Música, Sangue e Eternidade escrita por Countess Dracula


Capítulo 6
Capítulo 6: Sinfonia macabra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/58753/chapter/6

O aroma noturno de terra molhada era forte, e Remaque gostava disso. Andando pela antiga propriedade da família Levy ele pode ver as significativas mudanças que foram feitas lá: O antigo castelo já não mais existia, e sim uma enorme construção moderna, com janelas amplas e persianas claras, convidativas, do outro lado da propriedade. Maldito Levy!

 O vampiro tinha uma teoria para essas mudanças e precisava testá-la. Andou lentamente e direção à porta e estacou. Charles não podia entrar. Precisava de outro convite.

O que realmente o irritou não foi o fato de ter que conseguir uma nova permissão para entrar e sim não ter previsto que o inimigo faria isso. Subestimou os descendentes de Caspar não investigando a família ao longo dos anos. Seria esse um sinal de que os jogos recomeçariam? Jogos, porque obviamente o único que caçava ali era Remarque e não qualquer simples mortal.

Retornou a sua mansão, pensativo. Teria que tomar muito cuidado com seu possível oponente. Daria ele o primeiro lance ou esperaria para ver o que acontecerá? Dirigiu-se a ala leste, indo em direção ao quarto. Estava distraído ao ponto de não notar a expressão ansiosa de Marion – como uma criança que tem uma surpresa e quer que ela seja aprovada.

- E então, como foi tudo, belezinha?

- Péssimo! O imbecil conseguiu achar um jeito de não podermos entrar em sua residência! Reconstruiu-a em outra parte do terreno, tendo destruído a anterior. Precisaremos de um novo convite.

- Mas... Como? – apavorou-se ela, a surpresa totalmente esquecida agora. - Acha que é alguma afronta?

Marion observava Charles andando nervoso, de um lado para o outro do aposento. Por fim, suspirando, ele virou-se para a esposa olhando-a bem nos olhos.

- Não sei, mas saberemos em breve, não?

-Creio que sim. – Chegou mais perto dele, pondo as mãos em seus ombros, massageando-os lentamente. – Mas agora não adianta nos preocuparmos. Ficarmos alertas, sim, mas sem precipitações.

- Você está certa.

Puxou-a para um abraço, beijando-lhe a testa e em seguida os lábios que sempre o fascinaram. Nesse exato momento a criança começou a chorar, fazendo o vampiro afastar-se da esposa.

- Minha cara, há um bebê aqui?

- Achei que você voltaria estressado, sem ter-se alimentado direito, então... Fiz uma pequena surpresa! O que achou?

Olhando-a ele viu o quanto ela estava insegura. Envolveu-a em seus braços, agradecido. Ela jamais deveria sentir-se insegura perante ele. Jamais. Sua admiração e respeito por ela apenas cresciam.

- Adorei a surpresa, minha cara. Obrigado.

Voltou-se em direção à criança que ainda chorava, agitando os bracinhos no ar.

E então o verdadeiro terror aconteceu.

_________________________________________________________________

 

Edna estava deitada, pálida. Sentia grande dificuldade em levantar-se, tamanha a dor, a respiração difícil também não ajudava. Forçou o corpo a levantar, segurando-se firmemente no colchão. Sentou-se na beira da cama, a cabeça pendendo, os olhos fechados para evitar um desmaio. Seus cabelos longos e castanhos estavam emaranhados, caindo em sua face, o couro cabeludo suado arrepiando-se com a brisa que vinha da janela aberta.

Respirou fundo para tomar coragem e por fim levantou-se de vez. Não queria preocupar sua mãe, que já andara comentando sua palidez.

Demorou-se no banho, mas recuperou um pouco das forças. Ia sair com a mãe – iriam à modista, e não gostaria que insistissem sobre sua aparência “doentia”. Qual não foi sua surpresa quando sua mãe adentrou o quarto, dizendo-lhe que tinha um presente e não seria mais necessário que fossem as duas buscá-lo.

-Não achei seguro sair com você doente, então seu pai foi até lá.

- Não estou doente, mamãe! – Aborreceu-se ela. Odiava quando sua opinião era ignorada e achava que se não tivesse condições de sair, avisaria.

- Se você diz. Mas gostaria que cuidasse mais de si, minha filha. Talvez eu devesse chamar o médico. Ou quem sabe o padre...

Mas Edna já não ouvia mais. Sua cabeça voltou-se novamente para a música que assombrava seus dias e noites.

 _______________________________________________________________

 

Com o cair da noite, Andrei abriu os olhos. Não soube o motivo de ter adormecido por tanto tempo, mas intuía que essa noite seria um marco em sua nova vida.

Arrumou-se com esmero: roupas formais e capa. Notou sobre a cama de seu quarto uma pequena cartola – pelo bilhete, uma pequena cortesia de Remarque.

Num impulso, colocou-a. Serviu perfeitamente, dando-lhe um ar mais sombrio. Voltou-se novamente para a cama e pegou o tão amado instrumento, posicionando o violino no ombro esquerdo, erguendo o arco em seguida. Parou por um instante, visualizando Edna, chamando-a a seu encontro, para só então começar a tocar suavemente. Sabia que ela dormia, por isso resolveu penetrar em seus sonhos, obrigando-a a segui-lo, procurá-lo cegamente.

“Venha até mim. Encontre-me em frente ao cemitério.”

Da onde estava, viu-a erguer-se da cama onde repousava, pôr o vestido azul ganho naquele mesmo dia. Parou de tocar quando sentiu-a sair porta a fora. Pondo o violino sob a capa, saiu ele também da mansão e imitando Charles, fez um movimento com as mãos, invocando as brumas sobre a cidade adormecida.

Mesmo de longe podia sentir o cheiro do medo dela, vindo em ondas em sua direção. Com os olhos fechados, apenas sentindo esse cheiro, ele foi em direção à ela. Foi andando vagarosamente, apreciando o momento. O prazer de sentir-se frente a frente com Edna foi imenso. Abriu os olhos.

Lá estava ela: Assustada, sim, mas fascinada também. Belíssima em seu vestido azul claro, contrastando com o cinza dos degraus do cemitério, os cabelos soltos, caindo em cascatas sobre os ombros. A visão extasiou-o de tal modo que tudo o que ele pode fazer foi tocar a canção que ela lhe inspirara.

A melodia começava suave, delicada – como ela mesma, passando em seguida para o tenebroso, reprensentando- o, quando havia entrado em sua vida. Ele mal percebeu quando Edna entrou em transe. Começou a tocar mais rápido, bombardeando-lhe os sentidos com a sinfonia. Parou de tocar, mas com outro movimento de mão, fez com que a melodia não saísse da cabeça da jovem. Não agüentando mais a espera, aproximou-se dela, abraçando-a – mas sem soltar o violino. Abaixou a cabeça, beijando-lhe a pele macia do pescoço, para somente então cravou os dentes.

Sorveu-lhe o sangue, sentindo-se eternamente grato à Edna não apenas pela inspiração que ela lhe deu, mas pelo precioso líquido vermelho que saia de suas veias. Tinha certeza de que jamais provaria outro igual. Empolgado, desmaterializou a ambos, levando-os para o quarto dela: Era ali que ela devia morrer. Era esse o lugar certo.

No momento em que chegaram a casa dela o encanto musical cessou. Queria que ela o visse uma única vez, desperta. Apertou-a uma vez mais em seus braços – a última vez. Edna abriu os olhos. Olhou direta e fixamente para os olhos azuis dele e ofegou, fascinada.

Também fascinado beijou-lhe a testa antes de desvanecer-se, permitindo-a despertar. De volta à mansão, tornou a erguer o violino e tocar. Uma última ode a ela.

Ouvindo a canção de algum recanto obscuro de sua mente, de alguma ligação oculta que ambos tinham, Edna morria, enquanto o dia amanhecia rapidamente.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei se alguém mais reconheceu - ou continua lendo,rs - mas Edna e Andrei são os protagonistas de Um violino e sua sinfonia".=)
De qualquer forma, não sei qdo sai o próximo capítulo, já tenho trabalhos a fazer na facul...
;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Música, Sangue e Eternidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.