A Janela escrita por Leandro Zapata


Capítulo 3
A Única Salvação


Notas iniciais do capítulo

Terceiro capítulo! Quase na metade da série xD
Boa leitura.



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Doutor, a voz do Dr. Langbroek ecoou pela sala, eles nos acharam, senhor. Sabem que estamos aqui.

– Quanto tempo nós temos até que eles cheguem? - O Dr. Harkness perguntou, olhando para cima.

Cerca de uma hora, a voz respondeu.

– Obrigado. - As luzes vermelhas se apagaram. - Temos tempo o bastante para te explicar por que eu te trouxe aqui. - Ele apertou alguns botões no controle remoto, fazendo as imagens na Janela rebobinarem. Levou cerca de um minuto para que ele chegasse ao ponto que queria. Nos cantos inferiores das telas havia a 05/04/1995.

Na Janela, simultaneamente, uma mesma família saía de uma casa. Era um casal e um filho, um menino de olhos e cabelos castanhos. Entretanto, algo diferente aconteceu na tela da esquerda, que mostrava a linha do tempo em que Neuron existia. Um homem vestindo um jaleco branco apareceu do nada. Ele era estranhamente familiar a Hazel. Ele tinha uma arma. Ele ameaçou a família, parecia mandar que entrassem em casa, e foi o que fizeram. O recém-chegado entrou no carro e o levou.

Enquanto isso, na tela da direita, a família entrou no carro. Todos riam.

Agora, simultaneamente, as duas telas mostravam os carros. Um com a família e outro com o assaltante familiar. Na tela da direita, em que exibia a família, um caminhão entrou com tudo na frente do carro. O pai, que dirigia, freou de supetão e jogou o volante para esquerda; nesse mesmo segundo, um carro em alta velocidade que vinha na faixa da esquerda atingiu a família. O carro capotou algumas vezes.

O Dr. Lake Harkness pausou a tela com o controle, e afirmou:

– Aquela família que você viu era a família Farrow. A criança era Grant Farrow, ou seja, ele sofreu um acidente e morreu. Portanto, ele nunca iria desenvolver a Inteligência Artificial Neuron, que por sua vez, não conquistaria nem destruiria o mundo. Continue assistindo, mas preste atenção na imagem da esquerda.

O ladrão de carros dirigia pela mesma estrada que a família. No momento que a vida de Grant foi ceifada na tela da direita, o ladrão começou a desaparecer. Ficou transparente e, menos de trinta segundos, não havia ninguém atrás do volante. Fora de controle, o carro foi indo para a esquerda. O mesmo carro que atingira a família Farrow, atingiu o carro vazio, que capotou.

– O que aconteceu?!

– Lembra-se o que eu disse sobre viagem no tempo? - Ele perguntou, mas não esperou resposta. - Então, aquele ladrão que você viu era um viajante; de fato, o único. Ele é Lionel Farrow, irmão gêmeo de Grant.

– Espera um pouco. - Ela disse. - Isso é um pouquinho demais para minha cabeça. Explica de novo.

– Vou avançar no tempo para explicar melhor.

Ele apertou os botões do controle mais uma vez. A imagem acelerou, indo para frente no tempo, em ambas as linhas do tempo. Então parou, e deixou que a imagem seguisse normalmente. No canto, a 26/03/2004. O cientista tirou o jaleco, estava ficando com calor.

Na tela da direita, aquela em que Grant Farrow havia morrido no acidente de carro, um jovem Lionel Farrow de dezenove anos trabalhava em uma máquina imensa. Havia um grande cilindro principal, do qual saía dois discos, um em cima e outro em baixo. A distância entre eles era o bastante para caber uma pessoa de mais de dois metros. Havia milhares de botões coloridos no cilindro principal, além de vários fios soltos e jogados no chão. O lugar era uma bagunça.

Lionel vestiu uma roupa antirradioativa. Ele abriu uma caixa amarela que estava no chão, próxima a ele; de lá tirou um vidro cilíndrico com um líquido vermelho dentro.

– Plutônio. - O Dr. Lake Harkness esclareceu.

Na Janela, ele colocou o plutônio no cilindro principal da máquina. Assim que ele encaixou, um painel acendeu com uma única 05/04/1995. Ele se posicionou entre os discos e apertou um botão vermelho no cilindro. Lionel desapareceu e, logo em seguida, a máquina explodiu.

– Ele viajou no tempo? - Hazel perguntou.

– Sim. - O doutor explicou. - Viajou para o passado e salvou o irmão. A linha do tempo em que Grant morrera não mais existia, e Lionel criou uma nova: a nossa. Uma linha do tempo em que Grant Farrow criou Neuron.

– Mas se essa linha de tempo deixou de existir, como você consegue ver pela Janela?

– Eu não sei, mas isso nos permitiu formar um plano. - O Dr. Lake Harkness desligou a Janela e pediu para que Hazel o seguisse para fora da sala. - Através da Janela é possível lançar objetos ao passado, mas apenas isso, objetos. Nós tentamos mandar um rato, mas ele se desintegrou em nível celular. Não sobreviveu a passagem através do tempo.

– E o que eu tenho a ver com isso tudo? - Ela estranhou.

– Você é a nossa salvação, Hazel. - O doutor parou no meio do corredor para olhar para ela. - Você tem uma habilidade única. Você é capaz de atrair coisas para si. Não sei, e não temos tempo para saber como seu poder funciona exatamente, mas tenho uma teoria.

A cabeça de Hazel doía. Ela recebera informações demais em sua mente, estava cansada, era foragida da justiça e agora a única resistência contra o ditador do mundo, a Cordis, teve sua localização descoberta. Era questão de tempo que Neuron os destruísse e levasse o mundo até a extinção. Hazel era a única esperança por causa de seu estranho poder.

– A gravidade de um planeta é, basicamente, um único ponto no centro dele que atraí tudo para si. Seu poder deve trabalhar no mesmo princípio: um único ponto dentro de você capaz de atrair as coisas. - Eles voltaram a andar.

– Ainda não entendi o que meu poder tem a ver com tudo que você me contou. - Hazel disse, apesar de ter uma noção do que viria a seguir.

– Como eu disse: qualquer material orgânico mandado pela Janela é desintegrado em nível celular. Mandando você, não seria diferente. Contudo, é quando seu poder entra. Uma vez que seu corpo se partisse, seu poder atrairia de volta para si as células, permitindo que seu corpo fosse reconstruído. Você sobreviveria a passagem no tempo.

– Isso é apenas uma teoria. - Hazel retrucou. - E se meu “centro gravitacional” fosse destruído na passagem também? Eu não me reconstruiria.

– Você tem razão. - O doutor falou. - Por isso precisaríamos de mais tempo, para ter certeza de que você poderia se regenerar. Entretanto, infelizmente, temos apenas mais meia hora até que a Coalition nos atinja. Será o fim, Hazel.

Eles entraram na cabine de comando da nave, onde a tripulação corria de um lado para o outro, preparando suas defesas e armas.

– É sua escolha, Hazel Emmett Brown. Você pode abraçar essa mínima oportunidade de nos salvar, ou condenar a todos presentes nessa nave e a humanidade a extinção.

Ele sentou-se na cadeira mais alta, que era a do capitão. Hazel estava meio tonta por tudo que tinha ouvido e mais ainda por ser a ela a escolher o destino do mundo. Ela não sabia o que fazer. Não tinha ideia! Ela saiu e foi para o micro-apartamento, onde sua mãe, em lágrimas, cozinhava pela primeira vez na vida.

– Como foi o tour, querida?

– Mãe. Tenho que te contar algo.

Ela narrou o que acontecera durante o tour e contou o que o Dr. Lake Harkness dissera sobre o mundo e as coisas ruins que aconteceram. Contou sobre a ideia de ela viajar no tempo, e ser a única capaz disso. Brigitte fitou a filha. Não mais chorava, ela agora transmitia um olhar de esperança. Um olhar de que tudo poderia se consertar.

– Hazel, você deve ir. - Ela disse. - Você tem uma chance de salvar todos nós.

– Mas mãe, se eu morrer no meio do processo? Não vai fazer diferença! O mundo continuará o mesmo.

– E se der certo? Se você sobreviver?

Brigitte apesar de dizer tais palavras, dentro de seu coração ela não queria que a filha passasse pelo tempo através daquela Janela, mesmo sendo o certo a se fazer. Brigitte, assim como o falecido marido, sempre incentivou a filha para fazer o certo. Se agora, naquele momento, ela fosse egoísta e impedisse a filha, iria contra o que ela ensinou-a a vida toda. O marido jamais aprovaria.

Como Hazel não disse mais nada, Brigitte acrescentou:

– Leve isso. - Ela tirou do pescoço um colar cujo pingente era uma concha vinda de algum oceano. - É um amuleto passado de geração em geração pela família Emmett. Vai te trazer sorte na sua jornada, quer você tome a decisão de ir ou não.

Brigitte sorriu, tentando transmitir a filha força e esperança. Hazel pensou e pensou até que as luzes vermelhas surgiram novamente e uma voz ecoou em toda Torre de Vigilância. A Coalition está a quinze minutos de distância; repito: há quinze minutos. Todos os não-tripulantes devem dirigir-se imediatamente às salas de teletransporte para fugir para o planeta. Estamos acionando o protocolo de defesa Ômega 3!

Ouviram uma batida na porta, que foi aberta. Um tripulante estava do outro lado, chamou Brigitte, que não conhecia os códigos de defesa e, portanto, deveria ser acompanhada o tempo todo.

– Adeus, mãe. - Ela disse enquanto se abraçavam. - Te vejo em breve.

– Adeus, filha. - Brigitte saiu, deixando Hazel sozinha.

Hazel colocou o colar que a mãe lhe dera. Ela não sabia como chegar à sala de controle, onde estava o Dr. Lake Harkness, por isso pediu a uma tripulante que passava por direções. Chegando lá, encontrou o cientista, que gritava ordens aos tripulantes para se prepararem para a batalha.

– Eu vou viajar no tempo, doutor. - Ela disse logo de cara, para chamar a atenção dele. - O que devo fazer?

Ele sorriu triunfante; pegou uma caixa de metal que estava escondida em uma de suas gavetas e sinalizou para que o seguisse. Enquanto caminhavam no corredor, ele disse:

– Sua missão, de fato, é bem simples. Vamos mandar você dois dias antes do dia em que Lionel voltou no tempo. Isso deve dar a você tempo o bastante para impedi-lo.

Eles entraram na sala da Janela; o doutor pegou o controle remoto de seu pedestal, acendeu as luzas e colocou a caixa de metal sobre ela e abriu-a. Ele tirou de lá um pequeno aparelho auditivo, tão pequeno que era impossível ver que ela o estaria usando.

– Ao contrário do hoje, no passado o mundo não detém apenas uma língua falada, mas sim centenas de milhares. Com esse aparelho no seu ouvido você será capaz de entender e falar qualquer idioma que precisar. - Ele entregou o objeto a ela, que rapidamente colocou-o no ouvido. - Este outro é uma arma de pulso eletromagnético. - Ele tirou de lá o que parecia uma arma convencional de chumbo, como aquelas que Hazel usou para matar os policiais da Coalition. - Se você mirar em qualquer máquina, incluindo os policiais, elas irão desligar.

Ela colocou a arma dentro da bolsa que sempre carregava. Ele apontou o controle remoto para a cortina, que se abriu com o apertar do botão. Uma imagem surgiu na tela. Era um prédio neoclássico, com algumas colunas diante da porta principal. De frente ao prédio havia a estatua de um homem.

– Que lugar é esse? Quem é aquele homem? - Hazel perguntou, mesmo sabendo que não tinham muito tempo para explicação.

– Este é Ateneu Romano, na cidade de Bucareste, que por sua vez, fica no país chamado Romênia. A estátua é de um poeta chamado Mihai Eminescu.

As luzes vermelhas começaram a piscas.

– Eles chegaram. - O Doutor afirmou. - Você tem que ir.

– Mas como?

– Apenas pule pela Janela que você chegará até a data estipulada. Encontre Lionel! Ele tem um laboratório na Universidade de Bucareste‎. É lá que você irá encontrá-lo.

Mais uma vez, em menos de um dia, Hazel estava com medo de tomar uma decisão importante. Será que iria se arrepender? E se tudo desse errado, será que a culpariam? Ela olhou para o professor mais uma vez. Ele estava muito mais determinado que ela, sem dúvida.

No fundo, Hazel sabia. Fora para aquele momento que ela nasceu; que ela ganhou um poder que tanto odiava e que tinha causado a morte de seu pai, Howard Brown. Ela pensou nele. Talvez, se ela conseguisse fazer o que pediam, ela seria capaz de ver o pai de novo. Isso a motivou e lhe deu mais esperança.

Hazel não hesitou mais nenhum minuto. Correu para a Janela e saltou por ela, atravessando tempo em espaço pela última esperança do planeta Terra.


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