As Crônicas do Apocalipse - ''A Escolhida'' escrita por PatrickTorrres
Capítulo 10
– Está vendo ela? - perguntou Jessica.
Já no refeitório do manicômio, Jessica e Vittória pegaram suas bandeijas com frutas, biscoitos, arroz e sopa.
– Não, acho que... - Vittória se interrompeu - ah, alí está.
Ana estava sentada sozinha em uma mesa nos fundos do cômodo, olhava para sua comida como se fosse morrer a cada mordida na bananana ou a cada gole do seu suco.
Jessica e Vittória caminharam para a mesa da jovem.
– Para onde estão indo? - Era Elizabeth. A freira havia parado de surpresa na frente das duas.
– Indo para uma mesa, não podemos? - respondeu Vittória.
– A questão não é poder, será que...
– Cale a boca Elizabeth. - interrompeu Jessica com uma entonação que espantou Vittória. - Se tem alguém que dá as ordens por aqui é a Madre Margo, não você. Você trabalha pra ela.
Vittória permaneceu calada. Notando uma pedra vermelha no crucifixo que Elizabeth carregava no pescoço. "O vermelho é a cor do ódio e da inveja na Bruxaria, um verdadeiro Carniope não sai sem um acessório vermelho", as palavras de Jessica se repetiram em sua mente.
– Pode até ser que eu não dou as ordens por aqui, mas estou em um nível acima do seu, funcionária. - A freira fez uma pausa - Pelo menos aqui é justo, sem roubo e o poder está com quem deveria estar.
– Não tente trazer à tona brigas de outros tempos, Elizabeth. Se você veio em busca de trabalho tudo bem, mas - Jessica respirou fundo, e encostou a boca próxima ao ouvido esquerdo de Elizabeth - não tenho culpa se os Solionos tomaram de vocês o que deveria ser deles. - sussurrou finalmente.
A freira respirou fundo para dizer algo, mas Vittória cortou a conversa afiada das duas:
– Olha, já chega de conversinhas - ela disse e segurou a mão livre de Jessica -, venha, vamos comer.
Jessica deu uma ultima olhada para a freira que estava com um rosto imponente. O olhar de Jessica era de nojo, uma carranca óbvia de inimizade.
Enquanto caminhavam para a mesa em que Ana estava sentada, Jessica sussurou:
– Bela atitude, escolhida.
– Só fiz o que tinha que fazer, já me cansei deste lugar.
Elas pararam em frente à mesa grande e vazia, Ana levantou o rosto, mostrando o seu cabelo espatifado, curto e negro que caía em cima da camisola.
– Querem sentar? - ela perguntou. - Hoje estou de bom humor.
Um sorriso se fez no rosto de Vittória.
– Claro.
Elas se sentaram de frente para a garota.
– Antes que pensem que eu sou amigável - começou Ana -, eles dizem que ateei fogo na casa do meu namorado, transformando-o em cinzas.
– Ora, não seja inocente. - começou, Vittória - Para eles, eu matei meu amigo e a bibliotecária da escola sem motivo algum.
– Hey! - exclamou Ana -, meu namorado era chato. Arrogante também. E eu não faria isso sem motivos. - ela riu.
– Sabemos que você não fez nada disso. - Jessica cortou a brincadeira.
Um silêncio se fez enquanto Vittória e Ana se encaravam, tentando abafar os risos.
– Sabem é? - Ana agora estava séria.
– Sim. - disse Vittória - Assim como um louco reconhece um outro louco, eu reconheci você.
– Mas eu não sou louca. - disse Ana com uma carranca.
– Nem eu. - Vittória falou colocando uma colher de sopa na boca.
– Diz aí, porque matou a bibliotecária e seu amigo? - perguntou Ana.
Jessica estava comendo e observando a situação, silenciosamente.
– Eu não os matei. - respondeu Vittória
– Então quem foi?
Vittória fez uma pausa e sussurrou para a garota:
– Um demônio.
Ana olhou para os olhos de Vittória, agora com um ar sério e sem brincadeiras. Ela colocou o copo de suco na mesa, olhou para Jessica, inspirou e respirou num baixo assobio enquanto se encostava na cadeira.
– Em fim alguém que me entende. - disse finalmente.
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*DOIS MESES ATRÁS; CASA DE MARCOS, RIO DE JANEIRO.
"Oi. Lá vamos nós para mais um Dejavú"
– Marcos era o namorado de Ana. Hà dois meses atrás ele morreu em um incêndio na sua própria casa. Toda a culpa foi colocada sobre a sua namorada. Pois, no exato dia do acidente, apenas eles dois estavam dentro da casa.
–Que filme você quer ver, Ana? - pergunta Marcos. Ele está descalço, com uma calça jeans e uma camisa branca que se alinha perfeitamente aos seus músculos bem definidos. O cabelo longo e loiro caído sobre a testa.
– Qualquer um. Contando que não seja de terror. - ela aumentou a voz -, você sabe que não gosto.
– Não se preocupe. - ele a confortou. - Alguns zombies e assassinos com serras elétricas seriam uma boa? - caçoou.
– Idiota. - ela sussurrou rindo. Estava sentada no sofá da sala central esperando que ele chegasse com a pipoca que estava preparando na cozinha. - Ande logo, estou com fome! - gritou.
Ela pegou o controle da TV de Marcos, e ligou em um canal de filmes. Estava passando Titanic. Um clássico para todos os idosos, jovens e adultos.
– Ele já está entrando no navio, Marcos. Corre, vamos ver logo esse filme!
Ele então chegou, com uma porção de pipocas dentro de uma vasilha de vidro, olhando para ela e para a TV com desaprovação e as sobrancelhas arqueadas.
– O que foi? - ela perguntou, olhando para ele e abaixando o volume do aparelho para que pudesse escutar o namorado.
– Titanic? Denovo? - ele perguntou.
– Claro, amo esse filme. - Ana respondeu.
Ela aumentou o volume da TV e deu dois tapinhas no lado desocupado do sofá, para que Marcos se sentasse.
Ele a obedeceu, sentando-se e olhando nos olhos de Ana.
– Eu te amo. - ele disse. - Só por isso vou ver esse filme pela quinta vez com você. - riu.
– Eu sei que você me ama - começou ela -, o que seria de mim sem ser recíproca com você.
Ela se inclinou para Marcos, dando-lhe um leve beijo.
Enquanto assistiam o filme, a pipoca estava sendo consumida rapidamente pelos dois. Eles pouco se importavam com o filme, mais conversavam do que assistiam.
– Pode pegar mais pipoca, Marcos? - perguntou Ana - Odeio assistir sem comer.
Ela estava com um vestido vermelho de mangas, que ia até os joelhos. O cabelo estava preso em um coque meio bagunçado. O rosto, estava decorado apenas com uma leve máscara de cilhos.
Ele assim fez, levantou-se do sofá e foi preparar mais pipoca para o casal.
Ele estava assobiando pela cozinha. Ana havia abaixado o volume da TV mais uma vez só para ouvir o apaixonante barulho agudo que saia dos lábios do namorado.
Um barulho estranho veio da cozinha e Marcos parou de assobiar.
– Marcos?! - Perguntou Ana em voz alta.
Nenhuma resposta.
A jovem entrou em um semi desespero, levantou-se do sofá deixando o controle da TV sobre ele, e foi até a cozinha.
Marcos estava no chão, de quatro e balbuciando palavras estranhas, como um lobo que rosna de raiva para uma presa. A cabeça estava baixa, e o cabelo loiro caía cobrindo os olhos.
– Marcos? - Ana perguntou em uma voz sutil e baixa.
Ele levantou a cabeça, mostrando o rosto ensanguentado para Ana. Os olhos de Marcos estavam completamente escuros, sem nenhuma parte branca ou cor.
– Você vai morrer, você vai morrer. - sussurrou Marcos com uma voz assombrosa.
– Marcos, isso não tem graç...
Marcos avançou sobre a jovem, derrubando-a no chão e ficando em cima dela, cuspindo enquanto falava que ela ia morrer.
Ana deu um soco nas costelas de Marcos.
Ela não sabia do que se tratava, o namorado que tanto amava, estava agindo como um animal irracional.
O soco fez Marcos ficar com muito mais raiva. O olhar dele ficou furioso, enquanto ainda de quatro, sangue começou a escorrer do seu nariz.
Ana gritou, conseguiu sair debaixo e marcos e sem pensar duas vezes, tropeçando, correu para a porta da frente, para sair.
Marcos deu um pulo em sua frente, ficando de pé com os olhos completamente tomados por uma névoa negra.
Ela deu meia volta e correu para as portas do fundos que ficava na cozinha. Estava trancada.
Ela pegou um esqueiro sobre a prateleira, e acendeu-o enquanto marcos rastejava pelo chão, como um cão em guarda.
– Acenda! - ele disse. - Jogue em mim, você me ama? - Marcos agora estava falando com uma voz ainda mais amedrontadora. - Você me ama, não me ama, Anastácia?
Ana começou a chorar, segurando o esqueiro aceso em sua mão. A chama era pequena, mas capaz de fazer um estrago caso ela obedecesse a coisa que falava.
– O que você é?! Me diga o que você é!
– Eu? - a criatura cuspiu - Eu sou seu namorado. Marcos. - mais sangue escorria do seu nariz. - Você me ama, não me ama, Ana?
– Você. Não é. O Marcos. - ana disse pausadamente e com ódio.
Com isso, ela jogou o esqueiro, que se manteve aceso, sobre uma cortina, imediatamente o tecido pegou fogo. O fogo foi se alastrando por toda a casa, desde a cozinha até a sala onde o filme ainda passava silenciosamente.
– Bom trabalho, Anastácia. - disse Marcos com o olhar vazio e de quatro com a cabeça levantada para Ana.
O corpo de Marcos caiu no chão como uma pedra. Ele estava desmaiado. Quase morto.
– Não. Não! - gritou ana se ajoelhando perto de Marcos. - Marcos, Acorde. Vamos!
A casa pegava fogo, o calor estava prestes a transformar os dois em cinzas. O telhado foi derrubado, caindo quase que sobre Ana e Marcos, poeira flamejante subiu pelo ar, se Ana olhasse para o céu, poderia ver que edtava escuro na noite sem estrelas ou lua.
Ana gritou, tentou levantar o corpo esbelto de Marcos, mas não conseguiu. Ele era muito pesado para ela.
– Socorro! - ela gritou. Mas nada aconteceu. Ninguém.
A casa já estava com um incêndio avassalador, era de se duvidar que ainda havia alguém vivo lá dentro.
– Eu te amo! - ela se inclinou e deu um ultimo beijo no namorado.
Se levantou, deixando o corpo para trás, e foi até a porta da frente.
Olhando uma ultima vez para Marcos, Ana pegou a maçaneta e a girou. Saindo pela frente, e permitindo que as chamas tomassem conta do corpo de seu namorado.
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– Foi isso? - Jessica perguntou depois que Ana contou toda a história para as duas.
– Sim. - disse Ana sorrindo. - Depois que eu saí da casa dele, fugi para um lugar deserto na praia que ficava a alguns quilômetros da casa de Marcos. - ela fez uma pausa - Foram só três horas de caminhada até a polícia me pegar. A mãe de Marcos quem me denunciou. - ela agora estava mordendo uma maçã e falando de boca cheia. - E depois, foi só falar tudo o que ví pra ser julgada como louca e colocada aqui.
Agora Vittória pensara quem havia denunciado ela e os amigos no dia do incidente.
– Sua história não é muito diferente da minha. Eu só... - Vittória fez uma pausa -, eu só não sei quem me denunciou porque depois daquilo...
– A diretora. - interrompeu Jessica. - Nós sabemos de tudo o que aconteceu. A diretora da sua escola ficou com um ódio tremendo de vocês, principalmente depois que você disse que tinha sido um demônio.
– Ah, está explicado! - Exclamou Vittória com uma cara de nojo e compreensão.
– Vocês são sempre assim? - perguntou Ana.
– Assim como? - Jessica perguntou.
– Não me responda com perguntas... digo, assim... tão... tão unidas?
– Ah, sim. - respondeu Jessica - eu tento me dedicar ao máximo a ela. Ela é, digamos... uma garota especial.
– Como... como assim? - Ana perguntou confusa.
– Quanto ao seu responsável? - Jessica perguntou mudando de assunto.
Ana indicou com a cabeça para um homem com as roupas escuras dos funcionários sobre o corpo e o característico chapel. Ele era alto e estava de costas. Via-se um pouco do cabelo branco na parte de baixo do chapeu.
– Me abandona. Só fala comigo para me acordar.
Um sinal tocou interrompendo a conversa, era como a sirene de alerta, porém mais leve e mais curta.
– Um, dois, tres, quatro... - a sirene parou - Quatro!
Era ana, ela estava fazendo uma contagem. Vittória notou aquilo.
– O que está fazendo? - perguntou rindo.
– Eu? - Ana arqueou as sobrancelhas.
– É.
Ana riu.
– Apenas contando os segundos de cada coisa, preciso me acostumar com o lugar e diferenciar os alertas. Aqui agora é minha nova casa, não é mesmo? - ela se levantou, recolhendo sua bandeija da mesa. - Acho que esse foi pra avisar que o tempo de lanche acabou.
– Ah, claro. - riu Vittória.
– Como você sabe? - Jessica se intrometeu.
– Elementar, minha cara amiga. - ela se levantou e sorriu balançando a cabeça - Apenas deduzi.
Ela estava saindo em direçao ao balcão para deixar sua bandeija de comida...
– Ei! - Vittória exclamou.
Ana voltou o olhar para elas.
– Oi?
– Adorei o jeito que você encarou Madre Margo e Elizabeth no dia do acidente. - Vittória parecia orgulhosa de Ana.
– Ora, ora... - ela parou, e tirou a pose poeta que estava interpretando - qual é mesmo o nome de vocês?
– Jessica. - A Bruxa respondeu.
– Vittória. - A Escolhida falou.
– Ah sim. - ela recuperou a pose poeta e o tom superior e dócil. - Ora, Ora, Jessie e Vi - ela chamou-as criando um apelido - se elas queriam cuidar de loucos, teriam que estar preparadas para um.
– Mas você não é louca. - disse Vittória.
– Não. E nem você - ela inspirou e olhou para as duas com um olhar clássico - Sou apenas corajosa.
– E o que você quer dizer com isso? - Jessica perguntou.
– A coragem move os loucos.
Ela disse finalmente, se virando e indo para o balcão para deixar sua bandeija.
– Gostei dela! - disse Vittória empolgada.
– Eu também.
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Será que Ana tem algo com o mundo Sobrenatural? Confira nos próximos capítulos.