passagem demarcada por portas orientais de bambu e seda, enquanto outros dois, idênticos ao primeiro, pareciam meditar, sentados de pernas cruzadas uma sobre a outra em almofadas beges. Será que todo mundo tenta ser igual um ao outro nessa cidade? Aproximo-me do primeiro monge, que estava em pé em frente á passagem, cabeça abaixada, de olhos fechados e cenho franzido, como se estivesse preso em seus devaneios, mas continuasse alerta ao que o rodeava.

– Com licença. - Começo, tentando chamar sua atenção. Ele abre os olhos rapidamente, erguendo a cabeça e observando-me da cabeça aos pés, mantendo a expressão séria. – O líder do ginásio dessa cidade, Morty Matsuba, me disse para procura-lo por aqui por volta de seis da tarde. Sabe onde ele se encontra?

O homem sussurra algo com outro monge que se encontrava atrás das ‘paredes’ de seda, sem tirar o olhar de mim, como se perguntasse ao outro se deveria confiar em mim com algum segredo.

– A senhorita é Whitney Akane? – Pergunta. A voz grave e séria parece vibrar dentro de meu peito.

– Eu mesma.

– O senhor Matsuba te aguarda no interior da torre. – Diz, saindo da frente da passagem, e retirando um molho de chaves do bolso e pegando uma chave prateada do mesmo, que parecia ser a da casa de Morty, entregando-me em seguida. – Disse-me para avisa-la para entrar com a roupa que fosse passar a virada de ano.

Pondero por uns segundos. Seria isso mais algum plano dele? Bem, de uma maneira ou de outra, eu teria que trocar de roupas, afinal, eu não iria passar a virada de ano com roupas casuais. Agradeço ao monge, que apenas murmura, e saio em direção á casa do loiro. Por sorte, esta não é muito distante da torre. Destranco a porta, abrindo-a em seguida, sendo tomada pela sensação gostosa de chegar á seu lar após uma longa viagem. Mesmo não estando em minha casa, sinto-me bem na casa do loiro. Subo as escadas, entrando no terceiro cômodo mais próximo á escada, o que aparentava ser o banheiro. Faz um tempo que não tomo um bom banho, já que o ultimo que eu tomara havia sido com certa pressa para uma viagem que acabei nem fazendo. Retiro minhas roupas rapidamente, pondo-as em um suporte de roupas na parede, soltando também meus cabelos e depositando as presilhas douradas em um local que eu lembrasse. Observo minha nudez no espelho de corpo inteiro que havia ao lado da ducha. Por uma fração de segundo minha mente nem sempre tão lúcida e fértil imagina o loiro fazendo o mesmo, fazendo-me corar e rir de mim mesma.

Como queria tomar um banho relativamente rápido para não fazê-lo esperar muito, opto pela ducha ao invés da banheira. Entro no box de vidro, fechando-o em seguida. Abro o fluxo da água, que cai gelada sobre minha pele, fazendo-me lembrar da chuva de dois dias atrás. Giro um pouco mais a torneira, fazendo a água ficar mais morna, a temperatura perfeita. Suspiro, fechando os olhos e deixando a forte pressão líquida que caia sobre mim possuir-me e renovar meu corpo e mente. Alcanço na parede, em um suporte adequado, um sabonete em barra branco. Em um movimento estúpido, trago-o para perto de meu nariz, tragando seu cheiro profundamente. Um tremor súbito se espalha por meu corpo. Era o cheiro de morangos silvestres. O perfume de Morty. Não consigo me conter em cheira-lo mais uma vez. Duas. Três. Quantas vezes fossem necessárias para esse cheiro nunca mais sair de mim. Céus, como é bom. A cada tragada, um tremor. Arqueio minha cabeça para trás, revirando os olhos com a sensação quente. A temperatura morna da água me fez sentir como se estivesse em seus braços novamente, como nos jardins do Parque Nacional. Minhas pernas fraquejam, enquanto gemidos abafados escapam por meus lábios. É um prazer novo, um calor familiar e gostoso abaixo do abdômen que somente coisas relacionadas a esse maldito loiro me proporcionam. Imediatamente abandono minha mais nova e viciante droga quando uma sensação estranha começa a tomar conta de mim, alguns espasmos súbitos e tremidos constantes por meu corpo.

Termino de tomar meu banho o mais rápido possível, meio constrangida com o que acabara de fazer. Indiretamente, eu havia acabado de me masturbar pensando no loiro. Isso é errado em muitos níveis, é como se eu quase tivesse abandonado meu primeiro orgasmo por uma sensação fútil como essa. Por sorte, consegui interromper essa sensação antes que fosse tarde demais. Envolvo-me em uma das muitas toalhas que havia dentro das gavetas do armário baixo, indo ao quarto que me foi confiado, ao lado direito do banheiro. Pego na minha mochila minhas roupas íntimas de cores combinadas, tanto a parte de cima como a de baixo de cor preta. Visto-as após enrolar a toalha em meus cabelos. Vasculho dentro de minha mala, procurando alguma roupa decente. Eu não pensei que fosse passar tanto tempo fora, então não tenho certeza se trouxe alguma roupa arrumada o suficiente. Quando me deparo com o vestido que Jasmine me deu. Estava um pouco amassado, por ter sido colocado no fundo da mala com certo desleixo, mas parece estar em bom estado. Deslizo-o por meu corpo, indo em direção ao banheiro da suíte, esperando que no mesmo também houvesse um espelho de corpo inteiro. Selo com certa facilidade o zíper nas costas. Fecho a porta do banheiro atrás de mim, encarando minha figura no espelho que estava atrás da mesma. Modéstia á parte: Estou incrível! O vestido branco ficou em contraste com meus cabelos róseos, sendo sustentado pela fita vermelha próxima á saia. Passo a mão pelas minhas curvas da cintura e quadril, acentuados pelo corpete apertado. Paro de admirar-me e agacho-me á procura de algo para cuidar de meus cabelos.

Acho um secador de cabelos, ligando-o á tomada e passando suavemente pelos meus fios, fazendo-os ir para trás com a força do vento. Após passar um tempo penteando-os, pego meu kit de maquiagem, meu perfume favorito e minhas sapatilhas brancas na mochila. Não passo muita maquiagem, pondo apenas um lápis de olho, rímel, blush e leve brilho labial de baunilha, que ficou quase invisível na cor natural de meus lábios. Calço as sapatilhas e espalho um pouco de perfume por meu corpo. Ao terminar de me arrumar, olho as horas no Pokégear. Sete e dez?! Quanto tempo demorei naquele transe comigo mesma no chuveiro?? Saio do quarto e desço as escadas apressadamente, saindo pela porta da casa e trazendo comigo apenas a chave.

Em poucos minutos chego á torre do sino. O monge ainda estava lá, mas, ao me ver, abriu o caminho novamente. Outros dois monges, de pé frente a frente atrás das paredes de seda, abriram a passagem para mim, revelando um curto corredor. Passo pelo mesmo, avistando um portão de madeira igual ao da entrada no final, que dava abertura á um lindo corredor aberto envolto por árvores de folhas alaranjadas e avermelhadas, como ficam no outono. O chão de concreto parecia ter um tapete natural formado pelas folhas caídas, que criavam um lindo padrão no mesmo. Fico estonteada com a visão do lugar tão belo. Agora entendo a razão de o loiro amar tanto esta cidade.

Ando sem pressa pelo espaço aberto, iluminado apenas por refletores de fraca luz amarelada posicionados nos cantos esquerdo e direito. No fim do caminho, estava a belíssima torre do sino. E,em frente a ela, encostado na parede de braços cruzados e face serena, estava ele. O nativo de Ecruteak, com as cascatas douradas sopradas pela brisa calma. Vestia uma camisa social branca com as mangas dobradas até os cotovelos e calças jeans pretas. Noto seu olhar virar-se em minha direção. A face empalidecida e olhos um pouco cansados ainda exalavam a beleza de sempre. Aproximo-me, sentindo o calor de meu rosto aumentar a cada passo, enquanto ele me acompanha com os olhos e sorri.

– Whitney. – Chama-me pelo nome ao se desencostar da parede e ficar frente a frente comigo, o que me surpreende um pouco. – Você está linda! Parece até uma...

– Desmiolada? – Completo, sarcástica, fazendo referência ao que dissemos em nossa primeira troca de palavras, naquele belo stand, naquele belo festival. Ele ri. – Muita gente diz isso.

– Eu ia dizer uma deusa, mas se prefere se chamar assim... – Seu olhar se encontra com o meu, enquanto ambos sorriamos de modo apaixonado. Mas nenhum dos dois desvia. Milhares de situações, falas, possibilidades e idiotices passam por minha cabeça, enquanto o calor de nossos rostos corados parece se dividir. Se estivéssemos em um filme, seria a hora perfeita para esta clássica cena: A mocinha, no caso eu, iria inclinar-se para frente e ficar na ponta dos pés, prensando seus lábios apaixonadamente contra os do mocinho, no caso, ele. Ele iria retribuir, e eles dividiriam um longo beijo apaixonado. Infelizmente, a vida não é um filme de romance, em que tudo dá certo para a pobre mocinha no final. Pelo contrário, a vida é um filme sem roteiro, dando-lhe carta branca para você decidir qual gênero de película decide viver. Por uma fração de segundos, a face pálida tomada por um rubor intenso que residia á um palmo de distância de minha muda seu olhar de rumo, prendendo seu foco no chão áspero amaciado pelas folhas nas quais pisávamos.

– Eu... – Começa, meio sem jeito. – Quero te mostrar uma coisa.

Consinto com a cabeça. Ele faz sinal para segui-lo, virando-se imediatamente e caminhando em direção á entrada da torre do sino. Mesmo com certa distância, consigo ouvi-lo murmurar para si mesmo coisas que não consegui identificar. Ao entrarmos pelo portão de madeira, vejo o interior da belíssima torre. Parecia ser feita quase que inteiramente de madeira, e algumas estátuas de uma ave, que aparentava ser o Ho-Oh, surgindo de cinzas em posição de glória, como a estátua do Lugia no Parque Nacional. Subimos as muitas escadas verticais do lugar que parecia não ter fim. Alguns monges pareciam meditar em diferentes andares, rodeados apenas de pequenas velas apoiadas dentro de cálices de vidro. Pergunto á Morty se não achava perigoso manter velas acesas em um local constituído quase que inteiramente de material inflamável, mas ele parece não escutar, ou simplesmente ignorar.

– Chegamos. – Ouço-o dizer poucos segundos depois, mantendo-se em pé no andar acima do que eu me localizava. – Sobe aí.

Assim o faço, meio hesitante. Ele me observa erguer-me pelas escadas, com um sorriso afetado em face. Ao chegar ao andar de cima, ele me dá apoio para que eu me pusesse de pé. Mesmo com o apoio dado por ele, sinto-me prestes a cair. Estávamos no andar mais alto, onde o local era completamente aberto, com exceção de uma pequena área coberta em forma de ‘A’ localizada no centro. A visão... No mínimo estonteante. Do lugar aberto, tínhamos visão de Ecruteak inteira. A cidade iluminada parecia sorrir por si mesma através do ar aconchegante que exalava. Meus olhos arregalados e boca entreaberta deixavam ainda mais clara minha surpresa. Ele ri de minha reação.

– Eu sabia que você ia gostar. – Diz, apoiando os braços na cerca oriental que demarcava os limites da área aberta, ao meu lado.

– Morty, é lindo! – Afirmo, ainda boquiaberta.

– Eu sei que Morty é lindo! – Brinca. Rimos em conjunto.

– Mas é sério, é fantástico!

– Ainda não acabou. – Ele põe as mãos frente aos meus olhos, gesticulando para que eu os fechasse. Guia-me lenta e cuidadosamente até um lugar que eu presumi ser a área coberta. – Pode abrir!

Rapidamente abro os olhos, avistando uma bela mesa quadrada coberta por uma toalha de mesa branca bordada, com duas cadeiras frente a frente. Acima da mesma, um castiçal com cinco velas vermelhas, ao lado de um jarro com tulipas da mesma cor. Uma garrafa de vinho residia junto a duas taças vazias e dois pratos cheios.

– Você... – Tento dizer, aproximando-me da mesa, novamente boquiaberta. Ele estampa um sorriso orgulhoso. – Fez tudo isso por mim?

– E faria muito mais...

Novamente mantemos contato visual, mas sem o clima que tivera anteriormente. Sentamos-nos á mesa, e comemos sem dizer uma só palavra. Somente os olhares que trocávamos vez ou outra já falava mais do que mil palavras. A comida que havia preparado foi peru assado com salada e arroz á grega, uma comida bem comum para esta época do ano. Chegou a um ponto que eu me esqueci completamente dos olhares que trocávamos e foquei-me somente na comida deliciosa. Se o loiro preparou esta comida por si mesmo, tenho de admitir: Ele cozinha ainda melhor que o Falk!

– Aceita uma taça? – Retira-me de meus devaneios, enquanto eu levava a ultima garfada e peru á boca.

– Não, obrigada. Eu não bebo, lembra? – Respondo, meio sem jeito. Ele revira os olhos, com um sorriso sarcástico.

– Qual é, é réveillon! Novo ano, novas experiências!

Ele derrama uma quantidade considerável dentro de uma das taças, estendendo-a a mim em seguida. Não tinha certeza sobre isso, nunca sequer tomei um gole de vinho ou champanhe com minha família e amigos no réveillon, então não sabia se era a escolha certa. Mas aprendi cedo o suficiente que eu sou estúpida e fraca, e rendo-me ás tentações do loiro muito facilmente. Pego a taça, quase que entornando-a em minha boca, sentindo o liquido escarlate queimar-me o esôfago e causar uma forte repulsa. Morty ri.

– Vai com calma, rosada! – Diz, tomando um gole fino do liquido que pusera em sua própria taça. – Isso não é suco de uva. Se você tomar tudo de vez, vai voltar da mesma forma que entrou. Só que de modo mais nojento, claro.

– E você me diz isso agora? – Cambaleio as palavras, já sentindo-me meio grogue. Arqueio minha cabeça para o lado, sentindo como se fosse vomitar, mas o álcool parece ter feito uma barreira incômoda em minha garganta, forçando-me a manter essa sensação horrível em mim.

– Não achei que fosse muito importante. Desculpa. – Toma mais um gole. – Bebe mais que a sensação passa.

Despeja mais da bebida em minha taça, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo. Resolvo beber, lentamente, como havia advertido. E assim, bebemos mais uma taça. Mais duas. Mais três. E, quando me dei conta, estávamos rindo um do outro e de nossas caras de tacho, que nem dois idiotas fazendo coisas idiotas numa convenção internacional de idiotice.

– E aí- Começo, cambaleando nas palavras. – a Jazzmine disse que tinha ido dormir em um hotel! Acredita nisso?! Ela quéér que eu acredite nessa desculpa de merda?? Se ela foi transar com o loirinho com cara de gay lá podia pelo menos me dizer, pórra!

– Hahahah! Dá um desconto, mulher! Pelo menos ela não te ligou no meio da transa pra provar que tava dando pra alguém, que nem o Eusine fez!

Rimos alto.

– Como assim, cara?

– Ele simplesmente me ligou no meio da noite, uns três anos atrás, enquanto tava perdendo o cabaço com uma mina da faculdade com maior fama de puta. Tipo assim:

Ele gesticulou um telefone com o dedo mindinho e o polegar, e colocou próximo á orelha.

– “Alô? Morty?! Saca só, ‘véi’” E aí colocou o telefone no alto falante pra eu ouvi-lo gemendo que nem uma cadela enquanto a mina xingava ele de todas as coisas possíveis! Eu ri demais, mano!

Rimos novamente.

– Ai, ai. Você é uma comédia, Matsuba! – Digo. Seus olhos cansados e fundos repletos de olheiras, davam destaque á face avermelhada devido ao vinho.

– Eu sei, eu sei! – Afirma, com toda a modéstia do mundo, enquanto levanta-se e se espreguiça. – Já deve ser quase hora da virada, Akane! Deveríamos parar de beber.

– Awnnn... – Faço um grunhido triste e pidão, mas ele parece não dar atenção. Levanto-me, cambaleando para os lados na tentativa de ficar de pé. Tudo parecia girar ao meu redor. Ele me observa com um sorriso de canto.

– Não seja frouxa, mulher! Foram só cinco taças. – Vem ao meu lado, dando-me apoio para me levantar. – Se quer ser foda de verdade, tem que aguentar quinze sem cair!

Ignoro seu comentário, enquanto ele me ajuda a ir novamente até a cerca que limitava o ultimo andar. Apoiamos-nos na mesma pelos braços, rindo novamente um do outro.

– Agora entendo porque você bebe tanto! – Afirmo, rindo de mim mesma.

– Os sóbrios não entendem que você não bebe para sentir alguma coisa, e sim para não sentir nada. – Diz, cabisbaixo, mas com um sorriso no rosto, como se sua sanidade afetada pelo álcool estivesse retornando.

– E o que você quer tanto evitar sentir? – Pergunto, no tom mais compreensível possível para o estado em que me encontrava. Ele ri debochadamente, sem tirar o olhar da cidade á nossa frente baixa.

– Arrependimento, insegurança, dor... - Responde, em tom baixo. Aquelas palavras parecem ter sido o suficiente para despertar-me de meu transe alcoólico, retirando de mim meu sorriso bobo e fazendo-me sentir piedade do loiro ao meu lado. – Mesmo que eu não demonstre através da imagem que criei do confiante e autossuficiente Morty Matsuba, eu ainda sinto estas coisas.

– Entendo... –Tento reconforta-lo, mas não consigo pensar em palavras que não fossem soar indelicadas ou estúpidas.

– Mas o que mais quero evitar é o sentimento que julgo o mais abominável de todos: Amor. –Suspira. – Essa coisa horrenda que te constrói uma felicidade de modo tão complexo e demorado, e depois destrói em um piscar de olhos, te deixando em meio aos escombros.

Sinto-me corar bastante com suas palavras, sem uma razão em específico. Volto meu olhar para a mesma direção do dele, a bela cidade iluminada e alegre, e um silêncio estranho toma conta de nós, de modo que posso até mesmo ouvir sua respiração descompassada quase que ao mesmo ritmo da minha.

– Whitney... – Ouço-o chamar meu nome. Viro minha cabeça levemente para o lado, vendo-o cabisbaixo a ponto de alguns de seus fios loiros cobrirem seus olhos, de modo que não conseguia vê-los. – Obrigado.

–... Pelo que? – Pergunto, meio sem jeito.

– Por tudo. Mas, principalmente, por me fazer vencer meu medo. Ninguém sabe disso, nem mesmo a Sayo, que cuidara de mim desde que fiquei órfão, ou meu bom amigo Eusine. Mas o único obstáculo que retardava meu objetivo com a ave lendária da torre do sino era não ter coragem de vir até aqui, nesta altura. Seu tratamento de choque no parque me fez superar isso.

Arregalo os olhos em surpresa e espanto. Eu não fazia ideia que meu ato na roda gigante havia feito tanto impacto sobre ele. Ele sorri, ainda cabisbaixo. Um sorriso meio sádico, mostrando todos os dentes, que me assusta um pouco.

– Se eu soubesse o que eu estava perdendo – Começa, erguendo a cabeça. – eu teria ido lá antes.

– Á roda gigante?

– Não. Á Goldenrod. Naquele stand, naquela rua, naquele festival.

Meu coração acelerado em ritmo frenético entra em sincronia com os fogos de artifício lançados aos céus em momento tanto conveniente quanto inconveniente. Ambos desviamos os olhares que haviam se encontrado por frações de segundos, observando as explosões coloridas nos céus e ouvindo os gritos de animação das pessoas da cidade, que se cumprimentavam desejando um ano próspero. As luzes de diversas cores iluminavam o céu escuro de meia noite, arrancando de mim um sorriso animado.

Viro meu rosto para o lado, com a boca semiaberta na intenção de cumprimentar o loiro, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa um par de braços aconchegantes envolve-me por trás, segurando-me firmemente pela cintura. Sua testa quente repousada sobre meu ombro, em contraste com meu corpo, que ficara completamente gelado com seu toque súbito. Aquela sensação novamente. Ele ergue a cabeça, depositando um beijo rápido em minha bochecha, sorrindo. Olho em sua direção, sem saber ao certo que expressão exibir. O calor de seu rosto podia ser sentido próximo ao meu, enquanto eu sentia como seu meu coração fosse explodir.

– Feliz ano novo, rosada.

As palavras saem quase que sussurradas por entre seus lábios corados, enquanto seu olhar parecia passear por meu rosto. Os jardins de violetas que residiam em seus orbes brilhavam a cada explosão de fogo de artifício sobre nós. Com um sorriso calmo, pega um de meus braços pelo pulso, levando minha mão até seu peito, para que sentisse a batida acelerada e descompassada. Ele morde o lábio inferior, meio sem jeito.

Pensei: Isso deve ser um bom sinal.

Pensei: Ele deve gostar de mim. Gostar, gostar mesmo.

Pensei: Será que também gosto dele,afinal? O que meu coração diz?

E no mesmo ritmo de serenidade, trago também a sua mão para que sentisse meu coração, na mesma velocidade frenética que o dele se encontrava. Ele sorri, ficando completamente vermelho, uma mistura do resultado do vinho e do calor da situação.

Pensei: Não. Eu não gosto dele.

E então, em rapidez impressionante, toda a construção demorada desse sentimento havia sido finalizada. Todas as minhas duvidas esclarecidas em um só movimento de inclinar-me leves dez centímetros para encontrar minha face com a sua. Meus lábios com os seus. Meus jardins de rosas com os seus de violetas. De repente, ficou tudo tão claro. Ali, ao som e luz dos fogos de artifício, entre seus braços quentes, que haviam me virado em sua direção para que pudesse segurar-me pela cintura e eu pudesse envolver seu pescoço com meus braços, trazendo-o para mais perto de mim. Era ali que eu deveria estar, sentindo o gosto de vinho e álcool que ambas nossas bocas traziam, enquanto nossas línguas se moviam em sincronia. O destino é uma coisa tão estranha, e tão perfeita. Não importa o tamanho do paradoxo mental no qual você se prender, ou se não souber qual caminho seguir, em que pessoas confiar. Não importa se não sabe quem você é. Uma força maior desconhecida vai te mostrar um caminho e você vai segui-lo de um jeito ou de outro. Só precisa fazer a escolha certa. E eu fiz.

Os fogos já haviam cessado, as pessoas da cidade já haviam se acalmado, mas ainda demorara um bom tempo até que separarmos nossos lábios. Era como a saudade de dois amantes separados pelo tempo retratada em um beijo contínuo e perfeito. Ao trocarmos olhares, não parecíamos mais os mesmos. Ele parecia sorrir até mesmo com os olhos, enquanto seus lábios corados exibiam o sorriso mais verdadeiro e puro que já existiu na terra. E eu me senti revigorada.

–... Feliz ano novo, loirinho.

Eu não gosto de você;

Eu te amo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yaaaaaay!! Então, eu tinha mais planos para essa fanfic, e ainda tinha mais coisa por vir, mas eu acho melhor termina-la por aqui ;^; Quer dizer, ainda tem mais uma pequena parte, que daria um capitulo "extra" de menos de 1000 palavras, que poderia levar a TALVEZ uma segunda temporada. Eu acho que seria um bom jeito de concluir uma primeira temporada, sem ter mais enrolação, e também porque estou com um bloqueio criativo para a fanfic. Então, vocês me dizem o que acham e eu vou me basear nisso ^.^ Eu pessoalmente acho essa ideia melhor, mas vocês que sabem! Tenho mais planos de fanfics para o futuro, então se acharem que tem algum aspecto em que posso melhorar, agradeço imensamente se me disserem! Beijo no coração de todos que me acompanharam até aqui! AYE!!