Where flowers grow wild escrita por Marie


Capítulo 12
Capítulo 12 - Convivência




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587475/chapter/12

Dorian não tinha conseguido dormir direito, novamente atormentado por aquele mesmo par de olhos azuis. A expressão de Nicole na tarde anterior não abandonava seus pensamentos por um único segundo.

Sentia-se frustrado, desgastado e com raiva. Tinha gastado um dinheiro que nem deveria para construir aquela estufa, contratado mais um jardineiro para se encarregar somente de decorá-la de modo que ficasse ao agrado dela e tudo isso a troco de quê? Ser tratado como um traste. Pior ainda: sentir-se como um. Era isso que ganhava se quando se agia como um perfeito idiota.

"Ao inferno com essa mulher" ele pensou irritadiço, enquanto sentava-se na mesa para o desjejum. E como se estivesse esperando somente essa deixa, a dona daqueles pensamentos entrou timidamente no aposento, usando um vestido que mais lhe fazia parecer com uma camponesa que uma condessa.

Dorian a avaliou de cima a baixo, torcendo o nariz e notando com certo desgosto que mesmo naquele vestido simples demais ela parecia bastante adorável. Bem diferente do que realmente era. Do que ela deveria ser.

—O que foi?— ela questionou finalmente, quando se sentou a mesa junto a ele.

—Não é nada— ele respondeu dando de ombros e tratando de abrir o jornal na intenção de encontrar algo que pudesse ajuda-lo a ignorá-la durante o café —só acho que já vi usando vestidos bem mais adequados que este.

Nicole ergueu a sobrancelha.

—Bem, eu já vi o senhor menos gordo e nem por isso fico lhe encarando...

Dorian não pôde deixar de dar uma risada desdenhosa.

—Você tem mesmo uma língua muito afiada para alguém tão pequena— ele respondeu se referindo a pouca altura dela —E para sua informação, querida esposa, não estou gordo. Meu físico é perfeito. Eu poderia mostrar a você, é claro, se estiver com vontade de modificar as cláusulas do nosso acordo. Garanto que vai ficar muito satisfeita.

Nicole olhou para ele com vontade de responder uma coisa bem cabeluda, mas foi interrompida pelo mordomo que acabara de entrar na sala.

—Milady— o empregado começou, depois de ter feito uma educada reverência aos patrões —A Sra. Brian, nossa cozinheira chefe, gostaria de saber se a senhora deseja algo especial para o jantar desta noite.

Nicole olhou para Dorian que mais uma vez deu de ombros, indiferente.

—É função da boa esposa cuidar desses detalhes, sabe? Acho que isso fazia parte do nosso acordo também— ele explicou sem tirar os olhos de seu jornal —Vamos ver se você é tão boa nas atividades administrativas quanto é para dar respostas.

Nicole teve vontade de atirar nele um dos pratos de porcelana da mesa, mas ao invés disso apenas sorriu de má vontade.

—Mr. Carson, o senhor se importaria de me levar até a cozinha? Adoraria falar com a Sra. Brian pessoalmente— ela perguntou, já se pondo de pé novamente.

Dorian e Carson olharam surpresos para ela ao mesmo tempo.

—Como desejar, Milady.

E os dois saíram, deixando para trás um conde curioso.

"Bem" pensou Dorian " Ao menos jamais ficarei entediado".

Ele não fazia ideia do quanto estava certo.

X.X.X.X.X.X.X.X

O que Nicole tinha ido fazer na cozinha naquela manhã se revelou ser o estopim de uma verdadeira guerra.

A nova condessa havia se revelado uma grande negociadora, capaz até de subornar a cozinheira para permitir que fossem feitas "intervenções" na alimentação do marido com muito mais sal e pimenta do que poderia ser recomendável, fazendo questão de assinar sua culpa perguntando a Dorian, que tinha a boca em chamas durante o jantar, o que ele havia achado de suas habilidades administrativas.

Foi somente o que precisou para que ele devolvesse a gentileza picotando uma infinidade de circulos em todos os vestidos de Nicole que ele julgou que não eram apropriados para uma condessa, lembrando-se de perguntar o que ela tinha achado de sua habilidade para educá-la.

Depois disso foi uma sucessão de pequenas vinganças. Os papeis do escritório de Dorian passaram a ficar magicamente embaralhados, sapos surgiam de dentro das gavetas da condessa, peças de roupas amanheciam flutuando na fonte em frente a casa e a mansão passou a ter ramos de lavanda espalhada por pontos estratégicos assim que Nicole descobriu a alergia que Dorian tinha a elas.

Apareceram também os apelidos: "piquinez* dos infernos" para ela, "abominável" para ele, e eram ditos com tanta frequência que até os empregados começaram a usá-los secretamente e passaram a atribuir e contabilizar pontos para as melhores travessuras. Kenwood nunca tivera um mês tão agitado e somente Carson, o mordomo, parecia estar verdadeiramente enlouquecido tentando concertar as armadilhas que os patrões elaboravam um para o outro. Mas nem mesmo ele, com toda a experiência que tinha adquirido no último mês, poderia ter sido capaz de prever o que Dorian encontrara no seu escritório em certa manhã.

Na pintura que retratava o jovem conde, alguém havia acrescentado um belo par de chifres, uma barbicha pontuda e uma sinuosa calda com extremidade triangular com tinta vermelha escarlate.

Ao encontrar aquela obra tão infantil Dorian se permitiu rir como não ria a muito tempo. Somente de imaginar Nicole com seus "enormes" 1 metro e 60 se equilibrando numa cadeira para alcançar a pintura já o fazia querer gargalhar.

Por mais que sua ideia inicial fosse tornar a vida dela tão difícil quanto ela dramatizara, ele simplesmente não estava conseguindo cumprir o intento. A convivência com Nicole só acabara se tornando um tipo de divertimento e aquela altura ele já estava começando a supor que ela sentia o mesmo. Por Deus, ele estava gostando de tê-la por perto! Das respostas abusadas, de sua rebeldia e de sua língua afiada...

Kenwood estava tomada pela agitação desde que ela pusera os pés na mansão, e ficara tão diferente de como era quando o antigo conde estava vivo que até os empregados pareciam mais alegres. Aparentemente aquele homem não tinha sido bom para ninguém e Dorian se sentia mais que satisfeito por estar se afastando dele cada vez mais... E isso só tinha sido possível por causa dela, ele admitiu para si mesmo, admirando sua versão demoníaca pendurada na parede no mesmo lugar onde ficara a imagem do antigo conde. Aquele sim era o verdadeiro diabo, mas aquilo não importava mais. Ele não existia mais. E Dorian estava cuidando com afinco para se livrar dos rastros que ele havia deixado, tendo fé de que logo tudo estaria bem novamente.

—Sra. Strauss!— Dorian chamou algumas vezes antes de ser atendido e então apontou para o quadro —Por favor, peça a Carson que leve essa interessante obra de arte para o meu quarto, sim? E solicite um cavalo também. Tem uma coisa que preciso fazer na cidade. Acho que já está na hora de fazer as pazes com minha esposa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*piquinez - raça de cachorro conhecido por seu tamanho diminuto. (E também por ser bastante metido a cachorro bravo).

Então gente, por hoje foi isso! Espero que tenham gostado :3 Não deixem de comentar!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Where flowers grow wild" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.