As Crônicas do Apocalipse - ''A Escolhida'' escrita por PatrickTorrres


Capítulo 11
A Primeira Morte




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Capítulo 11

No quarto de Ana, uma mulher estava à sua espera. Era jovem e bela, loira e vestida com uma roupa folgada.

– Você conseguiu o que eu lhe falei? - A mulher perguntou. Ela estava sentada sobre a cama de Ana, arrumando o seu veu em sua cabeça.

– Sim, Elizabeth. - ana disse em um tom de insatisfação - Você sabe que odeio enganar as pessoas. Eu realmente gostei delas, mas não me pareceu algo interessante ter que fingir gostar delas para satisfazer as tuas vontades.

– Corre no seu sangue, Ana. Você nasceu uma Carniope, e tem como obrigação defender o seu Grupo. A sua família.

– Mas, já não bastou ter que matar o Marcos e inventar toda uma outra história? O que mais você quer que eu faça? - Ana havia subido o tom, sua voz tremia.

– Matar e inventar é apenas o início. Você tem a oportunidade de arrancar o poder dos Solionos. Basta espionar uma deles e se implantar. Ninguém sabe sobre você, nem mesmo Crotes. Você foi criada como uma humana normal desde a infância, mas eu a treinava para este dia.

– Eu sempre achei que vocês quatro fossem uma aliança, e em uma aliança as pessoas dividem os bens. Sem egoísmo ou ambição. - Ana estava penteando o cabelo de frente para a estante com um espelho, via apenas o reflexo de Elizabeth em suas costas.

– Não envolva os Hundumis e os Gandalfis nisso. Eles serão aliados de quem estiver com o poder. Logo serão nossos amigos.

Elas ficaram em silêncio. Ana parou de pentear o cabelo, deixando-o solto e liso. Estava bem penteado e reluzente.

– Eu não gosto disso.

– Do quê? A freira falou.

Ana tirou um colar debaixo da camisola. Era um coração, belo e cimétrico, tão vermelho quanto sangue. A cor dos Carniopes.

– Dessa coisa de fingir para Jessica e Vittória que sou uma amiga, quando tudo o que estou fazendo é bolando uma armadilha a favor de algo que sou contra.

– Escute bem, Anastacia. - Elizabeth estava imponente -, Você pode pensar o que você quiser sobre o que está fazendo, só não pode dizer que é errado. Não se pode negar poder para o próprio sangue.

– Não estou dizendo nada disso. Estou apenas falando de que não gosto da ideia. Mas se é para fazer isso... - ela fez uma pausa, pensativa -, aliás, o que vocês, Chefes dos Carniopes pretendem fazer?

Elizabeth se levantou da cama e ficou próxima de Ana.

– Matar Crotes.

– Vocês estão loucos. Crotes ainda não procriou, Elizabeth. Se vocês matarem ele será o início da verdadeira extinção da bruxaria. Não haverão mais Descendentes e nem Únicos. E quem somos nós sem um líder? Aliás, como vocês pretendem matá-lo?

– Todo Bruxo tem um ponto fraco. E não se preocupe quanto aos Descendentes.

– Como assim? - Ana parecia confusa.

– Todo Bruxo tem um ponto onde dói mais, onde a carne é fraca, onde...

– Não é disso que estou falando, Elizabeth. - interrompeu Ana -, se só existe um Descendente - Crotes - o Único, o Guardião, como você diz para não se preocupar quanto a isso?

– Deixa eu te falar uma coisa, Ana. Isso só deve ser contado para os chefes. E é provável que somente os Carniopes saibam disso: Crotes tem um primo distante. O bizavô de Crotes, Lion, teve um irmão.

– Um irmão?! - Ana estava assustada - Mas ninguém sabe disso!

– Nós sabemos. Ele se casou com uma Bruxa. O nome dele era Tristan. Parece que depois que a Bruxa morreu ele se casou com uma outra mulher. - Elizabeth parou e respirou enfadada -, Mas Tristan não sabia que era Bruxo ou muito menos que era descendente de Maria Madalena. Ele teve os dons ocultados pela sua primeira esposa. E, depois que se casou denovo, procriou. Ele era irmão gêmeo de Lion. Lion foi roubado de nossas mãos por Trion, que era um Soliono em busca de...

– Disso eu já sei. Então, significa que ainda há outros Descendentes vivos?! - Ana parecia revoltada -, Crotes não é tão Único assim?

– Exatamente.

– Quanto ao segredo?! - Ana perguntou.

– O compactante de Madalena? - Elizabeth estava calma e clara. Parecia que já houvera falado sobre o assunto várias vezes. - Acredita-se que ele, assim como os dons de Bruxoria, está renascendo na mais rescente geração de Tristan. Os Bruxos mais experientes já afirmaram que é uma garota. E está aqui, no Rio.

– Certo, até aí eu entendi. Mas... voltando ao assunto da Jessica e da Vittória - Ana sentou na cama olhando para Elizabeth -, você quer que eu me implante nos Solionos, descubra mais sobre Crotes, e dê a vocês uma sujestão sobre como matá-lo?

– Quase isso!

Ana estava tocando delicadamente no pingente coração vermelho em seu colar.

– O que mais, além disso? - perguntou.

– Suponho que Jessica sabe algo sobre a Descendente. Mas isso já não cabe a você. Faça só o que eu lhe pedi para fazer. Seja amiga.

– Certo. Coven sobre tudo. - disse Ana com uma forçada empolgação.

– Coven sobre tudo! - respondeu Elizabeth, se sirigindo à porta. - O dever me chama, Ana. Descanse. Ao menos não tem que suportar a chata da Margo no seu pé. - ela fez uma pausa, saindo pela porta e sussurou para si mesma entre os dentes enquanto andava pelo corredor: - Se não fossem os meus feitiços, nem aguentaria mais trabalhar com Margo.

>

– Vittória - Jessica falou enquanto olhava para a jovem - Precisamos evoluir os seus poderes... a propósito, você não se lembrou de mais nada da aluscinação?

– Não.

– Droga. Crotes vai me matar. - Ela olhou para Vittória que parecia assustada - não literalmente. - exclareceu.

Vittória riu.

– Quando você fala "poderes", você fala sobre incovar espiritos e demônios? Rituais macabros e assustadores?

– Não exatamente. - disse Jessica. - Os Covens evoluíram muito depois do Pacto de Extinção. No início, trabalhavam exatamente assim; com todos estes rituais tenebrosos e assustadores. Nascemos de um pacto com um demônio, Vittória. O que nós fazemos nasceu assim, e antes, todos achavam importante realizar feitos relacionados a esse tipo de coisa.

– Hoje não fazem mais?

– Mais ou menos. Lembra de quando te falei sobre a guerra dos Solionos contra os Carniopes?

– Aaaah sim, hoje só fazem feitiços daquele jeito?

– Não todos. Aquilo é mais para batalhas ou coisas do tipo. Mas ainda existem feitiços diabólicos. Na maioria das vezes são realizados pelos Bruxos Independentes - ela fez uma pausa -, São foras da lei, não dão a mínima para o dom que têm.

– Vocês fazem aqueles rituais com velas e tudo? - Perguntou Vittória.

– Não mais. Hoje, basta um olhar e um feitiço já está feito. Como quando mandei você abrir a bolsa naquele dia.

– Então, aquilo foi um...

– Sim. Um feitiço. Um feitiço de controle.

– Os Carniopes já tentaram vingança depois da briga pelo Único?

– Ainda não - respondeu Jessica. Ela começou a caminhar pelo quarto, retirou o chapeu da cabeça e desfez o coque branco. Fazendo-o cair sobre os ombros. Pareceu aliviada. - Mas é como eu disse, se eles tentarem qualquer coisa, estaremos preparados.

– Assim espero.

– Vittória, pense em alguma coisa.

– Como assim? - ela respondeu confusa.

– Qualquer coisa, no que você quiser pensar.

– Tipo, fechar os olhos e pensar?

Jessica riu.

– Exato.

Vittória obedeceu, ela fechou seus olhos e, sentada sobre a cama, um pensamento melancólico veio em sua mente. Ela podia ver que o pensamento se tratava de uma visão de Alex e os outros, do que havia acontecido com eles, para onde tinham ido. Ela conseguiu se livrar desse pensamento. Era tudo o que ela não queria. Vittória, amargamente, conseguiu controlar o seu pensamento focando em algo que lhe parecia estranho e que ela com certeza queria entender melhor. E se possível participar.

Ela pensou sobre os Covens, pensou sobre as reuniões de bruxos, pensou sobre o que Jessica havia lhe falado sobre a história dos Escolhidos. Pensou também, em Elizabeth, a primeira Carniope que conhecera. Em sua mente, um deslumbre da história da briga pelo Poder entre Carniopes e Solionos veio em sua mente. Solionos, pensou Vittória, eram amargos porém corajosos e loucos o suficiente para tomarem o poder de outro grupo. Roubaram uma criança. O Único. O Descendente. Passou pela sua mente o tamanho da importância dele para a Aliança. Para o Pacto.

Outra coisa passou pela sua mente, ela se imaginou entrando em um palácio, algo quase medieval. Clássico, belo e rico. Rico em detalhes. Detalhes verdes, verdes como um veneno apodrecido; como a pele de uma cobra. Ela imaginou um homem sentado num trono, no centro de uma fileira de outras pessoas vestidas de verde. Ela então se curvava para as pessoas e levantava o olhar para o homem.

Crotes.

Ela se lembrou do triângulo verde para os Solionos, e a cor veio em sua mente. E, voltando o pensamento para Elizabeth e os carniopes, ela se imaginou na mesma situação, porém agora o palácio decorado com enfeites vermelho sangue, e imaginou também uma mulher sentada no trono. Ela se curvava para a mulher...

– Não! - Jessica disse, tirando o deslumbre da jovem.

– O que? - Vittória falou confusa.

– Jamais pense em ser uma Carniope.

– Eu não pensei em nada.

– Você estava se curvando em uma sala decorada com artefatos vermelhos e...

– Espera - Vittória a interrompeu desconfiada. - Você estava na minha mente?

Jessica pareceu não querer responder.

– Sim. - disse finalmente. - Só queria saber de algo sobre a sua Aluscinação.

– Então porquê não me mandou pensar sobre a minha Aluscinação, ao invés de "qualquer coisa"? - perguntou fazendo aspas com os dedos no ar.

– Eu preciso invadir o seu subconsciente.

– Invadir?

– É.

– E se eu não quiser deixar?

– É uma invasão. Apenas relaxe.

Vittória cerrou os olhos.

– Não quero.

– Como assim não quer?

– Não quero!

– Você tem que querer! - Jessica estava levemente brava.

– Eu não tenho que fazer nada se não quiser. - disse convencida.

– Você só tem que cooperar.

– Com quem?

– Não com quem, com o quê. - ela fez uma pausa. - com a Bruxaria. - Jessica se sentou ao lado de Vittória, fazendo a cama se levantar um pouco. - Olha, você tem que saber algo sobre a sua Aluscinação.

– Pra quê?

– Muitas, muitas perguntas. - Jessica estava suspirando.

– Só queria entender mais sobre quem eu sou.

– Você é A Escolhida, Vittória. -Jessica falou de forma clara.

– Olha, eu não perguntarei mais nada pra você. Deixe-me dormir. Vá embora. - disse sem ser grossa. - Preciso descançar.

Assim Jessica fez. Ela saiu na porta, e soprou um beijo para Vittória.

Vittória se deixou cair na cama, e tudo ficou negro.

>

– Ela não é A Escolhida! - um homem dizia para Jessica ao lado de Vittória.

– Crotes, ela é! Não há como existir conhecidências. - Jessica suplicava para o homem.

Crotes Moderis.

– Um demônio pode atacar qualquer pessoa, e nem por isso ela se tornará uma Bruxa. - ele se levantou de seu trono. Estava em uma sala com pinturas belas e elegantes, em um tom esverdeado quase único. Todos os personagens dos quadros estavam vestidos de um padrão verde. - Jessica, você será punida...

– Pelo quê? - gritou Vittória, interrompendo a conversa.

Ao lado de Crotes, haviam mais dois tronos belos e esculpidos. Não tão belos quanto o de Crotes. Uma na direita e outra na esquerda. Uma mulher e um homem se sentavam nelas.

– Ela ensinou Bruxaria para uma humana. Você não nasceu para isso.

– Como você sabe?! - perguntou Vittória.

– Cale a boca. Eu sou o Único, eu jamais cometeria um erro. Você pode até ser uma Bruxa hoje, pelo que ela - ele apontou o dedo indicador para Jessica - lhe ensinou. Mas um Bruxo de verdade, nasce para isso, tem que descender de Bruxos. Ou isso, ou ele é um dos Escolhidos.

Um ódio subiu pelos olhos de Vittória, ela começou a brilhar numa cor multipla, ficando envolta de um brilho poderoso e assustador, cores se espalharam. O seu cabelo começou a levitar gloriosamente, ela então voou.

Estava quase próximos do teto esculpido com marcas belas e elegantes do palácio dos Solionos.

Crotes a acompanhou.

Era o início de uma batalha.

Jessica, lá de baixo esticou as mãos para eles.

– Parem!

Mas já era tarde, Crotes estava em torno de um brilho ascendente verde, que parecia sair de seus poros na pele. Ele avançou para Vittória, segurando-a fortemente pelo pescoço.

– Menina ousada. Quem é você para me desafiar?!

Ele apertou mais o pescoço de Vittória, e seu brilho colorido começou a se apagar.

Sirenes, sirenes soavam por todos os lados do palácio. Um barulho apareceu como se uma porta estivesse se abrindo.

– Acorde. Mais um acidente. - disse Jessica com uma voz melancólica.

– Por quanto tempo eu dormi?

– Algumas horas. Já são três da manhã. Parece que algo aconteceu com Madre Margo.

>

Elas estavam no escritório do manicômio. Madre Margo estava caída no chão do carpete aveludado. O cômodo era ocupado por pinturas elegantes, havia um sofá de frente a uma mesa cheia de papéis.

Elizabeth estava caída de joelhos, chorando desesperadamente diante de Madre Margo.

Vittória viu Ana em sua frente, no meio de um círculo de loucos.

– Ela está...

– Morta. - completou Ana se virando para Vittória.

Jessica encostou e sussurrou no ouvido das duas jovens:

– Essa não.

Ana olhou-a desconfiada sem deixar perceber, mas foi de Vittória que a pergunta surgiu:

– Quem vai comandar o lugar agora é Elizabeth?!

– Exatamente. - Jessica parecia estressada.

Vittória olhou para Ana e sibilou algumas palavras.

– An? - Ana perguntou no meio do caos. - Não entendi.

– Como aconteceu? - Vittória repetiu pausadamente.

– Parece que ela caiu e bateu com a cabeça naquela mesa. - ela indicou para a mesa com a papelada toda.

Vittória notou uma marca de sangue na testa de Madre Margo.

Elizabeth se levantou, ficando de pé e falando em alto e bom tom para que todos os pacientes e funcionários a ouvissem:

– A partir de hoje, vocês obedecerão a mim. - ela parecia tentar se recompor. Tentando não deixar transparecer a dor que sentia perdendo sua superior. - Eu sou a nova chefe de vocês. Isso era o que Madre Margo queria. - seus olhos se encheram de lágrimas. - Já chamei a ambulância, não há nada que interesse a vocês aqui. Podem ir!

Todos se recolhiam, saindo para os seus quartos. Ana estava acompanhada do homem de cabelos brancos sob o chapeu. Seu responsável.

Vittória segurou na mão de Jessica para saírem do escritório e irem para o quarto. Mas Jessica permaneceu firme.

– Espere.

Ficaram somente as três mulheres - Elizabeth, Jessica e Vittória - e o corpo da freira no chão. Elizabeth olhou para Jessica com um olhar imponente.

– O que é? Vá embora. - gritou a freira.

– Você é fútil, Carniope. - Jessica disse com ódio para Elizabeth.

Vittória permaneceu calada.

– Cale a boca! - suplicou a freira choramingando.

Jessica olhou para Vittória, e disse imponente:

– Vamos. Vamos embora, Vittória.

Ela segurou nas mãos da jovem e a conduziu para o quarto.

– O que você quis dizer com aquilo? - Vittória perguntou no caminho.

Jessica demorou responder, olhando para frente.

– Ha algo muito mal explicado nessa morte de Madre Margo. É uma simples desculpa. Elizabeth fez algo.

– Ela seria capaz? - Vittória estava assustada.

– Sim. Você não sabe como um Carniope é capaz de se comportar para ter o que quer.

Vittória se calou.

Elas entraram no quatro e, quando a jovem olhou para a cama, se lembrou do sonho que teve com Crotes durante o seu sono. Eles estavam em luta. Vittória sendo sufocada pelo ódio do Único.

"Ela não é a Escolhida", as palavras se repetiam.

Ela lembrou das perguntas sem conclusões que tinha em sua mente sobre o que ela era.

– Pode se deitar, querida. - disse Jessica. - Volte a dormir.

Ela estava saindo pela porta...

– Jessica! - Vittória gritou se sentando na cama. A mulher olhou para ela. - Tenho um pedido para você.

– Diga.

– Leve-me para ver Crotes.

Jessica fechou a porta e saiu depois de ouvir aquilo, como se fosse uma babozeira dita por crianças.


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