A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 2
O Mundo dos Homens


Notas iniciais do capítulo

Hey there,

Novo capítulo! Espero que gostem. Comentem, recomendem, favoritem, entrem no blog (congelante.blogspot.com.br), por favor!

Boa leitura!



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No segundo seguinte, Hazel estava em uma sala circular com paredes cinzentas. A sua direita em um andar superior, um grupo de homens de jalecos brancos observavam o que acontecia na sala em que Hazel e o Dr. Lake Harkness estavam. Reconstrução molecular completa, uma voz ecoou por toda a sala, bem-vindo de volta, Dr. Harkness.

– Obrigado, Dr. Langbroek. - O homem que trouxera Hazel respondeu. - Como está o funcionamento da Janela? Finalmente encontramos um candidato.

Está funcionando perfeitamente, a voz ecoou mais uma vez, vai levá-la para fazer o tour?

– Mas é claro. - Ele se virou para Hazel, que logo o interrompeu perguntando:

– Onde estou? E cadê minha mãe?

Estou aqui em cima, querida, a voz de Brigitte ecoou por toda a sala. Hazel olhou para cima e encontrou sua mãe junto com os homens de jaleco branco. Ela acenou para a filha.

– Dr. Langbroek, poderia por gentileza abrir esta janela?

Um barulho ensurdecedor de motor começou do nada, que em menos de um segundo tomou conta do ambiente e deu a Hazel dor de cabeça. Duas imensas comportas abriam-se atrás deles. Uma para a direita e outra para esquerda. Antes mesmo de as portas terminarem de abrir, ela já ficou surpresa com o que viu. Do outro lado da janela, em tons de azul, cinza e cor de areia, girava extremamente devagar o planeta Terra. Hazel Emmett Brown, uma garota da classe mais baixa do mundo moderno, estava no espaço!

– Nós estamos na Torre de Vigilância da Cordis. - O Dr. Lake Harkness informou. - A única forma que encontramos para fugir de Neuron foi saindo do planeta, do sistema de vigilância e conhecimento dele. Aqui é muito mais fácil nos esconder deles. - Hazel, ainda de boca aberta, olhou rapidamente para o cientista, que sorriu de maneira brincalhona. - E convenhamos, é muito mais legal ficar no espaço. - Ele voltou-se para cima, onde estavam os outros homens de jaleco. - Podem fechar.

– O que? Não! Deixe-me ver mais um pouco!

– Infelizmente, senhorita Brown, não podemos ficar muito tempo com essas comportas aberta. - Ele gritou em meio ao barulho das portas fechando; Hazel quase não o ouviu. - Ou o vidro se partiria e todos nós morreríamos. Mas anime-se, há muito mais coisas para ver aqui em cima.

Eles saíram por uma pequena porta, que dava para um corredor. Assim como os prédios das Treze Colônias na Terra, tudo naquela nave era feito na cor cinza. Hazel impressionou-se com o tamanho do satélite. Havia milhares de tripulantes, mas também havia suas famílias e ainda mais gente. Cada um morando em micro-apartamentos, menores até mesmo que o de Brigitte e Hazel na Colônia de Odessa, na antiga Ucrânia.

Havia um grande refeitório para a tripulação, mas costumava ficar vazio. Cada membro preferia comer com suas famílias, afinal, nunca sabiam qual poderia ser sua última refeição. O apartamento que instalaram sua mãe era feito de duas camas, que basicamente eram dois buracos redondos na parede um tanto difíceis de entrar, mas o cientista afirmou que logo se acostumariam. Havia um fogão e uma pia simples, que caracterizaram a cozinha. Havia alguns armários com panelas e outros potes. Eles faziam comida de verdade!

Hazel, nos seus dezoito anos de vida, nunca havia comido um verdadeiro prato de arroz e feijão, nem mesmo antes do ocorrido no Domo Natural. A Classe Alta, aqueles que possuíam dinheiro e status, costumavam comer comida, mas algo sintético feito nas fábricas de Neuron, na Colônia de Shanghai. A Classe Baixa, porém, sobrevivia apenas de pílulas diárias de proteínas e vitaminas. Contudo, um pensamento veio à mente de Hazel: de onde eles tiravam comida?

O Dr. Lake Harkness guiou-a até a parte mais alta da Torre de Vigilância, onde ficava a Estufa. Era um lugar parecido com o Domo Natural, mas ao invés de um zoológico, eram apenas plantações. Centenas de hectares delas. Havia de tudo, grãos, cereais, frutas, legumes e verduras. Havia uma macieira! Por Deus, uma macieira de verdade!

– Consegue ver os painéis lá em cima? - Ele apontou para algo que pareciam espelhos grudados ao teto da Estufa. - Eles simulam a energia solar necessária para manutenção da vida vegetal. Está vendo aqueles pontos pretos entre os painéis? - Ela confirmou uma vez com a cabeça. - Eles simulam chuva na quantidade certa.

– E da onde vocês tiram água? - Ela perguntou.

– Nós temos uma Usina de Tratamento de Água Salgada no Polo Sul. É uma instalação secreta. - Ele falou. - A Coalition nunca vai até lá. Então, assim como nós chegamos até aqui, a água é transportada num segundo para as nossas caixas d’água.

– Incrível!

– Hazel, a próxima coisa que irei te mostrar é algo completamente secreto e único. Algo jamais visto por alguém que não pertença à divisão cientifica da Cordis. - Eles seguiram de volta por um sistema complexo de corredores, subiram alguns elevadores, saíram em uma sala escura.

A única coisa visível na sala era um controle remoto de televisão sobre um pedestal que batia na cintura do Dr. Lake Harkness, que era alguns centímetros mais alto que Hazel. Algo que também havia sido extinto há anos, já que todas as TV’s, que pertenciam a Classe Alta, respondiam a comando de voz. O cientista pegou-o e apertou um botão. As luzes acenderam.

A sala em que os dois estavam era grande como uma sala de cinema, entretanto, as paredes eram num tom mais claro de cinza, assim como todo resto da Torre de Vigilância, mas havia algo diferente. Diante deles havia uma imensa cortina de teatro vermelha escura, da cor de sangue. Ele apontou o controle para ela e pressionou outro botão. Ela se abriu, revelando o que guardava: uma imensa tela plana. A tela estava desligada.

– Está é a Janela, Hazel. - O doutor começou. - Como nós a chamamos. Ela é uma tecnologia desenvolvida pela Cordis durante muitos e muitos anos de trabalho. Passou pelas mãos de milhares de cientistas, até que eu finalmente assumi o projeto a cerca de vinte anos.

– O que ela faz? - O cientista pareceu estas esperando essa pergunta.

– Está é uma Janela para o passado, Hazel. Uma janela capaz de mostrar o mundo antes das Treze Colônias. - Ele explicou; Hazel não sabia se acreditava ou não. - A escola não costuma muito contar a História antes da ascensão de Neuron e todos os registros desse passado são de acesso restrito ao próprio Neuron, por isso nós criamos essa Janela. Para saber de onde viemos.

– E descobriram?

– Mas é claro. - Ele disse. - Antes de Neuron, a Terra possuía centenas de países e cada um deles possuía um sistema de governo diferente. Monarquia, Democracia, entre outros. A maioria deles vivia sob uma Democracia. Sabe o que é?

– Não tenho ideia. - Hazel estava ficando confusa; para ela, assim como para todos os cidadãos do mundo, existia apenas Neuron, o Senhor Supremo do Mundo.

– Uma Democracia é quando o governo, aqueles que lideram os países, é escolhido pelo povo através de uma eleição. Você tem noção? Escolher aquele quem vai te representar para o resto do mundo!

– E o que aconteceu? - Ela perguntou. - O que mudou tudo isso?

O Dr. Lake Harkness ligou a tela, que mostrava uma cidade diferente da que Hazel estava acostumada. Parecia-se muito com as Colônias da Classe Alta, mas era muito, muito maior, com muito mais gente, muito mais clara e viva. Era algo impressionante. Uma imagem do passado. No canto inferior esquerdo da tela havia uma 12/01/2014.

– O mundo dos homens estava no ápice de sua tecnologia. Celulares, internet, Whatsapp, Facebook, e muito mais. O mundo estava mais conectado que nunca. A Globalização era total. As grandes cidades eram tomadas pela tecnologia. - Ele disse. - Não era uma sociedade perfeita, é claro, assim como a Torre de Vigilância tem suas dificuldades, o mundo dos homens daquele tempo também tinha.

Ele apertou outro botão no controle remoto. A imagem acelerou. O doutor apertou mais um botão, fazendo com que a imagem seguisse seu curso normal. Hazel olhou a 15/02/2017. Havia um homem na tela. Ele era bonito, tinha os olhos castanhos, assim como os cabelos e a barba. Usava um terno azul marinho sob um jaleco branco, muito parecido com o que o Dr. Lake Harkness estava usando. Era um cientista.

– Este homem é Grant Farrow. Oberve. - O cientista disse para Hazel.

Grant Farrow estava atrás de um computador, conectando alguns cabos na CPU. Ele sacou do jaleco alguns cartões de memórias e outros chips. Ele conectou-os também a CPU. A imagem acompanhou o cientista. Ele sentou diante do computador e o ligou. Segundos depois surgiu na tela: NEURON. O homem sorriu, digitou alguns comandos.

– Este foi o momento da criação de Neuron. - O Dr. Lake Harkness disse, capturando a atenção de Hazel. - Como deve saber, Neuron é um sistema de I.A.

– Inteligência Artificial.

– Sim. Um cérebro de computador. O objetivo do Dr. Farrow ter criado-o era acumular todo o conhecimento do mundo em um único computador. E ele conseguiu. Em três anos, Neuron conseguiu absorver todo o conhecimento da humanidade. História, Ciência, Matemática... Tudo. - O doutor pressionou o botão de acelerar a imagem, mas parou no dia 30/11/2020.

Um grupo de pessoas corria pelas ruas, fugindo dos primeiros policiais da Coalition. A parte mecânica deles era muito mais visível do que os atuais.

– Este foi o dia que o mundo que conhecemos nasceu. - Ele explicou. - Os Russos...

– Os quem?

– Russos. Era como as pessoas que nasciam na Rússia eram chamadas. Rússia era um país. - Hazel não entendeu exatamente, mas fez que sim. - Desenvolveram uma tecnologia militar que unia partes mecânicas a soldados orgânicos. Foram chamados de...

– Coalition.

– Exato. Eles eram supersoldados. Os Estados Unidos, outro país, era o grande rival da Rússia e, por isso, desenvolveram a mesma tecnologia. O dia que você está vendo na tela foi o dia que o poder de supersoldados tecnológicos superou o número de orgânicos. - O doutor apontou para as imagens; soldados da Coalition atacavam pessoas, que revidavam como podiam. - Neuron aproveitou-se disso para dominar os supersoldados. Em menos de cinco anos de guerra, todos os governos do mundo sucumbiram a Inteligência Artificial.

Hazel estava impressionada. Eles não contavam isso nas escolas. A imagem acelerou. Conforme o Dr. Lake Harkness foi narrando, as imagens passavam na Janela.

– O mundo tornou-se cada vez mais quente. O Aquecimento Global estava destruindo o mundo, e Neuron não fazia nada para impedir. Os desertos foram crescendo cada vez mais. Até que em 2099 o ar da Terra tornou-se irrespirável. A vida estava morrendo aos poucos. O planeta estava morrendo aos poucos. Neuron não podia deixar que os humanos desaparecessem, pois ai ele não teria mais conhecimento para absorver. Ele fundou os Domos e as Treze Colônias. Todas elas no litoral, próximas aos Oceanos.

– Mas por que isso?

– Por que ele previu que toda fonte de água doce iria secar. E secaram em 2106. Foi quando ele criou as U.T.A.S. - O cientista pausou a imagem da Janela; havia nela uma imagem da Colônia de Odessa: uma cidade suja, feita com tons de cinza e preto. A mais pobre e horrível das treze Colônias.

– O Domo Natural? Quando ele foi criado?

– Ele foi o primeiro a ser criado. - Essa informação surpreendeu Hazel. - Como deve saber, os únicos lugares em que a natureza crescia era nos polos. Um homem chamado James Harkness, meu ancestral, percebeu para onde o homem estava caminhando. Por isso, ele criou o Domo Natural para proteger toda espécie de animal, de insetos a répteis; de peixes a mamíferos. Antigamente, o local onde foi criado o Domo Natural chamava-se Groelândia. Há uma última coisa que eu preciso lhe mostrar.

Ele apertou alguns botões no controle remoto. A tela dividiu-se em duas. Metade mostrava Odessa, o outro mostrava uma cidade com várias árvores e prédios de muitas cores. Havia equilíbrio entre o homem e a natureza ali. Ela se perguntou que ponto do passado ela estaria vendo ali. Olhou as datas nos cantos, que eram a mesma: 08/09/2167. O dia anterior.

– O que diabos é isso? - Ela perguntou. Começou a duvidar de toda a história que acabara de ouvir.

– Você está vendo duas linhas de tempo diferentes. Uma em que Neuron existe, ou seja, a nossa, e outra em que ele nunca foi criado, aquela da direita.

– O que quer dizer?

– É um tanto complicado de entender, pois é preciso entender um pouco de teoria de viagem no tempo.

– Então me explique, doutor. - Hazel estava ficando irritada.

– Bem, de acordo com as teorias, uma vez que algo no passado é alterado, todo o futuro pode mudar. Um único evento no passado pode mudar toda História. Nós esbarramos nessa outra linha de tempo por acidente. Não tenho ideia de como conseguimos. Mas, para descobrirmos o que mudou a linha do tempo, rebobinamos ao passado até que encontramos uma pequena diferença...

Uma luz vermelha dominou totalmente a sala. Era um alerta de que algo estava errado e, se o alerta da sala da Janela foi acionado, só poderia significar uma coisa:

– Neuron nos achou. - O Dr. Lake Harkness disse. - Ele descobriu a Torre de Vigilância.


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